24.5.08

Intromissões, ou discussões de surdos

Não me considero "afrancesado", nem filosoficamente falando, nem culturalmente, nem de forma nenhuma. Também não tenho especial apreço por M. Heidegger: nem pelo filósofo, nem pelo homem que, para além de ser um hipócrita, também não devia nada à amizade (a traição ao "amigo" e mestre Edmund Husserl é um belo exemplo da personalidade abjecta do homem).
Dito isto, deixo-lhe aqui, caro Funes, apenas uma ou outra réplica e um contributo para a resposta que solicitou e que espero seja apenas o mote para a WOAB a enriquecer.
Parece-me que gosta da filosofia analítica por esta, alegadamente, emprestar um método "científico" à filosofia, expurgando-a dos "floreados" literários. Se bem entendo, gosta de um certo rigor matemático aplicado à filosofia. Curioso que tenha falado em Poincaré: foi o próprio matemático que declarou que para a resolução dos maiores problemas que lhe foram colocados, nunca foi utilizado qualquer método, mas tão somente o que designou por "centelha criadora". Exactamente a mesma "centelha" que permite aos artistas (entre os quais, naturalmente, os poetas) criarem. Mas é apenas uma curiosidade.
Quanto à questão do(s) método(s) analítico(s), não passa exactamente disso: de método utilizado por alguns filósofos mas que não reduz, de forma nenhuma, a filosofia apenas a isso. Aliás, faz-me confusão como em Portugal se perde tempo a discutir esta questão: por muito que gritem, não há cá filosofia "pura e dura". A filosofia é constituída pelos contributos de todas as suas disciplinas, entre as quais, naturalmente, a filosofia analítica.
Quanto à sua questão, Heidegger contribuiu para a filosofia através da sua reflexão sobre a ontologia: pode parecer uma coisa de somenos importância, pois não é nada fácil identificar a sua mensurabilidade. Mas a questão do(e) Ser é fundamental à filosofia. É, assim, uma espécie de investigação fundamental (não aplicada), mas cujos resultados podem ser relevantes para aplicações mais objectivas (como qualquer outra investigação fundamental). Basta, para isso, lembrarmo-nos das consequências hermenêuticas ou éticas que resultaram da continuação do seu trabalho. É certo que a linguagem utilizada por Heidegger é algo obscura: mas que raio, a de Descartes, Hegel ou Kant não era melhor (nem me atrevo a falar em Sartre, pois esse deve ser um afrancesado absoluto e Camus não deve passar de um romancista).
Portanto, assim sendo, acho uma absoluta perda de tempo (insisto), discutir se a filosofia reduz-se, ou não, apenas a essa sua dimensão analítica, e acho ainda mais absurdo (não me refiro ao do Camus, mas mesmo ao adjectivo) que hajam professores de filosofia a tomarem partidos nesta questão que sempre me pareceu pateta!

20.5.08

Politiquices

Foi criada uma Associação dos Consumidores na Madeira.

Quem está à frente, ou pelo menos dá a cara é uma deputada do PSD.

Considero a iniciativa – a de criar a associação - louvável.

A dúvida é como esta associação, ou senhora deputada do partido do Governo, vai posicionar-se num conflito que envolva o executivo e um cidadão? Que liberdade tem a Associação e a respectiva presidente, para num caso extremo, avançar com uma queixa contra uma Secretaria ou Direcção Regional?

Não sabe, não entende!

Não temos dúvidas que a lei dos subsídios está a ser cumprida. Melhor seria se assim não fosse e este não é um mérito que Vieira da Silva possa reclamar para si.
Mas o que se espera de um ministro, não é apenas que nos informe que a lei é cumprida: isso é o mínimo que podemos esperar de um estado de direito (bem sei que para este governo conseguir não violar as leis é, per se, uma vitória).
Espera-se que perante uma realidade diversa, diferente, o governante seja capaz de reagir de forma a responder aos novos desafios, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
A notícia é de que há mais pessoas desempregadas sem qualquer tipo de rendimento: exige-se que o governo tome medidas. Mas, como está escrito em título, este é um raciocínio demasiado complexo para esta gente, cuja única preocupação é a espontaneidade da resposta: eu não fui e se fui, peço desculpa! É, não sabem... Não entendem!

No one is untouchable

Caro amigo, foi apenas uma fuga para retemperar. Quanto à tua questão: sim, vão havendo alguns socialistas que escapam ao aparo das minhas teclas. Tu, por exemplo! Mas só até ver, porque sabemos que se o mundo está louco à excepção de nós dois, quer um quer outro não está muito certo acerca da sanidade alheia.

19.5.08

Apoio a Manuela Ferreira Leite

Ao contrário do que defendem alguns, a grande riqueza do PSD é o facto de acolher no seu seio diferentes correntes ideológicas: a social-democrata; a liberal, a conservadora; a democrata-cristã e até mesmo uma mais neo-liberal. Populismo não é uma matriz ideológica: é uma estratégia (que, aliás, Sócrates começa a aderir, conforme se comprova por aquele patético anúncio de que iria deixar de fumar), que socorre duas candidaturas: a de Pedro Passos Coelho e a de Santana Lopes (para falar apenas nas três que realmente contam), sendo que a santanista é marcadamente mais populista.
Por isso, nem vejo a balcanização (ideológica) do partido, nem vejo como isso poderia ser prejudicial. O CDS/PP defende a existência de correntes ideológicas diversas, princípio com o qual concordo e através do qual os populares pretendem crescer (à sombra do PSD). Não vejo, portanto, grandes problemas por não haver candidaturas sebastianicas que alegadamente reunificariam ideologicamente o partido, uma vez que não há uma matriz que tenha de ser reunificada. Oxalá todas as correntes estivessem, efectivamente, representadas nestas eleições.
Posto isto, apenas houve um líder verdadeiramente social-democrata (entendo-se, aqui, a social-democracia alemã): Sá Carneiro, do qual nenhuma destas candidaturas é herdeira e que suspeito ser bastante residual no PSD de hoje.
De um ponto de vista ideológico, nestas eleições apenas foram apresentadas candidaturas liberais, sendo que uma é um pouco mais conservadora do que as outras.
Assim sendo, não me revejo ideologicamente em nenhuma delas. Mas, se tivesse de votar, teria que escolher entre o que se nos é apresentado, o que, inevitavelmente, me obrigaria a optar. E se fosse este o caso, a minha opção passaria por Manuela Ferreira Leite.
Deixo aqui a minha razão, porque resume-se apenas a uma: a próxima liderança do PSD tem de, se não derrotar o PS, pelo menos retirar-lhe a maioria absoluta, recuperando algum do eleitorado do tal centrão decisivo. E, na minha opinião, tal só é possível com Manuela Ferreira Leite.
Comecemos por Santana Lopes: é certo que mais do que o conjunto de equívocos que foi o seu governo, foi-lhe feita a cama. Muito do que já assistimos com Sócrates teria sido motivo para sucessivas dissoluções da Assembleia da República. Por outro lado, até tem sido um bom líder parlamentar. Estas duas razões contribuem, portanto, para reunir algum capital de simpatia por parte de alguns militantes. Poderia ganhar o partido, mas não ganharia o país, uma vez que lhe falta credibilidade e apoio entre os opinion makers (e sabemos o quanto são fundamentais). Seria uma candidatura derrotada à partida e não me parece que tenha possibilidade de vencer o partido, porque os militantes querem um líder para se bater com Sócrates e não acreditam que Santana seja o tal.
Já Pedro Passos Coelho é um político com algum potencial (não queiram fazer dele um Príncipe) e que neste momento corre o risco de vencer estas eleições. Tem reunido imensos apoios, não pelo que vale, mas porque é a alternativa a Ferreira Leite e a Santana Lopes. Quem tem contas a acertar com um dos dois, opta por Passos Coelho. Mais, se fosse eleito, teria algumas possibilidades de reunir simpatias do centro-esquerda, dadas as suas posições progressistas nas tais questões sociais fracturantes. A sua candidatura tem tentado investir na alegada falta de experiência, apostando na imagem de outsider, que poderia contribuir para recolher apoio dos insatisfeitos com o sistema e a classe política. Não é, como todos sabemos: é um político profissional e isso seria devidamente explorado pelo PS. Para além disso, é algo incerto: ninguém sabe o que vale nas urnas e essa incerteza será mortal.
Temos, por fim, Manuela Ferreira Leite: tem a seu favor a imagem de rigor e austeridade, tão ao agrado dos opinion makers e dos próprios portugueses. Tem, também, experiência governativa, domina os assuntos económicos (e sabemos que hoje as eleições ganham-se com linguagem económica e não política) e é a preferida pelos barões (só o facto de ter o apoio de Miguel Veiga deveria ser motivo para eu distanciar-me o mais possível, mas nem sempre podemos ser coerentes...). Assim sendo, é aquela que reúne melhores condições para se bater com Sócrates em eleições, havendo mesmo a possibilidade de vencê-lo. Contribui para o meu apoio, ter começado a estruturar uma aproximação à matriz social-democrata, com laivos de um certo conservadorismo político-social. Começo a gostar do seu discurso e do seu programa.
E tendo possibilidade de vencer as eleições, acho que não conseguirá vencê-las por maioria absoluta, o que também é um ponto a seu favor (poderia ter tendência para o absolutismo que vimos em Sócrates e com tão maus resultados).
Por fim, acho que seria importante para a política portuguesa e mesmo para o PSD haver uma mulher líder, facto que, para além de valer por si, poderia mesmo reunir apoios insuspeitos.
Após tudo isto, volto ao início: tenho pena que não se tenham apresentado alguns outros bons candidatos, com proveniência noutras correntes ideológicas, mas percebo as suas razões.
Espero, contudo, que destas eleições surja uma candidatura forte, capaz de se bater com Sócrates e com um projecto para o país (uma ideia de país, conforme costumo dizer) que reúna contributos em todas as matrizes ideológicas, que constituem, afinal, toda a riqueza do PSD e podem ser a riqueza de um projecto político de governação.

Saga Aérea

Já antevia que a liberalização do transporte aéreo para a Madeira seria um desastre.
As razões são óbvias: Na prática só voa para a região a companhia de bandeira. A SATA não tem músculo para fazer sombra à Tap. Além disso, são companhias parceiras de negócio – partilham aviões e lugares, na rota Funchal, continente. A Portugália é um sonho. Ainda voam os aviões, mas a empresa já não existe. Foi “engolida” pela Tap.

Só com base nestes três pressupostos é fácil perceber que não existiam, como ainda não existem condições para deixar o mercado funcionar. Nesta e noutras áreas, como é o caso do petróleo, ou dos cereais, por exemplo, quem fixa os preços é quem tem o poder.

A Tap agora cobra uma taxa por tudo e por nada: 50 EUROS, para quem mexer na data da passagem. Se não avisar com antecedência são mais 50 EUROS (100 euros) e no caso de não existirem lugares disponíveis na classe do bilhete, o passageiro é obrigado a desembolsar mais o acerto.

Exemplo prático: Viagem Funchal-Lisboa em classe económica 242,63. Foi necessário alterar o regresso + 50 euros de penalização + 42 euros porque não existiam vagas na classe adquirida . Total 334,63.


Em Portugal quem tem autoridade para fiscalizar este abuso de poder???? O Instituto Nacional de Aviação Civil? A polémica ASAE?? A Autoridade da Concorrência????
Será que os nosso governos (Madeira e Continente) – preocuparam-se em saber se existia concorrência na linha, antes de abrir o mercado??????

É um tema que dá pano para fazer muitos fatos.

Nem falo da hora que perdi entre os CTT; a agência de viagem onde comprei o bilhete e o balcão da Tap, que agora chama-se Groundforce. A minha sorte é que, as três entidades, não distavam uma da outra, mais de 15 metros. Levantei o subsídio no Aeroporto.

18.5.08

Feminismo tomado de assalto?

E de repente, um congresso feminista foi tomado de assalto pela ILGA (essa associação de gente maluca, não pelas suas orientações sexuais, mas por serem mesmo fundamentalistas malucos) e já parece um congresso sobre a homossexualidade no feminino...
E, amiga WOAB, desta vez não é o meu conservadorismo que veio ao de cima. Foi mesmo a má opção que a UMAR decidiu tomar...

Verdade ou consequência?

Manuel Alegre defende que Portugal inteiro deveria sair à rua para a defender a honra do impoluto Mário Soares face aos ataques e insídias de um jornal angolano. Provem-me que as denúncias (que correm à boca pequena há já muitos anos) do dito jornal são reamente caluniosas e eu serei o primeiro da linha da frente. Caso contrário, engulam-nas!

As novas oportunidades, velhos vícios

As novas oportunidades, mas os velhos vícios. E as desculpas de ministra da Educação são completamente imbecis.
Então o estado (o tal que afirma querer acabar com o trabalho precário) tem milhares de formadores das Novas Oportunidades a trabalhar a recibos verdes e a alguns não paga há meses e a ministra (a tal que quer moralizar a classe docente) acha que este é apenas um problemazinho a resolver?

Ainda sobre o acto criminoso de Sócrates

Alguns querem fazer crer que o acto do primeiro-ministro ter puxado de um cigarrinho dentro de um avião, quando ele próprio criou uma lei que proíbe o fumo dentro de transportes públicos, é de somenos importância. Mais, há mesmo alguns que acusam o jornalista de conduta incorrecta pelo facto de se atrevido a noticiar o incidente, quando viajava à borla no avião fretado, parecendo que o repórter teria a obrigação de ter calado o crime porque convidado (diz muito acerca do que Miguel Sousa Tavares pensa e/ou fez do/no jornalismo).
Mais, parece que o mea culpa deveria ter lavado a imagem do primeiro-ministro. Pois, mas a questão não é essa. Para mim, o acto apenas indicia algo de muito grave: que esta gente julga-se acima de lei e que não se reconhecem a si próprios os deveres que querem impor a todos os outros.
Aliás, a situação já chegou a um tal nível que mesmo deputados como João Soares acham que não têm que cumprir as regras que criaram, conforme demonstra a sua resposta à questão colocada pelo jornalista do Expresso sobre a não actualização da sua declaração de interesses.

Também acho piada, esta de andar a fretar aviões a torto e a direito. Ainda lembro-me de uma certa polémica que envolveu políticos do PSD, por não viajarem em voos comerciais. Mas esses eram outros tempos...

Lógica ministerial ou tiradas de génio?!

É possível aprender com chamuças...
A minha ausência não quer dizer que esteja ausente.
Apenas ocupo-me com outras coisas.

Gosto da globosfera, mas por razões várias. Por falta de imaginação, por preguiça, por falta de tema………afastei-me…..


Para ti, Sancho, um grande abraço. Sem o teu contributo este “blogue” já teria encerrado as portas. Para o Gonçalo – o pai da criança – outro abraço. São os motores deste espaço.

Para os leitores - todos sem excepção – o meu muito obrigado pelas vossas visitas.
Não é um texto de despedida.

Espero que seja, o continuar..............