22.6.07

Elogio à Loucura*


Às vezes, só com muito loucura se consegue viver neste país!
*Erasmo de Roterdão

À distância de um século

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.(…)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, "Pátria".

Querem aplicar o texto à Madeira? Estejam à vontade. Mas não se esqueçam de aplicá-lo todo o território tuga. Porque na Madeira não se passa nada que não estejamos já habituados a ver por terras rectangulares.
E não vale assobiar e olhar para o ar, como certamente gostariam muitos socialistas madeirenses.

Diálogos

Godfather II

[Ordering drinks in a Havana cafe]
Fredo Corleone: Uno... por favor...
[to Michael]
Fredo Corleone: How do you say "banana daiquiri"?
Michael Corleone: "Banana daiquiri."

Momentos de campanha

De mangueira na mão, o candidato do CDS andou a lavar as paredes desse inestético graffiti que invade as ruas da capital. A campanha oferece de facto momentos divertidos e primorosos. E o Dr. Telmo Correia, felizmente para nós, é um pouco como o Dr. Monteiro: compensa a falta de ideias com as tristes figuras que está disposto a fazer para aparecer na comunicação social. Ao seu lado, mas a considerável distância para não molhar os sapatos italianos, o Dr. Portas seguia o momento com inusitada atenção enquanto cumpria o seu dever (olhar derretido para o seu petiz) e uma promessa (aparecer na campanha e no jornal). Entretanto, o líder do partido chique (ou será queque?) lançou um curioso enigma: “a atitude de Telmo Correia é limpar a cidade”. Como é óbvio, limpar a cidade presta-se a vários significados e interpretações, alguns deles mais tenebrosos do que outros. O Dr. Portas estratégica e sabiamente não esclareceu o enredo em que o Dr. Telmo se propõe limpar a cidade. Mas eu, se tivesse aquele aspecto sujo de adepto da alter-globalização, ponha-me a pau. Nunca se sabe, quando numa esquina dessa imensa Lisboa não surgirá o Dr. Telmo Correia de mangueira e desinfectante, logo seguido do Dr. Portas, de tesoura e corta-unhas, numa versão moderna do clássico sabonete e toalhinha. Depois não digam que eu não avisei.

O Ginjas

Pela campanha de Lisboa anda o nosso célebre Manuel Bexiga agora travestido de Ginjas, um tipo com brilhantina no cabelo e aspecto mafioso. O Dr. Manuel Monteiro, líder do movimento que contratou a personagem, já veio dizer que o propósito das acções do Ginjas é denunciar a farsa em que mergulhou a política em Portugal, para ele e para muitos, um verdadeiro exercício de riso e comiseração. Na verdade, o Dr. Monteiro é bem capaz de ter razão. A quadrilha atraída pelas eleições em Lisboa é um belo e triste exemplo da decadência da classe, situação que não iliba o próprio líder do PND, como o ilustre caso revela e patenteia. O Dr. Monteiro sonha fazer assim uma campanha humorística, original e contundente. Mas olhando para o Dr. Monteiro, tem-se a imediata sensação que o dinheiro foi redondamente mal gasto: a sério ou a brincar, infelizmente para o PND, que ninguém liga peva, o resultado não deve passar dos 0,5% do costume. Com ou sem teatro.

Tomates

Salman Rushdie, um escritor que conheço mal, foi agraciado com o título de Sir pela Rainha de Inglaterra. Fatal como o destino, a coisa provocou indigestão em algumas pessoas e profunda azia nas ruas de países tão originais como o Paquistão, onde em jeito de homenagem paralela se queimaram bandeiras e livros em festivais pitorescos. Convém lembrar que na Alemanha Nazi também se começou por queimar livros. No dia seguinte, na mesma fogueira já se queimavam homens. Uma semana depois, distraidamente, marchava-se sobre a Polónia.

Há, desgraçadamente, muita gente que ainda acha que nos devíamos sentar à mesa com este tipo de primata. Como é óbvio, os exemplos desmentem e não permitem qualquer leviandade: ceder a esta gente e a este tipo de contestação é desistir de tudo, incluindo desistir daquilo que tanto nos custou conquistar. Poucos políticos teriam hoje a coragem da Rainha, pessoa que particularmente admiro. É nas alturas difíceis que se vêem os grandes líderes. E se dúvidas ainda existissem, ficou claro que a Rainha tem… tomates.

Pinto cercado

Parece que a "coisa" tá a ficar complicada para os lados do sr. Pinto da Costa... É caso para dizer que o Pinto está cercado...

Qual foi a ideia?

Sinceramente, não percebi a ideia peregrina de contratar o Derlei. Logo este ano que as coisas estavam a correr tão bem...

Oxalá esteja enganado, mas parece-me que o rapaz, depois das épocas magnificas que fez no Porto, acabou para a bola...

Bem sei que o homem veio de graça...

O combate do dr. Pereira

O sr. deputado Carlos Pereira, pessoa a quem reconheço valor e competência técnica na área económica, resolveu ser o "porta-estandarte" do programa socialista intitulado "quem-tem-culpa-da-derrota-são-os-outros-porque-nós-cá-somos-uns-tipos-bestiais". Como tal, deitou mãos à obra e encontrou a "besta negra" que derrotou o seu partido durante mais de 30 anos: a imprensa.

Convém, no entanto, fazer um "ponto de ordem" e lembrar algumas coisas ao deputado.

Em primeiro lugar, se há alguém, nesta terra, que não se pode queixar da imprensa é ele. Porque independentemente do mérito de algumas iniciativas suas enquanto secretário-geral da ACIF, a verdade é que poucas organizações, e poucas personalidades, tiveram a cobertura mediática de que gozou, durante anos, o dr. Carlos Pereira, em órgãos de comunicação social como o Diário ou a RTP-M.

Semana sim, semana sim, lá vinha a sua fotografia, a propósito de uma iniciativa qualquer. Eu, enquanto fui jornalista, não me lembro de "haver faltas de comparência" em apresentações conduzidas pelo então secretário-geral da Associação Comercial e Industrial do Funchal. Diário, RTP e mesmo JM marcavam presença, à hora marcada em todas as convocatórias.

Com mérito, mas também empurrado pela onda mediática que soube criar à sua volta através do espaço de opinião que tinha (e tem) no DN, de presenças assíduas na RTP-M e na RDP-M para comentar os mais diversos temas, de entradas nas páginas e nos tempos dos restantes órgãos de comunicação social, o dr. Carlos Pereira resolveu lançar-se na política. Creio que fez bem. Fez aquele que eu considero ser o melhor caminho: construíu uma carreira profissional e quando se achou preparado avançou para o combate político. Escrevo-o sem qualquer tipo de ironia.

Lançou-se numa candidatura à Câmara do Funchal. E conseguiu uma cobertura mediática absolutamente ímpar, particularmente no Diário, aquando do lançamento da lista. Lembro-me de uma edição recheada de fotografias do dr. Carlos Pereira. Eram quatro, em quatro páginas diferentes, ilustrando quatro notícias diferentes. Penso que na Madeira poucos foram os políticos (AJJ no JM não conta) que tiveram semelhante honra. Durante muitos dias seguidos o actual deputado apareceu, sorridente ou não, nas páginas do Diário. Uma forma clara de mediatizar uma lista que, depois, teve os resultados conhecidos.

O dr. Carlos Pereira mantém um espaço no DN onde, semanalmente, escreve aquilo que lhe apetece. Curiosamente, aquele que foi número dois da sua lista à CMF, Luís Vilhena, tem também o direito de partilhar a mesma glória. E ninguém tem de contestar a situação. É legitima.

O dr. Carlos Pereira é convidado regular da RTP-M. E ninguém contesta os critérios que levam a televisão a convidá-lo a ele, e não a outra personalidade qualquer.

O actual deputado soube, de facto, mediatizar a sua imagem, conseguindo que as iniciativas que encabeça tenham cobertura na imprensa. Às vezes, com mais destaque do que aquele que deveriam ter (digo eu). É mérito seu, e esse ninguém lho tira.

Mas sendo assim, o dr. Carlos Pereira é a pior das escolhas para encabeçar o programa acima referido.

Post-Scriptum 1 Hoje, o líder parlamentar do PS, Vitor Freitas vem, em carta de leitor (ele, que também tem espaço permanente na imprensa de cá, tal como aqueles que lhe estão mais próximos) defender o "seu" deputado
Na óptica do PS fez bem. No lugar dele eu faria exactamente a mesma coisa. E procurava criar um facto político, desviando as atenções dos problemas internos do PS, da falta de soluções que empurraram João Carlos Gouveia para uma liderança a prazo que, na minha modesta opinião, só vai aumentar a erosão, da falta de condições democráticas para se eleger uma lista dentro do partido (quem o disse foram outros potênciais candidatos), da falta de dinheiro que sufoca os socialistas depois da fortuna gasta na última campanha, da sede que já não há...
Em resumo, no lugar do Vitor eu faria exactamente a mesma coisa. Mas tinha o cuidado de escolher outro protagonista para a campanha.

Post-Sriptum 2 : Não chego ao ponto de dizer que a oposição não tem razões de queixa de alguma imprensa. Tem, de facto, em várias situações. E deve denunciá-las e combaté-las, porque uma imprensa livre contribui para mais e melhor democracia.
Agora, o que não se pode fazer é deitar todos as responsabilidades para as costas da comunicação social, elogiando-a quando nos convém, servindo-nos dela para ascender e atribuindo-lhe todas as nossas culpas e fracassos. Porque não lhe atribuir também alguns dos nossos méritos?

Post-Scriptum 3: Percebo e posição do Director da RTP-Madeira. Quem não se sente, não é filho de boa gente.

21.6.07

O medo do Sócrates

Porque será que o "democrático" Sócrates não ousou processar o Público e o Expresso, jornais que deram forte relevo à "trapalhada" em que se transformou a sua licenciatura, dirigindo a sua fúria contra o autor do blog Do Portugal Profundo, um cidadão de nome António Balbino Caldeira?

Será por ter medo de retaliações dos referidos jornais?

Um bom exemplo de coragem, este primeiro! E de tolerância democrática...

Post-Scriptum: Como podem alguns, por cá, criticar quem ataca aqueles aqueles que expressam opiniões diferentes, defendendo ao mesmo tempo um Governo que por lá faz pior?

20.6.07

Porque outros dizem melhor do que eu (2)

Vai fazer um ano que aqui exprimi pela primeira vez as minhas dúvidas sobre a súbita febre de Ota que atacou o Governo (“Foi você que pediu um aeroporto?”). Passado um ano, em que tudo li, ouvi e consultei sobre o assunto, as minhas dúvidas de então transformaram-se todas em certezas ou quase certezas. E, as que restam, passaram de dúvidas a desconfianças.
Tenho hoje a quase certeza de que a Portela não está saturada, ao contrário do que dizem, inocentemente ou não. Não está saturada hoje e não estará se e quando houver TGV e ele vier retirar à Portela uma grossa fatia de passageiros com origem ou destino no Porto e Madrid. E tenho a certeza de que as dificuldades de estacionamento na Portela se resolveriam com a anexação dos terrenos de Figo Maduro.
Tenho a certeza de que a melhor solução para Lisboa, no caso de saturação a prazo da Portela, seria a sua manutenção a par de um aeroporto alternativo, modesto e fácil de pôr em funcionamento, como sucede em todas as cidades europeias com grande movimento aéreo. A “Portela+1” seria a solução mais fácil, mais rápida de executar, que melhor servia os interesses da cidade e dos seus habitantes e de longe a mais barata para os contribuintes.
Tenho a quase certeza de que, se a solução “Portela+1” não foi contemplada no estudo da CIP nem no período de reflexão concedido pelo Governo, tal se ficou a dever a um acordo entre a CIP e José Sócrates. E tenho a certeza de que essa solução, justamente porque sairia infinitamente mais barata, é a que menos interessa ao sector financeiro, às sociedades de advocacia de negócios e de influências e ao sector empresarial que está habituado a só fazer grandes negócios quando eles envolvem grandes obras públicas. Não custa a perceber que o Governo do PS tenha aceite este compromisso com a CIP, desde que de fora ficasse a solução mais simples, e que o PSD não tenha esboçado um protesto por não se falar na hipótese da terceira solução. Estão em jogo os interesses dos grandes financiadores do “Bloco Central” – essa eterna tratação entre dinheiros públicos e interesses privados, que traz cativa, de há muito, a capacidade de desenvolvimento do país. Não percam tempo a tentar perceber se há mais “interesses” envolvidos na Ota ou em Alcochete: bilião a mais ou a menos, o que os interesses querem é um novo aeroporto, megalómano, de raiz e tão caro quanto possível.
Tenho a certeza, obviamente, de que entre a Ota e Alcochete – (e confirmando-se a inexistência de danos ambientais incomportáveis em Alcochete) – só mesmo um inimputável é que escolheria a Ota para um aeroporto internacional de Lisboa. Basta um olhar ao mapa para perceber que Alcochete fica mais perto, tem acessibilidades mais fáceis e está alinhado com o TGV para Madrid. Deve custar um terço da Ota e tem a inestimável vantagem de apenas envolver terrenos públicos – ao contrário da Ota, que tem alimentado intermináveis boatos e especulações sobre as jogadas com a propriedade dos terrenos. É ainda mais seguro em termos de navegação aérea, mais fácil e mais rápido de fazer e sem prazo de vida.
Mas também tenho enormes desconfianças sobre o fundamento sério desta súbita decisão governamental de ir estudar agora a alternativa Alcochete. É óbvio que, para já, ela salva do descalabro a campanha autárquica de António Costa, que vegeta sem nenhuma ideia nem projecto dignos desse nome. É óbvio também que a ‘pausa’ serve para não abrir um conflito com o Presidente e visa demonstrar que a célebre teimosia de Sócrates não é insensível à opinião da sociedade civil e à busca da melhor solução para o ‘interesse público’. Pois... mas, se assim fosse, se ambas as soluções estivessem afinal em aberto, não se percebe que continue em funções o ministro que há quinze dias jurava que na margem sul «jamais, jamais» (em francês), e que passou o último ano a pregar a política do facto consumado e do capricho pessoal. Em vez disso, e como vimos, logo no dia seguinte, Mário Lino recebeu, com o maior dos à-vontades, o lóbi autárquico da Ota, para lhe dizer que continuava com eles e que contassem com ele.
Há um ano, Mário Lino e José Sócrates diziam que tinham feito todos os estudos e que não havia dúvida alguma de que Lisboa precisava urgentemente de um novo aeroporto e que isso só podia ser na Ota. Depois, foi-se descobrindo que, afinal, os estudos não estavam feitos mas no início (o de impacto ambiental só agora começou), e que alguns deles, como o de engenharia, desmentiam a excelência da Ota. Descobre-se que nenhuma alternativa tinha sido seriamente estudada e algumas, como Alcochete, nem sequer tinham sido consideradas. Descobre-se que a “certeza” do esgotamento iminente da Portela não levava em consideração factores como a entrada em funcionamento do TGV e baseava-se em previsões de crescimento do número de turistas verdadeiramente mirabolantes. Descobre-se que a solução que o Governo quis impor à força é a mais cara, a mais incómoda para os passageiros, a mais insegura, a mais difícil de executar, a que menos interessa a Lisboa e a de menos futuro. E foi assim que foi tratada a obra pública mais importante das últimas e próximas décadas.
Tal como sucedeu com a regionalização, também agora os socialistas quiseram impor ao país um facto consumado, com “estudos” feitos e sem necessidade de discussão pública. Eu só espero que, como então sucedeu, também agora o país lhes dê a resposta que merecem. E que ninguém se deixe iludir por esta possível manobra de “pedimos desculpa por esta interrupção, a Ota segue dentro de momentos”.


Miguel Sousa Tavares, 18 de Junho de 2007 8:00 por Expresso Multimedia.

Poucas vezes concordo com MST. Desta feita, subscrevo integralmente as suas afirmações. E tiro-lhe o chapéu...

19.6.07

A bota de ouro

Antes em Roma havia um príncipe: Giannini. Agora há um imperador: Totti. Eis o novo bota de ouro europeu. Nada mau para quem nem é ponta-de-lança.



Mais uma obsessão idiota

A notícia do dia de ontem veio dessa por vezes inenarrável União Europeia. De acordo com o comissário Markos Kyprianou, a UE ameaça proibir anúncios à fast-food se as grandes cadeias não deixarem de fazer das nossas inocentes criancinhas os alvos apetitosos da sua enfadonha publicidade.

O motivo prende-se com essa ideia peregrina de que as fast food são as únicas culpadas pela obesidade infantil, ilibando do julgamento, entre outras coisas, o excesso de tecnologia e televisão e a própria falta de pachorra para a educação dos filhos por parte dos pais.

Desculpem a sinceridade, mas o repertório para além de repetitivo começa a ser monótono.

Já aqui disse que sempre gostei de ver o Estado a tratar os seus cidadãos como perfeitos atrasados mentais. É o novo espírito dos tempos, o zeitgeist, numa época decidida a fazer da espécie humana um exemplo de pujança e elegância físicas associadas a uma grande e dramática longevidade. Viver até aos cem anos não é apenas irrazoável: é paranóia e obsessão. Mas num tempo onde uma palmada no rabo de um petiz pode ser razão para um processo numa comissão de menores, convém não abusar da sorte nem tentar ser engraçado.

Na realidade, a proibição aos anúncios é apenas mais um pequenino passo rumo ao politicamente correcto e à higienização dos costumes. Falta pouco para proibir as batatas fritas, os refrigerantes com gás, a carne vermelha, os chocolates, as bolachas, os enlatados e qualquer coisa que leve corantes e conservantes ou seus derivados.

Tudo isto é infelizmente mais um exemplo triste de como o ridículo chegou para ficar. Pena que neste cenário sejam as crianças a pagar pela frustração dos adultos: afinal foram eles que nunca perceberam que é preciso educá-las hoje para não ter de castigá-los amanhã.
Não percebo porque é que este blogue aparece com postagens das oito da manhã que não existem quando são meio-dia…

Notícias sempre interessantes...

Notícias interessantes em qualquer parte do mundo. Aqui, aqui, aqui, aqui e ainda aqui. lol

Big Brother is watching you

Como o Google vai tomando conta da nossa vida… Devagar. Devagarinho…

O Filho Pródigo, ou a parábola do murmurador? (2)

Há uns tempos atrás, escrevi que não percebia a cobardia que reinava na blogosfera madeirense, pelo facto de muitos frequentadores aproveitarem este espaço de liberdade para, a coberto do anonimato e em jeito de catarse, lançarem todo um manancial de ofensas pessoais.
Na altura, o Nélio Sousa justificou este anonimato com o medo e a natureza ofensiva com esse autêntico desporto regional que é a maledicência.
Na ocasião, senti-me tentado para concordar com o Olho de Fogo (gosto de ser convencido, e o Nélio apresentou uma argumentação rigorosa e sustentada). Todavia, a questão do medo começa a deixar de fazer sentido, se atentarmos à caixa de comentários da Esquerda Revolucionária, de Roberto Almada, dirigente do BE. Ali vemos um sem-número de ofensas pessoais baixas, pessoas que são cobardemente vilipendiadas, enfim...
Ora, se o medo é o catalisador do anonimato - e quando se fala de medo, entendo como medo do poder -, não percebo o porquê do anonimato. É que eu saiba, o Roberto não é empregador, não governa, nem sequer é deputado. Mais, as ofensas propagam-se a outros dirigentes do BE, chegando mesmo à filha do líder que, segundo estou em crer, nada tem a ver com a liderança do BE.
Apesar da argumentação do Olho de Fogo continuar a ser tentadora, a verdade é que começo a duvidar que o medo seja o principal catalisador. Cheira-me que poderão haver outros motivos, bem menos nobres (ter medo não é sinal de cobardia. Pode, portanto, ser um acto nobre).

Chamem a polícia...

Desde as últimas eleições, temos assistido a um fenómeno preocupante na blogosfera madeirense.
Em blogs assumidamente anti-PSD (nalguns, pelo menos, porque continuam a existir boas excepções) temos visto as críticas às políticas serem substituídas pela propagação da ideia de que no governo e nas autarquias madeirenses apenas existem corruptos (que controlam o poder judicial e a comunicação social, está bom de ser ver).
Aliás, houve um blog que arriscou mesmo que a única forma de derrotar o PSD é pela via legalista (para quê debate político, é preciso é que eles vão presos).
Inicialmente, até achei piada porque - pareceu-me - reflectia o desespero que afectava alguma oposição. Neste momento já não me diverte tanto, porque indicia um tempo em que não se fará combate político, mas tão-só caça às bruxas. Não sei se por orientação da cúpula nacional partidária, se já por efeito da candidatura de João Carlos Gouveia à liderança do PS, a verdade é que deixámos de ler discursos políticos, que foram substituídos por discursos legalistas.
Mas a gravidade até nem tem a ver com o facto de tentarem vender a ideia de que o PSD só se perpetua no poder porque a repressão judicial e a comunicação social não funcionam na Madeira. A isso, acho que o Povo madeirense já respondeu nas últimas eleições.
É grave, porque revela que alguma oposição já deixou de o ser, isto é, já não quer fazer oposição política. Demonstra que o debate está a ser substituído pela denúncia judiciária, que já não existem assuntos políticos, mas tão-só assuntos criminais. Não me admirava nada que, mais dia menos dia, a frase mais ouvida pelas inúmeras assembleias madeirenses seja: "Chamem a polícia..."
Isto parece brincadeira, mas é efectivamente preocupante. Porque a estratégia mudou e não augura nada de bom.

O blog do "chega"

Um blog de leitura diária (quase) obrigatória.

Chega de Saudade.

Second Life

Quem quiser saber mais sobre The Second Life, faça o favor. O sítio é, realmente, impressionante.

Expresso com correspondente no "Second Life"


Há quem viva uma segunda vida, sem calhar mais motivante que a primeira. Serão reais as emoções do "Second Life"?

Confesso ter dificuldade em lidar com o fenómeno. Confesso que ainda não percebi se as janelas se abrem para um "admirável mundo novo" ou se permitem apenas mirar um universo virtual mais sórdido do que este.

Poderá o corpo materializar-se em outra coisa qualquer, numa imagem desejada? Poderá a vida ser como gostaríamos que fosse? Poderemos um dia ser como os outros gostariam que fôssemos? Poderão nascer afectos sem o cheiro, sem o toque? Afectos assexuados?

Há quem ganhe dinheiro real no "Second Life". Mas será mesmo real? Há quem se confunda com a personagem do "Second Life". E há quem, simplesmente, se funda com ela. E há quem aproveite as tendências. O cinzento Semanário Expresso, por exemplo, contratou um correspondente permanente nesse mundo paralelo.

Eis a notícia, retirada da edição de hoje da "Meios&Publicidade":

O semanário Expresso já tem um correspondente permanente no Second Life. Miguel Martins, editor multimédia do semanário, justifica a aposta do título neste universo alternativo. "Há uma série de tendências do mundo digital em que não podemos de deixar de estar presentes na vanguarda destes mundos digitais", sintetiza, referindo que instituições portuguesas como a Universidade de Aveiro já inauguraram inclusive um campus no Second Life.

Com a entrada neste universo alternativo, o Expresso é o único título de imprensa portuguesa a manter um "correspondente em permanência no Second Life", afiança o responsável. José Antunes, um jornalista do Expresso, especializado em internet, jogos e realidade virtuais, é o enviado especial do título no Second Life, garantindo a cobertura de acontecimentos que ocorrem neste mundo virtual. A regata do America's Cup ou a festa de inauguração da telenovela da Globo são alguns dos acontecimentos que o jornalista relata nos seus envios para o site do semanário, estando a informação disponível na secção Dossier, em Second Life - O Jogo da Vida.

Quando questionado sobre se o jornal cogita avançar com outras iniciativas para o universo digital, o editor multimédia não avança detalhes mas admite que "este é o primeiro passo de iniciativas do Expresso no Second Life, tanto a nível editorial como comercial".

Será real, o Expresso?

18.6.07

Quando o Pecado Existe

Domingo a RTP1 exibiu um ícone do cinema moderno.

Chama-se SIN CITY – A CIDADE DO PECADO.
Não confundir um ícone com obra-prima. É um filme que rompe com alguns paradigmas cinematográficos, em termos estéticos.

É a cor, (o cinza, o preto e o branco) as personagens (parecem bonecos), ou o filme não fosse a adaptação para cinema da BD de Frank Miller. É no fundo, uma homenagem ao “cinema negro” dos anos 50.

O argumento não fica atrás. Vi o filme no cinema e revi ontem alguns bocados. Normalmente não repito filmes mas confesso que fiquei deslumbrado.

Não tenho dúvidas que daqui a 20 anos ainda será um filme citado. Sobretudo pela novidade, pela criatividade e renovação estética. Por detrás estão grandes nomes. Na realização Quentin Tarantino (filmou uma sequência) e o próprio Frank Miller. Pai da BD e Co-realizador com Robert Rodriguez. Na interpretação existem mulheres fatais. São figuras do sub mundo da Cidade do Pecado. No outro lado da cidade há um senhor que não gosto, mas esteve à altura. Bruce Willis.


Para rever em DVD e de preferência em casa.

Dúvida I

Nesta segunda-feira pouco existe para comentar. Quer dizer, poucos assuntos merecem ser tratados.
Domingo ouvi o Secretário com a pasta da agricultura anunciar fortunas para os agricultores. 20 Milhões de euros da União Europeia para a Madeira. Ouvi e fiquei a pensar se o dinheiro vai chegar aos agricultores. Àqueles que trabalham de sol-a-sol os difíceis socalcos das terras madeirenses??? Aos homens e mulheres que cresceram a cuidar dos nossos poios? Hoje são “senhores agricultores”. A maioria não tem estudos. A maioria não sabe ler. Como é que o Governo vai fazer chegar o dinheiro a esta gente de trabalho? Aos tais senhores agricultores. Será que já pensou nisto Senhor Secretário?

Cuba na Revista

Excelente a reportagem do Márcio Berenguer em Cuba, publicada ontem na Revista do DN. (Só a li agora). Parabéns, camarada.

Everyman


Everyman (Todo-O-Mundo, na edição portuguesa) é provavelmente o melhor livro de Philip Roth. É sem dúvida o mais duro. O mais angustiante. "O combate de um Homem contra a Mortalidade", diz-se na recensão crítica. Ou a busca da absolvição na antecâmara da derrota final.


"A velhice não é um combate, é um massacre", diz a dada altura a personagem principal. Aquela que conhecemos no seu próprio enterro. Aquela que acompanhamos nos seus últimos anos. Aquela que se vai degradando fisica e moralmente na mesma proporção em que vai percebendo a aproximação do nada absoluto que é para ela a morte.


Everyman é um livro duro. Se calhar, inconclusivo (tal como a vida, de resto). As suas páginas são varridas pela poeira dos cemitérios. Pela temperatura gélida dos cadáveres (perdoem-me os lugares comuns). E o que fica delas: o som seco da terra sobre a tampa do caixão. E os ossos. Não é isso que ficará de cada um de nós?


Poucos foram os livros que me fizeram dormir mal. Este foi um deles.


Na lombada, deveria ter esta mensagem: "Não aconselhável a pessoas impressionáveis".


Por tudo isto, Everyman é uma obra prima.