12.12.09

Ladrões

Benfica - 2
Porto d - 2
Arbitragem: ROUBALHEIRA

E ninguém arromba a porta?

O Magalhães é tão boommm!...

Cento e oitenta milhões de Euros foi o que Sócrates desviou da Acção Social Escolar para pagar à JP Sá Couto (deixem-se lá que engenharias financeiras elaboradas, porque o dinheiro foi lá bater). Cento e oitenta milhões desviados dos apoios sociais, das refeições e transportes escolares. Tudo em prol de uma demagogia política, de um trunfo propagandístico que, conforme se verá, não tem qualquer relevância educativa. As crianças ficaram por apoiar, as escolas continuaram por equipar, e a JP Sá Couto (e, sabe-se lá mais quantas empresas) meteram ao bolso milhões de Euros. Ora, batam lá mais palminhas ao Magalhães! É que é tão fantástico (na relação preço-qualidade, não será do piorzinho que existe no mercado?), tão boommm...

PS-Madeira a ver navio AJJ passar

Mais uma vez, Jardim dá água pelas barbas aos seus opositores, internos e externos. Não sou grande adepto da "real-politik", mas AJJ comprova que neste jogo é mestre.

E, enquanto o PSD-Madeira consegue mais esta vitória (não discuto a bondade da medida, apenas a vitória política), o PS-Madeira demonstra que é uma absoluta irrelevância política. Ñão conta para nada, nem na Madeira, nem fora dela e nem mesmo os camaradas de Lisboa se lhes passam qualquer cavaco. Elucidativo é o facto de andar a proclamar a bondade da LFR, quando está mais que visto que esta lei está moribunda. Até José Manuel Rodrigues consegue ser mais relevante politicamente do que o PS.

E assim sendo, como pode almejar ser, alguma vez, poder?

11.12.09

Público versus Privado

Há matérias que não percebo.
Há anos uns políticos - por acaso não votei neles, (vivo e voto noutro município) mas é como se tivesse depositado a minha confiança nessas pessoas - entregaram espaço público – ou seja que é de todos nós - a uma empresa privada para um novo negócio. Chama-se parcómetros.

A decisão, política, foi na altura sustentada em indicadores da economia neoliberal. Ou seja, que o sector público deve emagrecer. Apenas deve ficar com a gestão do que é essencial, como a água, a electricidade... O problema é definir o que é essencial do acessório.

Não tenho dúvidas que a responsabilidade da actual crise financeira, económica e social que atravessa o mundo, se deve, em parte, à economia neoliberal.

Passados alguns anos o munícipe que paga impostos às Câmaras Municipais, à Região Autónoma e ao Estado, volta a ser provocado. Desta vez, quem o faz é a empresa que explora os parcómetros. Anunciou que vai agir judicialmente contra os automobilistas que se atrasam 10, 15 minutos em tirar o carro do parcómetro.
O surreal da situação é quem devia reagir está calado. Pior. Não faz nada. Neste caso é a Câmara do Funchal e os municípios onde as empresas de parcómetros consideram que adquiriram “direitos” sobre o espaço público. Sustentam a posição em pareceres jurídicos



Outro assunto que me deixa triste é a decisão, uma vez mais, política, de criar guardas-nocturnos.

É um outro erro. O Estado e bem, tem polícias para garantir a segurança dos cidadãos. Se essa segurança está a falhar a solução não é fazê-la com os próprios meios. É exigir que o Estado actue sobre as polícias, para que elas executem de forma mais eficiente o respectivo trabalho.

Infelizmente existem políticos que não aprendem com os erros dos outros nem com as falhas do passado.

Nos E.U.A., por exemplo, na década de 90 vários municípios venderam a rende pública de água potável a empresas. Passados alguns anos, as câmaras foram obrigadas a readquiri-las por causa das queixas sobre o serviço.

8.12.09

Sobre LX

Texto publicado no blog do NESD há algumas semanas. A gentil convite do Eduardo.

Saí com 18 anos. De Lisboa conhecia as principais ruas e tinha as referências que curtas estadas em férias me permitiam.
Na sala de embarque tinha duas malas cheias, uma namorada de nome Paula, que veio à aventura comigo (espero que ela não leve a mal a referência, mas já passaram tantos anos…) e uma dose inacreditável de vontade de ver e viver aquilo que para mim era novo. Na Portela tinha um primo do meu pai, que simpaticamente me hospedou em Carnaxide, durante o primeiro mês de Lisboa. Fiquei agradecido pelo gesto mas com a certeza absoluta de que, não tivesse eu encontrado vaga em casa da D. Arlete, no Bairro de Alvalade, teria regressado ao Funchal de malas aviadas em dois ou três meses. O trânsito do IC 19 e os autocarros da Vimeca, para onde me atirava após as rituais correrias contra o tempo que me deixavam sem fôlego e como saudades do “44” amarelo e branco que na minha cidade me depositava à porta de casa em pouco mais de 10 minutos teriam dado cabo deste que vos escreve.
Mas providência divina não quis deixar-me desamparado. E lá surgiu, nas catacumbas do “velho” ISCTE, um anúncio de um quarto – banho diário – relativamente barato ali para os lados de Alvalade. Apaixonei-me por Lisboa na Avenida Rio de Janeiro, num prédio “rosa estado novo” encostado ao quartel de Bombeiros do
bairro construído nos terrenos do visconde que fundou o meu clube.
Foi ali que percebi que afinal Lisboa era mais pequena do que o Tejo e que se podia navegar sem bússola para quase todo o lado. Foi daquele quartel-general sólido que parti à descoberta da cidade. Primeiro timidamente. Depois avidamente, na companhia de dois dos meus mais féis e queridos amigos, o Rui e o Diogo, lisboetas empedernidos.
Como é óbvio não aguentei muito tempo as regras rígidas, quase vitorianas, da casa da D. Arlete e quando pude, uns meses depois, mudei-me para um apartamento alugado por uns compinchas do Funchal, onde me senti em casa pela primeira vez na velhinha capital do império.
Confesso o meu pecado: apaixonei-me mesmo por Lisboa (e em Lisboa, por acaso). Gosto do movimento e da sensação de anonimato relativo. Gosto do novo que se apresenta todos os dias. Gosto das manhãs frias, como aquela em que vos escrevo. Gosto da cor da cidade. Gosto do miradouro da Graça com a sua esplanada onde, com sorte, aos domingos à tarde se ouve Tom Waits e Leonard Cohen. Gosto do Bairro Alto e de Alfama. Gosto do fado da Tasca do Chico e das noites do Lux e da Kapital. Gosto dos jogos em Alvalade e dos rissóis do Tico-Tico (não conhecem? Experimentem…). Gosto da falsa eternidade da cidade. Enfim, gosto de Lisboa, onde volto sempre que posso (hoje estou cá, a propósito).
Pode parecer-vos estranho começar um texto sobre um regresso elogiando tão calorosamente o sítio de onde se parte. Pois é, meus caros leitores, mas para se perceber o ponto de chegada há que entender a casa de partida. Ou estarei errado? Digam-me vocês, que simpaticamente dedicam o tempo a ver estas linhas.
Meti-me no avião rumo ao Funchal – contrariado, confesso – no final de 1999, já lá vão dez anos. Naquele tempo, não era fácil a um finalista de Sociologia encontrar emprego na capital do império. Bem tentei, mas com o sotaque funchalense que Deus me deu - e que eu me recusei a perder - até os call-center se fecharam a sete cadeados.
Sem dinheiro, voltei para a minha cidade – por paradoxal que possa parecer, sempre considerei o Funchal como “a minha cidade”.
Podia dizer-vos que foi fácil. Que tinha saudades da sopa da minha avó, da cama feita pela minha mãe, do ténis de sábado à tarde, das espetadas e do bolo do caco. Era um belo final de texto, ou não? Previsível, como um blockbuster americano. Imaginem a cena final:
- um abraço da mãe sob o sol resplandecente de Dezembro. Amigos à espera para uma festa surpresa. Planos abertos, com uma musiquinha suave e verde, muito verde, como pano de fundo. Sobe depois o genérico. Por ordem alfabética…
Pois bem, meus caros amigos. Destruam a cena idílica. O regresso foi difícil. A sopa da avó sabia mal. Embirrava solenemente com a maneira como a minha mãe fazia a cama. No ténis, a minha esquerda deixara de funcionar e a direita entrava sempre tarde e curta. Os amigos estavam com pouca disposição para festas, uns tão desorientados como eu, outros (des)orientados de outra maneira, casados e pais de filhos, mecânicos responsáveis em belas oficinas auto.
Faltava-me o novo, a liberdade de movimentos, os desafios que a transformação operada em mim por Lisboa pedia. Lamento desiludi-los, meus caros conterrâneos, mas foram mares difíceis aqueles em que naveguei nos primeiros tempos.
Sabem, devo confessar-vos uma coisa. As cidades e os países provocam um efeito estranho em mim: o de querer a todo o custo pertencer-lhes. Não concebo as viagens senão como uma experiência de vivência e de integração. Fiz-me entender? Talvez não tenha sido tão claro como gostaria, mas citando o maior madeirense vivo (desculpem-me se ofendo alguém, não é de propósito), Herberto Helder, é uma questão de estilo. O estilo necessário para pôr em ordem a “desordem estuporada da vida”.
Bem, o facto de ter encontrado um estilo - às vezes confuso, eu sei - e a sorte que me garantiu um emprego de que gostei à partida, contribuíram para que aos poucos me voltasse a integrar na “minha cidade”.
Percebi então que se Lisboa não é maior que o Tejo, o Funchal, e a Madeira, podem ser maiores do que o Atlântico. Basta encontrar um estilo. E usar alguma imaginação.

7.12.09

Parabéns!


Fotografia: Woman once a bird, by Witkin

Segurança (Protecção) Social só para políticos e tecido empresarial?

Ora, garantem-nos os economistas; os pseudo-economistas; os tonto-economistas; os comentadores; os especialistas; os auto-denominados peritos; os fiscalistas; os políticos, entre outros que a Segurança Social não tem viabilidade financeira.
Ora, estou confuso. Então é preciso diminuir os benefícios sociais, em nome dessa sustentabilidade, mas afinal a Segurança Social consegue suportar o pagamento dos "Magalhães" à JP Sá Couto, ou 15% dos aumentos do Salário Mínimo Nacional? Então o sistema está a colapsar, mas sobra para medidas demagógicas, popularuchas e ainda para dar algum à SONAE, à Jerónimo Martins e outros quejandos?

De quê tem medo o PS?

Não percebo o histerismo que o PS tem relevado após o PSD ter anunciado uma comissão de inquérito ao “Magalhães”.
Se o processo é tão transparente quanto defendem; se não houve/há ilegalidades ou actos ilícitos; se a adjudicação à JP Sá Couto, sem concurso, observou as normas de contratação pública; se os financiamentos à Fundação para as Comunicações Móveis são claros e legítimos; se o programa e o computador são assim tão fantásticos, afinal, de quê tem medo o PS?

Louvo a iniciativa do PSD que, com toda a certeza, esclarecerá muitas das questões que sempre coloquei.

6.12.09

Não se regressa a um lugar de onde nunca se partiu!

O NESDlx desafiou-me a escrever um texto sobre a minha experiência fora da Madeira! Fi-lo. Publico-o, também, com a devida vénia ao Eduardo, pela gentileza que teve.


Contra a minha racionalidade religiosa, convivo, desde sempre, com um certo misticismo bretão, druídico, que me permite reconhecer o espírito da terra. Por isso, a Madeira para mim não é apenas uma ilha, não é apenas um local, não é uma simples referência geográfica. A Madeira que vive em mim tem uma imagem antropomórfica, tem um espírito, uma alma e uma consciência. Por ela sou uma espécie de Átis que ama e vive para a sua deusa Cibele. Submeto-me a ela com a pequenez de um humano, ante a grandeza da divindade. A Madeira é minha utopia, é a representação terrena do paraíso, é o meu delírio onírico, é a minha maior paixão.
Por tudo isto sinto que nunca saí da Madeira. É verdade que estive - e, por mais um acaso dos destino, permaneço – deslocado. Mas nunca esse deslocamento representou uma ausência. Não teria sido possível. Não para mim.E foi assim que dei comigo em Coimbra, com a esperança e optimismo que se prendem ao olhar dos 19 anos e a Madeira agarrada à voz. Não, não era apenas o sotaque que carregava e carrego comigo, como se fosse o meu bem mais precioso, que denunciava o sangue ilhéu. Quem então me conheceu – aliás, tal como agora – sabia – e sabe! – que, para mim, ser madeirense é mais do que ser natural da ilha: é um estado de alma, é a forma mais elevada de ser eu próprio.
A sombra da Madeira que o Sol do ocaso projecta sobre o Atlântico – e que suporta a lenda da Ilha de Arguim – acompanha-me desde então e não permite qualquer dúvida acerca da minha origem ou do meu destino. Quem me conhecia sabia que não havia concorrência possível, que a Madeira estava-me inscrita no sangue.
Se Coimbra contou? Se consegui libertar-me das inevitáveis amarras que nos podem atrofiar? Claro que sim! A veneração que dedico à Madeira jamais poderia ser motivo de empobrecimento pessoal, jamais poderia ser causadora de perda ou dano. Para além de que, por vezes, é preciso sair para que estejamos dentro. É preciso que nos transformemos em um outro, para que sejamos mais radicalmente nós próprios. E esta aprendizagem foi realizada. As oportunidades não foram desperdiçadas. Cresci com os outros, apreendi a grandiosidade do que é diferente. E isso apenas foi possível porque me desloquei e é a razão pela qual preconizo a saída da Ilha, como aprendizagem. É imperioso que saiamos, que nos permitamos ser desvelados perante olhares diversos.
Quando, em 2001, regressei ao Funchal, senti ter regressado a casa. Afinal, ao contrário do mito grego, não apenas o percurso era importante. Ítaca também o era, como meta, como objectivo primordial.
É verdade que o sopé do Pico da Cruz já não era o mesmo. O amontoado de bananeiras tinha sido substituído por uma floresta de betão. Os amigos já lá não estavam – não como os imaginávamos.
Mas o cheiro que se entranha em nós, a maresia impregnada de humidade que se cola, o sol derramado sobre o mar quando se esconde atrás do Cabo Girão e, sempre e acima de tudo, o horizonte, mantinham-se inalterados. E se perdia alguma coisa em termos de identificação – intelectual, acima de tudo! -, a verdade é que essa perda era compensada pela mesma matriz histórica, geográfica e cultural, que partilhava com quem então me rodeou. O ventre de onde nascemos era o mesmo. E esses são laços poderosos.
Porque o que me caracteriza não é apenas a minha formação; não é apenas a minha profissão; não são apenas os meus hóbis, ou as leituras que fiz. Não! O que eu sou é o sangue que me corre nas veias e que rasga todo o corpo. E esse confunde-se com a neblina que cobre o Pico do Areeiro, com os ribeiros que recortam a Madeira e com as levadas que a esventram. Sou o olhar que se perde na majestade das montanhas, ou na imensidão do mar.
Se foi fácil a transição? Se regressei diferente? Se tinha outras aspirações? Se sentia que as fronteiras naturais da ilha me poderiam aprisionar? Tudo isso é verdade e tudo isso é mentira. Porque, como disse, não me parece ser possível regressar a algum lugar de onde nunca se partiu. E eu, verdadeiramente, sinto que nunca parti!