18.9.09

OS IDIOTAS*

Nas minhas deambulações por aí (como o outro), tenho visto muita gente a esfregar as mãos de contente pelas duas últimas “bombas” que surgiram na Comunicação Social.
A primeira tem a ver com a alegada compra de votos no PSD. A segunda tem a ver com o caso das escutas ao Presidente da República que, alega agora o pasquim do PS, vulgo Diário de Notícias, partiu do próprio Cavaco Silva.
Ora, os mesmos tipos que aqui há uns tempos benziam-se e juravam a pés juntos que todas as trafulhices que pendiam sobre Sócrates não passavam de uma campanha negra, são os mesmos idiotas que agora vêm, com o ar mais sério e compungido do mundo, manifestar a sua indignação pelas falcatruas que eventualmente ocorreram dentro do PSD. Mais, a imbecilidade deste tipos, que há dois anos gabavam a “cooperação institucional”, chega mesmo ao ponto de lançarem a suspeita de que foi Cavaco Silva que “inventou” a questão das escutas, não se apercebendo, ou querendo ocultar, que esta notícia, ao vir a público, revela que alguém anda, efectivamente, a espiar não apenas órgãos de soberania, como também órgãos de comunicação social.
Mas vamos por partes. Quanto à alegada compra de votos, parece-me que a notícia surge numa altura muito jeitosinha para o PS. Mas como não sou hipócrita, sou de opinião que, independentemente do timming, se há suspeitas, deve-se investigar.
Quanto às escutas, há, aqui questões muito graves que importa ver respondidas rapidamente. Primeiro, os factos. Se o Presidente acha que está a ser alvo de espionagem por parte do Governo ou por parte do PS, tem de denunciar isso publicamente e às instâncias próprias. E o Procurador da República não pode fazer ouvidos de mouco. Tem de tomar uma atitude.
Por outro lado, se o PS acha que isto é uma inventona, deve apresentar queixa, porque uma suspeita destas não pode ficar por assim mesmo, a pender sobre a sua transparência, enquanto partido detentor de uma maioria parlamentar e que corre o risco de ganhar as próximas eleições. Se não o fizer assume, tacitamente, que é verdade que anda a promover espionagem.
Quanto à notícia, a ser verdadeira (eu duvido de qualquer notícia do DN), isto é, que foi encomendada por um assessor do PR, é completamente irrelevante, se a suspeita de espionagem for genuína. O que é grave é que a Presidência tenha querido ocultar essa suspeita.
Mas há ainda uma outra questão: como é que os jornalistas do DN tiveram acesso à troca de e-mails? Ou foi entregue por um dos envolvidos (e, neste caso, os jornalistas do Público devem ser chamados à pedra), ou José Manuel Fernandes tem razão e foi o SIS que violou o sistema informático do Público, sendo esta possibilidade tão grave como a suspeita de que o PR está a ser alvo de escutas. Seria, para mim e para qualquer democrata, impensável que uma força de segurança portuguesa andasse a violar o sistema informático de um órgão de comunicação social. A ter ocorrido, apenas poderá ter sido feita a pedido do primeiro-ministro, superior hierárquico directo do responsável pela organização, o que configura uma situação de absoluto desrespeito pela democracia. Não seria apenas asfixia democrática. Seria a própria morte da democracia.
Por isso é que estranho a alegria destes tipos. E por isso é que os adjectivo de idiotas, porque apenas idiotas é que poderiam estar felizes com uma violência deste tamanho.

*Título que poderia muito bem ter sido roubado a Lars Von Trier

14.9.09

As modernas campanhas eleitorais

A natureza das campanhas eleitorais, como todos os fenómenos políticos, têm evoluído e sofisticado também o processo de competição política. As suas transformações encontram-se intimamente ligadas às próprias transformações da democracia. O período pré-moderno(classificado commumente entre os investigadores) das campanhas eleitorais caracterizou-se por ser um processo de iniciativas de baixo custo, com uma organização descentralizada, e dependentes da boa vontade e disponibilidade dos intervenientes, e acima de tudo muito localizada no tempo. Os canais de comunicação circunscreviam-se à imprensa partidária, aos cartazes; aos panfletos e aos programas de rádio. A segunda fase do desenvolvimento das campanhas eleitorais, identifica-se com o período moderno, com um caracter organizativo nacional, gerida por profissionais (professional managed campaign), com longos períodos de preparação e com alguma cobertura televisiva. Esta fase coincidiu com o surgimento dos partidos catch-all-parties que teve como consequência directa a perda de importância da ideologia da comunicação política e o desalinhamento no conteúdo da mensagem.
Na nossa contemporaneidade, as campanhas têm um carácter permanente, o fim do período legal do desenvolvimento da campanha eleitoral, é procedido por uma nova "campanha" de exercício ou de manutenção do poder. Hoje o modelo de organização e execução das campanhas eleitorais, está baseado na incorporação do capital intensivo, do saber intensivo e de uma comunicação intensiva, que obdece a uma lógica de gestão proffissionalizada.
Todas estas transformações, foram acompanhadas também pelas mudanças operadas no sector dos meios de comunicação de massas. A reconfiguração da imprensa, o desenvolvimento da indústria televisiva e a aparecimento de novas ferramentas de comunicação interpessoal (internet), fortaleceram a sociedade de informação, por onde também passam, as estratégias de comunicação política e eleitoral.
A competição no mercado eleitoral é muito abrangente, não são só os candidatos que procuram o voto dos eleitores, também os media competem no mercado eleitoral, com estratégias de capturas de audiências, apesar de lutarem por activos diferentes, trabalham sob a mesma lógica de withinputs.

13.9.09

PND apresenta queixa à CNE

Deixa-me rir...

Sobre os debates

Na minha opinião, à partida para os debates, havia três campeonatos distintos: a Liga dos Campeões, composta do Paulo Portas e Francisco Louçã; o "intrometido" do Sócrates que ficava ao centro e a Liga dos Últimos, composta por Jerónimo de Sousa e Manuela Ferreira Leite.

O formato dos debates também não parecia ser o mais adequado para o esclarecimento dos eleitores.

Ora, antes de mais, e ao contrário do que me pareceu inicialmente, acho que estes debates serviram muito bem para mostrar os horizontes ideológicos onde cada candidato se situa, bem como para revelar quem tem propostas para o país (e que propostas) e quem não sai da retórica, como única forma de estar na política. Neste sentido, acho que há um grande derrotado, que é Franscico Louçã. Apesar da sua qualidade argumentativa, nunca conseguiu libertar-se do discurso do contra e revelou fragilidades enormes quando foi chamado a apresentar propostas (aliás, tirando algumas boas ideias, o programa do BE é mau, mau, mau!). Perdeu em toda a linha, porque não conseguiu impor as suas qualidades de bom tribuno e ficou exposto na sua (e do BE) fragilidade de conteúdos e na falta de boas propostas de governação.

Ao invés, Portas foi, em minha opinião, o grande vencedor. Dono de uma qualidade argumentativa e de comunicação únicas no panorama político português, com uma agilidade de raciocínio estonteante, Portas ganhou todos os debates onde participou. Foi encostado às cordas algumas vezes, mas conseguiu, "por acumulação de pontos", vencer todos os "jogos". Para tal contribuiu não apenas as suas qualidades retóricas e de homem da comunicação e da "forma", mas também as propostas que apresentou. Em todas as áreas em que se pronunciou, apresentou propostas que, concordando-se ou não, estavam relativamente bem fundamentadas. Portas, em minha opinião, é bem o rosto do PP, composto por gente muito trabalhadora, o que se notou nos debates.

Parece-me que em "ex-aequo" ficam Manuela Ferreira Leite, Jerónimo de Sousa e Sócrates. O secretário-geral do PS porque não foi cilindrado em nenhum debate, quando era muito fácil fazê-lo (mais, nem sequer foi o "bombo da festa" nos restantes debates, o que me pareceu uma má aposta do oposição - mas essa é a só a minha opinião!). Não sendo brilhante, conseguiu que os temas mais incómodos não o fossem assim tanto. Não sei é se este "novo" Sócrates, dulcíssimo conforme se viu ontem à noite, convencerá o eleitorado.

Por outro lado, Jerónimo de Sousa conseguiu mostrar que as bases programáticas do PCP não são assim tão radicais e que à excepção de uma incompreensível lealdade perante a bandeira comunista, o PCP não é igual aos comunistas da Cuba, ou da Coreia, nem sequer parecido ao PC soviético antes de Glasnost. A seu favor contou ainda com a simpatia. Se em cima do acontecimento parecia que ele tinha perdido o(s) debate(s), na memória das pessoas perdurará o seu olhar franco e o seu sorriso honesto. Contra si, pesou a sua manifesta impreparação para discutir aprofundadamente política. Parece-me que ele é quase um senador da ortodoxia (que não é, obrigatoriamente mau, pois garante os valores fundamentais), mas falta-lhe capacidade - até intelectual, porque não dizê-lo? - para discutir programas eleitorais.

Por último, Manuela Ferreira Leite. Esteve razoável em todos os debates. Curiosamente e ao contrário da adjectivação dos socialistas, foi aquela que melhor fez passar as bases programáticas do seu programa, deixando claro que tem substância e que é um programa "de verdade". Os seus opositores, por tanto insistirem no que não estava lá, conseguiram que ela evidenciasse a lacuna dessas argumentações, esvaziando-as. Quer me parecer que dos cinco, Manuela Ferreira Leite foi quem melhor conseguiu passar as propostas que servirão de base à governação. E mostrou que entre o programa e aquilo que diz há uma perfeita sintonia e coerência.
Por tanto lhe querem colar esses rótulos, ficou patente que ela nem é uma neo-liberal, nem é ultra-conservadora. Mais, subrepticiamente, passou a ideia de que o programa do PSD é o único que foge à demagogia tão tentadora em tempo de eleições.

Quanto ao debate entre ela e Sócrates, ao contrário do que ouvi ontem, não me parece que ela o tenha perdido. Bem pelo contrário: conseguiu evitar bem as questões embaraçosas e conseguiu ser transparente. Sócrates bem que tentou apanhá-la nas curvas, mas acho que, na maioria das vezes, saiu o tiro pela culatra, como na questão da economia, da fiscalidade, das questões sociais e segurança social, da saúde, da educação. Tirando o "fait-diver" do caso da Madeira, que o PS agarrou-se com unhas e dentes por manifesta incapacidade para criar uma dinâmica de vitória, a verdade é que na generalidade quem passou algum conteúdo foi Manuela Ferreira Leite. Como prova disto, basta tentarmos lembrar-nos de uma proposta que José Sócrates tenha apresentado ontem à noite. Lembram-se de alguma?
E mesmo com as manifestas dificuldades que MFL tem em comunicar (ao contrário de Sócrates), a verdade é que ela desmontou cabalmente a argumentação de Sócrates, que na forma é melhor, mas muito parca em conteúdos.
Não gosto muito de quantificar, mas se tivesse que avaliar, daria 58 pontos a MFL, contra 42 de Sócrates.

PS - Não é curioso que a Madeira esteja no centro destas eleições? E com tanta subordinação aos interesses do PS nacional, os socialistas madeirenses ainda se perguntam porque não conseguem ultrapassar a mediocridade, nos seus resultados eleitorais. Acho que têm um longo caminho a percorrer e enquanto não ousarem manter-se de pé com honra e dignidade, jamais serão alternativa credível ao tal "polvo" laranja!

Empresários sem quaisquer escrúpulos

Contaram-me, recentemente, que algumas empresas de construção civil ao serviço do Estado, no final das obras chamam o SEF para identificação dos trabalhadores imigrantes ilegais. Porque não tenho certeza desta informação, para já não direi em que empresa isto, alegadamente, se passou. Ao que parece, o motivo para esta vilania inominável tem a ver com o valor das multas. É mais barato pagar a multa, do que pagar aos operários.
Isto, a ser verdade, revela bem a filha-da-putice que trespassa o país!

Reciprocidade, ou hipocrisia?

Este teu texto, mais o teu comentário, demonstram bem que não só te falta humildade (ainda te lembras que achar que estarias em melhor posição para encabeçar uma lista do PS às autárquicas do Funchal, do que Rui Caetano?), como revela o material hipócrita de que és feito. E digo-o claramente, que não gosto de subrefúgios!
E cansa-me argumentar com hipócritas. Assim sendo, dou por encerrada esta troca de galhardetes!