11.2.07

O voto obrigatório

Talvez por receio legítimo da abstenção, o voto obrigatório tem andado novamente a ser comentado. A ideia não é nova, nem original mas confesso-vos abertamente que não concordo com a mesma porque entendo-a como um absurdo sem muito sentido. Reparem que o Brasil, por exemplo, utiliza este método, de algum modo repressivo, para legitimar uma espécie de ladroagem instituída e não me parece que os brasileiros sejam mais felizes por isso.

Votar é um direito e, simultaneamente, um dever. Ou seja: eu tenho o direito de voto, logo tenho o dever de ir votar. Mas esse direito ou dever não devem ser impostos como meios de aumentar a participação dos portugueses nos processos eleitorais apenas para satisfazer o capricho de políticos totalmente incapazes de mobilizar um eleitorado desiludido e amargurado com o quotidiano. Nem neste assunto nem noutro qualquer.

O problema da abstenção no país, aliás um problema generalizado em boa parte da Europa civilizada, é mais vasto e implica o combate efectivo às suas causas para que o guião não seja menosprezado. O que é preciso saber é porque não vão os portugueses votar. O que é preciso saber é porque preferem (os portugueses) passar os domingos de eleições em todo o lado menos numa fila ou numa mesa de voto. O que é preciso saber é porque desprezam (os portugueses), de ano para ano e cada vez mais, os políticos que se apresentam a eleições. O que é preciso saber é por que é que a imagem dos políticos está sempre conotada negativamente no espaço público. O que é preciso saber é por que razão o aborto não mobiliza [mobilizou] ninguém. Talvez muita gente se surpreendesse com as respostas.