2.4.07

Um cartaz

Em Lisboa, e talvez aproveitando a maré salazarista que varre o país, uma coisa que atende pelo nome de Partido Nacional Renovador, lançou um cartaz temático de conteúdo difamatório e de gosto estético mais do que duvidoso.

O cartaz no seu todo provocou azia nos democratas que não gostam de ver lixo no pomar nem de ouvir quem pensa diferente. A nossa constituição, dizem eles, proíbe a liberdade de expressão a partidos de ideologia fascista e racista, embora curiosamente, e acrescento eu, não proíba o partido do Dr. Louçã que tem oito deputados e ar de gente séria.

Mas querer proibir que alguns digam o que muitos pensam em voz baixa, é sinónimo de intolerância e de desfaçatez. E de como a nossa democracia é ainda uma criança traumatizada na argumentação e na discussão das ideias.

As ideias, nefastas ou não, em democracia, combatem-se pelo debate, pela anulação ou rebatimento do argumento do adversário, pela demonstração das suas evidentes falhas e incongruências e pelo voto maciço em projectos verdadeiramente democráticos capazes de incluir toda a gente. O combate, como é óbvio, também se faz pelo protesto, pela indignação e por outras formas de manifestação. Mas querer esconder um problema, simplesmente sonegando-o ou jogando-o para debaixo do tapete ou da clandestinidade que não se controla nem se conhece, é demonstrativo da incúria que habita num certo pensamento dito democrata e liberal. Pior: é precisamente esta incúria que ajuda a valorizar um adversário sem expressão que apenas procura, publicamente, publicidade gratuita e um efeito mediático que fica a anos-luz da sua aceitação popular. O senhor do PNR certamente agradeceu tão nobre e sentido gesto. Afinal, nem ele estava à espera que a compra de um simples foguete desse tanto fogo de artifício.