6.12.07

Um epílogo

Ponto prévio: a violência nas escolas é uma realidade.

Ponto 1: É salutar que haja polémica. E é salutar que se possa debater pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto, ainda para mais, e aparentemente, baseados numa mesma notícia.

Ponto 2: Já não é tão salutar, embora se aceite, que se tente virar ao contrário os argumentos outrora apresentados. Graças a um artifício, ficamos candidamente a saber que para alguns só se pode falar de violência escolar a partir de uma certa percentagem, que tem de ser calculada através do número total de elementos do sector em análise a dividir pelo número de queixas. Todos os outros casos, abaixo dos intervalos previamente definidos (que eu não faço a mínima ideia de quais sejam), são casos isolados onde ninguém sofre, ninguém sente, ninguém vê, ninguém vive. Em última e radical análise, esta generalização daria inclusive para negar a existência de um problema de sinistralidade rodoviária ou mesmo de um problema de HIV no país, uma vez que as suas taxas são irrisórias, o que absteria o governo, qualquer governo, e os cidadãos das suas responsabilidades.

Ponto 3: Para mim, a violência nas escolas existe e não é negando o problema que ele se resolve. Reparem que eu não digo que a responsabilidade é deste ou daquele governo: antes de mais, a responsabilidade advém do excessivo número de anos que o PS e o PSD (e um infindável número de ministros) dedicaram a reformar e a contra-reformar a educação com os brilhantes resultados que conhecemos e que ainda ontem foram visíveis numa lista da OCDE.

Ponto 4: Este tipo de argumentação traz ainda outro problema: impede-nos de ver as coisas com clareza porque cegados com os números, assumimos que tudo está bem. Reparem que não fazemos a mínima ideia dos números reais (aqueles que estão para além da estatística) da violência escolar, uma vez que não sabemos quantas denúncias ficaram por fazer, quantas escolas abafaram os casos para não terem chatices, quantos alunos, professores e funcionários sofreram em silêncio e, por fim, quantos psicologicamente ficaram afectados, o que pode não ter forçosamente a ver com a violência física ou com os casos denunciados.

Ponto 5: “Quanto às melhorias verificadas, a ministra sublinha o contributo dado pela generalização das aulas de substituição para o "abaixamento do clima de descontrolo nas escolas".” Não são palavras minhas: o “abaixamento do clima de descontrolo nas escolas” são palavras da própria ministra. Assumirmos que há um clima de descontrolo nas escolas é igual a assumirmos que há um problema que é preciso resolver. O que já é qualquer coisa.

Ponto último: Folgo saber que de um post para outro, se passou de um problema que não existe para um problema quase inexistente. Também já é qualquer coisa.