As duas notícias vinham hoje no DN do continente: “Psicofármacos com riscos em crianças” e “Consumo de antidepressivos aumenta no País”. Duas situações indelevelmente associadas e que revelam já um nítido e puro descontrolo no nosso país.
As drogas psicotrópicas têm o seu expoente máximo nos EUA onde o Prozac e o Ritalin, só para citar alguns exemplos, fazem maravilhas pelos adolescentes americanos e, principalmente, pelos seus progenitores que não olham a meios para conseguir a felicidade dos seus rebentos (belíssima forma de lavar daí as suas mãos). Aliás, 10% da população americana (qualquer coisa como 28 milhões de indivíduos e maioritariamente feminina), toma o Prozac (considerado por muitos um verdadeiro ícone do “sexo fraco” e até uma espécie de “Nação”) com o intuito de melhorar a sua auto-estima e realização. O Ritalin, por seu lado, é prescrito para adolescentes e crianças com dificuldades de concentração ou consideradas como hiperactivas (seja lá o que isso for) e tem uma espécie de função contrária ao Prozac.
Conhece-se os riscos daqui inerentes, mas parece que muita gente vê mais prós do que contras nesta administração ad hoc destas drogas para lá de qualquer limite razoável. O seu consumo excessivo tem efeitos e consequências ainda por estudar e não é certo que certos sintomas posteriores não sejam resultado destes medicamentos: depressões, crises, tendências suicidárias e outras coisas do género.
Alguns autores, como Fukuyama, identificam três grandes tendências que resultaram do alargamento das chamadas drogas psicotrópicas nos EUA: a primeira tem a ver com desejo do cidadão comum de procurar numa patologia tão alargada quanto possível as causas dos seus problemas para daí minimizar as suas responsabilidades quanto à “doença” em si; a segunda decorre dos enormes interesses financeiros e económicos que alimentam a monstruosa indústria farmacêutica e que fazem cada vez mais medicamentos para tudo e mais alguma coisa; e, finalmente, uma terceira que é muito culpa de nós todos, e que tem a ver com o facto de querer ver tudo e qualquer coisa como uma doença “urgente” e “incurável”.
Nada nos custa perceber o que este tipo de dosagem anda a fazer pelas nossas crianças e pelos nossos adolescentes, em particular, e por cada vez mais gente, em geral.
Mas o pior, quanto a mim, ainda está por vir e por ver: com o desenvolvimento da engenharia genética e com o conhecimento alargado e integral do genoma humano, a ciência diz-nos que vêm aí os medicamentos feitos à medida (o sonho da genética é fazer o “bebé por encomenda”, por exemplo) que vão, por um lado, garantir satisfação plena e “cura total” consoante o caso e a patologia, e, por outro lado, menosprezar qualquer efeito secundário problemático que impeça o vulgar “tratamento”.
Perante este cenário, o meu sentimento é pessimista. E temo que dentro em breve a moda alastre e chegue a cada vez mais gente…