5.3.05

Viv'ó Gago!

Este é um Governo curioso. Sub-61. Feito ao centro, com algumas concessões à esquerda.

Temos um ministro que adiou a reforma política, Freitas do Amaral, e um mau Alberto na Justiça (quem não se recorda da tenebrosa passagem do Dr. Costa pela Administração Interna? A PSP e PJ lembram-se de certeza).

Um homem do BES (Ricardo Salgado está em todas!) na Economia e um virtual desconhecido nas Finanças. Que vão ter de conviver com um esquerdista convicto - Vieira da Silva - na Segurança Social. Menos Estado e melhor Estado? Mais Estado? Quem saberá?

Na Saúde aparece o homem que desenhou os hospitais S.A. , Correia de Campos. Lembre-se que José Sócrates disse na campanha, várias vezes, que era contra os.... hospitais S.A. Venha o Diabo e escolha!

De saudar o regresso do discreto Mariano Gago à Ciência e Tecnologia - foi o melhor ministro que Guterres alguma vez teve.

4.3.05

Déja vu e constituição da nova selecção portuguesa

Treinador: José Sócrates (a prazo)

Jogadores de Campo: 1- Augusto Santos Silva, 2- Correia de Campos, 3- Vieira da Silva, 4- António Costa, 5- Alberto Costa, 6- Luís Amado, 7- Nunes Correia, 8-Mário Lino, 9- Mariano Gago, 10-Jaime Silva, 11- Maria de Lurdes Rodrigues.

Suplentes: 12-Manuel Pinho, 13- Freitas do Amaral (naturalizado socialista), 14- Pedro Silva Pereira, 15- Isabel Pires de Lima, 16- Campos e Cunha.

A ordem é aleatória.

Nosso Senhor nos ajude.

Eduardo Lourenço

"Na verdade, o único paradigma que dá sentido ao nosso presente é ainda - e talvez mais do que nunca - o do passado. E de um passado não apenas mítico, mas mitificado. Passamos a vida a comemorar-nos no que já não somos, descobridores de mares, senhores fictícios de oceanos onde outros imperam." - Eduardo Lourenço

U2

De súbito, meio mundo queria bilhetes para os U2. Compreendo o drama e a excitação; compreendo as razões; compreendo o problema. É provavelmente a sua última tournée; a banda é um ícone vivo da cultura de massas e arrasta multidões de fãs em êxtase por onde quer que passe; mas não há espaço para todos em Alvalade. Como muitos queriam, poucos tiveram. A lei da oferta e da procura, misturada com algum conhecimento adicional também chamado cunha, foi soberana e decisiva. Supostamente, chegaram à Madeira 250 bilhetes. Supostamente venderam-se 140. Supostamente 110 voaram para parte incerta. Muita gente revoltada. Muito delírio à solta. Muita carta publicada. Muita mistificação, muita dor, muita inveja. Não vale o esforço. Nem a desilusão. Quem se sentir lesado/ultrapassado/indignado/revoltado (riscar o que não interessa) faça boicote ao posto de gasolina em questão. Não mata. Mas mói.

Bom fim-de-semana

Dali - Sleep

Discordar

Raramente concordamos no que quer que seja. Ideologicamente estamos em campos opostos. Ele acredita, ingenuamente, na bondade intrínseca do ser humano enquanto eu duvido em absoluto da tese. Duvido até da documentada existência de Rosseau!

Ele é um optimista histórico e eu, confesso, sou um pessimista. A tal ponto que a perspectiva de amanhãs que cantam me deixa profundamente angustiado.

Admiro-lhe a inteligência e a frontalidade. Qualidades que escasseiam nos dias que correm e que, numa perspectiva weberiana, deveriam ser valorizadas. E se fossem bem pagas tanto melhor...

Passamos dias, e às vezes madrugadas, a comentar o mundo. E a discordar. E criámos uma amizade sólida. Curiosamente baseada na não-concordância. Ou na liberdade de discordar, optando por caminhos diferentes, sem ter necessidade de romper os laços.

Estou, como é óbvio, a falar do Bento. Estou, como é óbvio, solidário com o Bento. Por tudo o que aqui escrevi. E porque acredito no direito de discordar. E de assumir as discordâncias sem que tal signifique assinar uma sentença.

Gonçalo Nuno Santos

3.3.05

Nunca é tarde

O presidente Sampaio descobriu hoje que não chove há meses. E que a água (presumo que a correcta gestão da água) deve ser prioridade nacional.

Muito bem, Sr. Presidente. Nunca é tarde para aprender. Ou para ver o óbvio!

Pois é...

A líder da JS-M, e deputada à Assembleia Legislativa Regional, Célia Pessegueiro, reconhece hoje, em artigo de opinião, que o bom resultado eleitoral do PS de Jacinto Serrão ficou a dever-se ao facto de o PSD se ter deitado "à sombra da bananeira" - a expressão é dela.

Em resumo, o eleitorado não votou no PS porque os socialistas apresentaram melhores propostas, porque tinham melhores candidatos ou porque simplesmente lhe apeteceu. Votou no PS porque o PSD não se empenhou.

Curiosamente, Célia tem razão. Só que lhe fica mal admitir. Por razões óbvias...

Na Ciência Política é comum dizer-se que as oposições nunca ganham eleições, quem as perde são os governos. Mas Célia nunca demonstrou particular apetência para a Ciência Política, portanto, não me parece que tenha interpretado os factos à luz da frase acima referida.

Deixo alguns excertos do artigo de opinião supra-citado, que pode ser lido em www.dnoticias.pt .

«A previsão de que o resultado seria um empate - e porque o presidente do PSD não leva desaforo para casa - representaria muito mais empenho, muito mais trabalho para vencer as eleições. Mas, na verdade, pensou ele, como outros, que estava "no papo". Deitaram-se à sombra da bananeira" não na campanha mas já há muitos anos a esta parte".

Em resumo, Célia admite que o último resultado eleitoral dos socialistas madeirenses não se ficou a dever ao mérito de Serrão, mas sim ao demérito do PSD.

Pois, por estas e por outras...

Gonçalo Nuno Santos

Post-Scriptium 1: Qual será o deputado do PS-Madeira que já ameaçou "bater com a porta" e abandonar o Grupo Parlamentar? E será que o nosso homem está sozinho, ou há mais... saídas à vista.

Dá-se uma réplica de uma Casa de Santana a quem adivinhar...

Post-Scriptum 2: É curioso. Na Esquina (www.esquina-do-mundo.blogspot.com) o Bento escreve que, coligado ou não, o PS pode «causar mossa» nas próximas autárquicas, particularmente na Câmara do Funchal. Então porque fogem os "notáveis" socialistas ao confronto com Albuquerque?

Jacinto já disse que nem pensar. Bernardo nem quer ouvir falar do assunto. Sobra quem? Maximiano (alguém acredita que vá deixar o conforto de São Bento?)? Um «independente que anda de cadeias às avessas com o PSD» e que "carrega" uma aura de competência? Victor Freitas? Ou alguém "para queimar"?

Não seria tempo de os principais rostos socialistas assumirem o desafio? José António Cardoso, honra lhe seja feita, teve coragem. E na política, é preciso coragem. De "ratos de bastidores" estamos todos fartos...

Felizmente houve alguém que disse II

"Como era de prever depois das eleições, Cavaco Silva e os seus apoiantes foram reduzidos ao estatuto ambíguo de cavaquistas e tornaram-se o alvo a abater de todos os lados"

Pacheco Pereira - in Público

Post-Scriptum: Pelos vistos, não era só Santana que gostava de desempenhar o papel de vítima!

2.3.05

A leveza do betão



A engenharia, às vezes, produz beleza... Japão, 2005

Finalmente houve alguém que disse I

"Advogados são responsáveis pela morosidade da Justiça".

Nunes da Cruz, candidato à presidência do Supremo Triunal de Justiça in Público on-line

ver: Candidato à presidência do Supremo culpa advogados pelos atrasos na justiça

O "outro"

Nem Jardim, nem Marques Mendes, nem Luís Filipe Menezes. A verdade é que os leitores da "Conspiração" parecem querer o "outro" à frente do PSD.

Com 36% dos votos, o "outro", mesmo com a face oculta, mesmo sem linha programática e sem anunciar a equipa, tem uma vantagem razoável sobre os restantes nomeados.

Marques Mendes é visto como "mais do mesmo". E está em último, com apenas 11% dos votos. Luís Filipe Menezes regista 24% das preferências.

Já Alberto João Jardim persegue o "outro", obtendo 29% dos cliques. E o segundo lugar do presidente do Governo Regional da Madeira confirma que está toda a gente farta deste PSD...

O inquérito estará on-line até sexta-feira.

É verdade

A correcção feita pelo Bruno está correcta. Bato com a cabeça na parede e penalizo-me. A saga do "Padrinho" foi realizada por Coppola e não por Scorcese, como erradamente referi. A pressa e o facto de ter escrito o texto sem consultar cábulas devem estar na origem do erro... crasso. Desculpem lá...

Pudera

ONU alerta para excesso de drogas legais em Portugal, escreve hoje o Público on-line (www.publico.pt).

Pudera, para viver num país como Portugal ou se é alienado ou reage-se sob efeito de antidepressivos (consumo de antidepressivos aumentou 45 por cento nos últimos cinco anos)...

Duas notas, um apontamento e pequena correcção

Primeira nota: Agradecer ao Gonçalo o convite feito para participar neste projecto, dizendo-lhe que espero poder contribuir activamente para o mesmo. Manter-me-ei de corpo e alma aqui enquanto sentir que este é um projecto interessante, inovador, responsável, sério, íntegro, honesto, divertido e abrangente. E, claro, enquanto me quiserem.

Segunda nota: José Gil, filósofo de repente na moda e que eu ando a ler com algum interesse, diz-nos que duas das razões principais para a manutenção do divórcio português entre conhecimento e democracia, são a ausência de um verdadeiro espaço público (na noção de Habermas) onde as coisas se debatam e onde exista verdadeira e empenhada participação; e a já tão propalada não-inscrição, ou o facto de neste país à beira-mar plantado com muitos anos de história, nada de facto acontecer “que marque o real, que o transforme, que o abra”. Infelizmente, é muito provável que tenha razão.

Um apontamento: Gosto do nome do blogue, mas não consigo desvendar a suposta mensagem subliminar que ele oculta. Mas diga-se em abono da verdade: não sou muito imaginativo nem grande detective. Dificilmente conseguiria desvendar um enigma.

Pequena correcção: A saga do Padrinho, a qual recomendo vivamente (principalmente a parte I e II) foi realizada por Coppola. Não por Scorcese.

Bruno Macedo

1.3.05

Rapidez que até assusta

Não deixa de ser estranha a rapidez (pouco mais de três dias) com que ficou decidida a venda da PT Multimédia à Olivedesportos, de Joaquim Oliveira. Numa época de transição, as decisões tomadas com muita celeridade deixam-me sempre...nervoso.

Ainda por cima, estamos a falar da venda de um dos maiores grupos de comunicação social portugueses. De um negócio que ultrapassa os 300 milhões de euros. E de um grupo empresarial vocacionado para a gestão de negócios na área do desporto (embora controle um canal de televisão e um jornal...desportivos).

É necessário recordar as reservas já expressas pelo presidente do BPI (também ele interessado no negócio). E a especulação sobre quem controlará, efectivamente, a PT-Multimédia após a venda (ver post anterior referente ao tema).

Esperemos que o Estado, através dos órgãos competentes, esteja atento ao negócio. Esperemos...

Gonçalo Nuno Santos

Post-Scriptum: a este respeito, ver também www.webjornal.blogspot.com .

Al Berto

"Cada dia que passa escrevo menos, e o pouco que escrevo exige todo o meu tempo disponível. requer paixão sem partilha.
está frio de quebrar ossos.
às vezes queria ser pastor, homem transumante, ir e regressar com o sol e as chuvas, ir e regressar eternamente com o ciclo das estações."

Al Berto in Livro Sétimo

Lembrei-me de um dos maiores poetas portugueses. São coisas que às vezes acontecem, a meio da tarde.

Post-Scriptium: Citei de memória. Creio que a citação está correcta, mas o melhor será lerem a obra. Não perdem nada com isso

28.2.05

O Sr. Cinema

Pelos vistos, Martin Scorcese voltou a perder. Nada que não se esperasse já que, rezam as críticas, o “Aviador” não sendo um mau filme, não é, nem de perto nem de longe, uma obra-prima.

O melhor de Scorcese já tem anos. “Taxi Driver”, de 1976 - se calhar, o meu filme favorito –, é um tributo ao cinema. “Touro Enraivecido”, filmado em 1980 é muito bom. O segmento “Life Lessons”, no genial Histórias de Nova York (um “tríptico” de homenagem à verdadeira capital do mundo ocidental), de 1989, é simplesmente delicioso, de longe o melhor do filme.

O começo da saga do “Padrinho” marcou, se calhar, o auge da carreira do realizador nova-iorquino. Quanto aos mais recentes, “Casino” e “Kundun” não são particularmente inspirados ou inspiradores. “Gangs of New York”, de 2002, ficou aquém das expectativas.

Apesar de tudo, Scorcese já merecia um Oscar. Pelo que fez em prol do cinema. E vai ganhá-lo. “One of these days”...

Se La Palice fosse vivo e jogasse no F.C. Porto diria que quando há vencidos também há vencedores. E este ano, Clint Eastwood voltou a vencer. Francamente, ainda não vi o Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos, por isso não posso opinar sobre o filme ou sobre a justiça da atribuição do prémio.

Mas, em verdade vos digo, Eastwood deve ser, neste momento, o maior cineasta americano em actividade – que me perdoem os incondicionais de Linch, Tarantino, ou outros.

A diversidade da sua obra enquanto realizador, e enquanto actor, é notável. Desde “Per un pugno di dollari”, filme de 1964, dirigido por Sérgio Leone, que o tornou conhecido, passaram quarenta anos.

Eastwood foi cowboy, agente secreto, guarda-costas. Foi herói e poucas vezes vilão. Foi um fotógrafo apaixonado nas “Pontes de Madison County”, excelente filme.

Mas em 1992, com “Unforgiven”, subiu ao patamar dos eleitos. O filme valeu-lhe o primeiro Oscar da carreira - melhor Realizador mas, curiosamente, não lhe deu a estatueta para melhor actor, perdida para Tom Hanks. “Unforgiven” ganhou ainda o prémio do Melhor Filme.

Andou pelo espaço em “Space Cowboy”, de 2000. Em 2002 voltou a ser polícia, em “Blood Work”. Realizou o genial “Mystic River” em 2003 (só perdeu para a trilogia do “Senhor dos Anéis”, mas deu a Sean Penn a estatueta de melhor actor).

Agora, transformou-se em agente de uma pugilista profissional. Passaram muitos anos desde que em 1971 Eastwood se estreou como realizador, com “Play Misty for Me”. Passaram muitos anos e hoje Clint Eastwood é, de facto, o “Senhor cinema”. Americano, pelo menos... O segundo Oscar “individual” que recebe confirma-o.

Já agora, o cinema espanhol também está de parabéns. Esta madrugada, Alejandro Amenábar foi premiado com o Oscar para o melhor filme estrangeiro, com Mar Adentro. A película conta a história verídica de Ramón Sampedro, homem que lutou, durante 30 anos, pelo direito a morrer.

Amenábar é o quinto realizador espanhol a vencer um Oscar. O primeiro foi Buñuel, com “O Charme Discreto da Burguesia”, de 1972. Seguiram-se José Luis Garcí, com “Volver a Empezar”, de 1982, Fernando Trueba, em 1993, com o genial “Belle Èpoque”, e o inevitável Almodovar, em 1999, com “Tudo Sobre Mi Madre”. Três Oscares em pouco mais de 10 anos provam a vitalidade, e a crescente aceitação, do cinema espanhol.

Refira-se ainda que Amenábar é o 10 espanhol a receber o mais ambicionado galardão do cinema. Almodovar já venceu dois (junta o de melhor filme estrangeiro ao de melhor argumento, com “Hable com Ella”, de 2002). Gil Parrondo também ganhou dois, que premiaram a direcção artística. Néstor Almendros ganhou pela melhor fotografia, em 1978.

Gonçalo Nuno Santos

Curtas V

Para acrescentar ao post "Inqualificável": Relatório anual norte-americano critica prisões e violência contra mulheres em Portugal in publico on-line (www.publico.pt) .

Curtas IV

Quatro bombeiros morreram esta tarde a combater um incêndio florestal. Mais uma tragédia que deixa no ar uma pergunta: para quando uma política efectiva para as florestas, que permita salvaguardar vidas e proteger o nosso património comum?

El Rei do lugar-comum

Confesso que nunca fui um adepto das preleções dominicais do Professor Marcelo. Muitas foram as vezes que o ouvi e fiquei com a sensação de que tinha assistido a um debitar quase interminável de lugares-comuns.

No passado fim-de-semana, Marcelo comentou as eleições para o Canal 1. E limitou-se a dizer o óbvio. Que o PS tinha ganho, que o PSD tinha perdido, que a esquerda subira e que a direita descera. E que Sampaio tinha sido legitimado.

Ontem, voltou à RTP para estrear "As Escolhas de Marcelo". Perante uma entrevistadora embevecida, definitivamente conquistada pela sapiência alheia, o Professor voltou a emitir uma torrente de frases feitas, no tom didático que o bom povo português tanto preza.

Disse, entre outras coisas, que no Aeroporto Francisco Sá Carneiro fazia «um frio de rachar» porque sistema de aquecimento estava estragado há uns meses. Que o envelhecimento de Lisboa fica a dever-se ao egoísmo da sociedade (presumo que a especulação imobiliária também tenha alguma coisa a ver com o assunto, mas quem sou eu!). Que o PS vai governar ao centro (quem diria!) porque ganhou as eleições ao centro. E que o melhor candidato presidencial para o PSD é o Professor Cavaco, porque ganha ao centro, esse espaço mítico, essa espécie de limbo que na linguagem política dos nossos dias separa o céu do inferno.

Resumindo, um conjunto de lugares-comuns. Com uma agravante. No que concerne a Cavaco, Marcelo tentou mais uma vez lançar, antes de tempo, o antigo primeiro-ministro. Tentou, como faz habitualmente, pressionar Cavaco para que este fale antes da data que tinha establecido. Ou para que perca a paciência, abrindo-lhe então o caminho.

Definitivamente, o Professor Marcelo parece transformado em El Rei do Lugar-Comum, uma espécie de Rei dos Frangos de fato e gravata, com presença assídua na televisão.