5.3.10

Paris no Brasil



No Brasil, Paris Hilton protagonizou este anúncio para a cerveja Devassa. Aparentemente, a publicidade não foi bem recebida e um tal de Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária classificou-a como demasiado “sexy”, proibindo, consequentemente, a sua difusão. Confesso-vos que já vi melhores argumentos para atacar Paris Hilton, uma verdadeira celebridade feita na internet através de vídeos ousados em poses ousadas e a fazer coisas ousadas. Foi por isso que, despertado pela curiosidade, andei à procura daquilo que não batia certo neste vídeo em que a senhora é alvo de uma série de voyeurs, enquanto se bamboleia deliciada com uma lata de cerveja.

Depois de uma apurada investigação, tenho de reconhecer que o CONAR, sigla (juro-vos que é verdade) do organismo brasileiro em causa, foi demasiado brando na sua própria avaliação. Na verdade, este anúncio não é demasiado sexy, nem demasiado ousado, sequer. Este anúncio é mesmo publicidade enganosa do pior que já vi, porque se repararmos bem, há ali, e bem visível, um vestido preto a mais.

Assobiar

Em Coimbra, a selecção realizou um jogo de preparação com a China, um adversário, dizem os entendidos, muito parecido com a Coreia do Norte. Mau grado a escolha sem grande sentido e baseada num critério geográfico balofo e ignorante, a selecção do Sr. Queirós acabou assobiada aparentemente por ter tido mais uma daquelas exibições de encher o olho. Claro está que os senhores dirigentes da federação não gostaram do tratamento aplicado e logo vieram condenar os assobios dos coimbrões mais atrevidos. Não sei em que mundo certas luminárias vivem. E não sei que mundo da bola é este em que não se pode assobiar gente adormecida e sem vontade de jogar à bola. Quem paga o espectáculo tem todo o direito de assobiar, apupar e até de atirar maçãs e laranjas contra gente que não respeita aqueles que vibram com a selecção e que pagam dinheiro do seu bolso para vê-la jogar.

Certa gente devia assim encarar as críticas responsavelmente e pedir desculpa pela má prestação e pela falta de empenho de uma meia dúzia que ganha aos milhares para vestir uma camisola. Não basta apresentar resultados desportivos e não basta, certamente, fazer-se passar por virgem ofendidam como se um coro de vaias fosse uma qualquer tragédia irremediável.

Se o Dr. Madaíl, líder incontestado da seita, fosse inteligente, certamente tiraria daqui uma enorme e valiosa lição, pois manda a verdade que se diga que o povo português, pelo menos, assobia de frente. Não faz como o Dr. Madaíl e a sua horda de patetas que assobiam para o lado.

2.3.10

Claro que é boy

Caro senhor, até os comunistas e os bloquistas sabem que o PSD, por norma, nomeia para cargos de Estado pessoas com CV relevante construído foram da política, enquanto que o PS nomeia, para os mesmos cargos, pessoas para que tenham CV relevante quando saírem de política. É assim desde o 25 de Abril e desafio-te a enunciares figuras de proa do PS que tenham demonstrado alguma coisa, antes de chegarem à coisa pública.

Não fumar

Ficamos hoje a saber, via telejornal, que Obama fez o seu primeiro check up médico desde que está na Casa Branca. Depois de uma bateria de testes variados, os médicos tranquilizaram o mundo dizendo que Obama está bem e recomenda-se, apenas com um ligeiro senão: precisa de deixar de fumar.

Registamos agradavelmente que Obama não sofre de diabetes, nem de nenhuma doença fulminante. O seu único problema de saúde prende-se, então, com o fumo que inala às escondidas, longe da vista dos filhos, e fora dos ambientes fechados. Ainda assim, o próprio Obama promete continuar a tentar deixar de fumar para que seja, julgamos nós, um pai exemplar, um cidadão sem vícios, um presidente candidamente puro.

Resta-nos esperar que a ansiedade natural provocada por nova tentativa não desvie as atenções dos problemas reais da América e do mundo que ela domina. E que, simultaneamente, o Presidente não se embrenhe em mais dramas e filmes desnecessários enquanto tenta encarecidamente abandonar o vício. Começar por cumprir algumas das promessas feitas pode ser um poderoso antídoto libertador da natural ansiedade. Não fará o mundo respirar melhor, mas com certeza fará o mundo respirar de alívio.

Não comer

Nas malhas públicas do adultério caiu Tiger Woods. O mundo saltou-lhe em cima e algumas ex-amantes, ávidas pela glória e dinheiro fáceis, também. Alguns livros no prelo prometem importantes revelações e há, inclusive, sugestões para um hard core com o desempenho de Tiger, com actrizes e acessórios reais e tudo.

Entretanto, o mesmo Woods perdeu alguns milhões em patrocínios vindos de marcas que não estão para vestir um adúltero ou para perfumar um tipo que não se aguenta sem meter o taco no buraco mais perto. Woods confessa-se, ainda, um viciado em sexo à procura de tratamento e garantiu que enquanto não se curar não voltará a jogar golfe.

Gostamos da reacção de Woods, na verdade um verdadeiro cavalheiro, que jamais revelou o nome das donzelas feridas, mantendo um elevado secretismo em torno de situações tidas como muito delicadas. Pena que algumas das meninas com quem Woods se envolveu não pensem do mesmo modo e se assemelhem, comportamentalmente, a prostitutas baratas que trocam a intimidade e a alma pelo vil metal, ao mesmo tempo que procuram deitar abaixo, literalmente, aquilo que antes, e efusivamente, gozavam.

Da nossa parte, apenas desejamos o rápido regresso do atleta à alta competição que domina. Afinal, o bom golfista é aquele que acerta no buraco. Ainda que no alheio.

A opinião de Ferreira Fernandes sobre AJJ

O que os socialistas madeirenses nunca conseguiram ver e que justifica todas as catástrofes eleitorais que sofrem desde 1976.


No espectáculo Uma flor para a Madeira, Jardim disse: "Portugal é tão grande, o nosso coração é tão grande." Surpreenda- -se quem queira. Eu acho natural ele dizê-lo. Tal como ele dizer as parvoeiras - como nenhum político português moderno jamais disse - com que enfeitou discursos, invectivas e provocações. Só que, como o outro que nunca traiu a mulher sem fortes motivações lúbricas, nunca Alberto João Jardim atacou sem um ganho para os seus. Os seus: os madeirenses. Haja alguém, neste país, tão preso às gentes, não às ideias para elas. Jardim é um político. A minha definição de político é muito económica: é aquele que gere bens escassos. Só os fartos podem dar-se ao luxo da coerência. "Aquele senhor Pinto de Sousa lá do 'contenente'..." de anteontem era ontem o "sr. primeiro-ministro, nós queremos agradecer--lhe..." E ontem Jardim era sincero, como anteontem Jardim não o era. Ontem, no elogio, eu sei que ele não nos piscou o olho; anteontem, no insulto, quem não estivesse agarrado às ideias feitas saberia ver-lhe a traquinice. De todos os políticos portugueses, todos, nenhum me agradaria conhecer mais. Mas eu não sou ninguém: nenhum político português, desaparecendo bruscamente, deixaria saudades fundas a tanta gente. E não era do líder, era do homem que é líder.

When things explode

Uma canção brutal... Os senhores UNKLE encontraram-se com o sr. Ian Astbury (do you remember The Cult?) e fizeram isto... Há encontros explosivos, de facto.

Esquerdo e direito

O meu pé esquerdo
Em Alvalade, o Sporting deu um ar de sua graça e arredou os actuais campeões nacionais do título. Num jogo com um pressing verde e branco muito pouco habitual, mais intenso do que propriamente bem jogado, o Sporting marcou três golos de pé esquerdo, todos resultantes de maus alívios da defesa azul e branca, em momentos cruciais da partida: início do jogo, fim da primeira parte e início da segunda parte, deitando por terra qualquer veleidade portista. Quem é supersticioso fica a saber que no mundo do futebol nem sempre é mau entrar com o pé esquerdo.

O meu pé direito e o meu pé esquerdo
Em Matosinhos, o Benfica passeou no confronto contra a pior equipa do campeonato dos últimos anos. Começando com o pé direito de Eder Luis, terminou no inevitável pé esquerdo de Di Maria que, por três vezes, meteu a bola no saco. No mundo da bola, às vezes, começa-se com o direito e termina-se com o esquerdo, mantendo a mesma eficácia.

O meu pé direito
Com o pé direito começou o Marítimo, pelo inevitável Kléber, na sua visita à Naval 1º de Maio. Apanhado muito cedo na posição de vencedor, a equipa maritimista não foi suficientemente arguta para segurar um resultado importante na sua luta pela Liga Europa, cada vez mais uma miragem. Mesmo começando bem, é preciso notar que não há assim tantos milagres no extraordinário mundo da bola e que, às vezes, quem com o pé direito mata, com o pé direito morre. Neste caso preciso, morre pelo pé direito de Marinho.

1.3.10

Em louvor do Funchal

"Um dia, que esperamos não muito distante, a imagem desta baía em ruínas, soterrada hoje em lama e pranto, há-de dar lugar, de novo, à paisagem verdadeira. Passaremos deste inverno intransigente e funesto à clemência de uma estação que devolva ao Funchal a sua luz.As buganvílias voltarão a estender placidamente sobre as ribeiras os seus braços brancos, rosa, cor-de-vinho; a árvore de fogo do Largo do Colégio levantará mais alto o seu deslumbre; os Jacarandás repetirão o assombro colorido; as Tipuanas desdobrarão, nos inícios de Junho, um incrível tapete amarelo frente a São Lourenço ou na subida de Santa Luzia.Esperamos que, num tempo não distante, se possa reconhecer, de novo, a limpidez do traçado atlântico do centro, as ruas confusamente populares, o arabesco do mercado, o mesmo desenho de cheiros, a mesma mescla de sonoridades, o brando silêncio que nas praças tem o seu quê de familiaridade tímida, quase cerimoniosa.Encravado na forma de uma concha há cinco séculos, burgo marítimo de referência, com construção fantasiosa, o Funchal foi a primeira cidade europeia nascida fora da Europa. O resultado é um património humano e urbanístico únicos. Evoca, é claro, o modelo de algumas cidades continentais, mas já é outra coisa, como acontece aos territórios de fronteira. É uma cidade reservada e extravagante, cosmopolita e primitiva, enérgica e indolente. Tanto como outras, mas diferente, de uma maneira que é só sua. Por exemplo, em certas horas vazias, as inúmeras varandas terrestres espalhadas pelas encostas parecem colocadas num imenso navio como os que muitas vezes ali aportam, e sente-se (isto é real) que toda a cidade flutua.O Funchal é, ainda que isso seja escassamente recordado, uma cidade literária, como Trieste ou Marraqueche: ali não apenas nasceram Edmundo Bettencourt, Cabral do Nascimento, Herberto Helder ou Ana Teresa Pereira, nasceram os seus universos.Conta-se que o poeta António Nobre gravou a canivete numa árvore do Funchal: “sede de luz como que de relâmpagos”. Um dia, que esperamos não muito distante, chegará a luz.

José Tolentino Mendonça