José Saramago faleceu hoje, aos 87 anos, em Lanzarote.
Faleceu o homem que sempre defendeu o seu Ideal de Justiça, (concorde-se ou não com ele), mesmo quando era proibido fazê-lo. Sobrevive o Escritor.
Nos últimos cerca de 30 anos foi um ecritor prolífico, original, revolucionário no modo como traduz na escrita uma oralidade quase torrencial e, também por isso, por vezes polémico no conteúdo e na forma como costumam ser os escritores geniais.
Ateu confesso e convicto, na sua obra revela uma humanidade e humanismo profundos, inclusivos, talvez até mais completos e universais do que os defendidos pelas religiões da maioria da Humanidade, que por norma são exclusivas, ou melhor, ex-clusivas. Há, por exemplo, um lado absolutamente feminista na obra de Saramago, de valoração e valorização do papel da mulher talvez também, como dizia hoje Francisco José Viegas, pelo papel que as mulheres sempre desempenharam na sua vida.
O prémio Nobel da Literatura de 1998 foi atribuído a José Saramago "que, com parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade fugidia", nas palavras do Comité, sendo até hoje o único atribuído a um escritor de língua Portuguesa.
Na nota de pesar enviada pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, este elogia o escritor e a sua obra: “Escritor de projecção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura” e termina afirmando que esta obra deve ser “preservada e lida”. Não deixa de ser irónico que o elogio seja feito pela mesma pessoa que em 1991, ocupava o cargo de Primeiro-Ministro no mesmo Governo cujo então Sub-Secretário de Estado Adjunto da Cultura, António Sousa Lara, vetou O Evangelho Segundo Jesus Cristo de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu. Esta decisão, em última análise, levou a que Saramago decidisse a mudar-se para a ilha espanhola de Lanzarote, na condição de “emigrado” (nas suas próprias palavras).
José Saramago faleceu hoje, aos 87 anos, em Lanzarote. Em Lanzarote, em parte por culpa de um obscuro Sub-Secretário de Estado Adjunto cuja decisão não dignificou o cargo que ocupou, como o Prémio Nobel veio mais tarde a comprovar. Felizmente a sua obra e o seu inegável legado à Língua Portuguesa, cujas fronteiras conseguiu extravasar, perdurarão.