22.5.10

O Barbeiro Da Minha Rua

Como diz um dos meus amigos, o barbeiro da minha rua não existe... Não tem sofás de napa vermelha nem cadeiras forradas a verde. O encosto da cabeça não é uma imitação de pele estalada, castanha, a lembrar o antigo e na mesinha de entreter não há revistas côr-de-rosa, a revista de televisão mais recente não é uma TvGuia, os jornais são recentes, ou como se diz em Moçambique, “ainda trabalham”, e nenhum dos títulos começa com um artigo definido.

O barbeiro da minha rua, como quase todos os barbeiros é frequentado por homens que querem cortar o cabelo, por homens que querem cortar a barba e por homens que querem apenas conversar um pouco com a desculpa de uma aparadela na barba ou de um “caldinho”. Como quase todos os barbeiros é principalmente frequentado por pessoas que moram ou trabalham perto e por pessoas que, tendo morado ou trabalhado perto, gostam de lá ir matar saudades. Mas ao contrário de muitos outros, é familiar no trato e distante no que respeita à privacidade privada de cada um. Mais estranho ainda é ser habitualmente frequentado por mulheres que acham que é possível ter um corte de cabelo simples sem “mises”, “brushings” ou “conditioning”, sem secadores iónicos, sem gotas para as raízes, pomada para as pontas e remendos para o “cabelo médio”.

No barbeiro da minha rua não há esplanada mas serve-se café. Não se fuma no interior, mas há cinzeiros à porta para que quem gosta de fumar enquanto espera, possa continuar a poder ser civilizado (por estranho que possa parecer não é impossível). Há um rádio que toca tão baixo que se consegue ouvir as músicas e, ao mesmo tempo, tão alto que se mistura com as conversas sem as abafar, adoça-as como se fosse uma banda sonora... E fala-se de livros... Daqueles livros que já foram lidos há muitos anos ou que acabamos de conhecer, na noite passada, daquele que acabou de sair ou daquele outro que foi reeditado com novo prefácio e capa revestida a couro, daqueles que se gostava de ler um dia, ou que gostaríamos de ler se tivéssemos mais tempo, ou se fossemos mais novos... Fala-se de livros como noutros barbeiros se fala de mulheres, com o mesmo tipo de desejo, com o mesmo carinho, com a mesma pena de não ter tempo ou coragem para conhecer tudo, todos ou todas... No barbeiro da minha rua dizem-se poemas como quem conta anedotas no da rua do lado, o tempo passa depressa enquanto se aguarda a vez e não é preciso ter barba para cortar o cabelo nem cabelo para cortar a barba.

No barbeiro da minha rua, o tempo muda de ritmo à entrada e quem entra, das primeiras vezes, estranha a velocidade com que se move o mundo lá fora quando visto de dentro daquelas montras. Talvez nem sempre na direcção certa, mas sempre veloz... Com o tempo, habituam-se a valorizar o tempo que passam lá dentro, sem preocupações de aproveitar o tempo, ignorando o tempo que faz lá fora e aprendem, novamente, a fruir o fluir do tempo lento...

Como diz um dos meus amigos, o barbeiro da minha rua não existe... Mas apenas porque, na minha rua, ainda não há barbeiro. Porque se houvesse, seria assim, ou eu, sempre esperançoso, mudaria novamente de rua...

19.5.10

O vazio

Depois do aborto, da “liberalização” das drogas e do casamento homossexual o que resta ao Dr. Louçã para fazer chicana nas ruas e nos tribunais do país? Certamente muito pouco. E até ele já percebeu o sarilho que representa o fim deste ciclo na trupe a que superintende. De volta à realidade concreta, surge o mais evidente dos problemas: tal como no circo, na política, o burlesco é para divertir; não é para ser levado a sério.

O antes e o depois

O mundo não mudou em quinze dias ou em três semanas. Talvez quinze dias ou três semanas sejam uma eternidade em economia, mas não o serão na política de verdade que todos nós desejamos. O que mudou foi a percepção que os portugueses têm de Portugal. Porque há um Portugal antes das eleições e um Portugal depois das eleições. E há um Portugal antes do puxão de orelhas e um Portugal depois do puxão de orelhas.

A promessa

Numa das minhas séries favoritas, Os Homens do Presidente (The West Wing, no original), Josh Lyman (Bradley Whitford), o assessor do então presidente americano Bartlet (Martin Sheen), tem uma tirada brilhante. Dizia Josh que o problema não era eles não terem cumprido uma determinada promessa que haviam feito. O problema era eles terem feito uma promessa que sabiam de antemão que nunca conseguiriam cumprir.

Um sempre interessante exemplo

Penso na caminhada rumo a um novo período de austeridade e tenho de me lembrar da Dra. Ferreira Leite. Afinal quem tinha razão antes das eleições? Volto a referir aqui um dos problemas mais incisivos das actuais democracias: as qualidades necessárias para se ganhar eleições podem nada ter a ver com as qualidades necessárias para se ser um bom primeiro-ministro. Portugal é um óptimo exemplo.

Os eleitos

O Prof. Queirós anunciou com pompa a sua lista de eleitos. Nestas coisas, listas são listas e cada um teria hipoteticamente a sua. Mas para gáudio lusitano, o seleccionador abdicou de parte do consenso nacional sobre o assunto para assumir integralmente a responsabilidade do resultado final, julgando-se igual a Scolari. Sorte nossa. Azar o dele. O Prof. Queirós got a feeling? Curiosamente, e agora mais do que nunca, todos nós também.

17.5.10

Ética da responsabilidade? Com esta gentalha?

Ó senhor presidente: mas a ética da responsabilidade não imporia a demissão de Sócrates, um trafulha, mentiroso, incompetente e de mau gosto reconhecido? É que, desculpe lá, mas não me peça para ser solidário com as finanças portuguesas, enquanto ver pessoas com Sócrates, Santos Silva, Canas, Lello, R. Rodrigues, em lugares de Estado.

Eu já suspeitava...

A Universidade do Minho mostrou que a homossexualidade é, essencialmente, uma "moda" urbana, de gente com formação superior e de Esquerda.
Eu bem que suspeitava que a agenda do BE não era ingénua. Como também já suspeitava que isto de ser homossexual, ou bissexual, é uma moda das gentes progressistas...

A menina Nina

A "menina" Nina (Nastasia) está na coluna de vídeos ao lado. É a minha mais recente paixão, acho eu.

Quase, quase

Tive uma fugaz passagem pelo futebol. Foi quase suficiente para deixar, pura e simplesmente, de gostar da modalidade.

Quem perde sei eu

Quem beneficia com a guerra em que se transformou o futebol? Alguns dirigentes, certamente, transformados em generais de exércitos tresloucados. Alguma comunicação social, com certeza, convertida de repente ("e não mais do que de repente") em porta-estandarte de exércitos de imbecis e em defensora de interesses de vária ordem que nada têm a ver com o desporto. Quem perde? Garantidamente o futebol, modalidade desportiva (sê-lo-á ainda) que considero, apesar de todos os atentados, de todas a mais bela."

Porque há coisas (e gente) que... muda

"Conta-se que, quando Napoleão I abandonou a Ilha de Elba e na companhia de um punhado de fieis desembarcou em Cannes (...) o Governador de Lyon enviou para Paris uma série de mensagens:
- o monstro corso escapou da gaiola mas não há motivos para preocupações. O seu fim está próximo;
- O usurpador dirige-se para Grenoble, porém o povo não o segue, o país não o reconhece. Em breve será castigado;
- O General Bonaparte entrou em Grenoble. A população foge à sua frente. Avança para a cidade uma força que logo há de expulsar o tirano;
- Napoleão marcha para esta capital. Resistiremos até à morte;
- O imperador entrou em Lyon visivelmente aclamado pelo povo. Deus abençoará a restauração do império, pois disso depende a felicidade da França!"

José Eduardo Agualusa em "Nação Crioula"

Ah, quantos de vós serão representações do Governador de Lyon!

Mais um exemplo de Desportivismo à Portuguesa

Depois das duas equipas e respectivos adeptos fazerem algumas centenas de quilómetros até à Capital do Império para uma suposta Festa da Taça, eis que num exemplo de enorme desportivismo e, quiçá, empolgados por sucessos anteriores, meia-dúzia de "alegados" adeptos do desporto, "supostamente" ligados a uma equipa ausente desta guerra decidiram festejar com os adeptos dos vencedores aplaudindo-os e brindando-os com uma chuva de calhaus, seixos redondos e paralelos. A aula prática de geometria sólida presta um enorme serviço ao país, estimulando a recuperação económica de duas ou três oficinas de bate-chapas e, com sorte, contribuindo para a futura poupança de alguns dos recursos energéticos do país, já que acredito que parte daqueles adeptos (e a maioria daqueles que já achava que ver futebol nos estádios é carregar a sorte) não voltará a encher o depósito para fazer 300 ou 500 km para isto:

Quanto ao tempo de reacção da Polícia, nada a dizer, uma hora de avanço é capaz de ser adequada para tornar mais justa a caça a estes "adeptos do desporto"...

Mais uma vez na "mouche"

"Um novo tipo de revolta está a nascer e a espalhar-se pela Europa: revolta sem ideologia, indignação crua face à injustiça gritante, exposta, descarada, impune porque «normal». Esta evidência não poderá mais ser encoberta e racionalizada (justificada)". José Gil

Nadal ao ataque?

Nadal voltou a bater Federer na final do Open de Madrid. A época de terra batida do espanhol, embora sem o domínio exercido há duas temporadas e no ínicio de 2009, tem corrido bem, com vitórias nos "ATP World Tour Masters 1000" de Roma, Monte Carlo e Madrid e com uma final em Doha (derrota contra o russo Nicolay Davydenko). Hoje, Nadal bateu o recorde de Agassi, somando o 17º título em torneios "ATP World Tour Masters 1000". Já Federer não tem estado tão bem na superfície de que manifestamente gosta menos. Se atingir a final em Madrid pode ser sempre considerado um bom resultado, as prestações muito fracas em torneios como o Estoril Open (o ritmo de treino não chegou para ganhar uma competição este ano pautada por baixo) deixam antever algumas dificuldades para defender o título de Roland Garros. Seráo campeão suiço capaz de melhorar até lá, ou por outro lado é mais expectável ver Nadal voltar a conquistar o torneio francês, ameaçando novamente a posição de líder do ranking mundial ocupada por Federer?