"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
23.6.05
Mon Puteaux
Au Blog citoyens!
Na edição de 21 de Junho, o “Libération” faz manchete com o caso. O município de Puteaux, nos arredores de Paris, decidiu processar o socialista Grébert por textos que este colocou no seu blog.
A autarquia, controlada há várias décadas por uma poderosa família local, Ceccaldy-Raynaud, não terá gostado das críticas do internauta. Nem das fotografias colocadas on-line por este, e que ilustram uma realidade diferente daquela que as autoridades locais tentam mostrar.
A decisão judicial do “Caso Grébert” é esperada com alguma expectativa em França. E na “blogosfera” criou-se uma corrente de solidariedade.
Em editorial publicado no “Libération”, Patrick Sabatier acusa os poderes político e económico franceses de procurarem silenciar os blogs, particularmente os mais incómodos. Defende que a blogosfera representa o advento da “e-democracia”. E apela “Au Blog Citoyens !”.
Embora a tendência esquerdista da publicação francesa seja (re)conhecida, Sabatier não deixa de ter razão. A blogosfera representou o advento do “cidadão-repórter” e poderá contribuir para a democratização do acesso e da circulação à, e da informação. Aliás, há quem defenda que estamos perante uma autêntica “revolução”, que deixará marcas indiscutíveis nos média tradicionais.
São os casos do colunista do “New York Times” Hugh Hewitt - "Blog: Understand the New Information Revolution and How It Is Redefining the Media, the Culture, and Business"- de Pierre Lévy – “Cibercultura” – de Luca Tochi, entre outros.
Segundo alguns autores, entre as quais os supracitados, a revolução começa a partir do momento em que os grupos social e economicamente dominantes perdem o exclusivo da produção de informação à escala global, perdendo por isso poder e, obviamente, dinheiro.
O movimento está a nascer - existem, actualmente, 11,5 milhões de blogs. Aqueles que mais têm a perder farão tudo para “institucionalizar” a blogoesfera. E para começar procurarão dar-lhe o “devido enquadramento legal”. Daí a importância que o “Caso Grébert” vem assumindo em França. E o interesse com que vem a ser seguido internacionalmente.
22.6.05
Sempre a abrir
O mundo do futebol é mesmo extraordinário. Depois de ter sido dado como certo em cinco ou dez clubes (incluindo o Inter e o Real Madrid), eis que afinal Luisão vai ficar no Benfica até 2011.
Em termos de surrealismo ninguém bate os jornais desportivos. E, arrisco, no ridículo também não.
Actualização, ou as mulheres socialistas III
De acordo com uma notícia um pouco manhosa saída no Público de ontem, a D. Sónia, actual presidente e deputada na Assembleia da República, derrotou a D. Maria Manuela (candidata a presidente e actual vereadora em Oeiras) por apenas 53 votos, na corrida mais louca de que há memória para a presidência das mulheres socialistas.
Relembremos que esta eleição fica marcada não só pelo tempo que demorou a divulgar os resultados (num processo kafkiano que pode ser comparado à primeira eleição de Bush e à contagem e recontagem de votos na Florida) como também pelas acusações que fizeram lembrar homens de barba rija numa qualquer lota de peixe. Pelo meio discutiram-se algumas ideias interessantes. Como as quotas, os lugares e as posições.
Gerir mal os silêncios
Este processo foi tão mal gerido que a dúvida ficará para sempre no ar.
O mistério adensa-se
21.6.05
Novos axiomas
“Os institutos de sondagens tornaram-se, nos dias de hoje, os adivinhos dos tempos antigos que lêem os inquéritos de opinião com a gravidade com que os seus predecessores interpretavam as entranhas das galinhas.”
Fareed Zakaria, “O Futuro da Liberdade”, Gradiva
Professores
Os professores esquecem-se, claro, que Portugal é dos países que mais gasta em educação per capita (e dos que piores resultados tem) e que os professores, comparativamente à Europa desenvolvida, são das classes que melhor recebem. Tudo isto parecem pormenores irrelevantes. Aliás, calmamente ignorados por todos.
Do alto da sua sapiência, e da mais abjecta demonstração corporativa, demagógica e de duvidosa ética, os professores ameaçaram e ameaçam faltar aos exames, testes e outros derivados. O Ministério está numa posição de força e não quer ceder perante a chantagem e outros nomes feios. Pelo meio lixa-se o mexilhão, que é como quem diz lixam-se os alunos, que só por acaso são a parte mais interessada no assunto, factor convenientemente apagado pelos doutos cultos que ensinam as nossas criancinhas.
Fica a lição desta gente ilustre e mais este gentil ensinamento às gerações futuras: não podes vencê-los? Podes sempre lixar a vida de outros que nada têm a ver com o assunto. Nem mais.