25.3.10

Há uns mais iguais do que outros

As famosas ladies night representam uma regressão na luta das mulheres por uma sociedade mais igualitária. Sujeitar-se a um tratamento exótico, atraídas pela gratuidade da bebida é uma forma de aceitar uma discriminação desprezível. Não se pode querer igualdade e depois aceitar estas excepções, ou acabaremos todos como aquela história bem velhinha: todos os sexos são iguais. Mas há uns mais iguais do que outros.

Fiar-se na virgem

Mesmo que o Dr. Serrão diga o contrário, não foi por causa do PSD que ele não foi eleito vice-presidente. O acerto de contas interno continua e ontem provou-se que a oposição não se respeita. Armar-se em vítima agora de nada vale. Em vez de se ter convencido que a eleição estava garantida o Dr. Serrão devia ter ido atrás dos votos necessários. É o que dá fiar-se na virgem e não correr.

23.3.10

Um tabu

Sempre que alguém comete um crime hediondo, duas teorias se cruzam para “defender” o criminoso: ou é fruto de uma origem social de miséria ou é resultado de uma manifesta insanidade mental, momentânea ou permanente, o que é indiferente. Numa era politicamente correcta é na realidade difícil ter outros horizontes para além destas tristes justificações. Afinal, falar da maldade intrínseca humana é ainda tabu.

Qualquer um serve

O Sr. Queiroz tentou naturalizar um guarda-redes brasileiro com o intuito de levá-lo à selecção. A coisa é típica do português desenrascado que por esquemas tenta ludibriar os problemas e inventar soluções. Nada a opor. Quem tem 3 naturalizados bem pode ter mais 5 ou 10 ou 20. Tanto faz. Mas experimentem começar pelo cargo do Sr. Queiroz. Qualquer gajo serve. Com ou sem avô português, é-me totalmente indiferente.

Cidades femininas vs cidades masculinas, ou o elogio à idiotice

O jornal I, a exemplo do que já nos vai habituando, traz hoje uma peça jornalística que é um exercício monumental de trivialidade, sem qualquer interesse ou pertinência. Falo do artigo, escrito por duas jornalistas, sobre cidades femininas, partindo da transformação que Seul promoveu no seu espaço público - a Coreia do Sul tem desenvolvido, efectivamente, inúmeros projectos de requalificação de espaço urbano, com vista a permitir a vivência dos espaços públicos, construindo cidades para as pessoas.
Ora, para além do absurdo que é falar em cidades masculinas e/ou femininas (a não ser de um ponto de vista metafórico), é ainda mais ridículo pensar-se que a cidade deve ser pensada e planeada com vista a um único género. Aliás, o que as senhoras jornalistas descrevem como cidades femininas não são senão cidades bem planeadas. Senão, vejamos apenas dois exemplos:
  • pisos lisos e sem fissuras não interessam apenas à cidade feminina. São uma medida básica de acessibilidade, para as senhoras e aos seus saltos altos, claro que sim, mas também para todas as pessoas com mobilidade reduzida, como os que necessitam de utilizar canadianas, cadeira de rodas e até para os carrinhos dos bebés;
  • cozinhas em L ou em U, para rentabilizar espaço, é uma necessidade premente das cidades que têm falta de território.

Para além de que outras propostas revelam um machismo monstruoso:

  • então são necessários estacionamentos espaçosos para as mulheres, essas dondocas que não sabem conduzir;
  • e cozinhas só para elas, pois como sabemos este é o seu mundo natural, não é? E eu, que sou o cozinheiro cá de casa, que tipo de cozinha é que mereço?
  • acabar com os pisos escorregadios para as senhoras. Porque para idosos e crianças (e homens, porque não?), não há problema que os pisos sejam autênticos lamaçais.

Ora, o que está em causa em Seul (e na restante Coreia, como seria óbvio de observar, se as senhoras jornalistas tivessem um pingo de perspicácia) é o nascimento de um novo conceito de cidade, bastante assente nos princípios das Cidades Educadoras. Cidades humanas e humanizadas, inclusivas e acessíveis, em que o mundo líquido (homem) assume predominância sobre o mundo sólido (da pedra). É o nascimento da cidade querida. Cidade feminina é apenas um um template comunicativo com muito soundbite. Como facilmente o I se aperceberia, se não fosse tão célere em explorar qualquer coisa que pareça com feminismo, mesmo que não o seja.

22.3.10

Cozer em lume brando

Com o envelhecimento progressivo da população europeia, a idade média subirá para valores preocupantes. Estima-se que em 2050, Alemanha e Itália tenham médias de idade superior a 50 anos, situação indicativa do perigo que à frente espreita. A resistência à mudança e à inovação são apenas primeiros passos. Outros se seguirão. O conflito de gerações não morreu. Apenas coze em lume brando.

Uma contrição

O Dr. Sampaio veio reconhecer que errou quando deu posse ao governo do Dr. Santana. Nestas coisas da política, os actos de contrição servem para se tentar ficar bem na fotografia porque, no fundo, o Dr. Sampaio sabe que não errou quando deu posse; errou quando dissolveu uma AR com maioria. Tudo o resto, agora, é para enganar distraídos ou para desviar atenções. Risquem o que não interessar.