"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
15.1.10
Casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a natureza das coisas
Vamos aos motivos intelectuais: não vi um único argumento válido e inteligente para a defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Papagueiam o fim de uma alegada discriminação, mas não há argumentação dedutiva. Vi serem atiradas frases feitas que tanto serve para isto como para o seu contrário. Meros “soundbites”.
E não vi argumentação porque ela não existe.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é, na generalidade, uma aberração nascida da birrinha de uma esquerda bem-pensante, mas que, paradoxalmente, pensa pouco e com muito pouca profundidade acerca das coisas. Limita-se a ficar à superfície, na aparência, no que é fácil e imediato.
E nesta aparência muitos ficaram presos. Só assim faz algum sentido, na minha cabeça, que pessoas que prezo, admiro e reconheço intelectualmente se tenham enredado nesta questão. Admito que muitos dos defensores dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo o façam porque acreditam estar a combater uma discriminação. Mas a verdade é que não se baseiam em argumentos, mas na emotividade circunstancial (imutável é que uma relação natural e normal seja entre pessoas de sexo diferente).
Já Napoleão o tinha dito: “eu tenho um amo implacável: a natureza das coisas”. E pode-se arranjar os "soundbites" que se quiser mas a natureza do casamento é a unidade entre um homem e uma mulher, porque a natureza do casamento é a constituição de uma sociedade primordial que garanta a subsistência da espécie humana. Não somos heterossexuais por capricho: somo-lo por uma questão de sobrevivência! Esta é a natureza das coisas.
Por outro lado, esta vertigem progressiva, que impõe a relatividade moral como o absoluto na organização social, está a criar uma sociedade e, em última análise, uma civilização que eu não quero deixar como legado à minha descendência. Prezo demasiado o seu futuro para não me preocupar.
Hoje, para um determinado grupo da esquerda libertária, a liberdade e a tolerância são valores absolutos e sobrepõem-se a todos os outros (ainda que, a exemplo do mestre Bakunin, demonstrem tolerância apenas para com aqueles que pensam da mesma forma e muito pouca com os demais).
Ora, para mim, existem muitos outros valores que se equiparam e, mesmo, que os superam.
Aos que defendem a liberdade absoluta, para que o indivíduo frua a vida em toda a sua plenitude (não é isto que defendem?), eu oponho a racionalidade colectiva.
Este individualismo (não mistifiquemos. Em rigor, dizer-se que não nos queremos meter na cama dos outros – como se os que se opõem aos casamento entre pessoas do mesmo sexo pretendessem imiscuir-se na esfera privada – revela um individualismo absoluto e denuncia algo bem menos positivo: significa que o indivíduo suporta cada vez menos o Outro) já havia sido denunciado por Lipovetsky ou Camps, que demonstraram o quanto fragiliza não apenas a sociedade e a civilização, mas em última análise o próprio indivíduo.
Porque a verdade é a sociedade cool que defende estas causas ditas fracturantes (representada em Portugal pelo BE e muitos outros que pululam por outros partidos) esquece que elas (as causas) resultam de um excesso de consumo, entendido como veículo para a felicidade (a liberdade sexual levou ao excesso, transformando a sexualidade em mais um produto de consumo).
A raiz desta forma de estar no mundo é exactamente a mesma que fez nascer o individualismo hedonista que, por sua vez, leva à indiferença colectiva perante a sociedade e valores civilizacionais.
O mundo que preconizam, onde tudo o que pareça constante, imutável, tem de desaparecer, dominado pelo pragmatismo da acção e por muitos clichés, leva à superficialidade, a futilidade e à trivialidade e, em última análise, à anarquia ética.
Tudo é permitido, sem qualquer critério sólido de conduta e, como bem dizia Rojas, toda a moralidade converte-se numa ética de "regras de urbanidade ou numa mera atitude estética".
Ora, permitam-se que eu recuse um mundo assim. Eu não quero um mundo sem valores! E por isso sou, radicalmente entre pessoas do mesmo sexo.
13.1.10
Barómetro da Qualidade da Democracia
12.1.10
Let Your Mom Be Proud listening John & Jehn
11.1.10
Derrota azeda
Enganei-me em toda a linha.
O poder do Victor parece estar a desvanecer-se e essa é uma realidade inegável. Não sei a que se deve, mas calculo que o seu progressivo afastamento das bases e consequente aproximação às elites tenha alguma coisa a ver. A falta de solidariedade manifestada para com a actual direcção, a própria “guerrilha interna”, conforme apodou João Carlos Gouveia (no seu estilo “bipolar”, conforme já o apelidaram alguns dos seus camaradas –os mesmos que se indignaram quando o PSD pediu um exame psiquiátrico ao ex-líder do PS/M), também terá contribuído. Porque a verdade é que em Roma, apenas o Senado é que gosta de pagar traidores.
Mas, ao que parece, não fui o único a ser surpreendido. O azedume que grassa pela blogosfera de esquerda madeirense é bem prova disso. E não falo apenas dos apoiantes de Victor Freitas. Falo de toda a restante blogosfera esquerdista, que tem encarado esta derrota com muita agrura.
Não percebo a razão para tanta azia, nem que milagres esperavam de Victor Freitas, mas enfim…
Resta-me parabenizar Jacinto Serrão e os seus apoiantes pela vitória (muito especialmente o Rui Caetano e o Duarte Gouveia) e desejar muitos sucessos na liderança da oposição.
Conforme já disse inúmeras vezes, se a qualidade da democracia na Madeira não é a melhor, a oposição - e muito concretamente o PS/M - tem também a sua quota de responsabilidade, porque nunca se soube constituir como alternativa. E é por isso que a Madeira precisa de uma oposição decente!
10.1.10
Imaginário de Domingo
Acordou...
Não foi o barulho da chuva fina que lá fora ia teimosamente regando o jardim... Nem foi o despertador cujo mostrador, como todos os fins-de-semana, fizera questão de virar ostensivamente para a parede... Nem sequer foi um sonho bom ou mau, ou mesmo indiferente, nem frio, calor, fome ou sede...
Acordou...
Simplesmente.
Aos pé da cama, o gato enrolado abriu os olhos para os fechar logo de seguida.
Com o braço estendido, num lento e largo movimento, afastou as cobertas.
Sentou-se, abriu os braços e, num longo bocejo, espreguiçou-se.
Levantou-se e dirigiu-se à cozinha, descalça, contrariando um dos eternos conselhos da mãe. Vagarosamente. Quase cambaleante, afastando o cabelo da cara com a mão direita enquanto, com as costas da mão esquerda, limpava o sono dos olhos.
Adivinhando o pequeno-almoço o gato levantou-se de um salto e seguiu-a, enrolando-se dengosamente nas pernas das calças do pijama de flanela. Interesseirão, pensou e sorriu enquanto servia o Bowie. No dia em que chegara, um amigo comparou-o ao cantor por ter um olho de cada côr, riram e o nome pegou.
Café, preciso de café, disse e sorriu novamente ao aperceber-se de que estava a falar sozinha.
Aqueceu um resto de “chafé” da véspera no micro-ondas, pegou na caneca e foi sentar-se no sofá.
Olhou para o telefone em cima da mesa e decidiu ligar-lhe. Sempre fora mais adepta das mensagens escritas, mas ele insistia que gostava de ouvir a voz dela e ela, secretamente, gostava de que ele gostasse.
Bom-diaaa... disse arrastadamente com a voz ainda suja do sono, Já acordei... E foram falando mais um pouco, sem dizer nada, como aliás convém àquela hora.
Quando desligaram, ele ficou a olhar para o telefone por alguns instantes e sorriu. Gostava dela. Gostava da voz dela. E gostava da voz dela ao acordar, um pouco rouca e ainda mais melosa do que o costume. Sorriu de novo ao imaginá-la no pijama com gatinhos, cabelo em desalinho, descalça (contrariando um dos eternos conselhos da mãe), sentada no sofá, braço esquerdo à volta dos joelhos encostados ao peito, caneca de café morno pendurada na mão direita e aquele olhar verdejante perdido no mar de inverno para lá da janela. Bela... Dona daquela beleza que só quando se conhece e se ama se consegue ver... Bela como só ele sabia...
Imaginou-se a abraçá-la... Sorriu, com aquele sorriso sorridente, que os amantes conseguem sorrir e que os outros acham ligeiramente, enfim... parvo.
E sorriu assim, parvamente, o resto do dia...