23.6.06

Mais pérolas ministeriais

A senhora Ministra da Educação, falando do que considero uma boa medida (facultar autonomia às escolas para que possam contratar docentes), teve mais uma pérola digna de quem anda a leste do paraíso. Então não é que a senhora afirma que o processo de recrutamento dos professores que estiveram afectos ao Programa de Generalização do Ensino do Inglês ao 1º Ciclo foi exemplar. Será que esta senhora sabe que a média paga aos docentes foi de 7 Euros? Será que a senhora sabe que os Municípios não têm legitimidade ou competência para enquadrar pedagogicamente os docentes, logo apenas os podiam contratar em regime de prestação de serviços? E que nestes casos o valor a pagar não pode ultrapassar os 5.000 Euros? Será que a senhora sabe que muitas empresas que pululam por esse país fora e que prestam estes serviços pagam 5 Euros e até menos a professores formados e profissionalizados? Será que a senhora sabe que este Programa serviu apenas para fomentar o emprego precário de quadros qualificados?

E vem esta mulher afirmar que o regime de contratação foi exemplar?! Como diria um amigo transmontano: bai mas é pastar a baca!

Não é humano

Não sou anti-América. Não alinho da diabolização do presidente dos Estados Unidos que, a despeito do que afirma alguma esquerda intelectualóide europeia, foi eleito legitimamente pelos seus pares.
Também não gosto de ditadores. Não nutro qualquer simpatia por regimes autoritários, sejam eles de esquerda, de direita, oligárquicos ou teocráticos. Por isso, não tive, então - como não tenho agora - qualquer afeição pelo ex-ditador do Iraque. Gostei de vê-lo cair! Apenas lamentei que tal não tivesse acontecido mais cedo, aquando da primeira guerra do Golfo. Mas não sou indiferente à dor, ao sofrimento dos outros. Por isso chocam as imagens que vejo do Iraque. O rosto destas crianças, destes homens e mulheres que sofrem por uma guerra que não é sua horroriza. O rosto dos que tombam e o dos que sobrevivem.
A diplomacia moderna arranjou uma forma simpática de denominar estas atrocidades: danos colaterais. Mas o eufemismo desfaz-se perante as lágrimas de uma criança. Qualquer tentativa racional de justificar os erros, cai por terra perante o corpo inanimado de um bebé. E ficamos apenas com as palavras entaladas na garganta, sem as conseguir verbalizar: não é justo. Não é humano!

22.6.06

Leituras de fim de semana


Aos confusos Filhos de Atenas e Jerusalém

Pode a ideia de Europa definir-se por axiomas tais como os cafés, a paisagem à escala humana "que possibilita a travessia", as ruas e praças nomeadas segundo estadistas, poetas, músicos, acontecimentos (prepetuando a memória), a herança dupla de Jerusalém e de Atenas ou a "apreensão de um capítulo derradeiro", tão cara à Filosofia hegeliana?

Segundo George Steiner, um dos grandes pensadores europeus da actualidade, sim.

A ideia de Europa, "de helénicas formas, filha de Homero e Platão" - esta é do Fausto - permitiu a criação de um padrão comum de hábitos, de trocas, de comportamentos, crenças e atitudes que une os europeus, conclui Steiner. E deve ser posta em práctica rapidamente. "Liberto de ideologias falidas, o sonho pode, e deve, ser sonhado novamente", escreve Steiner.

Um pequeno ensaio que deve obrigatoriamente ser lido. Com prefácio do presidente da Comissão Europeia.

Steiner, George; "A Ideia de Europa"; Lisboa, Janeiro de 2006; Gradiva

21.6.06

Comemorações

Confesso que não vejo razão para tanto alarde, para tanta virgem ofendida, para tanto gritinho histérico, para tanto chilique atontalhado.

O Dia da Região é um dia solene, os iluminados oposicionistas aproveitavam este ensejo para o linguajar do costume, aquela cantilena monocórdica e "regasta". Ora, este ano, isso não vai acontecer, vamos, apenas seguir o modelo aplicado nos Açores (engraçado, aí ninguém barafusta, os "Rosas" não arrebitam as suas cabecinhas "esclarecidas" para protestar com tamanha falta de democracia).

São os coitados do costume, com dois pesos e duas medidas, com uma coerência fantástica, movidos pelos seus interessezinhos particulares. Não vão a Machico, batem o pé, fazem birra, amuam e mostram o beicinho. Façam o mesmo quando os Açores comemorarem o seu dia, organizem uma manifestação, invadam as ilhas nos vossos "chavelhas", queixem-se ao Presidente da Republica, à Assembleia da República, à Assembleia de Moradores, ao cão e ao gato, façam greve de fome, escrevam às Nações Unidas, mas sejam coerentes.

19.6.06

Por que vibramos quando falam bem de Portugal?


O exercício de jornalismo por estes dias mais vulgar, e aquele que mais emociona o espectador, é quando nos surge no écran alguém a elogiar Portugal. Pode ser o maior palerma do mundo, e até nem saber nada sobre este pais, mas se gabar Portugal, por mais ténue e infundado que seja o elogio, nós derretemo-nos. Já fiz esta experiência, comigo mesmo até, e dá sempre o mesmo resultado: o embevecimento.

Isto tem acontecido com uma frequência avassaladora a propósito do campeonato do mundo de futebol. Que os jogadores portugueses sejam bons, já não é mau que o digam, mas extrair daí as qualidades míticas que este “bom povo” não tem é que é mau. E vai daí que se diz de tudo e por tempo interminável. Até já ouvi, com um sorriso cordato de um jornalista, um alemão dizer que Portugal deveria ser um exemplo a seguir pelo mundo. Claro que eu, depois de ouvir isto, não me importava nada em trocar de nacionalidade com este alemão ignorante.

De tempos a tempos, quase sempre motivados pela bola, surgem estes ataques de nacionalismo exacerbado. E então dá-nos pra dizer que somos muitos bons, que temos especialistas de tudo na América e nos grandes países, que há um cientista português na NASA, que o titânio usado nos satélites é feito em Portugal, etc, etc. Enfim, o mais infeliz desta “estória” é que se esquecem que, e em maiores quantidades, há por todo o mundo cientistas e especialistas iranianos, iraquianos, sírios, quenianos, uruguaios e nepaleses. E o facto destes países exportarem alguma inteligência não faz deles, como é do senso comum, países prósperos ou sequer próximos da prosperidade.

Porém, o pior é quando aparece alguém de fora que conhece bem as nossas fraquezas e nos aponta com o dedo nos sítios certos. Como fez bem recentemente o gestor Jack Welsh, dizendo-nos, pedagogicamente, que somos desorganizados até à medula, que não gostamos de trabalhar e que a continuarmos assim nem nos próximos 40 anos apanharemos o comboio europeu. Claro que, tirando apenas alguns indivíduos atentos, veio logo a ladainha de que os estrangeiros “têm a mania”, de que “nós não recebemos lições de ninguém” e que “há gente que acha que o que vem de fora é que é bom”. Enfim, um espectáculo deplorável.

De outro ângulo, mas igualmente ilustrativo, é o exemplo dos grandes concertos poprock, também eles paradigmáticos. Todas as bandas que na sua agenda arranjam um tempinho (quando arranjam!) para passar pelo rectângulo dizem invariavelmente que o público português é o melhor do mundo. E claro, isto faz eco nos ouvidos indígenas, os quais ficam convencidos que são mesmo o melhor público do mundo. Não lhes ocorre que essas bandas dizem exactamente o mesmo, e se calhar com mais justeza, em todas as cidades por onde actuam.

Mas a resposta à pergunta inicial é muito simples. Como em quase tudo vivemos fora da realidade, quando falam bem de nós, mesmo que a efabular, vibramos.

18.6.06

Há coisas assim, não se explicam


Já era para o ter escrito. Final: Portugal – Brasil.

É este o meu sonho. Podem dizer que os sonhos não são para realizar, senão, não seriam sonhos. No entanto, este vai acontecer.
É a minha aposta.