Depois de muita tinta já ter corrido, apresento aqui as razões pelas quais concordo com a demissão de Alberto João Jardim e que me levam a crer que esta é uma tomada de posição extremamente inteligente. As razões que motivam o ataque são evidentes: prejudicar Alberto João Jardim (AJJ), preparando o assalto ao poder pelo PS-Madeira. Não sei quem congeminou a estratégia, mas desconfio que terá partido da Rua do Surdo. O que é relevante, contudo, é que o tiro sairá pela culatra e poderá ter repercussões futuras extremamente graves para a actual direcção do PS-Madeira e para os (actualmente) instalados em Lisboa.
Passemos, então, às razões que legitimam esta tomada de posição por parte do ainda Presidente do Governo Regional da Madeira.
Passemos, então, às razões que legitimam esta tomada de posição por parte do ainda Presidente do Governo Regional da Madeira.
Do ponto de vista democrático esta decisão fundamenta-se pelo facto do Governo da RAM ver serem mudadas as regras de financiamento, colocando em causa o cumprimento do Programa de Governo aprovado há 2 anos. Ora, perante um tal cenário, é responsável, sensato e legítimo, que seja sufragado um novo programa. Por outro lado, o Governo da RAM entende que a Lei das Finanças Regionais é discriminatória para com a Madeira e atenta contra a Constituição da República e o Estatuto Político-Administrativo, pelo que, não tendo sido vetada pelo Presidente da República, não resta outro caminho que não a demissão. Existe, ainda o argumento de que esta é uma lei persecutória feita à medida da pessoa do Presidente do Governo. Ora, se se entende que o Governo da República cria uma lei que visa apenas prejudicar eleitoralmente o presidente de um Governo Regional, sem qualquer respeito pelas instituições, prejudicando, assim, todo o povo de uma Região, que caminho se poderá adoptar a não ser a demissão?
Do ponto de vista político, esta medida não só é legítima, como é extremamente inteligente porque:
1. denuncia as movimentações sub-reptícias do PS para derrotar o PSD-Madeira;
2. maximiza a oposição ao Governo da República que, num momento em que goza de um certo consenso publicado, irá ter em braços um processo eleitoral que tornará público, enfaticamente e com repercussões nacionais, todos os erros, asneiras, mentiras e aldrabices do Governo;
3. abre ruptura no PS, com um mais que provável afastamento do PS-Madeira em relação à governação socialista;
4. cria um sarilho ao Presidente da República, uma vez que a Lei das Finanças Locais estará efectivamente a ser plebiscitada e, com toda a certeza, será chumbada pela maioria da população madeirense;
5. poderá permitir ao PSD-Madeira uma das maiores maiorias absolutas de sempre, a reboque da revolta popular;
6. reduzirá as esperanças do PS-Madeira chegar a Governo, adiando sine die esta possibilidade (miragem???);
7. provocará uma derrota sem precedentes (estou certo) ao PS-Madeira atendendo à colagem desta direcção ao Governo do Eng. Sócrates, reduzindo a nada Jacinto Serrão e seus pares.
E para isto, Jardim tem alguns trunfos:
a) a vitimização, provocada pela atitude efectivamente persecutória do Governo da República;
b) o capital que detém junto da população sobre a capacidade de governação (alguém terá ilusões que, mesmo em tempo de crise, AJJ está infinitamente melhor preparado para Governar do que qualquer socialista madeirense?)
c) a próxima legislatura não é efectivamente benéfica para o PSD-Madeira, uma vez que muitos deputados deixarão a Assembleia Legislativa Regional. Esta tomada de decisão, contra o PSD-Madeira será devidamente explorada, com a demonstração que Jardim defende os interesses da Madeira, mesmo contra os interesses do Partido.
Por tudo isto, eu percebo perfeitamente o terror que deve imperar na Rua do Surdo. Mas, uma vez mais, neste tabuleiro da política, Jardim demonstra que não é derrotado facilmente. Goste-se ou não do Presidente do PSD-Madeira é preciso reconhecer que para derrotá-lo é preciso ser detentor de know-how político que não existe em abundância por terras lusitanas.