Desde há algumas décadas que os intelectuais europeus, influenciados pela escola estruturalista francófona, têm laborado no erro de identificarem as várias doutrinas - do que se convencionou chamar - de Direita, como as “donas” do capitalismo.
Esta tendência cresceu com globalização e hoje assume contornos maquiavélicos. Acredita-se que o sistema capitalista interessa às Direitas, é por elas mantido e apenas as serve, a despeito de todos os outros milhões de pessoas, que não passam de pequenas engrenagens neste enorme engenho que serve a poucos. Assim, as diferentes Esquerdas político-doutrinárias criaram o dogma de que o capitalismo é um sistema papão, gerido por meia-dúzia de pessoas, protegidos e apadrinhados pela Igreja Católica, que tem como único objectivo a “exploração do homem pelo homem” (terminologia cara à doutrina marxista). É o verdadeiro mito do mundo ocidental (muito especialmente na Europa), que serve como pano de fundo a todas as teorias da conspiração ocidentais. As Direitas (todas elas, sem qualquer tipo de distinção) são apresentadas como a retaguarda doutrinária desta meia dúzia de senhores do mundo e servem apenas para os proteger e branquear as suas acções malévolas.
Já para si, estas doutrinas (de Esquerda) chamaram a defesa das liberdades e direitos individuais, apostadas em marcar a sua diferença em relação às direitas: do seu lado da barricada está a defesa do Homem - considerado na sua universalidade -, das marcas humanistas que ainda subsistem na contemporaneidade. Do outro lado estão os reaccionários (termo bem à moda portuguesa), que são corruptos, que não têm qualquer interesse no bem comum, apenas se interessam pelo enriquecimento fácil, que se servem da política para os seus interesses egoístas. É a famigerada diferença propalada pela Esquerda: nós defendemos o progresso para todos, enquanto vocês defendem apenas os vossos interesses.
À partida parece que, de tão estapafúrdia, esta teoria não pegaria. Mas a verdade é que pegou (aliás, qualquer cidadão medianamente informado, que se julgue “diplomado” em teoria política, acredita piamente nesta fábula. O seu voto apenas diverge porque muitas vezes vota nas pessoas e não nas doutrinas).
E as várias Direitas democráticas que nasceram nos alvores do movimentos liberais contra os totalitarismos monárquicos, que lutaram contra as tendências ditatoriais comunistas, deixaram que a Liberdade - esse património que também é seu – se quedasse nas Esquerdas democráticas. É este o primeiro grande erro das Direitas na contemporaneidade. O segundo é o de não conseguir demonstrar que as respostas para subversões do capitalismo globalizado residem na libertação possibilitada pela informação livre que é o advento da própria globalização. O terceiro é o de não passar a mensagem de que o capitalismo hoje não tem rosto, não tem líderes, não tem donos (ainda voltarei a este tema).
O quarto pecado é o de não conseguir conciliar um conceito de Estado liberal (em todas as suas valências) com uma estrutura (convincente) que substitua o famigerado Estado-Providência, que também foi uma invenção sua. Numa frase: assumir sem vergonha a sua matriz liberal, sem esquecer que a política deve ser a regulação ética da economia.
O quinto erro – e, na minha opinião, o mais letal para a Direita portuguesa – é o de nunca ter assumido estes erros e ter acreditado na – e pior, de ter agido de acordo com - fábula inventada pela Esquerda.
As democracias estão doentes. Às Direitas compete demonstrar que ainda conseguem apresentar soluções. É este o desafio para os próximos anos. Espero não continuar desiludido!
PS - Bom fim-de-semana a todos.
"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
24.3.06
O nosso modelo de desenvolvimento!
Durão Barroso quis importar para Portugal o modelo de desenvolvimento irlandês.
Sócrates quer importar o modelo de organização social dinamarquês.
Eu proponho que importemos um qualquer modelo sul-americano, pois estamos mais para a bandalheira do que para uma Europa civilizada e desenvolvida.
Sócrates quer importar o modelo de organização social dinamarquês.
Eu proponho que importemos um qualquer modelo sul-americano, pois estamos mais para a bandalheira do que para uma Europa civilizada e desenvolvida.
Ainda a Dinamarca
É fácil criticar a liberdade de expressão que se respira em democracias,
em nome dos Direitos do Homem (http://devagares.weblog.com.pt/2006/03/e_
muito_facil_ter_cojones_quan#comments) , enquanto são caladas bem
fundo as atrocidades cometidas em regimes despóticos e por grupelhos miseráveis,
em nome da diplomacia.
Assim andam as instituições internacionais.
PS - Curioso que o Sr. Primeiro-Ministro queira implementar em Portugal medidas governamentais características desse país fascizóide que não respeita os Direitos do Homem.
em nome dos Direitos do Homem (http://devagares.weblog.com.pt/2006/03/e_
muito_facil_ter_cojones_quan#comments) , enquanto são caladas bem
fundo as atrocidades cometidas em regimes despóticos e por grupelhos miseráveis,
em nome da diplomacia.
Assim andam as instituições internacionais.
PS - Curioso que o Sr. Primeiro-Ministro queira implementar em Portugal medidas governamentais características desse país fascizóide que não respeita os Direitos do Homem.
O Filho Pródigo, ou a parábola do murmurador?
Os meus conterrâneos madeirenses não param de me surpreender. É curioso que na blogoesfera regional quase nenhum comentador se identifique. Medo, dizem uns. Cobardia gritam outros. Para mim dá-me igual ao litro, pois os insultos sem rosto não existem. Nem sequer é essa falta de identificação que me preocupa. O que me traz preocupado é que a maioria dos que comentam nos blogs madeirenses apenas o fazem para ofender alguém. Ou os bloggers, ou o PSD, ou o Governo, a Oposição, sei lá! São os murmuradores. Gente que se limita a murmurar contra outrém, sem qualquer tipo de respeito, sem qualquer tipo de elevação, sem qualquer tipo de amor próprio.
Lembra-me uma leitura interessante da parábola do Filho Pródigo. Comummente identificamos a mensagem desta parábola bíblica com o regresso daquele que, perdido, se reencontrou. Há outras duas leituras possíveis: um pai que por amor tudo perdoa ao filho, ou então um filho que vendo o perdão do seu pai ao mano esgrouviado, murmura contra o irmão. A parábola do murmurador. Que se aplica que nem ginjas à maioria dos comentadores!
Lembra-me uma leitura interessante da parábola do Filho Pródigo. Comummente identificamos a mensagem desta parábola bíblica com o regresso daquele que, perdido, se reencontrou. Há outras duas leituras possíveis: um pai que por amor tudo perdoa ao filho, ou então um filho que vendo o perdão do seu pai ao mano esgrouviado, murmura contra o irmão. A parábola do murmurador. Que se aplica que nem ginjas à maioria dos comentadores!
Armados e perigosos
Somos pobres mas andamos armados (se calhar uma coisa até está relacionada com a outra. Ou não, sei lá). Pelo menos é o que dizem alguns dados esta manhã divulgados pela RDP. Existem, em Portugal, 700 mil armas nas mãos de civis. A esmagadora maioria delas ilegais. E mais de 200 pessoas são vítimas de armas de fogo, todos os anos, neste país de supostos "brandos costumes". O pior é que a PSP vai substituir este ano as velhas G3. Conhecendo como conheço as boas prácticas de muitos dos nossos compatriotas fardados de azul, é de esperar que lá para o fim de 2006 existam bem mais de 700 mil armas nas ruas.
23.3.06
Momentos
Há uma imagem que não me sai da cabeça.
Fixei-a dia 19 de Fevereiro na festa dos compadres.
Estava eu a ver o cortejo etnográfico, quando os meus olhos foram assaltados por um desnorteante quadro. Um filho com perto de 30 anos, não largava a mão da mãe.
Se por algum motivo aquela mão materna fazia um gesto mais brusco, os dedos do jovem adulto atiravam-se de corpo e alma contra aquela protectora mão. Era uma espécie de cordão umbilical que o matinha ligado à progenitora. Mesmo assim, foi por várias vezes ameaçada aquela natural ligação. Existiam pessoas a quererem passar de um lado para o outro. Procuravam o ponto ideal para ver o cortejo.
Ele tinha o olhar disperso. A mãe via com um sorriso nos olhos as palhaçadas dos figurantes.
A partir daquele momento o Carnaval perdeu para mim toda a piada. Passei a focar o meu olhar naquelas duas personagens apesar da multidão que os rodeava.
De imediato notei algo de diferente no rosto e nos gestos do jovem rapaz.
Eu estava do lado oposto do enigmático quadro: - mãe e filho. Imaginei as dificuldades daquela mãe, os traumas daquele jovem adulto. As roupas eram humildes, mas nem por isso deixam de brilhar. Caíam-lhes bem. Eram as pessoas mais bonitas que ali estavam. Os meus olhos ficaram encharcados. O mesmo que agora sinto, ao recordar este quadro vivo.
Pensei que poderia ajudá-los. Tirei do bolso 5 euros para lhes dar. Achei pouco. Fui buscar mais. 10 euros. Assim que terminou o cortejo dirigi-me a eles. Não tive coragem de lhes dar nada. Apercebi-me que estavam acompanhados com outras pessoas. Pensei que poderiam não gostar. Dei mais uns passos. Hesitei. Voltei para trás. Nunca mais os vi. Nunca mais os esqueci.
PS - era para tê-lo escrito há muito tempo. Fi-lo agora.
Fixei-a dia 19 de Fevereiro na festa dos compadres.
Estava eu a ver o cortejo etnográfico, quando os meus olhos foram assaltados por um desnorteante quadro. Um filho com perto de 30 anos, não largava a mão da mãe.
Se por algum motivo aquela mão materna fazia um gesto mais brusco, os dedos do jovem adulto atiravam-se de corpo e alma contra aquela protectora mão. Era uma espécie de cordão umbilical que o matinha ligado à progenitora. Mesmo assim, foi por várias vezes ameaçada aquela natural ligação. Existiam pessoas a quererem passar de um lado para o outro. Procuravam o ponto ideal para ver o cortejo.
Ele tinha o olhar disperso. A mãe via com um sorriso nos olhos as palhaçadas dos figurantes.
A partir daquele momento o Carnaval perdeu para mim toda a piada. Passei a focar o meu olhar naquelas duas personagens apesar da multidão que os rodeava.
De imediato notei algo de diferente no rosto e nos gestos do jovem rapaz.
Eu estava do lado oposto do enigmático quadro: - mãe e filho. Imaginei as dificuldades daquela mãe, os traumas daquele jovem adulto. As roupas eram humildes, mas nem por isso deixam de brilhar. Caíam-lhes bem. Eram as pessoas mais bonitas que ali estavam. Os meus olhos ficaram encharcados. O mesmo que agora sinto, ao recordar este quadro vivo.
Pensei que poderia ajudá-los. Tirei do bolso 5 euros para lhes dar. Achei pouco. Fui buscar mais. 10 euros. Assim que terminou o cortejo dirigi-me a eles. Não tive coragem de lhes dar nada. Apercebi-me que estavam acompanhados com outras pessoas. Pensei que poderiam não gostar. Dei mais uns passos. Hesitei. Voltei para trás. Nunca mais os vi. Nunca mais os esqueci.
PS - era para tê-lo escrito há muito tempo. Fi-lo agora.
O “trabalhinho” francês
À parte o problema do envelhecimento europeu, a polémica sobre a nova lei laboral francesa é típica dos estados que durante décadas providenciaram tudo aos seus cidadãos. Como, de resto, ainda se faz em Portugal. Mas mesmo sem produzirem para o que gastam, os franceses, essa nação incompreensível que nem é nórdica nem latina, ainda acham que têm todos os direitos. E que ainda os devemos aturar.
Agora repare-se, como é que os EUA têm as leis laborais menos proteccionistas para os trabalhadores e são a economia que são. Pois. A resposta é fácil, é que a dinâmica empreendedora dos EUA gera quase só por si emprego para todos, e com remunerações dignas. Se hoje uma empresa fecha, não há nenhuma fatalidade, no dia a seguir (literalmente) abre outra. Ninguém fica à espera do emprego certinho. Ninguém fica à espera do Estado-Providência, como em Franca, e em Portugal.
Para ilustrar isto, um emigrante português na América disse-me uma vez uma coisa que nunca mais esqueci. «Meu caro, na América não se ganha nada sem trabalhar».
PS: Agora fico à espera dos Anti-Americanos.
Magno Velosa
Agora repare-se, como é que os EUA têm as leis laborais menos proteccionistas para os trabalhadores e são a economia que são. Pois. A resposta é fácil, é que a dinâmica empreendedora dos EUA gera quase só por si emprego para todos, e com remunerações dignas. Se hoje uma empresa fecha, não há nenhuma fatalidade, no dia a seguir (literalmente) abre outra. Ninguém fica à espera do emprego certinho. Ninguém fica à espera do Estado-Providência, como em Franca, e em Portugal.
Para ilustrar isto, um emigrante português na América disse-me uma vez uma coisa que nunca mais esqueci. «Meu caro, na América não se ganha nada sem trabalhar».
PS: Agora fico à espera dos Anti-Americanos.
Magno Velosa
Odeio sindicatos
Odeio sindicatos porque em Portugal são todos (ou quase) de esquerda.
Odeio sindicatos porque todos (sem excepção) não conseguem ver mais do que o próprio umbigo.
Odeio sindicatos porque os seus chefes são sempre os mesmos e em regra nem têm sequer o 12ºano.
Odeio sindicatos porque são a desgraça da economia portuguesa.
Odeio sindicatos porque querem que o Estado providencie tudo.
Odeio sindicatos porque já viajei de avião ao lado de Carvalho da Silva e vi bem que não se poupou às mordomias capitalistas.
Em suma, diziam-me há dias, «mas na Dinamarca também há sindicatos». Pois há. Mas se por lá se quiser ver um sindicato comunista o melhor é ir a um museu. Que é onde eles estão.
Magno Velosa
Odeio sindicatos porque todos (sem excepção) não conseguem ver mais do que o próprio umbigo.
Odeio sindicatos porque os seus chefes são sempre os mesmos e em regra nem têm sequer o 12ºano.
Odeio sindicatos porque são a desgraça da economia portuguesa.
Odeio sindicatos porque querem que o Estado providencie tudo.
Odeio sindicatos porque já viajei de avião ao lado de Carvalho da Silva e vi bem que não se poupou às mordomias capitalistas.
Em suma, diziam-me há dias, «mas na Dinamarca também há sindicatos». Pois há. Mas se por lá se quiser ver um sindicato comunista o melhor é ir a um museu. Que é onde eles estão.
Magno Velosa
Felicidade.
Não fazia ideia que a minha não renovação do mandato de Deputado à AR trazia tanta gente exultante de felicidade. O meu "afastamento", a minha "perda", a minha "derrota", estão a ser glorificadas em diversos sítios e circunstâncias.
Acho mais piada, quando esses desabafos surgem para caraterizar a minha ida para a Comissão Política do PSD como compensação. Ainda não tinha percebido que esta entrada significava a chegada ao paraíso, o encontro com as tão propaladas 70 virgens (agora começa a ficar mais interessante), a partir de agora saltitarei de nuvem em nuvem, com umas asinhas de querubim, coscuvilhando todos os recantos do Éden alcançado.
Ó sublime encanto, ó glória resplandecente, verdade das verdades, misericórdia infinita, salvação única, obrigado por me acolheres no teu seio.
Falta acrescentar umas gotas de baba no canto inferior esquerdo.
Acho mais piada, quando esses desabafos surgem para caraterizar a minha ida para a Comissão Política do PSD como compensação. Ainda não tinha percebido que esta entrada significava a chegada ao paraíso, o encontro com as tão propaladas 70 virgens (agora começa a ficar mais interessante), a partir de agora saltitarei de nuvem em nuvem, com umas asinhas de querubim, coscuvilhando todos os recantos do Éden alcançado.
Ó sublime encanto, ó glória resplandecente, verdade das verdades, misericórdia infinita, salvação única, obrigado por me acolheres no teu seio.
Falta acrescentar umas gotas de baba no canto inferior esquerdo.
Árbitro de merda
Uma arbitragem feita "à medida" do Porto lixou-nos a presença na final da Taça. Foi pena, a rapaziada merecia mais. Esperemos que mais nenhum Olegário nos trame o campeonato. Mas desconfio que isso vá acontecer...
22.3.06
As portas que Abril abriu!
Porque alguns esqueceram que a Democracia e a Autonomia nasceram com Abril, deixo aqui a minha homenagem a todos os que tombaram em nome da Liberdade.
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
(...)
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
(...)
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados 'páras'
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
(...)
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
(...)
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
(...)
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
(...)
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
(...)
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
(...)
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos
AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
(...)
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
(...)
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados 'páras'
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
(...)
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
(...)
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
(...)
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
(...)
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
(...)
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
(...)
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos
Mais palavras para quê?
Consta que anda gente nervosa por causa do encerramento da sala de imprensa da Assembleia.
Depois dos lamentáveis episódios, parlamentares, a mim já nada me espanta.
É mais um facto para juntar a tantos outros.
O órgão número um, da soberania regional, mais parece uma caixinha de surpresas. É que nunca se sabe o que dali vai sair.
Agora é a sala de imprensa, ontem foi a eminente cena de pancadaria. Há dias o episódio era o, tresloucado requerimento. Há uns meses atrás a aberração foi os “cifões & companhia”.
São tantas as estórias que a própria memória já se encarregou de eliminar algumas. Roubam espaço, ao importante…
Perante tanta aberração, mais uma, menos uma. É como se não existisse.
O jornalismo político que se faz na Madeira, nunca passou por aquela sala. Ela é muito mais útil para os políticos, do que para os jornalistas. São eles que marcam conferências, fazem comentários, esclarecimentos, comunicados, rebatem argumentos, acrescentam pontos. Já assisti a casos, em que existiam deputados em lista de espera, para falar na mediática sala.
Os jornalistas apenas usam-na para o respectivo trabalho.
Já ouvi algo do género….se os partidos querem falar com a comunicação social, fazem-no nos respectivos gabinetes.
Já estou a ver.
Desculpe, onde é o local de trabalho do PSD?
Oh, menino; com quem pretende falar?
Com o grupo parlamentar do PSD.
Olhe que são 44 deputados! Qual deles?.....
Não é aqui. É no “lojão”. ( Lojão é um anexo da Assembleia onde estão alguns partidos como, o CDS/PP e o BE. – pelo menos)
Os jornalistas já estão habituados a serem mal recebidos. Quando não aparecem é que cai o “carma e a trindade”. De resto, são poucas as entidades que se lembram de criar condições para os jornalistas trabalharem. Inteligentes foram os jornalistas desportivos. Fartei-me de os ouvir queixarem-se da falta de condições nos estádios de futebol.
A persistência parace que resultou.
Julgo que o mesmo deveria acontecer na Assembleia.
Além do local de cobertura das sessões plenárias, ser minúsculo, querem agora retirar o único espaço que existe na Assembleia, para apoio dos jornalistas.
Depois dos lamentáveis episódios, parlamentares, a mim já nada me espanta.
É mais um facto para juntar a tantos outros.
O órgão número um, da soberania regional, mais parece uma caixinha de surpresas. É que nunca se sabe o que dali vai sair.
Agora é a sala de imprensa, ontem foi a eminente cena de pancadaria. Há dias o episódio era o, tresloucado requerimento. Há uns meses atrás a aberração foi os “cifões & companhia”.
São tantas as estórias que a própria memória já se encarregou de eliminar algumas. Roubam espaço, ao importante…
Perante tanta aberração, mais uma, menos uma. É como se não existisse.
O jornalismo político que se faz na Madeira, nunca passou por aquela sala. Ela é muito mais útil para os políticos, do que para os jornalistas. São eles que marcam conferências, fazem comentários, esclarecimentos, comunicados, rebatem argumentos, acrescentam pontos. Já assisti a casos, em que existiam deputados em lista de espera, para falar na mediática sala.
Os jornalistas apenas usam-na para o respectivo trabalho.
Já ouvi algo do género….se os partidos querem falar com a comunicação social, fazem-no nos respectivos gabinetes.
Já estou a ver.
Desculpe, onde é o local de trabalho do PSD?
Oh, menino; com quem pretende falar?
Com o grupo parlamentar do PSD.
Olhe que são 44 deputados! Qual deles?.....
Não é aqui. É no “lojão”. ( Lojão é um anexo da Assembleia onde estão alguns partidos como, o CDS/PP e o BE. – pelo menos)
Os jornalistas já estão habituados a serem mal recebidos. Quando não aparecem é que cai o “carma e a trindade”. De resto, são poucas as entidades que se lembram de criar condições para os jornalistas trabalharem. Inteligentes foram os jornalistas desportivos. Fartei-me de os ouvir queixarem-se da falta de condições nos estádios de futebol.
A persistência parace que resultou.
Julgo que o mesmo deveria acontecer na Assembleia.
Além do local de cobertura das sessões plenárias, ser minúsculo, querem agora retirar o único espaço que existe na Assembleia, para apoio dos jornalistas.
20.3.06
Curiosidade.
Será que teríamos providência cautelar se, em vez de uma obra na ribeira de São João, estivéssemos a falar de um projecto idêntico na ribeira de Santa Luzia ?
O neveoeiro da raiva tudo esconde.
P.S. - Ou muito me engano ou vou aparecer na imprensa local.
O neveoeiro da raiva tudo esconde.
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