Para quem não tiver pachorra de ler até ao fim Estávamos em 96 ou 97, nem me lembro bem, e eu fazia parte da Associação de Estudantes do ISCTE, um verdadeiro albergue espanhol onde a JCP e a JSD domiam na mesma cama, acompanhados por gente que saira da Política XXI e do PSR, de uma menina queque da JP e de alguns indefinidos (políticamente falando) como o Mourinho, um dos tipos mais divertidos que alguma vez conheci.
Setubalense de gema, o Mourinho era sobrinho de um tal José que naqueles tempos ainda não era o "special one". Completamente inapto para o futebol, ao contário do resto da familia, destacou-se como organizador de concertos e arraiais, convertendo-se na maior dor de cabeça do Nuno Mendes, o homem das contas, que transpirava sempre que lhe eram apresentados orçamentos para PA's decentes porque o ISCTE iria receber the next big thing.
Muitas das big things do Mourinho eram bandas de garagem sem préstimo algum, que lhe eram impingidas nas noites do Bairro. Mas no meio do caos e da chinfrineira apareceram algumas coisas interessantes.
Já vos falei várias vezes dos Raindogs, na altura liderados por Roland Popp e com um violino tocado magistralmente por um senhor que dá pelo nome de Matt Howden. Pois bem, não foram the next big thing mas ainda editaram três discos (pelo menos), dois deles absolutamente deliciosos.
Nunca vos falei, contudo, de Pinhead Society.
Cá vai:
- Tás maluco... vais pôr uma banda de miúdos de 16 anos a tocar aqui?
Dizia toda a direcção da AE. Com excepção do Mourinho, que argumentava:
- Épa, vocês não tão a ver bem a cena, meu. Os putos são... são do melhor.
Em verdade vos digo que o argumento do Mourinho foi aceite, com a abstenção do Mendes, e lá se organizou o bendito concerto.
No dia marcado os miúdos chegaram, fizeram o teste de som de forma muito profissional, desamparam a loja e apareceram à hora do espectáculo. Subiram ao palco e ao fim de duas canções tinham ganho a plateia.
Quando acabou, o Mourinho exultava:
- Eu tinha dito. Devem-me cerveja. Todos.
De facto, após aquele concerto muitos de nós ficámos convencidos que desta vez o Mourinho acertara e aqueles putos iriam ser, de facto, the next big thing.
Naquele tempo, os Pinhead Society editaram um belissímo disco, Kings of Our Size, que surgiu no mercado com o selo da Candy Factory, a mesma editora dos Raindogs.
Tocaram por Lisboa inteira, no circuito alternativo, foram a algumas estações de rádio, chegaram ao palco principal do Sudoeste (com Sonic Youth) a Vilar de Mouros e ao Coliseu e desapareceram de cena com a mesma velocidade com que surgiram, deixando boas canções e uma pergunta: que ráio correu mal?
Pois bem, há anos que não oiço falar do Mourinho. E já nem me lembrava dos Pinhead. Mas há bocado, dando uma volta pelo myspace, dei de caras com a página da banda. E pus-me a ouvir, descobrindo que o tempo não estragou as canções.
Não sei se o disco se vende (é provável que esteja esgotado). Mas a Mariana ainda canta (myspace.)
The Next Big Thing.