25.4.09

Finalmente a bordo...

Quando o Gonçalo me convidou para esta Conspiração, hesitei. Apesar de achar que sou voyeur e exibicionista em dose mais do que suficiente, nunca me tinha dado na veneta manter um blog e nem sequer era, até muito recentemente, seguidor assíduo de nenhum. Após um breve diálogo interior (daqueles do tipo “Blogar porquê?” “Porque não?”) decidi aceitar. Resisti aos telemóveis até 2001, ao uso diário do e-mail até 2005 e agora, acabado de fazer 39 anos entro finalmente na blogosfera.

Sei que as minhas opiniões diferem muito de outras aqui publicadas. Ainda bem! A diferença de opiniões e assuntos neste blog é o que o torna diferente de tantos outros e, na minha modesta, mais rico. Comemoramos hoje o 35º aniversário da conquista do direito à livre opinião em Portugal e não me ocorreria data melhor para o início desta minha colaboração do que hoje. Aos leitores regulares peço apenas um favor: quando não concordarem assumam-bno e digam-no bem alto! Um dos maiores males deste Mundo, logo a seguir às boas intenções, é o silêncio concordante de quem discorda. Acordaram-me... Agora, paciência... Aturem-me!

Tourada

Uma das melhores canções que conheço em português... Com uma letra tão actual...

Cá fica:

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.

Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro as milhões.
E diz o inteligente
que acabaram as canções.

Ary dos Santos

24.4.09

Dia da Liberdade

É 25 de Abril, pá! Comemoremos a Liberdade com o cheiro do Brasil.



Tanto Mar
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

É pena

Sem o 25 de Abril, a autonomia seria pouco mais do que uma miragem. Mas mais uma vez, a AR não comemora a data.

Pode argumentar-se que as comemorações oficiais são meros actos simbólicos, preenchidos com discursos de circunstância que, em muitos casos, procuram recordar e nunca projectar. Mas esse argumento é absolutamente falacioso, uma vez que os próprios actos simbólicos são alicerces para a manutenção das estruturas sociais.

O segundo argumento normalmente evocado – o 25 de Abril foi uma tentativa de substituir uma ditadura por outra, tendo sido travado pelo 25 de Novembro – é verdadeiramente inaceitável. O 25 de Novembro foi apenas uma consequência da porta aberta pela “revolução dos cravos”. Foi o 25 de Abril que despoletou o processo que permitiu que Portugal seja uma democracia. Um sistema com virtudes e defeitos, como é óbvio, mas incomparavelmente melhor do que os anteriores.´

Qualquer indivíduo medianamente informado sabe que o PREC foi um tempo de excessos. Que dentro do Conselho da Revolução havia quem quisesse caminhar para outro lado (a minoria). Mas mesmos os desmandos e desvarios não apagam, nem sequer beliscam, a importância daquele dia de Abril, quando os cravos enfeitaram os canos das espingardas.

Não reconhecer a data é não reconhecer que Portugal (e por consequência a Madeira) é hoje um país melhor para viver, com melhor saúde, melhor educação, melhor sistema de protecção social e muito melhores infraestruturas em todas as áreas. Um país mais aberto ao mundo, que se conhece melhor e que vai conhecendo melhor os outros. Um país que já protesta quando acha que deve protestar, que já não se envergonha nem se acanha. Um país onde Deus já não manda nas questões terrenas. Um país onde, apesar da crise, das dificuldades, das provações, é possivel sonhar, celebrar, cantar, viver, amar.

É pena que a AR não o reconheça…

Só uma opinião

Não tenho nada contra o Nuno Teixeira. Conheço-o desde o tempo do liceu e embora nunca tenhamos pertencido aos mesmos círculos de amigos e relacionamentos mantivemos sempre uma relação cordial.

Profissionalmente, o Nuno parece-me ser competente e dedicado.

Mas apesar destas qualidades, discordo em absolutudo da sua indigitação como candidato do PSD-M ao Parlamento Europeu. Em primeiro lugar porque parece-me resultar de uma “birra” do presidente do Partido, que tencionou mostrar, mais uma vez, que quem manda ali é ele e que os restantes companheiros só têm de acatar as suas decisões, abanando a cabeça e dizendo ámen.

O Nuno não foi indigitado pelos seus méritos especiais (mais uma vez repito, não ponho em causa a sua honestidade, competência e capacidade) foi apenas mais um peão utilizado no musculado jogo de xadrez que Alberto João Jardim vem mantendo com alguns dos seus companheiros de partido.

- Aqui mando eu e para Bruxelas vai quem eu quiser, deve ter dito AJJ.

Repare-se que se o PSD-M queria substituir Sérgio Marques – parece-me que era essa a intenção – havia gente com mais e melhor currículo do que o Nuno. Fernanda Cardoso é só um exemplo, mas há mais.

No meio da confusão quem saiu bem da jogada foi SM. Teve um acto digno e corajoso que, se souber aproveitar, dar-lhe-á um excelente capital político.

Quanto ao resto, creio que o jogo dentro do PSD-M vai dar cabo do partido. Mas isto é só uma opinião de quem observa de fora.

23.4.09

David Bowie - Life on Mars?

Existe mesmo?

Para que não derreta


Pergunta

Será Portugal o único país do mundo civilizado em que o primeiro-ministro se dá ao luxo de criticar a actuação do Ministério Público, pondo em causa magistrados e procuradores sem que o Sr. Procurador Geral da Républica diga qualquer coisa em defesa daqueles que lidera?

Tem de ser Cândida Almeida, Procuradora-Adjunta, a defender a integridade da instituição?

Vá de Metro Santanás

Um slogan publicitário criado por Alexandre O'Neil:

Vá de Metro Santanás

Genial, ou não?

22.4.09

Boa novidade

Não sei bem como classificar a música, mas é surpreendente. Uma boa novidade!

O estado de arte....

Numa incursão pela rede de bandas musicais, myspace/music, encontrei um preciosismo, que vale a pena reflectir... A banda é madeirence, e dá pelo nome de Raiva (http://www.myspace.com/raivapunk), e privilegia o estilo Punk Rock. Eis a letra da música de apresentação da banda:
Raiva: Revolta Insular
Temos a terra toda furada
Tuneis de kg e autoestradas
É tão facil enganar o povo
Com obras exageradas
Neste seculo 21 nem há rede de esgotos a não
ser mesmo no centro
o resto que cague pa dentro
Tanto centro comercial
Pra embelezar a terra
e encobrir toda a pobreza que se vive nesta era
Abram
todos os vossos olhos
todos temos nossos direitos
não somos nenhuns escravos
Vivemos insatisfeitos
Jardinismo, ditadura tudo isto é escravatura
Jardinismo, ditadura tudo sol de pouca dura
Estamos prontos pa lutar
É a Revolta Insular!

Sobre as eleições europeias

Como a maioria dos portugueses, dava muito pouco pelas próximas eleições para o Parlamento Europeu. Sim, é certo que todos os partidos, os politólogos, os comentadores, os fazedores de opiniões (e os comentadores destes todos), apontavam este primeiro sufrágio como o início da grande maratona que se constituirá 2009 como ano eleitoral.
Como não sou um completo atrasado mental, naturalmente que reconhecia a algumas consequências para as legislativas nacionais (as autárquicas têm outras especificidades que não entram nesta lógica elíptica). Parecia-me, contudo, haver algum exagero na importância que era atribuída a estas eleições. A vergonha que foi o PS e o PSD terem impossibilitado os portugueses de se terem pronunciado sobre o Tratado de Lisboa também não contribuía nada para a participação ou interesse. O acordo tácito, estabelecido entre os socialistas europeus e o PPE para manter Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, constituía-se como outro motivo para indiciar uma campanha insonsa. Os próprios cabeças de lista não denunciavam grande agitação.

Foi, portanto, com imensa surpresa que assisti ao quentinho debate no Prós e Contras. E fez-me mudar de opinião acerca do interesse destas eleições. Afinal, parece que até poderão ser interessantes. E fiquei com a sensação que afinal aquele que era apontado como a grande estrela da campanha (o senhor professor doutor Vital Moreira, douto nas coisas europeias e reconhecido sábio em geral) poderá ser, afinal, o elo mais fraco. Mais fraquíssimo mesmo, diria eu.
Miguel Portas é um tipo inteligente e soube aproveitar as oportunidades, que lhe foram dadas por estar no centro decisório europeu, para pensar a política de um ponto de vista mais global. É, portanto, um bom candidato.
Ilda Figueiredo, que de resto é uma senhora pela qual não nutro grande apreço, transformou-se numa especialista em questões europeias, conhecendo bem os dossiês, sendo, também, uma boa candidata. Outro factor que abona a seu favor é a sua combatividade, mostrando-se mais forte do que há 4 anos atrás.
Já Nuno Melo é um bom orador, com qualidades retóricas evidentes. Um quadro com futuro na política portuguesa. Tem, também, vindo a trabalhar bem nas questões europeias, especialmente no que toca aos fundos e programas europeus.
Paulo Rangel, que sendo evidentemente uma escolha pessoal de Manuela Ferreira Leite para aplacar a fúria de algum baronato do PSD na guerra das listas é, simultaneamente, uma escolha segura. Homem de princípios, com boa capacidade de trabalho, tem habilidades argumentativas e tem-se imposto com mérito no panorama político social-democrata e nacional.
Sobra, portanto, Vital Moreira. O tal que não é político, que é professor de Coimbra e que era apontado como um intelectual que contribuiria para a profundidade do debate (não digo elevação, porque sobre isso, os seus textos no blogue e no Público falam por si), constitui-se afinal como uma (previsível) desilusão, não sendo capaz de falar bem sobre qualquer assunto, dizendo apenas umas banalidades e a dar-se ares de prima-dona ofendida quando acossado politicamente pelos seus adversários. Nunca demonstrou o tal brilhante intelecto que os seus defensores juram possuir, nunca conseguiu responder frontalmente às questões que lhe foram colocadas, nunca teve argumentos perante as críticas de que foi alvo.
Não tenho dotes de prestidigitação, mas auguro, portanto, uma campanha interessante e não me parece que Vital Moreira venha a sobressair em qualquer momento. Para os opositores deste PS, esta é uma boa notícia e estava capaz de agradecer a Sócrates por esta bela prenda que ofereceu à oposição.

1.29 m

1:29m. Foi o tempo que Gil aguentou Rafa Nadal no corte central do Barcelona Open Banco Sabadell. O jogo terminou com 0-2, com parciais de 2-6 e 2-6.

Era dificil fazer muito mais contra o melhor jogador mundial da actualidade. Valeu a visibilidade que o jogo deu ao tenista português.

Gil versus Nadal

Para quem se interessar pelo assunto, Frederico Gil joga, às 13:40 horas, em Barcelona, contra o super Rafael Nadal, na segunda eliminatória do Barcelona Open Banco Sabadell – 57º Trofeo Conde de Godó.

O jogo passa em directo na Sport TV mas para quem não se pode dar ao luxo de faltar ao emprego para vê-lo (eu, desgraçadamente, sou um deles) há sempre o sítio do torneio, onde os pontos podem ser acompanhados quase em tempo real.

Contra Nadal, que ainda por cima joga (quase) em casa, as hipóteses de Gil não serão muitas, mas como eu acredito que os milagres acontecem de vez em quando…

Os números são arrasadores, e se o tenista português olhar para eles entrará em campo a pensar que nem Deus Nosso Senhor, com os seus poderes infinitos, o pode salvar! Desde que se tornou profissional, em 2001, Rafa jogou 178 jogos em terra batida e ganhou… 164! Já não é derrotado nesse tipo de piso desde a final do Torneio de Roma de 2008, perdida para o compatriota Juan Carlos Ferrero.

Este ano, o seu saldo de vitórias e derrotas em terra batida cifra-se em “modestos” 25-0, tendo ganho, pela 5ª vez consecutiva, o Open de Monte Carlo.

Incontestado número um do mundo, o espanhol disputou, em 2009, 29 jogos, tendo ganho 26. Venceu o Open da Austrália (primeiro Grand Slam da temporada) e os masters series de Indian Wells e Monte Carlo. Lesionado, perdeu a final de Roterdão e foi eliminado nos quartos de final de Miami e de Doha.

Recorde-se que esta será a segunda partida entre Gil e Nadal este ano. No final de Março, no Open de Miami, o tenista português “deu luta”, mas não conseguiu evitar a derrota em dois sets.

Vamos lá, camarada… Não há nada a perder!

Dias úteis

Espero que hoje seja um dia útil. Para ajudar no caminho:

Dias Úteis

Dias úteis
às vezes pretextos fúteis
pra encontrar felicidade
no percurso de um só dia
Dias úteis
são tão frágeis as verdades
que se rompem com a aurora
quem as não remendaria?
Dias úteis
mesmo se a dor nos fizer frente
a alegria é de repente
transparente
quem a não receberia?
Mesmo por pretextos fúteis
a alegria é o que nos torna
os dias úteis
Dias raros
aqueles que por amparos
do bom senso e da imprudencia
fazem os prazeres do dia
Dias raros
como os ares, rarefeitos
amores mais do que perfeitos
quem os recomendaria?
Dias raros
em que os mais dados às rotinas
ouvem sinos, seguem sinas
cristalinas
quem as não perseguiria?
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
a alegria é que nos torna
os dias úteis
Por motivos talvez claros
o prazer é o que nos torna
os dias raros
Por pretextos talvez fúteis
por motivos talvez claros

Sérgio Godinho

20.4.09

A propósito

Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.
- Como quereis o equilíbrio?

David Mourão Ferreira

(A propósito de uma conversa que não versou o equilíbrio mas sim a convencionalidade o que para aqui é quase a mesma coisa).

Duas conferências interessantes (bem mais interessantes do que a situação do PS-M)

Duas conferências interessantes. Hoje e amanhã.

DARWIN E A RELIGIÃO
Sala do Senado (Tecnopolo) - Universidade da Madeira
20 de Abril de 2009 – 18h

VALORES E A SOCIEDADE ACTUAL
Sala de Sessões - Escola Secundária Francisco Franco
21 de Abril de 2009 - 10h
Conferências proferidas pelo Professor Anselmo Borges*, abertas ao público em geral.

*Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra no curso de Filosofia.
Padre da Sociedade Missionária e cronista semanal do Diário de Notícias de Lisboa.
Publicações: Marx ou Cristo; Janela do (In)finito; Janela do (In)visível; Religião: Opressão ou libertação; Morte e Esperança; Corpo e Transcendência; Deus no Séc. XXI e o Futuro do Cristianismo (coordenação).

Uma citação a propósito de qualquer coisa que não o PS-M (obviamente)

É preciso um grande caos interior para parir uma estrela que dança. Nietzsche.

(note-se que não é o caso do PS-M. Nesse caso, é só mesmo caos interior.)