"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
8.3.08
Sense and sensibility*
*Roubado despudoradamente de Jane Austen.
Não é só autismo político. É total cegueira, com estupidez à mistura
Falta de vergonha
Isto não é só incoerência: é falta de vergonha na cara!
Diz que é uma espécie de democrata...
7.3.08
87º Aniversário do PCP
Eu nunca votaria no PCP. Porque entre a sociedade que defendo e aquela que é sugerida pelo partido existe um imenso oceano.
O autoritarismo do PCP, efeitado pelos tiques de quem ainda acredita viver na clandestinidade, irrita-me solenemente. Tal como a disciplina militar imposta aos militantes ou os dogmas servidos ao pequeno-almoço.
Paradoxalmente (ou talvez não, que sei eu?) tenho um profundo respeito pelo PCP. As razões pelas quais detesto o partido da foice e do martelo são practicamente as mesmas que me levam a respeitá-lo.
Porque respeito quem acredita firmemente em ideias (mesmo que contrariem as minhas), quem é religioso (e os militantes do PCP são profundamente religiosos, professando os seus dogmas diariamente), quem calcorreia generosamente caminhos dificeis.
Respeito o conservadorismo do PCP, o facto de ser, cada vez mais, um partido de classe. E um sólido ancoradouro.
Respeito a memória de todos os militantes do PCP que durante 60 anos lutaram contra o regime que nos teve cativos. Foi o maior contributo que o partido deu a Portugal: a capacidade de organizar e conduzir a resistência.
Nunca votaria no PCP. Mas não me importo de o ver por aí.
Post-Scriptum: Todas as edições clandestinas do Avante estão agora digitalizadas e on-line. No sítio do PCP (não me peçam para aqui colocar o link. Já era demais!).
Precisa-se de matéria prima para construir um país
É tão raro, mas tão raro, concordar com o Eduardo Prado Coelho que não resisti a postar um texto dele com o qual, espantosamente, estou de pleno acordo.
Foi-me enviado por e-mail e, ao que parece, retirado do Público (não sei, não o li no jornal nem sei qual a data da sua publicação).
Ei-lo.
Alvísseras, um dia concordei com o Prado Coelho!
Precisa-se de matéria prima para construir um país
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas
caixas nos passeios onde se paga por um só jornal e se tira um só jornal, deixando os demais onde estão.
Pertenço ao país onde as empresas privadas são fornecedoras
particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos .... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas
porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo
o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa chico-espertice" congénita, essa
desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se
converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade
humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é
real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, eleitos por nós. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e estou seguro de que o encontrarei quando me olhar ao espelho. Aí está. Não é preciso.
Eduardo Prado Coelho
Tudo louco III
Tudo louco II
Quer dizer, esta que se está a revelar como a maior manifestação de unidade da classe, transversal às ideologias políticas e aos partidos portugueses, deve-se, no entender da sr. ministra, à burrice e imbecilidade dos professores. Está bem, está...
Tudo louco
6.3.08
O romance da minha vida
Um país que prefere a tirania à incerteza merece todo o tipo de tirania.
A frase, dita por uma das personagens da obra O Romance da Minha Vida, do cubano Leonardo Pandura, é a chave para se entender a percepção do autor sobre a ilha.
O Romance da Minha Vida é uma longa viagem por Cuba. Pela Cuba de Herédia, o poeta exilado. Pela Cuba recém liberta de Espanha. Pela Cuba actual.
A trágica história da ilha é contada por dois exilados, Herédia, que fugiu em 1823, Fernando, que fugiu de Fidel. E escrita por um exilado. É uma espécie de viagem circular num espaço imutável.
5.3.08
"Contrapeso da Maioria"
Isto constitui uma situação atípica, e um caso particular num país democrático, um partido político (PSD) ser unicamente uma solução governativa e ao nível parlamentar nunca ter experimentado o papel de oposição.
3.3.08
Tão bom, tão bom, que ninguém lhe pega...
Por outro lado, os mesmos socialistas que teciam loas aos governos de Guterres e aos ministérios de Marçal Grilo e Oliveira Martins são os mesmos que agora aparecem a atacar a ex-secretária de Estado. O que diz muito acerca do que é ser socialista em Portugal!
Basta que sim!
Mas já ia sendo tempo, não Miguel?!
Quanto às tuas posições, digo-te que o problema não está apenas o nível da avaliação, conforme queres fazer crer. O receio vai muito mais além: o regime de autonomia das escolas; as transferências de competências para as autarquias; a forma prepotente como esta equipa ministerial impõe as suas decisões; a precipitação desta ministra, que age antes de pensar, que elogia antes de avaliar. E não te esqueças, daquela brilhante ideia que encerrará muitos dos conservatórios de música deste país e impedirá a formação musical de milhares de jovens.
O problema desta equipa ministerial e as constantes manifestações que contra si são organizadas não se prende apenas com a avaliação: são tantas as más medidas que custa lembrá-las todas!
2.3.08
Cinema
É um filme de uma extraordinária realização. Cada plano é um autêntico quadro. Nada foi deixado ao acaso. A ausência de cor dá-lhe a dimensão estética e dramática necessária para a pesada narrativa.
Minto. Há uns riscos de cor, mas só surgem a meio do filme. Quando o excepcional barbeiro inglês do século XIX, interpretado por Johnny Depp, coloca em marcha um maquiavélico plano para aniquilar o mal em troca do bem. O problema é que o ajuste de contas transforma-se num rosário de crueldade.
É nesta altura que as cenas ganham cor. Um vermelho explosivo que salta do ecrã e suja os telespectadores. Alguns não resistem à violência das imagens, e tentam, com as mãos, esconder o que os olhos desejam ver.
Há muito sangue neste filme. Há muita violência, muita vingança.
Será que esta estória poderia ser filmada de outra forma??? Acho que não.
“O Terrível Barbeiro de Fleet Street” é um documento único. A história nasceu na Londres do início do século XIX. Não existem provas. Apenas relatos orais que passaram de geração em geração, até que alguém adaptou a lenda ao teatro e depois ao cinema (1926 primeiro filme). Agora resurgiu através das mãos de Tim Burton. Recordo-me de "Existenz". Já tem alguns anos. Talvez 10. Uma vez mais foi engolido por esta envolvente história, cantada, (o filme é um musical) que me encantou.
Não lhe mudava nada. A obra é quase perfeita.