4.8.07

Tolerância política

Se há uns bons anos atrás justificava-se a tolerância de ponto, (facto que tenho sérias dúvidas) hoje não existem argumentos que expliquem a medida.

Os políticos não podem, num dia dizer que é necessário trabalhar mais, e no outro dia, dispensar 20 mil funcionários públicos por causa de um rali.

Das duas uma: ou o país e a região estão em crise, (o que não parece) ou só existem dificuldades quando é necessário pedir sacrifícios aos contribuintes? No caso da Região, os madeirenses não têm voz activa no que respeita a matéria fiscal.(até têm mas não usam) Apanham por tabela o que Lisboa decide.

Digo isto porque, ainda sexta-feira, ouvi muitos funcionários públicos a quem o Governo Regional atribuiu, o bónus extra, discordarem.

Se há muito “empregado” da região se perde de amores por carros, outros existem cujas paixões não passam pelos cavalos dos automóveis.

A única explicação possível, mas politicamente incorrecta para ser revelada: é que os 20 mil trabalhadores servem de figurantes do rali. Será?

2.8.07

O último filme

Esta semana despediram-se dois grandes mestres da sétima arte: Bergman e Antonioni.

Segundo diria um crítico de cinema norte-americano: finalmente vão conhecer o melhor de todos os realizadores. Deus. É o único com o dom da omnipresença. Ou seja, consegue assistir de vários ângulos a um mesmo acontecimento. A teoria foi apresenta quando estreou o filme que reconstituiu a morte de JFK. Pela primeira vez, o público norte-americano, conseguiu ver de perspectivas diferentes, por isso mesmo, inacessíveis ao comum dos mortais, como foi assassinado o Presidente dos USA.

De regresso à terra, Bergman e Antonioni nasceram com 6 anos de diferença: Michelangelo Antonioni, (1912) Ingmar Bergman (1918). Na morte foram separados por umas escassas 24 horas.

Quer um, quer outro, têm percursos de vida e cinematografias distintas. Bergman experimentou a literatura, o teatro; só depois é que chegou ao cinema. Fê-lo de corpo e alma. Antonioni também percorreu outros caminhos antes de se lançar na sétima arte. Com “Blow-Up – História de um fotógrafo” (1966) despertou o mundo e a arte de fazer filmes. Ainda foi candidato ao Óscar de melhor argumento, mas nunca passou de nomeado.

Bergman foi bafejado pela sorte e pela fama. Ganhou 3 Óscares de melhor filme estrangeiro e foi outras tantas vezes candidato à categoria de melhor realizador (3), produtor (1) e argumento (5).

Muito mais poderia ser dito mas, não vou fazê-lo. Apenas referir que são dois nomes incontornáveis da história do cinema. Para os que só olham para o cinema americano, uma última nota. Não se esqueçam que existem mais filmes para além de Hollywood.

31.7.07


São burros. Mude-se o povo

Vejo, com muito frequência, o povo madeirense ser apelidado de vilhoada, por certa esquerda bem-pensante. É o exemplo inequívoco do sentir democrata desta gente: não votam em mim porque são burros.

Um axioma

Se o cavaquismo nunca fez parte da solução, então é porque faz parte do problema.

O decote

Nas terras do tio Sam, um decote tem levantado celeuma anormal. E passo a explicar: alegadamente, a senhora Clinton apresentou-se numa sessão do congresso com um decote demasiado insinuante, facto que não passou despercebido e que já deu azo a alguma especulação. Alguns, os mais puritanos, entenderam ser uma pouca-vergonha; outros, os mais libertinos, uma demonstração inequívoca da sua sensualidade, feminidade e sexualidade (não tenho culpa das coisas rimarem). Eu nada tenho contra decotes desde que não sejam excessivamente descaídos nem brutalmente subidos. Um decote pode ser generoso e/ou sedutor, mas esconde sempre, e se for mesmo um bom decote, o essencial. Desconfio porém que o mesmo esteja a ser utilizado para desviar as atenções da falta de ideias políticas da candidata à nomeação democrata. E que esta história tenha um desfecho semelhante à história do marido da referida senhora, que depois de oito anos na presidência ficou mais conhecido por ter contratado uma estagiária que não lavava os vestidos do que pelas reformas ou ideias políticas que implantou ou promoveu na América.

Os fugitivos

A delegação cubana presente nos jogos pan-americanos que decorreram no Brasil regressou a casa um dia mais cedo que o previsto. Houve atletas que nem puderam receber as medalhas a que tinham direito perante a ordem expressa de retornar a casa vinda de Havana. O motivo não foi uma epidemia nem uma má disposição súbita e generalizada. E muito menos a morte do velho ditador. Ao que consta, o regime democrático cubano pelou-se de medo que ocorresse uma onda de deserções em massa, já que alguns atletas cubanos, durante os jogos, tinham ido comprar cigarros e ainda não tinham regressado. O regime cubano, em desespero, tentou assim cortar o mal pela raiz antes que o vírus se espalhasse e o avião regressasse vazio.

Nunca percebi como é que um regime tão maravilhoso, onde se respira a verdadeira liberdade e a verdadeira democracia como defende o PC, tem tanta gente a querer fugir: a nado ou de barco, arriscando a vida para chegar à Florida, ou correndo, para a tabacaria mais próxima, mal aterra noutro país.

Tintim no Congo

A primeira aventura de Tintim entrou para o novo Index do politicamente correcto. As futuras edições americana e inglesa do livro irão directamente para a secção de adultos uma vez que se concluiu que o livro ilustra uma série de comportamentos nada agradáveis para os africanos e para os animais, o que pode ferir susceptibilidades nos mais novos. Sempre amei estes novos intelectuais que nos querem proteger dos pensamentos mais infames, tratando-nos como asnos de estimação incapazes de pensar e que necessitam de uma coleira para ir à rua mijar. Para eles é mais fácil retirar uma obra que foi escrita na década de trinta do século passado sob um argumento inqualificável do que explicar às criancinhas que o mundo na década de trinta do século passado era um mundo diferente. Um pouco por todo o lado assiste-se a este excesso de zelo: Hollywood, por exemplo, vai banir e corrigir o cigarro e seus derivados e o próprio Lucky Luke, outro exemplo, viu apagadas, perdão, redesenhadas, as tiras em que fumava. Por aqui e por ali, assiste-se ainda a um peculiar cuidado com a linguagem não vá um lapso ofender alguma minoria mais atrevida ou desprotegida. Leiam Roth e o seu extraordinário “A Mancha Humana” e perceberão melhor o engodo e o espírito dos novos tempos.

Reescrever argumentos, temo eu, será profissão de enorme futuro. Orwell, melhor que ninguém, já explicou as consequências e os efeitos práticos desta polícia do pensamento empenhada em banir qualquer deriva e em construir uma nova e cuidada linguagem universal. A brigada do politicamente correcto veio para ficar. Por via das dúvidas, caro leitor, é melhor esconder as suas relíquias livrescas em lugar seguro. Nunca se sabe quem nos bate à porta e se não vem para rasgar ou substituir páginas.

Em aquecimento

As últimas semanas foram férteis em acontecimentos meteorológicos. Desde inundações a vagas de calor, passando pelas erupções vulcânicas, o tempo deixou muita gente nervosa, calorenta ou simplesmente alagada. Claro está que numa altura em que uma ideia feita é muito popular entre os mortais, o argumento do aquecimento global serviu para toda a demagogia, que é como quem diz, serviu de moeda para pagar todas as contas. É escusado dizer que não há estudos científicos que demonstrem inequivocamente a mão humana no assunto e a sua responsabilidade pelas mudanças ambientais. Mas desde que os EUA foram considerados os maiores responsáveis pela emissão de dióxido de carbono que não há conversa possível no café que não acabe na responsabilidade dos demoníacos senhores do mundo. Antigamente, e devido ao desconhecimento e à ignorância, os fenómenos naturais eram utilizados, entre outras coisas, como justificação para cometer as maiores atrocidades imagináveis, ao mesmo tempo que se procuravam subterfúgios coloridos para tentar acalmar a fúria dos deuses e de outras divindades. Hoje, qualquer semelhança com o passado, é pura coincidência.

30.7.07

A frágil Imagem da PSP


Os portugueses nunca tiveram uma boa imagem da Polícia de Segurança Pública. O problema confunde-se com a própria fundação da PSP.
Infelizmente já passaram muitos anos e a falta de orgulho da nação lusitana na polícia não se alterou.

Entretanto, foram ministrados vários paliativos. Uma deles foi a criação de uma escola de raiz para formar os novos agentes. O conceito da polícia de proximidade também avançou, e as esquadras de bairro surgiram como cogumelos pelo país.

De nada serviram. O problema de fundo mantém-se. A PSP continua com um défice de credibilidade juntos dos cidadãos.

Basta olhar para o número de coimas, orgulhosamente reveladas pelos responsáveis da PSP na Madeira, para explicar a xenofobia à polícia.

O problema não está nos cidadãos, está na PSP. A polícia nunca actuou como força de prevenção. Prefere a repressão. Em linguagem mais popular, a caça à multa.

O Funchal surge como a cidade do país com o maior número de cidadãos violadores da lei por metro quadrado. É lamentável esta postura de uma instituição pública que há muito subverteu a sua génese.

Enquanto os conceitos se mantiverem, adulterados, nada mudará na polícia e na sociedade.

Nota: fonte DN-Madeira 29-07-2007

29.7.07

Obcecados

Gouveia continua obcecado pelo funcionamento do aparelho de justiça na Madeira. Augusto Santos Silva revelou obsessão por Jardim e Alberto João continua obcecado com o Primeiro-Ministro.

12H30 TECNOPOLO

No primeiro discurso como presidente do PS, João Carlos Gouveia (o deputado a quem o PSD pediu que fosse realizado um exame à sanidade mental) deixou de fora importantes pormenores para quem aspirava, mas agora é o responsável pelo principal partido da oposição na Madeira.Da boca de Gouveia não saiu uma palavra de esperança para os 250 mil habitantes do Porto Santo e da Madeira. Principalmente para os mais desfavorecidos. Os que devido à condição social e económica em que já viviam, não conseguiram apanhar o comboio do desenvolvimento dos últimos 10 anos.

Ausente também estiveram os 8 mil desempregados. Não se ouviu uma ideia, ou uma crítica sobre este flagelo social, nem como o PS tenciona ajudar o Governo a ultrapassá-lo.

O estado da economia da região, não foi criticado, nem mereceu de Gouveia um reparado de como o Governo pode incentivar o investimento privado.

14H30 CHÃO DA LAGOA

Foi a vez de Jardim subir ao palco para proferir mais uma série de clássicos.

Fê-lo com pompa e circunstância.

Da comunicação social (pró-Governo), às ex-colónias (Angola), das empresas do Estado (TAP) ao Partido Socialista e respectivo líder. Foram todos referenciados por Jardim.Até o novíssimo “senhor Pinto de Sousa” é outro dos clássicos do líder madeirense. Quem não ser recorda do Senhor Silva (Cavaco Silva). O mesmo a quem solicitou que interviesse duas vezes: primeiro alertou o Presidente da República para estar atento ao alegado “separatismo” provocado pelo “Senhor Pinto de Sousa, também chamado José Sócrates”. Em causa, a ainda polémica lei das Finanças Regionais e a respectiva novela. O outro motivo para Cavaco Silva intervir tem a ver com a proposta de lei do PS sobre a titularidade dos órgãos de comunicação social. Pediu aos partidos da oposição para votarem contra. Caso a lei seja aprovada o Governo Regional é, por exemplo, obrigado a desfazer-se do Jornal da Madeira.

Depois foi a vez de Mendes subir ao escaldante Chão da Lagoa para revelar o quanto estava absbélico com a festa.Caso dúvidas houvesse, deixou claro porque é que vai perder o partido.

Muito antes, mas no ar condicionado do Tecnopolo Augusto Santos Silva já tinha tratado de atacar Mendes. A vinda à Madeira de Mendes era para o Ministro socialista uma “humilhação” para ganhar votos no partido. De fora não ficou Jardim. Provocou-o ao dizer que na região há uma espécie de “carrossel de inaugurações. Já não se inaugura curvas, mas parte de curvas.”Duas horas depois e no Chão da Lagoa ninguém respondeu. Nem a estreante Nivalda Gonçalves demonstrou estar atenta aos discursos dos socialistas.

Vassalagem e subserviência

Até no acto de despedida da liderança do PS-Madeira, Jacinto Serrão foi patético. Definitivamente, um final à altura para aquele que foi o pior líder do PS na Região.
Aquela exigência de intervenção do Estado na autonomia madeirense demonstra toda a subserviência e espírito servil que Serrão queria para a Madeira e para os madeirenses. E é sintomática do reconhecimento da sua incompetência e incapacidade para fazer frente ao PSD-Madeira. Por isso, exige que seja o Governo da República a fazer aquilo que a oposição nunca conseguiu: afastar o PSD-Madeira da governação.
É patético, mas não deixa de ser grave. Ouvir disparates como esse por parte de continentais não é agradável, mas até é compreensível, atendendo à total ignorância e/ou desconsideração que muitos continentais revelam relativamente às autonomias. Agora, não posso aceitar que um político madeirense se preste a um papel de vassalo, que pensávamos erradicado da Madeira, e solicite a intervenção do poder central para "repor" a normalidade democrática na Região, sem qualquer tipo de respeito pelas instituições autonómicas.E é tanto mais grave, porque esta subserviência começa a fazer eco no continente. O editorial do Público de hoje é disso elucidativo. Não me admirava nada que qualquer dia se exija o bombardeamento da Quinta Vigia e a imposição de um Governador.
É, igualmente, grave, uma vez que outros madeirenses começam mesmo a achar que é preferível submeter-se à Lisboa, renegando a autonomia legitimamente reivindicada ao longo de séculos, desde que com isso se consiga afastar Alberto João Jardim. Tristes tempos, os nossos. Pensava eu que nenhum madeirense aceitaria vergar-se de novo perante o poder central. Que a alma de escravo estava morta. Pelos vistos, estava enganado!