4.10.08

FMI também mente?

"O crescimento modesto do emprego não conseguiu manter o ritmo do continuado crescimento da força de trabalho, o que levou o desemprego a ultrapassar a média europeia."



In Relatório Anual do FMI, citado na edição do Público do dia 3 de Outubro.



Ora, apesar das juras a pés juntos feitas por alguns socialistas, que conseguem encontrar as justificações mais rebuscadas para garantir de Sócrates criou os tais 150 mil postos de trabalho prometidos, a verdade é que a taxa de desemprego portuguesa continuou (e mantém-se) a divergir da média europeia. Ou será apenas o "pessimismo" do FMI, conforme já apelidou o ministro das Finanças?

São manifestamente exageradas as notícias da morte do capitalismo

Ao contrário do que apregoam, defendem e desejam, aberta ou secretamente, a verdade é que é manifestamente exagerada a notícia da morte do capitalismo. Este é um camaleão que conseguirá metamorfasear-se para se manter vivo. A crise apenas servirá para mudar de roupagem, não para o eliminar.

Esperemos é que a sua nova forma agrade mais à maioria!


Por mim, continuo a acreditar que é mal menor, de todos os maus sistemas. Mas também acredito que é possível fazer melhor. Muito melhor!

Será isto o liberalismo?

Há cerca de um ano discutíamos a legitimidade do estado português (e dos restantes estados europeus) ter uma golden share numa determinada empresa. Discutíamos a transparência e a igualdade de direitos num mercado onde competem empresas públicas e privadas. Discutíamos sobre o reforço da liberdade para o mercado. Uns ultraliberais defendiam um Estado mais magro, menos interventivo, com menor capacidade de influência e mais pobre. "Função apenas reguladora", defendiam. Seria o sector privado que garantiria os direitos sociais, a saúde, a educação, a segurança social e todas as prestações sociais, gritavam.
Um ano depois, vêm os mesmos suplicar pela nacionalização das empresas; defendem a necessidade dos impostos pagarem a avareza dos empresários de um sector comercial, não vêm mal nenhum que empresas estatizadas compitam em pé de igualdade com empresas privadas, defendem um estado musculado na sua intervenção. Em desespero de causa (não de causas, porque o desespero advém apenas das necessidades e agendas pessoais), querem que o(s) estado(s) tome(m) conta do mercado.
Ora, será este o liberalismo que defendem? Será esta a independência que querem do estado?

É por isto que cada vez mais afasto-me da corrente do liberalismo económico (e até político). Com este liberalismo, com estes liberais, não quero ter nada a haver!
E talvez fosse mesmo necessário o mundo financeiro ruir. Por vezes, não há forma de recuperar um edifício: está tudo tão podre, tão mal construído, que a única solução é a demolição. Talvez fosse disso que o mundo precisasse.

E quem salva as famílias?

De há 5 anos para cá, uma família jovem que tenha contraído um empréstimo para habitação viu a taxa de juro duplicar (com o fim do crédito bonificado e os constantes aumentos das taxas de juro).
Existem milhares de famílias portuguesas que chegam ao dia 20 e não têm o que comer. É certo que os empréstimos foram contraídos de livre vontade (se bem que valeria a pena discutir as técnicas agressivas de publicidade e marketing utilizadas pelos bancos). Mas, quem lhes vale, neste momento de desespero? Todos os governos e governantes andam preocupados com a banca, mas não se vê uma medida que seja para apoiar as famílias.
Definitivamente, não é este o mundo em que eu acredito!

3.10.08

Ministro das declarações definitivas(mente idiotas)

E o Pinho voltou a surpreender esta semana, anunciando que terminaram os bons tempos de crescimento económico. Sim, este é o mesmo que há um ano anunciava o fim da crise.
Tenho dito que Pinho deste tipo, apenas para queimar. Retiro, contudo, o que disse: nem para a fogueira se o quero.

O eterno retorno

Ora, e o que aconteceria caso o plano Paulson não fosse aprovado? O mundo acabaria? É que quem defende acérrimamente o plano foram exactamente os mesmos que defenderam medidas que levaram a esta crise. Será de confiar no que dizem estes senhores?
Por mim e apesar de saber que as consequências seriam imprevisíveis, não me importava que não houvesse intervenção dos Estados Unidos, nem que venha a haver por parte da Europa. Se rebentar, que rebente!

PS - O que mais me indigna é que depois de resolvida a crise, daqui a uns anos, aparecerão de novo os mesmos banqueiros e os estados permitirão que essa gente volte a ser dona das economias.

Isn't it ironic?

Não é irónico que os economistas (gestores, empresários e outros que tais) mais ultraliberais de há apenas 1 ano, são os que mais desesperam pela intervenção dos governos para resolver a crise? Quando a crise aperta é o tal estado-papá que tem de resolver a merda que o menino fez, é?!

"Corja Maçónica"

Mário Machado é um imbecil, que defende causas imbecis, com argumentos imbecis, rodeado por um bando de imbecis. Todavia, não deixa de ter razão quando afirma que a "corja maçónica" tomou conta do país.

1.10.08

Boa entrevista? Onde?

A blogosfera socialista viu no DN-Madeira uma boa entrevista de Victor Freitas. Houve mesmo quem tivesse visto um discurso de liderança. Um estratega, um visionário, que com a sua destreza mental, confundiu o PSD.
Já a mim, que sou leigo nestas coisas, pareceu-me ver um sacudir de água do capote. O líder do grupo parlamentar socialista várias vezes fala da gestão desastrosa de alguns dossiês por parte do PS-Madeira, como se nada tivesse a ver com a gestão política dos socialistas madeirenses nos últimos tempos. E perante tantos desastres, ainda atreve-se a dizer que se o PS-Madeira fosse governo não aceitaria a liberalização dos Transportes Aéreos nos termos em que o acordo foi feito.
Ora porra, a história demonstra que desde que Victor Freitas tem responsabilidades, o PS-Madeira só dá tiros nos pés, mas sente-se no direito de dizer que se fosse governo, só fariam maravilhas.

29.9.08

Cartas a um amigo comunista II

Caro amigo,

depois da primeira carta, fiquei em silêncio durante algum tempo. Bem sei que compreendes que por vezes o tempo não abunda e escrever para ti é sempre um exercício exigente.
Menos do que isso não mereces e seria desonesto da minha parte, ao mesmo tempo que seria ofensivo para ti. Por isso, talvez ainda não tenha conseguido escrever nada de verdadeiramente polémico e divergente, do ponto de vista doutrinário. E como verás, ainda não será hoje.
Para já, serve a presente para manifestar a minha surpresa com algumas atitudes da tua parte.
Sei que és um crente da doutrina marxista e entendes que o rumo por onde o mundo caminha é errado.
Crês que é necessária uma nova ordem mundial. Ou pelo menos, um outro equilibrio, parecido com o que existiu no mundo bipolar da Guerra Fria.
Compreendo e até posso aceitar isso! Mas, por vezes, confundes-me com as tuas opções. Ou então sou eu que não te sei ler.
Surpreende-me que aparentes acreditar que Hugo Chávez personifica a outra margem, aquela que introduzirá algum equilibrio num mundo dominado pelo império norte-americano. Estranho esta opção: como podes acreditar que um louco poderá ser o líder do movimento de contrapoder aos Estados Unidos? Alguém que tanto abre as portas do seu país à oligarquia nacionalista russa comandada por Putin, como apelida Sarkozy de "grande amigo", como considera que Sócrates é o rosto no novo socialismo, como identifica Fidel Castro como o seu mentor, como elege para maior aliado um fundamentalista religioso como Mahmoud Ahmadinejad, como defende as FARC, ao mesmo tempo que garante estar ao lado do governo colombiano, como apoia Evo Morales fraternalmente contra movimentos autonomistas... Enfim, pareces acreditar que o líder do novo mundo será o Chávez, que alguém chamaria de "monstro" da real politik, mas que para mim não passa de um esquizofrénico.

Sei que o teu "inimigo" é o (que acreditas ser) imperialismo americano. Estranho é que qualquer maluco, apenas porque se opõe aos Estados Unidos mereça o teu apoio. Mas posso - e espero - estar enganado!
O teu amigo,

Filho de Deus

Filho de Deus. O livro é brilhante. Conta a história de Lester Ballard, uma espécie de morto-vivo (desculpem-me a expressão) sem nada para ganhar ou para perder.

Cormac McCarthy é dono de palavras belas e terrivelmente violentas. Em Filho de Deus essa linguagem mostra-nos o declínio de Ballard, expulso das suas terras, vagabundeando pelo imenso sul dos EUA num processo de autodestruição quase grotesco.

Editado pela Relógio D'àgua, vende-se na Bertrand por pouco mais de seis euros.

A ler.

Vencedor do Pulitzer em 2007, com A Estrada, McCarthy é um dos grandes romancistas norte-americanos vivos, a par de Roth, de Delillo, Pynchon ou Updike. Autor de No Country for Old Men, adaptado ao cinema com o sucesso que vocês conhecem, escreveu um dos melhores livros que li até hoje: Meridiano de Sangue.

Sporting

Honestamente, nem vi bem o jogo. Olhava para a televisão condicionado por outras coisas. Mas daquilo que vi, o "meu" Sporting entrou em campo norteado pelo objectivo de não perder. Tal como acontecera, de resto, contra o Barça.

Quando não se tenta ganhar a derrota é inevitável. Chegará mais tarde ou mais cedo. Abater-se-á com toda a sua fúria. Deixar-nos-á tristes, porque perceberemos então que nada fizemos para a contrariar.

Partida

Às vezes, urge deixar partir. Por uns tempos, talvez. Para saborear o regresso, se o regresso acontecer. Ou para enfrentar a ausência derradeira. Não sei bem porquê, mas às vezes é urgente deixar partir...