20.5.06

A Natureza vale bem mais

Porque não há assuntos e porque estou sem paciência para políticas aqui vai um trecho do meu livro de cabeceira.

«Não posso considerar a humanidade senão como uma das últimas escolas na pintura decorativa da Natureza. Não distingo, fundamentalmente, um homem de uma árvore; e, por certo, prefiro o que mais decore, o que mais interesse aos meus olhos pensantes.

Se a árvore me interessa mais, pesa-me mais que cortem a árvore do que o homem morra. Há idas de poentes que me doem mais do que mortes de crianças.»

Livro do Desassossego, por Bernardo Soares

19.5.06

Pergunta

Boa pergunta. Feita aqui.

Prometo

Um dia, prometo que vou acordar com disposição para mudar o mundo. Mas por enquanto, ando extraordinariamente cansado...

Sugestão

Águas Mansas. Um excelente disco da autoria de Victor Sardinha. Repertório original para rajão e viola madeirense. Editado pelo Funchal 500 Anos.

Post-Scriptum: Já agora, um conselho: oiçam o disco. Ou vão a um dos concertos programados. Se não gostarem, podem dizer mal e acusar-me de só estar a defender a "minha dama"...

Falando de ti...

PARA FALAR DE MIM

1
vieram de mim os longos sóis

e os longos dias.
vieram de mim o arrastar dos bancos,

os cânticos das igrejas,
e vim eu, senhor do meu nariz,

nobre
sem títulos nem castelos
nem divisas,
duma ilha pequena,

perdida numa concha
de mar,

onde nasci.

era a primeira vez
que eu abria os olhos,

e senti-me rei e marinheiro.
estava
embrulhado numa alga,

e adormecia numa gruta,
adornada por búzios quietos.

os peixes visitavam-me e afastavam
os murmúrios,

os gritos,
os monstros pelados,
e o eco da minha voz,

que habitavam os meus sonhos.
é por isso que me revesti da luz cintilante das suas escamas
e tenho,

dizem-no as mulheres que desconheço,
um suor
sem perfume,

um suor sem matéria,
enquanto que o meu corpo
tem o encanto do cheiro a maresia


(...)

José António Gonçalves

Breve viagem por blogs de cá

O Rod prossegue a sua campanha anti-Scolari.

O Bento continua a bater em tudo o que se mexe

(ou está sentado, no caso em apreço)

A Lhasa homenageia o José António

(lembrei-me do José António durante a Feira do Livro. De uma noite na Marina com ele e com o Mário Mata, o cantor de uma só canção. De 20 Textos para Falar de Mim. Do Café do Teatro e de um poema de meu pai que ele declamou de memória. Um Pássaro Breve, o José António!)

O Funchal tem memórias de Paris.

A Lília faz manteiga.

O Nélio lança fogo a Jardim e ao Jardim

(do Mar)

Na UMa fala-se sobre a nova estrela da BBC

(um tipo que estava sentado à espera de uma entrevista para emprego quando de repente se viu no estúdio durante a nobre hora do Telejornal)

Continua a ler-se devagar

(mas bem, a julgar pelo que se escreve)

Há ainda quem vá vagueando pela Madeira.

Terminou a viagem.

Fotografia


Uma das melhores fotografias que tirei (acho eu).

Uma Perigosa Ligação


Há dias assim. Um gajo levanta-se com pica para fazer qualquer coisa.
Há muito tempo que não contribuo para o bem comum deste blogue.
Foi esta a situação que me fez espoletar a consciência. Escrever sobre política é tempo perdido. Está toda a gente farta dos políticos. Ainda por cima, a maioria deles estão incompatíveis. Ponto final.

Um outro tema, interessante, seria a igreja. No entanto, o bispo ainda é o mesmo, os padres também. As freiras são minhas vizinhas, mas gosto muito delas. Não me incomodam. Não falam de mim nem de ninguém. São as melhores vizinhas que tenho.
Ponto final.


Resta-me abordar uma perigosa ligação empresarial.
Há muita expectativa na sociedade, sobre as ligações marítimas entre a Madeira e as Canárias. Dados os últimos avanços, só posso concluir que a “montanha vai parir um rato”. A partir do momento que entrou no negócio os “Sousa & Companhia” tudo leva-me a querer que é uma operação falhada. Este grande empresário da Madeira nova, só está interessado em manter o seu reduto. Isto é, ainda não percebeu que está num mercado global. E que mais tarde ou mais cedo não vai conseguir controlar as operações portuárias. Para já, conseguiu mais uma vitória, seguindo uma velha máxima. “já que não podes com eles, junta-te a eles”. É este o objectivo do patrão dos portos da Madeira.
Creio que ao entrar no negócio com a “Armas”, está acima de tudo a salvaguardar os seus interesses e não os dos consumidores. Basta ver as tabelas de preços de várias ligações marítimas idênticas às que existem na região, para perceber que estamos a ser lesados. Elas existem entre a França e as respectivas ilhas, Itália, Grécia e Espanha. São tudo portos europeus, cujas ligações são executadas em ferry-boats idênticos ao Lobo Marinho. Navios subsidiados pela União Europeia, mas cujos preços caem em algumas situação para menos de metade dos praticados pela Porto Santo Line.
A própria “Armas” em Canárias é um exemplo.

E mais não digo, porque o texto já está grande de mais. Ainda por cima é fim-de-semana.

18.5.06

Foi bonito

O Barça voltou a provar que a aposta no futebol bonito ainda dá resultado. Gostei da vitória blau grana.

Cowparade

Afinal, as vacas também tem direito à sua parada...

Para os amantes das teorias conspirativas

O que mais há por aí são pessoas que adoram teorias conspirativas. Para algumas delas, os EUA são, por exemplo, os maiores criminosos do mundo e os únicos responsáveis por todos os males que por aí abundam. As teorias simplistas valem o que valem, mas não ajudam lá muito a pensar. Nem a resolver nada em concreto. São tretas tão simples que reduzem a intervenção no Iraque à mera questão petrolífera ou o 11 de Setembro a uma enorme cabala sionista perpetrada com o intuito de provocar uma guerra no Médio Oriente. A asneira é livre e o delito de opinião não é punido com pena grave. Gente desta é apenas perigosa porque acredita em tudo o que ouve e porque a capacidade crítica está, infelizmente, pelas ruas da amargura. Num mundo perigoso não é à toa que líricos como o Sr. Chomsky e um tal de Moore (supostamente realizador de documentários) sejam campeões de vendas e mestres das teorias escondidas e subliminares dos perigosos americanos. Pena que a bazófia pouco consiga fazer perante a realidade dos factos.

17.5.06

O Código

Muito histerismo anda à solta. Presumível culpado: O Código Da Vinci. O filme sobre o livro de Dan Brown prepara-se para percorrer as salas de cinema no mundo e bater, quem sabe, confortáveis recordes. Não sei se perderei tempo precioso, ainda para mais quando já o perdi a lê-lo. Mas as coisas valem o que valem, e o livro, pouco mais do que corriqueiro porque perfeitamente previsível, não passa de um somatório de pequenas mentiras que se traduzem numa suposta conspiração global que atravessa alguns séculos. Convenhamos que o enredo até pode dar para filme. Ainda muito recentemente Almodóvar e Eduardo Cintra Torres faziam referência à pobreza actual de certos argumentos já que se valoriza muito os protagonistas e as produções em detrimento das estórias. Mas não exageremos. Dan Brown é um escritor menor e o seu livro não passa de uma profunda balela contada como se fosse uma inegável e inquestionável verdade, numa época em que dizer mal da Igreja Católica é moda e rende dividendos. Não vale o esforço. Nem a emoção. Pena que as pessoas acreditem em tudo o que lêem e pena também que sejam incapazes de, criticamente, separar o trigo do joio e entender as diferenças entre a realidade, a imaginação e a mentira descarada. É preciso antes de mais entender, e já o escrevi algures, que o livro de Dan Brown é para divertir; não é para levar a sério.

16.5.06

“Eu adoro São Paulo, São Paulo my love”

Era assim que começava um dos concertos ao vivo de João Gilberto, na altura em que a Bossa Nova era estranha à imensa maioria dos ouvidos portugueses.

Agora, com toda a barbárie em São Paulo a nos entrar pelos olhos dentro à hora do jantar, acabaram-se os lirismos. Bem vistas as coisas, o Brasil colhe o que plantou.

Importância dos blogs

http://luso-paulista.blogs.sapo.pt/ . A situação em São Paulo e as dificuldades nas comunicações telefónicas, devido à saturação das redes, levaram a PT a abrir um blogue no Sapo dedicado especialmente à comunidade portuguesa no Brasil. A importância dos blogs cresce, realmente, a "olhos vistos".

Mundial

Scolaria não é um mau treinador. E parece-me ser um tipo honesto. Mas às vezes engana-se. E nesta convocatória cometeu erros que, caso as coisas corram mal, vai ter de explicar muito bem.

A escolha de Ricardo Silva, defesa sofrível (não quis escrever horrível!), vindo directamente do banco do FêCêPê, é um deles. Mesmo para um leigo na matéria como eu, o bom do Silva é mais perigoso para uma defesa que o buraco do ozono para as calotas polares. Adriaanse (outro leigo) percebeu isso a tempo. Tirou-o da equipa e ganhou o campeonato!

Então não era melhor, amigo Scolari, ter convocado o Tonel? O homem fez uma excelente época no Sporting após já ter sido, na época anterior, um dos melhores do Marítimo! Para além deste, havia ainda João Paulo, do Leiria. Que, aposto, na próxima época será mais vezes utilizado pelo Porto do que o Silva!

Outro erro crasso foi a convocatória de Costinha. O tipo não é, nunca foi, e já não será com certeza, um jogador determinante. E não joga há mais de seis meses. Mesmo assim, fez as malinhas para a Alemanha. É obra!

A convocatória de Viana, rapaz que há dois anos não acerta um passe, é outro dos erros do nosso camarada Filipão. Aliás, Costinha e Viana formariam uma linda dupla de meio campo. Nenhum corre. Um está gordo que nem um texugo e o outro tem problemas de visão (a julgar pela... precisão dos passes!). Bonito de se ver...

De fora ficou João Moutinho, o melhor jogador do Sporting e, indiscutivelmente, um dos melhores médios portugueses. Contra ele parece pesar o facto de ter "apenas" 19 anos e de não fazer "chover ao contrário"...

No ataque, um tal de Hélder Postiga, ponta de lança que na carreira toda deve ter marcado vinte golos (e já estou a contar com os jogos contra o Estarreja na Taça de Portugal!), vai mais uma vez a uma grande competição. Sem saber ler, escrever, rematar ou passar a bola, lá vai o bom do Postiga para a Alemanha, atrapalhar colegas de equipa e confundir o público.

Acabo como comecei. Não considero o Scolari um mau treinador. Mas já estou como o Magno, ou seja, se passarmos a primeira fase será com sorte. Mesmo jogando contra uma selecção como Angola, equipa que tem um guarda-redes sem clube e jogadores do Varzim e do Rio Ave e uma vedeta sem um joelho!

Há selecções que não abdicam dos seus génios


E eu às vezes até desconfio que Deus é mesmo romano. Geralmente aos domingos, no estádio olímpico e com a bola nos pés.

Casar? Contra quem?

Dizem os críticos, a Igreja e muita outra gente, incluindo especialistas diversos e outra arraia miúda que o casamento anda pelas ruas da amargura e em profunda decadência. Confesso que já tinha dado pelo assunto. Basta olhar à volta e para exemplos meus conhecidos para perceber o suposto drama da situação: o casamento está, de facto, em declínio. Quer dizer, o pessoal até se casa mas, problema central, depois também se divorcia, o que é uma forma de batota e um apetitoso novo segmento de negócio no campo das apostas temporais. Ultimamente, e pelos números avançados, tese e antítese andam de mãos dadas, na relação de 2-para-1. Ou seja, em cada dois casamentos, um termina em divórcio. Não me parece trágico porque na realidade há muitos motivos para acabar com um casamento (falta de adaptação, traição, ciúme, cheiro a chulé, mau hálito, aumento de peso, envelhecimento precoce, incompatibilidade sexual, celulite, existência de uma única televisão, pés frios, a nova colega de trabalho, a Sporttv, a sogra, etc) e qualquer um deles é extremamente tentador. E seria sempre pior se a relação fosse de 100%.

Analisando bem, no deve e no haver, a balança parece pender mais para o divórcio do que para a manutenção do casamento. Convenhamos que a maioria do pessoal anda com pouca paciência para o assunto. Ninguém dá o braço a torcer quando as coisas começam a correr mal e como os bancos facilitam imenso ninguém precisa no fundo de regressar para casa dos pais. O casamento é ainda um acto que pressupõe alguma predisposição para assumir um contrato: um contrato entre duas pessoas, com a agravante de ter testemunhas que jamais nos deixarão mentir. O certo é que à primeira afronta, ruído, desconsideração, discussão, desentendimento o pessoal farta-se. Farta-se da cara metade como do cozido à portuguesa do almoço. E bate com a porta. Tão fácil se sair como se entrou.

Num tempo de egoísmo, olhar para o próprio umbigo está na moda e poucos parecem dispostos a grandes sacrifícios individuais em prol do colectivo (principalmente se o colectivo é apenas dois). Ninguém quer quebrar ou reconhecer que está errado, que não muda, que não se adapta, que não quer. Vacilar parece ser igual a dar sinal de fraqueza num jogo se soma nula ou negativa. Mas o erro está na ordem dos factores, porque o casamento vem primeiro do que a experiência em comum. Logo se vê, deve ser o pensamento mais recorrente nos pombinhos. Curiosidade interessante: deve ser ao contrário. Experimentar primeiro e depois dar o passo se apetecer e se sentir que se aguenta o chulé e o mau hálito durante os próximos 40 ou 50 anos (número constantemente actualizados pela esperança de vida). Poupa tempo, dinheiro e evita maiores chatices e complicações. E desmonta os mitos dos príncipes encantados e das cinderelas eternas que não existem.

Razão tem um amigo meu que sempre que sabe que alguém se vai casar pergunta com um ar mais cândido deste mundo: contra quem? Nos tempos que correm, nem mais.

O que acho das escolhas de Scolari? Eu não acho nada

Não é preciso sequer ser muito descrente para antever que a selecção portuguesa não trará nada da Alemanha para casa. Passará a primeira fase com esforço, se passar, e por aí se ficará.

Até mesmo um leigo em futebol, como é o meu caso, percebe que uma selecção que só esporadicamente consegue um lugarzinho numa fase final de um mundial não vai lá. Tem de haver regularidade, que não há. Depois, apesar dos malabaristas considerados individualmente, haverá o nervoso (que é muito semelhante ao dos exames, e do tipo de alunos), ou um cartão infeliz, ou uma falta injusta, ou até um “golpe-baixo” do João Pinto no árbitro. Enfim, a conversa dos fraquinhos.

Como há muito que não alimento expectativas com Portugal, em nenhum assunto, sério ou desportivo, já me estou a pôr de lado para, depois, não fazer parte da depressão colectiva que certamente ocorrerá.