"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
30.1.10
Orçamentos da treta!
Merecem-me, contudo, alguns comentários, as políticas subjacentes às tais contas.
Ora, o governo pretende combater o deficit, uma vez mais, recorrendo à tradicional prática de entalar quem já anda entalado. Salários dos funcionários públicos, reformas, assistência médica, medicamentos, enfim…
Mas mesmo assim não chega, dizem-nos os tais “iluminados” de finanças (entre os quais se contam os bancários, os economistas da situação, os jornalistas e comentadores económicos, os políticos de pacotilha e escória semelhante). É preciso reduzir os salários dos funcionários, é preciso cortar ainda mais nas prestações sociais, é preciso…
(Curiosidade: já se nos atrevermos a criticar as subvenções escandalosas de alguns detentores de cargos políticos e de gestores públicos, cai o Carmo a e Trindade. Ah e tal que não podemos ser miserabilistas, que eles até ganham pouco, que é inveja social and so on…)
A verdadeira questão é que eu nunca vi ninguém ter coragem para ousar propor medidas de fundo que reduzissem efectivamente a despesa pública, com efeitos já a curto prazo e benefícios evidentes a longo prazo. Sugestões? Pois aqui vão:
- Extinguir-se os governos civis que são autênticos sorvedores de dinheiros públicos, sem que isso se traduza em mais valias para as populações. São representações feudais dos governos e que a nível local apenas servem para acções de caríssima propaganda e para satisfazer determinadas clientelas partidárias e associativas locais;
- Extinguir-se as comissões de coordenações regionais, que, actualmente, também não servem para nada Grande parte das funções que lhes estavam consignadas, ao nível de financiamentos europeus, já foram transferidas para entidades supra-municipais;
- Extinguir-se as direcções regionais de agricultura e de educação. Qualquer uma delas perdeu a maior parte dos seus conteúdos funcionais. As da agricultura, porque essa é uma actividade em vias de extinção. As de educação, porque neste momento, com o aumento da autonomia das escolas e agrupamentos, com os concursos por quatro anos, com a transferência de competências para os municípios, já não fazem absolutamente nada. Contudo, continuam a ser agências de empregos para as estruturas partidárias locais, mantendo um corpo de funcionários anormalmente elevado. Pergunte-se para que servem as dezenas de professores, os arquitectos, os engenheiros…
Para ser mais rigoroso, seria mandar, também, às malvas, as direcções de cultura, que só servem para atribuir subsídios aos amigos;
- Fazer uma reforma séria na organização do Estado, que permitisse a extinção de municípios que mais se assemelham a freguesias e freguesias que mais parecem paróquias ou bairros.
Ora, não faz sentido investir-se milhões em vias de comunicação e manter-se as estruturas locais que eram necessárias há 30 anos. Como não faz sentido municipalizar-se serviços e não extinguir as instituições antes responsáveis por essas competências. Como não faze sentido legislar-se para aumentar a eficiência das instituições e manter-se as despesas correntes, sem um aumento da sua eficácia.
Mais, para além do que se pouparia com estas extinções (que são meros exemplos), ao nível de despesas correntes, poder-se-ia alienar património (vendendo, por exemplo, aos municípios), com benefícios a curto prazo para diminuição do deficit (todos os edifícios onde funcioonam os serviços supracitados).
Reconheço que a aritmética pode não ser assim tão fácil como pareço fazer crer. Mas no essencial, estou convencido que apenas uma reforma de fundo ao Estado é que poderá permitir mudar alguma coisa. Não é fazendo cortes nos salários ou pensões dos trabalhadores que alteramos o actual estado do país. Isso é o mais fácil, porque para o resto é preciso coragem.
Mas percebemos – ó, se percebemos – porque é que os partidos não querem mexer no substancial. E enquanto a democracia estiver refém destes grupelhos, não se caia na ilusão de que alguma coisa vai mudar. Infelizmente, orçamento atrás de orçamento, será sempre a mesma coisa. Com o aplausos dos clientes do costume…!
29.1.10
Andersen Molière
Uma banda portuguesa que vai dar seguramente muito que falar. E isto não é um cliché...
Imitosis
when he put his Bunsen burners all away
and turning to a playground in a Petri dish
where single cells would swing their fists
at anything that looks like easy prey
in this nature show that rages every day
it was then he heard his intuition say
we were all basically alone
Imitosis - Andrew Bird
O senhor Drake
Gosto cada vez mais do senhor Nick Drake.
Sabem, acho que o senhor Drake é a prova de que se existe alguma coisa justa ela é a arte, pois garante o reconhecimento da qualidade, da originalidade e da criatividade mesmo que postumamente, como é o caso.
Gosto do dedilhar da guitarra do senhor Drake. Gosto da melancolia daquilo que canta. Gosto do universo poético em que se movimenta, construído com apaixonadas palavras de descrença. Enfim, gosto cada vez mais do senhor Drake.
27.1.10
Man w/ the Movie Camera 2
Estes senhores (Cinematic Orchestra) são, de facto, muito bons. Muito, muito bons.
Continuação da teoria anterior
Em Banguecoque, Oliver Stone decidiu continuar a alimentar a sua senda teórica sobre a morte de JFK.
Stone, que realizou esse inenarrável “JFK” sobre a morte do próprio Kennedy, diz mesmo que a versão oficial americana não passa de um “conto de fadas nacional” e que Lee Harvey Oswald não foi mais que um “bode expiatório” para resolver o problema.
Já sabemos que as teorias conspiratórias abundam por aí como cogumelos: desde o homem que não chegou à lua, passando por Roswell ou pelos frangos que não tinham cabeça da KFC, há devaneios para todos os gostos e fantasias para todos os feitios. A paranóia de Stone é a resolução do assassinato de JFK para que a estória não continue a ser o tal “conto de fadas” e Lee Harvey Oswald o tal eterno “bode expiatório”.
Para evitar ansiedades e ajudar a resolver o problema sem recurso a medicação, resta-nos pedir ao premiado realizador que contacte o Sr. Chávez da Venezuela, um prodígio na resolução deste tipo de enigmas. Vai rapidamente descobrir que a culpa é mesmo do mordomo, perdão, dos EUA, o que neste caso em particular só pode significar que tem toda a razão.
Uma teoria
De acordo com a teoria enunciada pelo presidente da Venezuela, o terramoto que devastou o Haiti foi causado por obra e graça dos EUA porque estes desenvolveram uma arma secreta capaz de provocar terramotos, cujo objectivo final – já que o Haiti foi apenas um primeiro teste – é atingir o Irão na mesma proporção. Se até agora, caro leitor, conseguiu ler isto sem se rir ou sem levantar as sobrancelhas você não passa de um crédulo sem remédio. Ou de um romântico incorrigível.
Nós, por cá, continuamos sem saber se tão complexa teoria é fruto de profunda e apurada introspecção ou se um simples desvio de atenções da anunciada e previsível catástrofe para onde caminha a sociedade e a economia idealizada pelo Sr. Chávez.
Na verdade, numa altura em que o dinheiro não abunda porque o petróleo perdeu força, nada como dramatizar o cenário e embelezar a comédia com os adversários do costume onde, claro está, os EUA surgem à cabeça como mentores e executores de tão maquiavélicos planos.
Não se espante assim, caro leitor, se a coisa por si só, implodir em pouco tempo, não por culpa do rumo socialista do Sr. Chávez, mas por culpa de uma qualquer arma americana que racionaliza os alimentos e a electricidade, fecha canais de televisão incómodos e nacionaliza a propriedade privada não alinhada com o desvario permanente.
Se entretanto, a novela acabar com toda a gente metida em coletes de força, também não se apoquente: a culpa só pode ser, e uma vez mais, dos EUA.
26.1.10
Políticos, empresários e jornalistas, ou o pior que existe na sociedade portuguesa
Lembram-se de ver, há uns anos a subserviência, dos ditos jornalistas, relativamente a Jardim Gonçalves, Oliveira e Costa, ou João Rendeiro, que eram apresentados quase como vedetas? "Self-made men, empreendedores, competentes, profissionais", era a ideia que nos vendiam. Por isso, justificavam-se os milhões com que estes senhores eram agraciados nas suas empresas Mais, lembro-me mesmo que alguns opinion-makers referiam que era fundamental atrair esta gente para a causa pública, apontando a necessidade de alterar a lei, de forma a permitir pagar os chorudos ordenados que auferiam no sector privado.
Ora, pensava eu que a crise serviria para, pelo menos, mostrar que estas sumidades da gestão, afinal poderiam não passar de sumiços. Triste engano: Fátima Campos Ferreira, José Gomes Ferreira e outros quejandos continuam a querer impingir-nos estes gestores do sector privado, apontando-os como salvação messiânica para Portugal. E é vê-los babarem-se para cima dos gestores, que na sua magnanimidade, alvitram as soluções para o país. A culpa do desastre que provocaram nas empresas que lideravam, como é bom de ver, é da crise (que parece não ter qualquer responsável).
Mas, agora, não são apenas os bancários: o jornalismo (?) económico, num acto inconfundível de democratização, alargou o seu leque e qualquer empresário medianamente bem sucedido é um potencial ministro das Finanças e Economia, apontado como o supra-sumo da gestão, com soluções milagrosas. E os senhores, claro está, não se fazem rogados a uns minutinhos de publicidade gratuita e é vê-los pulular de programa em programa, indicando soluções, sugerindo medidas, aconselhando políticas.
Por outro lado, também não consigo evitar um riso sarcástico quando vejo estes mesmos jornalistas opinarem sobre orçamentos e finanças públicas.
Ah, que a oposição tem de ser responsável (para com quem?); que são necessários sacrifícios, que os sindicatos têm de ficar calados; que os funcionários públicos, esses malandros, já foram muito beneficiados e o pobre português não pode continuar a sustentar esses velhacos; que as comparticipações sociais têm de diminuir, que os impostos têm de aumentar. Ou seja, teremos todos de comer e calar, na opinião desta gente. Confiar num governo que não elegemos e que não é digno da nossa confiança é que é, na opinião, destes anormais, a receita para o sucesso.
E nisto, estão com os seus ídolos, os tais gestores, que também apontam como soluções para a crise: a diminuição dos ordenados, a flexibilização dos horários de trabalho, a diminuição dos encargos sociais, a privatização dos serviços públicos. Em compensação, pedem menos impostos para as empresas, maiores apoios para os seus investimentos, comparticipação do Estado nas suas dívidas. Como corolário, exigem que os maiores partidos se acertem para garantir este bloco de(os seus) interesses.
Ora, são estas as elites que temos: políticos sabujos; uma classe jornalística acrítica, bajuladora e incapaz de assumir o seu papel escrutinador da vida pública seja ela política ou económica; um tecido empresarial arrivista e ganancioso.
E se uns (políticos) não são bons, a verdade é que os outros (poder económico e jornalismo) não são melhores. E uma vez que é isto que temos, começo a pensar que é isto que merecemos. No fim, estaremos todos bem uns para os outros.
Uma contribuição dispensável
As transferências para as regiões representam 0,2% do OE, por isso a posição de força de Sócrates só pode ser justificada com argumentos políticos e não orçamentais. Colá-la ao orçamento não deixa de ser uma estratégia que visa retirar o tal "peso político" ao debate. Mas a verdade é que, objectivamente, por motivos de política partidária, o Governo da Republica está a prejudicar uma parcela do território nacional, contribuindo, através de declarações mal medidas, de uma agressividade sem precedentes, para dar argumentos a uma minoria de madeirenses que advoga a separação definitiva entre a Madeira e o Estado português, "contribuição" perfeitamente dispensável.
25.1.10
Moção de confiança? Ora, que venha, a ver o que dá!
Por mim e porque não consigo conceber a ideia de negociar com trafulhas e revanchistas, deixava que o fizessem. E se o governo caísse, olha, não se perdia grande coisa.
O receio das oposições é que o PS pudesse usar de uma estratégia de vitimização para aumentar o número de deputados.
Sinceramente, tenho dúvidas: dificilmente algum português aceitaria que 111 milhões poriam em causa a boa governabilidade do país, quando já atirámos com mais de 4200 milhões de Euros para a fogueira do BPN. Mais, com tanto caso e casinho onde o homem está metido, já são poucos os portugueses que acreditam que Sócrates faz da solução para Portugal. É que já lhe vamos conhecendo todos os tiques. O que reforça a minha ideia de que a estratégia de vitimização poderia não passar.
Ó Jacinto, dali não vêm bons ventos. E casamentos não serão para ti!...
Defender a LFR, ainda para mais num momento de incerteza como este em que vivemos, é uma trapalhada que só mesmo Jacinto conseguiria engendrar.
E quando pensávamos que, em tão curto espaço de tempo, Jacinto não conseguiria parir nova idiotice, vai de afrontar o presidente do Partido Socialista, apenas porque Almeida Santos aconselhou o PS/Madeira a reconhecer a obra de Alberto João Jardim.
A verdade é que os decanos do PS, como Almeida Santos e Jaime Gama, bem tentam mostrar que a estratégia para o PS/Madeira combater Jardim não pode passar pela cegueira política com que os socialistas madeirenses nos brindam há décadas, mas não me parece que haja remédio*. Estão condenados à estapafúrdia estratégia de não reconhecer o óbvio. E enquanto assim for, não há alternativa.
* Pergunto-me se Serrão é leitor da blogosfera socialista madeirense. É que parece. E o pior é que ninguém lhe disse que daqueles lados nunca vêm bons conselhos. Pelo menos no que ao Jacinto diz respeito!
Jobim
Man Man
- Isto é bom, Man!
- Pois é, Man...
Man Man, ao vosso dispor. Com os hábitos do coelho (tradução literal para Rabbit Habits, como qualquer leigo pode constatar).
24.1.10
Não desista, Dr. Constâncio
E depois de uma quase certa eleição para vice-presidente do BCE, eis que o Dr. Vítor Constâncio se vê agora em situação aflitiva e aparentemente empatado com um rival inesperado. A trapalhada é tanta, que ficou mesmo decidido adiar em um mês a escolha de um novo vice-presidente para que todos os problemas jurídicos (!?) sejam devidamente esclarecidos pelos responsáveis pela eleição.
Não sei se uma análise mais cuidadosa ao currículo do Dr. Constâncio, que inclui contorcionismos variados e cegueiras momentâneas, terá feito com que alguns ministros recuassem nas suas intenções de voto. Mas uma coisa é certa: é necessário que este imbróglio se resolva rápida e urgentemente. E isto por um único e singelo motivo: se o Dr. Constâncio não for, não será um azar dele. Será mesmo um incrível azar nosso.
Uma condecoração
O Dr. Santana Lopes foi recentemente condecorado pelo PR em virtude do trabalho realizado pelo país. Claro está, que logo o mundo se ergueu contra tão vil reconhecimento porque o Dr. Santana não passa de um político medíocre que foi, no dizer dos entendidos, o pior primeiro-ministro de Portugal em 35 anos de democracia.
Lamento que seis meses de mandato sirvam para tudo, até para o ridículo costumeiro vindo nas vozes e nas palavras dos que simplesmente odeiam o Dr. Santana, mais por inveja, julgo eu, do que por outro motivo qualquer.
O Dr. Santana não foi feliz no seu mandato porque, como todos muito bem se recordam, houve contingências estranhas e uma campanha política indecente orquestrada por pessoal importante que o colocou na rua em nome de interesses dúbios e de justificações pouco transparentes. É por isso que ainda hoje sinto que ele foi uma marioneta nas mãos de gente poderosa que, com indecorosa conivência, decidiu mudar radicalmente o tabuleiro político português.
Sou, talvez, dos poucos que ainda reconhece ao Dr. Santana valor político e uma série de qualidades: é um político autêntico que mostra sempre o que é, que nunca se esconde de nada e que luta abnegadamente pelas coisas em que acredita. Se notarem bem, tudo isto são pormenores em vias de extinção pública e política, num momento em que na nossa sociedade há uma especial apetência pelo plástico imaculado da aparência.
No deve e no haver, o respeito pelo Dr. Santana devia ser, no mínimo, uma obrigação. Mas de um país de ingratos, não se deve esperar grande coisa. Nem sequer um mínimo de decência ou um mínimo de consideração.
Um congresso
Pelo que vi no telejornal da RTP-Madeira de hoje, o congresso do PS-Madeira esteve ao rubro neste seu primeiro dia.
Mas se pensa, caro leitor, que a discussão aconteceu por causa do futuro da Madeira, de uma estratégia que una os socialistas ou da Lei das Finanças Regionais, enganou-se redondamente. O motivo de tão acesa discussão foi mesmo uma suposta fraude eleitoral qualquer, que aconteceu numa suposta secção qualquer e que envolveu um suposto militante qualquer. Foi, digamos, muito educativo e muito edificante. Talvez mesmo muito promissor.