"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
12.5.06
Mais uma rapidinha
Espero, um destes dias, ver qualquer coisa do artista madeirense por estes lados do Atlântico!
Rapidinhas
Todos os dias temos notícias, em grandes parangonas, de investimentos milionários em Portugal. Alguns não passam de flops, como é o caso da refinaria de Sines. Outros, não passam de consequências lógicas do trabalho de anos. Sim, meus senhores, a empresa que vai investir em minas de ouro já está a fazer prospecção no Alentejo desde os anos 90.
Os grandes defensores do Governo do Eng.º Sócrates olham, embevecidos, para cada uma das grandes medidas fracturantes que se quer implementar em Portugal. O curioso é que de todas as anunciadas, neste ano e tal de governo, as poucas que foram implementadas deram barraca. Da grossa!
Falando nas reformas do Governo do Eng.º Sócrates, ainda não percebi bem a lógica das penalizações fiscais para os casais que contribuam para o envelhecimento da população, leia-se não procriam. O PM, de manhã, diz que a medida destina-se a incentivar o aumento da natalidade; de tarde diz que o agravamento será mínimo. E no entretanto, não se vislumbra o impacto que a medida terá. Mas então em que é que ficamos?
Eu cá sei qual é a ideia com que fico. Isto não passa de mais uma encenaçãozinha para desviar a atenção e o debate público e político do que é verdadeiramente importante. E enquanto toda a gente vai discutindo a necessidade imperiosa de haver um aumento da taxa de natalidade e as melhores medidas para que este aumento se concretize, lá vai o governo levando a água ao seu moinho (desculpem lá populismo). E nós, parolos, vamos papando tudo com um sorriso!
Neste país da treta, o que vai salvando o êxodo em massa é esperança de que a selecção faça boa figura no Mundial. Caso contrário, seria a debandada geral. Go Ronaldo!
Por falar em futebol, parabéns aos nacionalistas. Apesar de maritimista ferrenho, fiquei satisfeito com a classificação do CD Nacional.
Fiquei, igualmente, muito satisfeito com a saída do Koeman. Os sistemas tácticos que inventava, as convocatórias, os jogadores que colocava em campo, eram exasperantes. Eu, que até gosto do Glorioso desligava a TV assim que começavam os jogos.
Bom fim-de-semana!
Ondas madeirenses
Exigia-se aos responsáveis que tivessem ponderado as consequências que a medida de avançar com as obras, obviamente, trariam.
Não percebo como é que numa pequena ilha, rodeada por mar (perdoem-me a redundância), se fazem obras tão grosseiras no litoral. Mas não haverão estudos, não haverão técnicos conhecedores a que se possa recorrer para estudar os impactos de determinadas obras? É que, desculpem lá, mas o argumento de que é tudo uma questão de prioridade não pega. O governo não precisa (nem deve) ir a reboque da comunicação social, nem de lobbies, sejam eles de que natureza for. Mas nalguns casos trata-se apenas de bom-senso. Que faltou, nas questões da Marina do Lugar de Baixo e do Jardim do Mar.
PS – Ouvi dizer que o Município do Funchal se preparava para cobrar a entrada na Doca do Cavacas, vulgo Poças do Gomes. Espero que não passe de um boato. Porque se não for esse o caso, estará a legitimar grande parte das acusações que sofre. Se for verdade, qual é o objectivo: impedir o acesso ao mar, num local que precisa de muito pouca intervenção para ser perfeito? (E se fizerem grandes obras estragam por completo a beleza do local).
Não, espero que seja apenas boato. Mas se não for, digo-o desde já: não pago!
O futebol III - Scolari e o Agostinho (que não é santo)
Mas a paciência tem limites. Mesmo depois do nosso seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari ter afirmado e demonstrado que quem manda nas selecções nacionais é ele, aparece um Agostinho Oliveira de “capachinho”, a tentar comprar uma briga sem fundamento nenhum, porque pelos vistos foi informado de que saberia da convocatória no dia 15 de Maio como todos os Portugueses.
Imaginemos agora que o seleccionador dos sub – 21 já tinha conhecimento da convocatória, e como é hábito dos países latinos, esse “saber”, era transpirado para as manchetes dos jornais desportivos. O que se sucederia ?
Agostinho Oliveira afirmava que não tinha responsabilidade e que a empregada do seu gabinete transportou informações confidenciais para os jornais, dado que em tempos teve um relacionamento intimo com o director de um jornal desportivo qualquer...
Seria uma óptima desculpa e a culpa morreria solteira como é hábito.
Uma vez mais a paciência e perspicácia de Scolari merecem da minha parte uma palavra de apreço.
Luís Filipe Santos
O futebol II
Post-Scriptum: E nem convidaram o Figo. R'áis parta questes tipos não aprendem!
11.5.06
Palhaçada
Post Scriptum 1: Já os camaradas da CDU, inteligentemente, controlaram o cortejo à distância. Como se nada tivessem a ver com aquilo.
Post Scriptum 2: Eu, se fosse o Duarte Sena (que não conheço de parte nenhuma) ficava orgulhoso por ter provocado tamanha agitação. É sinal que alguma coisa está a mudar.
Erros
10.5.06
Mais livros que valem a pena
Aproveitando a deixa do Magno
Algures por aí, as elites divertem-se. De certeza absoluta que se riem perante a catástrofe enquanto mantêm inatacáveis os seus privilégios e o seu estatuto. Para ser sincero, acho que nunca houve verdadeira revolução em Portugal. Houve qualquer coisa parecida com isso, mas nunca foi uma verdadeira revolução, um verdadeiro movimento capaz de gerar uma verdadeira agitação. O sistema encarregou-se de deixar liminarmente tudo exactamente na mesma, porque afinal o país dos brandos costumes sempre existiu e sempre foi bem real. Culpa de quem? De muita gente certamente, mas essencialmente dos políticos a quem sempre faltou a coragem de mudar o que era preciso mudar e das elites dúbias que, traidoras, nunca cumpriram com o seu papel. O sistema está condenado por isso a perpetuar-se, a manter-se, a ciclicamente legitimar-se. A isto não é alheio o estado desastroso a que chegou o ensino em Portugal, por exemplo. E aqui, se calhar, não partilho das ideias de muitos que são tidos como grandes pedagogos do ensino, os grandes responsáveis pelo calamitoso poço sem fundo onde mergulhamos de cabeça. Quanto a mim, o logro está montado. E bem montado. A catástrofe reside em boa parte num ensino transformado em projectos alternativos e/ou centrados nos alunos, onde se desautoriza o professor e se transforma o conhecimento em algo secundário. Nada agora é obrigatório (nem ir às aulas, imagine-se!!!). Ainda hoje me lembro da minha quarta classe e da extraordinária professora que me acompanhou desde a primeira. Nesse tempo, era preciso conhecer os rios portugueses, as regiões portuguesas, os distritos portugueses, conhecer algumas regras elementares da gramática e, claro, saber ler e escrever, fazer contas de dividir ou multiplicar. Era preciso exigir, sem falinhas mansas e desde miúdo porque afinal é (era?) de pequenino que se torce o pepino. Hoje, passa-se consecutivamente sem nada saber, sem nada pedir, transmitindo aos nossos alunos a irresponsabilidade do sistema e uma forma errada de encarar e enfrentar a vida: com o inconsciente facilitismo como se alguma coisa na vida real fosse fácil. Ainda hoje ouvi incrédulo que 30% dos nossos estudantes acaba o primeiro ciclo sem saber ler. No meu tempo, e não foi assim há tanto quanto isso, nem um ousava passar. Serei eu que estou errado? Quando vejo a ignorância que grassa por aí não deixo de ficar preocupado. Mas então desmonta-se o logro e ele fica perfeitamente visível. As elites, claro está, protegem-se e não vão nestas cantigas nem nos inovadores projectos centrados nos alunos que nunca são tratados como aquilo que são: alunos que têm de aprender, que têm de obedecer e escolas que têm que ter professores capazes e projectos competitivos. Quem pode paga e tem (muitas explicações, por exemplo). Quem não pode contenta-se com o ensino que há (fugindo para áreas alternativas). As elites, dizia eu, fecham-se e colocam os seus rebentos bem longe desta tragédia. As melhores escolas são por isso boas soluções onde não há cantilenas nem lengalengas, nem os discursos dos habituais coitadinhos. A escola é para estudar e aprender; não para perpetuar situações intoleráveis, maus comportamentos ou determinismos sociológicos e psicológicos que fazem de boa parte dos nossos rebentos um bando de inimputáveis, que não se educam e que não se preparam. Tudo em nome daquilo que ainda recentemente alguém apelidou de eduquês. Eu apenas prefiro chamar de irresponsabilidade. Talvez, por isso, apenas uns poucos se safam. E a maioria naufraga algures por más decisões do capitão ou pela péssima qualidade do navio. Tanto faz porque o destino é o mesmo. As elites, sempre elas, entretanto reproduzem-se normalmente porque sabem que enquanto tudo se mantiver assim, ou seja, exactamente na mesma, elas continuarão a dominar o mundo que conhecem e a serem donas e senhoras do destino dos seus rebentos. Só o conhecimento pode trazer verdadeira riqueza. Dos ignorantes não reza a história e muita gente continua convencida de que há verdadeira mobilidade ou verdadeira meritocracia. Não é que não haja mobilidade. Ou meritocracia. Não vou tão longe. Não há é tanta como se pensa. É esse o logro. É esse o monumental embuste.
A caminho do totalitarismo
Ao fundo do túnel ergue-se um Estado ameaçador e ninguém parece preocupado com tal manobra. O poder transfere-se tranquilamente dos políticos para os funcionários do Estado, sem ondas, sem contestações, sem confrontos ou greves. Tudo às claras, em nome da mais clara das transparências. Weber foi quem melhor nos soube descrever o modo de organizar sociedades complexas e com muitos indivíduos. Mas foi Kafka quem melhor nos demonstrou esse pesadelo, essa desumanidade claustrofóbica e labiríntica a que chamamos burocracia. Ninguém aprendeu nada. É o que apetece dizer. A memória dos homens é na realidade um fenómeno extraordinário e isto é uma prova evidente da sua selectividade. Todos se esqueceram que não pode valer tudo em nome do Estado, em nome dos impostos, em nome de qualquer outra utopia que seja usada para castrar a liberdade e nos colocar, supostamente, no mesmo plano de igualdade. Começou pelo cinto de segurança, pelo capacete na mota e espalhou-se na violenta actual caça aos que fumam, como se todos estes fossem, coitados, um bando de proscritos ou de violadores em série. Qualquer dia proibir-se-á as gorduras, as bebidas com gás e outros derivados. Será obrigatório, por exemplo, correr de manhã e à tarde, comer fruta fresca, muito peixe e cereais ricos em fibra. Todos quererão viver até perto dos 200 anos ou qualquer coisa do género. Depois virá a vida transparente e sem segredos que mostrará quanto ganhamos, o que gastamos, o que comemos, o que usamos, o que fazemos. O Big Brother no seu melhor porque ninguém conseguirá colocar travão nisto, depois de aberta a Caixa de Pandora. Em nome da transparência, em nome do Estado, produziremos então seres amorfos, sem privacidade, sem segredos, sem vícios e, claro, sem liberdade. Talvez aí o pesadelo volte, noutra forma e com outra profundidade. Infelizmente, não é de bom tom esquecer o que tantos outros por nós sofreram em nome dessa coisa tantas vezes esquecida: liberdade. Ainda para mais quando isso custou forte na pele. Não no bolso.
As propinas deveriam aumentar?
Portugal não tem uma só Universidade que no seu conjunto se possa dizer acima do razoável. E não a tem precisamente porque está demasiado estatizada (mesmo as privadas). Não tem autonomia financeira nem, na prática, autonomia académica, para já nem falar do deserto que é a produção de conhecimento. E claro, também tem muito maus alunos, generalisadamente especializados em queimas de fitas e bebedeiras, nas quais estoiram o dinheiro que não têm.
Pelo que sei, as boas universidades pelo mundo fora são pagas, e bem pagas. Isto é válido para as privadas e, ao contrário do que se diz, também para as públicas. Claro que há a universalidade do ensino e do seu acesso. Mas não é pagando menos que a coisa melhora. Uma bolsinha de educação feita pelos pais à nascença dos meninos, como na América, e um sistema de empréstimos a pagar depois da conclusão do curso (que a Associação discorda), são soluções aceitáveis, mas a médio prazo. Para já, e para vermos resultados, as propinas terão que aumentar.
Porém, tal como o ensino superior está é que não. Um exemplo. Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa todo o dinheiro que há é exclusivamente para pagar os funcionários. Não sobra um tostão para mais nada. Não sobra um tostão porque também não há equidade, pois o filho do médico e o filho da empregada do Bazar do Povo pagam a mesma coisa. Depois, claro está, isso reflecte-se no que fazem e apresentam "os sábios" que de lá vão saindo.
Mas desengane-se quem pensa que a baixa competitividade das universidades portuguesas começa realmente na Universidade e no problema das propinas. Começa muito antes, nos ciclos e no secundário. O relatório PISA 2005 (Programme for International Student Assessement) põe a nu esta esperada realidade, colocando-nos no lugarzinho que nos é habitual: o fundo da tabela europeia em todos os parâmetros. E aí, já nem pagando se chegamos lá.
9.5.06
Benfica
Blogger
O Blogger, de vez em quando, supreende!
Cá vai, vou "publicar a postagem"...
8.5.06
Atenção a isto
«A eleição no PSD e o congresso do CDS são rituais meio primitivos de um ano de seca. E não é provável que chova tão cedo.» (Vasco Pulido Valente, Público, 07-05-2006)
Leituras de fim de semana
Catarina Resende pega na Amélia de Jorge Palma. Actualiza-a. Transforma-a numa "bandeira da tolerância" - a frase não é dela, mas poderia ser - na guerra pelo direito à interrupção voluntária da gravidez.
A editora, num golpe publicitário inteligente, vende o livro juntamente com o CD do Palma (vai, de certeza, assegurar mais que uma edição).
O problema é que Do Lado Errado da Noite não é uma pérola da literatura. Lê-se entre uma ida à casa de banho e uma bica, é verdade.
Também é verdade que Catarina Resende, uma aspirante a escritora (esta definição é mesmo dela) tem uma escrita fluída, desembaraçada.
Mas no fim do livro deixa-nos com a sensação de não ter conseguido captar a densidade e a complexidade do meio e das personagens sobre os quais escreve.
No Lado Errado da Noite não acrescenta nada. Nem à música do Jorge Palma, nem à alma (ou ao cérebro, de quem o lê).
Mas vai vender bem, ora se vai...
O lado errado da noite
do seu pobre ventre inchado, sujo e decadente
quando Amélia desceu da carruagem dura e pegajosa
com o coração danificado e a cabeça em polvorosa
na mala o frasco de 'Bien-Etre' mal vedado
e o caderno dos desabafos todo ensopado
Amélia apresentava todos os sintomas de quem se dirige
ao lado errado da noite
Para trás ficaram uma mãe chorosa e o pai embriagado
o pequeno poço dos desejos todo envenenado
a nódoa do bagaço naquela farda republicana
que a queria levar pra cama todos os fins de semana
e o distinto patrão daquela maldita fundição
a quem era muito mais difícil dizer não
Amélia transportava todas as visões de quem se dirige
ao lado errado da noite
Amélia encontrou Toni numa velha leitaria
entre as bolas de Berlim com creme e o sol que arrefecia
ele falou-lhe de um presente bom e de um futuro emocionante
e escondeu-lhe tudo o que pudesse parecer decepcionante
mais tarde, no quarto de pensão,
chamou-lhe sua mulher
seria ele a orientar o negócio de aluguer
Toni tinha todas as qualidades pra ser um rei
no lado errado da noite
Jonas está agarrado ao seu saxofone
a namorada deu-lhe com os pés pelo telefone
e ele encontrou inspiração numa notícia de jornal
acerca de uma mulher que foi levada a tribunal
por ter assassinado uma criança recém nascida
o juiz era um homem que prezava muito a vida
e a pena foi agravada por tudo se ter passado
no lado errado da noite
Jorge Palma
Palma e palmas
Mas as palmas ficam para a organização da Feira do Livro. Este ano mais participada que em anos anteriores.