20.3.09

Abril, Maio

Eduarda Maio é jornalista da RDP. Há uns tempos escreveu um livro com o sugestivo título Sócrates: o menino de ouro do PS. Não veio nenhum mal algum ao mundo. Cada um é livre de escrever e publicar as barbaridades que quer, como é óbvio (eu que o diga).

Agora, dá a voz a um anúncio promocional da rádio pública, que passa a mensagem de que as greves são contra quem trabalha e quer chegar a horas ao emprego. Uma mensagem de conteúdo político claro, após as mais recentes manifestações e greves contra a política do menino de ouro do PS (as palavras não são minhas).

A nossa amiga Eduarda tem o direito de dar voz a um anúncio promocional da "sua" estação com uma mensagem pró-governo. Cada um escolhe a forma como gere a sua carreira e essa gestão implica um conjunto de escolhas que devem conduzir a um determinado fim.

Mas nós, simples consumidores, também temos o direito questionar o trabalho da senhora, achando que há uma excessiva colagem ao Governo e à figura do primeiro-ministro, sendo que essa estratégia não abona em nada a favor da insenção que deve pautar a produção jornalística.

Podemos ainda questionar o conteúdo e a grelha informativa de uma estação que cria um spot promocional à imagem do Executivo.

Devemos, finalmente, sugerir que há uma ingerência da tutela (Governo) na gestão de conteúdos informativos da rádio pública e que o spot em questão é apenas a mais recente manifestação dessa ingerência.

Enfim, se fosse na Madeira a blogosfera estava em polvorosa... A de cá e a de lá.

Supertheory of Supereverything

Uma grande banda: Gogol Bordello

16.3.09

Lembro, cara amiga, lembro!

Foi tendo como ambiente esse lúgubre buraco que ele chamou à memória a imagem do futuro.
Foram ali antecipados os beijos ávidos das paixões, a vida por vir, como se a quisesse beber toda, às golfadas. Ali descobriu a urgência com que a queria engolir, senti-la dentro da sua pele, a correr no seu sangue, como se o mundo fosse acabar.
Julgava, então, que o futuro traria delírios oníricos, aromas inusitados. Encontrou e viveu as mais belas sinfonias, os mais ardentes sabores, as mais sublimes visões. Foi ali que despertaram verdadeiramente as vozes do seu corpo, que sentiu o fragor da paixão, o apelo irresistível do desejo. Entre consecutivas baforadas de LM e cafés engolidos de supetão, já frios, sonhou com melífluos lábios, que acreditava saberem a cereja e a sal, carnudos como goiabas, de sabor gentil a araçál. Essa foi a caverna que o libertou, verdadeiramente, da infância.
Partilhou sonhos e acreditava ser suficientemente forte para mudar o mundo. Construamos, nós próprios, um outro melhor.
As faltas não aconteciam por não se ir à escola. A aula de latim era pouco importante, os debates de Filosofia demasiado limitadores. Faltavam quando pouco antes das oito não se anunciavam, em entrada triunfante, naquele que era o verdadeiro espaço de aprendizagem.
E se o futuro destruiu muitas das cumplicidades que ali foram geradas, a verdade é que algumas se perpetuam.
Olha-se e vê que apesar da distância que o separa daquilo que sonhava ser, não é, todavia, outra coisa qualquer. Seria possível antecipar isto? Será o presente tão diferente do futuro que desejou?
Sim, o buraco era negro. Mas os sonhos, as ilusões, os sentimentos e os sorrisos - os sorrisos, minha amiga! - iluminavam todo aquele espaço.
E é por esta história que concordo contigo. Não quero chá, nem bolo de leite, nem luminosidade, nem ambiente asséptico, nem vida saudável. Prefiro antes a escuridão que nos protegia do mundo, os cigarros fumados com urgência, enevoando o espaço pouco higiénico e as bicas curtas. Servidas ainda antes sequer de dizer bom dia!