"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
3.8.06
Israel e Portugal
Comentou-se, em relação a um texto meu, que Portugal era “melhor” país do que Israel. Ora, tendo em conta que o existe para medir as diferenças entre as nações é o Relatório do Índice de Desenvolvimento Humano, Israel, lato senso, é “melhor” país do que Portugal, como empiricamente se previa.
Segundo este ranking anual (fiável e insuspeito), Israel em 2005 é o 23º país do mundo com maior Índice de Desenvolvimento Humano, enquanto Portugal é o 27º. A diferença não é substancial, mas tendo em conta que Israel canaliza há muitos anos grande parte do seu esforço económico para a indústria bélica, que vende mas que sobretudo gasta, o lugar é em si revelador da capacidade deste povo.
Para não ter que ouvir comentários tontos, adianto que o Índice de Desenvolvimento Humano é uma média comparativa que tem em conta a pobreza, a alfabetização, a educação, a esperança de vida, a natalidade e o PIB per capita, entre outros factores. E já agora, também ao contrário do que se afirmou, Israel tem um PIB per capita mais alto do que Portugal; 20,8 dólares de Israel para 17,9 de Portugal.
Claro que isto não me deixa feliz, mas factos são factos.
2.8.06
Quando o crime compensa
Um bando de criminosos agride até à morte um transexual no Porto. O juiz absolve praticamente os meninos porque eles não podem ser os únicos culpados, porque são produto das instituições que os acolhem e porque provêm de famílias desestruturadas. Claro que o Sr. Dr. Juiz, que deve gostar muito de Rousseau e de Confúncio, não parou para se perguntar três coisas muito simples: se isso só por si pode justificar o desporto que os meninos praticavam e que consistia, basicamente, em agredir repetidamente o transexual; se os meninos tinham, ou não, a noção plena de que aquilo que faziam não era correcto nem humanamente aceitável; e, por último, se esta sua decisão não acabou por legitimar toda e qualquer agressão oriunda de gente deste calibre (absolvidas à cabeça pela desestruturação familiar e pelo caos institucional).
Eu não digo que a nossa sociedade e as instituições do Estado sejam o melhor deste mundo. E não digo também que estas sejam um poço de virtudes. Mas daí até dizer que elas são tão ou mais responsáveis pelas agressões até à morte vai um passo muito grande. É que sendo assim, mais vale fechar a porta. E entregar a chaves. Na casa do Sr. Dr. Juiz, de preferência.
Eu não digo que a nossa sociedade e as instituições do Estado sejam o melhor deste mundo. E não digo também que estas sejam um poço de virtudes. Mas daí até dizer que elas são tão ou mais responsáveis pelas agressões até à morte vai um passo muito grande. É que sendo assim, mais vale fechar a porta. E entregar a chaves. Na casa do Sr. Dr. Juiz, de preferência.
1.8.06
A lista
À procura da sociedade perfeita e perfeitamente transparente anda o governo nacional. Vai daí decidiu avançar com a publicação de uma lista na Internet (não sei se esta era uma das medidas do célebre plano tecnológico) de conceituados e milionários caloteiros. Conhece-se o método, fascista por sinal, para arranjar bodes expiatórios e demonstrar a plena incapacidade do Estado em exercer o poder que lhe delegamos. É a prova inequívoca de como o Estado, o nosso Estado, não cumpre com as suas funções e que tem de descer ao mais baixo e reles dos métodos para conseguir dividendos. Muitos puritanos irão dizer que quem não deve não teme. E que é justo que essa lista seja publicada para se saber quem deve e quem não deve ao Estado, nem que seja pela mais pública das vergonhas. Lamento discordar porque o problema de fundo é o princípio. E só depois o método. È este mesmo princípio que qualquer dia justificará a publicação de listas dos que têm multas por pagar, dos medicamentos que cada um compra, dos exames que cada cidadão faz, das doenças que foram diagnosticadas, do cadastro individual, das dívidas aos bancos e outras pérolas do género. Não haverá travão. Nem perdão. Tudo em nome da justiça e de um ideal de clareza e transparência onde o cidadão se sentirá plenamente esmagado. Porém tenho a certeza absoluta que tudo isto seria mais simples e perfeitamente evitável, se este mesmíssimo Estado fosse um Estado como deve ser e cumprisse com as suas obrigações. Como não é, os métodos já não espantam. Ou pelo menos não devem espantar.
A digressão
Numa pequena digressão pelo mundo, Chávez, um conhecido “democrata”, anda à procura de aliados para a sua infinita luta contra os americanos. Chávez, como todos sabem, julga-se importante. E julga-se com capacidade para incomodar os Estados Unidos e as suas políticas, como se eles não dormissem preocupados com tal criatura. Claro que Chávez tem tempo de antena devido ao discurso radical antiamericano e por ser, na sua generalidade, um perigoso, mas pelos vistos respeitado, populista que anda a criar exércitos de um milhão de homens em negociatas perigosas de armamento enquanto destrói os recursos de um país que vive da exportação do petróleo. Chávez vale o que vale. E perante uma comunicação social benévola e conivente nada como andar a fazer um périplo por aí passeando a sua retórica de bolso que se diz protectora dos fracos e oprimidos do capitalismo. Na sua cruzada recente, deu-se ao luxo de ser recebido, por exemplo, por gente ilustre como Zapatero e Sócrates, dois conhecidos homens de esquerda, mas cujo poder caiu no colo, como por certo se recordarão. E propôs-se continuar a senda na Bielorússia e, agora, mais recentemente, no Vietname onde voltou a apelar a uma frente mundial antiamericana. Não sei que tipo de gente admira este ser, mas pelas companhias percebe-se logo que a coisa não deve ser lá muito recomendável.
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