Tenho um particular gosto em ter ouvido, esta tarde, Adriano Moreira, um dos portugueses que faz de Portugal um país maior, como bem o define Eduardo Lourenço.
Numa exposição extraordinária, Moreira defendeu um regresso aos valores em detrimento da espécie de vazio técnico e tecnológico em que nos encontramos desde o final da II Guerra Mundial.
Os resumos de todas as comunicações integradas na Conferência Internacional do Funchal, organizadas pela CMF, estão aqui.
"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
7.11.09
6.11.09
O que esperar das condidaturas às liderança do PS/Madeira
Depois de uma fase mais encarniçada, parece que as hostes de Jacinto Serrão e Victor Freitas acalmaram. Agora querem, dizem, discutir política.
Ora, a mim parece-me muito bem. É tempo de pacificar o (ainda) maior partido da oposição e esquecer o passado de ofensas, irresponsabilidade, purgas e perseguições (Paulo Barata dixit).
Sobre a perversidade dos discursos acirrados de outrora, está tudo dito. Aquilo foi pior que briga de cães – que tentam agora travestir de debate democrático.
Importaria, talvez, analisarmos os perfis de cada um dos candidatos, tentando descortinar o que poderão trazer para o debate político madeirense.
Comecemos por Victor Freitas, o mais que provável futuro líder (não tenhamos ilusões: se a eleição corresponder aos desejos das bases, Jacinto Serrão não tem hipótese).
A sua eleição poderá iniciar uma etapa de actividade política marcada pelo profissionalismo. Victor Freitas é um dos poucos socialistas madeirenses que nunca fizeram nada na sua vida a não ser política, sendo um profissional dela. Ora, como nunca teve de pensar em mais nada a não ser em política, é natural que nesta etapa (de liderança) empreste esse profissionalismo à sua actividade. Será, portanto, uma liderança fortemente marcada por questões meramente políticas, não sendo de estranhar que uma das primeiras medidas seja a proposta para alteração da lei eleitoral. Aliás, é expectável que o Victor apresente muitas outras propostas que visem revolucionar o sistema político regional, porque é nisso que ele é especialista. Todas elas terão, obviamente, o objectivo de fazer desequilibrar o sistema com vista a beneficiar o PS em futuros actos eleitorais. Não me espantaria mesmo que Victor Freitas ofereça ao PSD presentes envenenados, armadilhando aparentes boas propostas. Com a sua liderança, o PSD terá de estar atento porque a sua escalada vertiginosa no PS mostrou que ele sabe como chegar ao poder.
Por outro lado, o Victor, pelo poder que conseguiu acumular dentro do PS-Madeira, tem a qualidade única de encostar à parede qualquer voz dissonante, pelo que se torna plausível que pulverize qualquer oposição interna que possa vir a ser ensaiada. A sua liderança será incontestável e nem mesmo aqueles que outrora o adjectivaram de “vilhão” do Norte se atreverão (aliás, como nunca o fizeram abertamente) a desafiá-lo.
Com o que podem contar os madeirenses? Com uma oposição sem tréguas, provida de um discurso combativo e hostil, que tentará fazer do debate político um palco de denúncia das eventuais ilicitudes do PSD.
Já quanto a Jacinto Serrão, digamo-lo com clareza: não trará nada de novo. Fruto de alguma inconsistência, liderará o PS num percurso errático, como foi a sua imagem de marca da última vez que passou pela liderança do PS-Madeira. Jacinto Serrão, com todas suas trapalhadas, como o imbróglio da LFR, ou a fuga para Lisboa, não granjeou qualquer credibilidade ou simpatia por parte dos madeirenses e a sua eleição seria uma má notícia para o partido. E esta fragilização do PS também não seria positiva para a Madeira.
O que estranho na sua candidatura é a absoluta miopia política: será que Serrão espera mesmo que as suas trapalhadas tenham sido esquecidas, ou que a miserável submissão a que submeteu o PS-Madeira aos desmandos de Sócrates (cá, como lá, isto é, na Assembleia da República) não venham a ter consequências no eleitorado? Acreditará mesmo que reúne condições para ser um líder político na Madeira, nos próximos anos?
Por tudo isto, parece-me que o congresso terá sentido único.
O que não deixa de ser uma novidade é que após anos a manipular as lideranças do PS-Madeira, Victor finalmente decida avançar. Com a travessia do deserto que impôs ao PS, nomeadamente com os líderes que colocou à frente do partido (desde José António Cardoso, passando pelo próprio Serrão e até por Gouveia), Victor Freitas foi afastando os “barões” e putativos candidatos à liderança do PS, solidificando a sua posição dominante. Foi tão bem sucedido que neste momento apenas Bernardo Trindade tem estatuto suficiente para o enfrentar. O que, naturalmente, não irá acontecer. Não enquanto Jardim estiver no poder.
Ora, a mim parece-me muito bem. É tempo de pacificar o (ainda) maior partido da oposição e esquecer o passado de ofensas, irresponsabilidade, purgas e perseguições (Paulo Barata dixit).
Sobre a perversidade dos discursos acirrados de outrora, está tudo dito. Aquilo foi pior que briga de cães – que tentam agora travestir de debate democrático.
Importaria, talvez, analisarmos os perfis de cada um dos candidatos, tentando descortinar o que poderão trazer para o debate político madeirense.
Comecemos por Victor Freitas, o mais que provável futuro líder (não tenhamos ilusões: se a eleição corresponder aos desejos das bases, Jacinto Serrão não tem hipótese).
A sua eleição poderá iniciar uma etapa de actividade política marcada pelo profissionalismo. Victor Freitas é um dos poucos socialistas madeirenses que nunca fizeram nada na sua vida a não ser política, sendo um profissional dela. Ora, como nunca teve de pensar em mais nada a não ser em política, é natural que nesta etapa (de liderança) empreste esse profissionalismo à sua actividade. Será, portanto, uma liderança fortemente marcada por questões meramente políticas, não sendo de estranhar que uma das primeiras medidas seja a proposta para alteração da lei eleitoral. Aliás, é expectável que o Victor apresente muitas outras propostas que visem revolucionar o sistema político regional, porque é nisso que ele é especialista. Todas elas terão, obviamente, o objectivo de fazer desequilibrar o sistema com vista a beneficiar o PS em futuros actos eleitorais. Não me espantaria mesmo que Victor Freitas ofereça ao PSD presentes envenenados, armadilhando aparentes boas propostas. Com a sua liderança, o PSD terá de estar atento porque a sua escalada vertiginosa no PS mostrou que ele sabe como chegar ao poder.
Por outro lado, o Victor, pelo poder que conseguiu acumular dentro do PS-Madeira, tem a qualidade única de encostar à parede qualquer voz dissonante, pelo que se torna plausível que pulverize qualquer oposição interna que possa vir a ser ensaiada. A sua liderança será incontestável e nem mesmo aqueles que outrora o adjectivaram de “vilhão” do Norte se atreverão (aliás, como nunca o fizeram abertamente) a desafiá-lo.
Com o que podem contar os madeirenses? Com uma oposição sem tréguas, provida de um discurso combativo e hostil, que tentará fazer do debate político um palco de denúncia das eventuais ilicitudes do PSD.
Já quanto a Jacinto Serrão, digamo-lo com clareza: não trará nada de novo. Fruto de alguma inconsistência, liderará o PS num percurso errático, como foi a sua imagem de marca da última vez que passou pela liderança do PS-Madeira. Jacinto Serrão, com todas suas trapalhadas, como o imbróglio da LFR, ou a fuga para Lisboa, não granjeou qualquer credibilidade ou simpatia por parte dos madeirenses e a sua eleição seria uma má notícia para o partido. E esta fragilização do PS também não seria positiva para a Madeira.
O que estranho na sua candidatura é a absoluta miopia política: será que Serrão espera mesmo que as suas trapalhadas tenham sido esquecidas, ou que a miserável submissão a que submeteu o PS-Madeira aos desmandos de Sócrates (cá, como lá, isto é, na Assembleia da República) não venham a ter consequências no eleitorado? Acreditará mesmo que reúne condições para ser um líder político na Madeira, nos próximos anos?
Por tudo isto, parece-me que o congresso terá sentido único.
O que não deixa de ser uma novidade é que após anos a manipular as lideranças do PS-Madeira, Victor finalmente decida avançar. Com a travessia do deserto que impôs ao PS, nomeadamente com os líderes que colocou à frente do partido (desde José António Cardoso, passando pelo próprio Serrão e até por Gouveia), Victor Freitas foi afastando os “barões” e putativos candidatos à liderança do PS, solidificando a sua posição dominante. Foi tão bem sucedido que neste momento apenas Bernardo Trindade tem estatuto suficiente para o enfrentar. O que, naturalmente, não irá acontecer. Não enquanto Jardim estiver no poder.
5.11.09
Projecto do Sistema Educativo Regional, do PS-Madeira
Antes de mais faço uma declaração de interesses: não li o documento integral, porque não o encontrei, apesar de o ter procurado nos sites da Assembleia Legislativa Regional, do Grupo Parlamentar e do PS/Madeira.
Esta circunstância, naturalmente, limita o meu conhecimento do projecto, sendo que algumas das minhas observações podem ser suportadas em mal-entendidos normais nestas situações.
O meu comentário tem como base a peça jornalística de Jorge de Freitas Sousa, o que implica que apenas analise aqueles que foram os destaques feitos por si, ignorando se estes correspondem às grandes reformas propostas – pese embora o grande respeito, reconhecimento profissional e estima pessoal que tenho pelo jornalista.
Começo por reconhecer pertinência ao projecto. Apesar de não estar na agenda mediática ou sequer educativa nacional, a verdade é que a crise da escola como instituição há muito que é debatida nos círculos académicos e há muito que são questionados modelos alternativos.
Ora, apesar da crise ser reconhecida por todos, o que já acontece desde os anos 70, desde que Ivan Illich publicou o seu “Educação sem Escola”, acentuada pela escola “pós-moderna” (que nasceu da queda do paradigma comunista), a verdade é que em Portugal nunca foi possível os cientistas da educação (e políticos, naturalmente!) porem-se de acordo acerca do paradigma a implementar, pelo que todas as reformas não passaram de pequenos remendos numa manta já demasiado rendilhada e remendada.
Deste modo, é oportuno a apresentação deste documento, parecendo-me mesmo que a Região poderia ser um laboratório interessante para implementar um modelo de educação alternativo, o que até seria possível, no âmbito das suas competências ao nível da educação.
Contudo, apesar de reconhecer que algumas medidas são interessantes e de concordar com elas, parece-me que a proposta não é tão ousada quanto poderia/deveria ter sido. Antes de mais porque não define claramente um modelo alternativo. É certo que aponta alguns caminhos, mas não quebra com a “tradição escolar portuguesa”, nem corta com alguns mitos enraizados. Enfim, não define com clareza o que deve ser a escola, nem como convivem as dimensões formais, informais e não formais da educação, dentro do espaço e do tempo escolares.
Porque se queremos salvar a escola pública (e este “salvar” entenda-se como o resgate da mediocridade do ensino e das aprendizagens que, infelizmente, minam as nossas escolas), é urgente determinar com clareza o que queremos para a escola: se um espaço e um tempo minimalistas, para aprendizagem dos saberes básicos (o que não me parece razoável, atendendo aos desafios e competências que foram atiradas às escolas); ou um espaço onde as crianças e jovens passam a maior parte do seu tempo, em actividades “escolarizadas” (ou curriculares); ou, em alternativa aos dois primeiros, um modelo onde a dimensão curricular conviva com as dimensões informal e não formal, com projectos educativos que respondam às necessidades individuais, sem a recorrente confusão entre o “espaço escolar” e o “espaço não escolar” que interagem fisicamente nos estabelecimentos de ensino.
Ora, na minha opinião, são estas as amarras que urge romper e, uma vez que a proposta do PS não o prevê, acaba por ser mais um remendo para a tal manta. Percebo, contudo, alguma limitação que André Escórcio possa ter sentido, atendendo ao enquadramento legislativo nacional.
Vamos então às medidas.
Parece-me adequada e exequível a proposta de gratuitidade do ensino. E não me choca que a Região gaste mais em Educação, pois, apesar dos mitos, ainda estamos distantes do rácio de financiamento dos países escandinavos e ainda mais do modelo norte-americano. Parece-me uma falsa questão, apesar de ter algumas dúvidas acerca dos 20 milhões.
O modelo de escolas pequenas também me parece correcto, ainda que falte dizer que esta alteração teria de ser faseada e perspectivada a médio prazo. Por outro lado, teriam de ser analisadas as questões organizacionais, nomeadamente aquelas relacionadas com localizações, cantinas, transportes, etc., que comportam custos muito avultados e o sistema teria de ser racional.
Também colhe o meu apoio a possibilidade dos encarregados de educação poderem escolher as escolas e registo esta proposta muito pouco “socialista”.
As questões das batas e dos auxiliares são questões de lana caprina, que nem sequer constituem novidade.
A redução do número de alunos por turma é uma boa medida mas tenho dúvidas acerca da relação eficiência/eficácia, bem como a capacidade da Região para fazer face aos custos.
Também não me parece adequado que as escolas contratem os docentes que considerem adequados. Sou de opinião que, mediante a apresentação de um projecto educativo fundamentado, deverá diferenciar-se a alocação de recursos humanos e que devem ser as escolas a contratarem esses recursos.
Quanto aos clubes (a tal dimensão informal), subscrevo inteiramente a proposta e sou mais radical: devem-se criar tantos clubes quanto aqueles que a comunidade educativa entender necessários e adequados à realidade local (mediante um critério de racionalidade).
A questão da educação desportiva não me parece premente, ainda para mais num modelo como o norte-americano. Nos Estados Unidos não há uma tradição desportiva fora das escolas/universidades, o que não se passa na Madeira. Aliás, nesta questão, inclino-me mais para a prática que vem sendo seguida pela Secretaria Regional de Educação, que é abrir a escola aos clubes e associações desportivas, com benefícios para ambas as partes, mas onde os principais beneficiados são os alunos.
Não concordo, de todo, é que haja uma redução sistémica do financiamento ao ensino privado e cooperativo. Em meu entender, a concorrência é benéfica até para a escola pública e a educação não pode ser área tabu para o empreendedorismo empresarial. Aliás, o modelo que defendo está nas antípodas: as famílias deverão poder escolher entre o ensino público e o ensino privado, cabendo à administração pública garantir que todas as famílias têm igualdade de acesso. Até porque estou em crer que uma boa escola pública será sempre a opção preferencial das famílias.
Por tudo isto, acho que a proposta do PS-Madeira constitui uma boa oportunidade para a realização de uma discussão séria acerca da escola que se quer para o futuro. E seria imprudente, revelando até alguma incúria, o PSD desaproveitar esta oportunidade para a construção de um modelo educativo de vanguarda. Não quero com isto dizer que se tenha de aprovar ipsis verbis a proposta. Mas a discussão deve ser feita com ponderação, sem atirar o bebé juntamente com a água, em nome do futuro dos madeirenses. Porque as boas ideias, venham de onde virem, devem ser aproveitadas.
Esta circunstância, naturalmente, limita o meu conhecimento do projecto, sendo que algumas das minhas observações podem ser suportadas em mal-entendidos normais nestas situações.
O meu comentário tem como base a peça jornalística de Jorge de Freitas Sousa, o que implica que apenas analise aqueles que foram os destaques feitos por si, ignorando se estes correspondem às grandes reformas propostas – pese embora o grande respeito, reconhecimento profissional e estima pessoal que tenho pelo jornalista.
Começo por reconhecer pertinência ao projecto. Apesar de não estar na agenda mediática ou sequer educativa nacional, a verdade é que a crise da escola como instituição há muito que é debatida nos círculos académicos e há muito que são questionados modelos alternativos.
Ora, apesar da crise ser reconhecida por todos, o que já acontece desde os anos 70, desde que Ivan Illich publicou o seu “Educação sem Escola”, acentuada pela escola “pós-moderna” (que nasceu da queda do paradigma comunista), a verdade é que em Portugal nunca foi possível os cientistas da educação (e políticos, naturalmente!) porem-se de acordo acerca do paradigma a implementar, pelo que todas as reformas não passaram de pequenos remendos numa manta já demasiado rendilhada e remendada.
Deste modo, é oportuno a apresentação deste documento, parecendo-me mesmo que a Região poderia ser um laboratório interessante para implementar um modelo de educação alternativo, o que até seria possível, no âmbito das suas competências ao nível da educação.
Contudo, apesar de reconhecer que algumas medidas são interessantes e de concordar com elas, parece-me que a proposta não é tão ousada quanto poderia/deveria ter sido. Antes de mais porque não define claramente um modelo alternativo. É certo que aponta alguns caminhos, mas não quebra com a “tradição escolar portuguesa”, nem corta com alguns mitos enraizados. Enfim, não define com clareza o que deve ser a escola, nem como convivem as dimensões formais, informais e não formais da educação, dentro do espaço e do tempo escolares.
Porque se queremos salvar a escola pública (e este “salvar” entenda-se como o resgate da mediocridade do ensino e das aprendizagens que, infelizmente, minam as nossas escolas), é urgente determinar com clareza o que queremos para a escola: se um espaço e um tempo minimalistas, para aprendizagem dos saberes básicos (o que não me parece razoável, atendendo aos desafios e competências que foram atiradas às escolas); ou um espaço onde as crianças e jovens passam a maior parte do seu tempo, em actividades “escolarizadas” (ou curriculares); ou, em alternativa aos dois primeiros, um modelo onde a dimensão curricular conviva com as dimensões informal e não formal, com projectos educativos que respondam às necessidades individuais, sem a recorrente confusão entre o “espaço escolar” e o “espaço não escolar” que interagem fisicamente nos estabelecimentos de ensino.
Ora, na minha opinião, são estas as amarras que urge romper e, uma vez que a proposta do PS não o prevê, acaba por ser mais um remendo para a tal manta. Percebo, contudo, alguma limitação que André Escórcio possa ter sentido, atendendo ao enquadramento legislativo nacional.
Vamos então às medidas.
Parece-me adequada e exequível a proposta de gratuitidade do ensino. E não me choca que a Região gaste mais em Educação, pois, apesar dos mitos, ainda estamos distantes do rácio de financiamento dos países escandinavos e ainda mais do modelo norte-americano. Parece-me uma falsa questão, apesar de ter algumas dúvidas acerca dos 20 milhões.
O modelo de escolas pequenas também me parece correcto, ainda que falte dizer que esta alteração teria de ser faseada e perspectivada a médio prazo. Por outro lado, teriam de ser analisadas as questões organizacionais, nomeadamente aquelas relacionadas com localizações, cantinas, transportes, etc., que comportam custos muito avultados e o sistema teria de ser racional.
Também colhe o meu apoio a possibilidade dos encarregados de educação poderem escolher as escolas e registo esta proposta muito pouco “socialista”.
As questões das batas e dos auxiliares são questões de lana caprina, que nem sequer constituem novidade.
A redução do número de alunos por turma é uma boa medida mas tenho dúvidas acerca da relação eficiência/eficácia, bem como a capacidade da Região para fazer face aos custos.
Também não me parece adequado que as escolas contratem os docentes que considerem adequados. Sou de opinião que, mediante a apresentação de um projecto educativo fundamentado, deverá diferenciar-se a alocação de recursos humanos e que devem ser as escolas a contratarem esses recursos.
Quanto aos clubes (a tal dimensão informal), subscrevo inteiramente a proposta e sou mais radical: devem-se criar tantos clubes quanto aqueles que a comunidade educativa entender necessários e adequados à realidade local (mediante um critério de racionalidade).
A questão da educação desportiva não me parece premente, ainda para mais num modelo como o norte-americano. Nos Estados Unidos não há uma tradição desportiva fora das escolas/universidades, o que não se passa na Madeira. Aliás, nesta questão, inclino-me mais para a prática que vem sendo seguida pela Secretaria Regional de Educação, que é abrir a escola aos clubes e associações desportivas, com benefícios para ambas as partes, mas onde os principais beneficiados são os alunos.
Não concordo, de todo, é que haja uma redução sistémica do financiamento ao ensino privado e cooperativo. Em meu entender, a concorrência é benéfica até para a escola pública e a educação não pode ser área tabu para o empreendedorismo empresarial. Aliás, o modelo que defendo está nas antípodas: as famílias deverão poder escolher entre o ensino público e o ensino privado, cabendo à administração pública garantir que todas as famílias têm igualdade de acesso. Até porque estou em crer que uma boa escola pública será sempre a opção preferencial das famílias.
Por tudo isto, acho que a proposta do PS-Madeira constitui uma boa oportunidade para a realização de uma discussão séria acerca da escola que se quer para o futuro. E seria imprudente, revelando até alguma incúria, o PSD desaproveitar esta oportunidade para a construção de um modelo educativo de vanguarda. Não quero com isto dizer que se tenha de aprovar ipsis verbis a proposta. Mas a discussão deve ser feita com ponderação, sem atirar o bebé juntamente com a água, em nome do futuro dos madeirenses. Porque as boas ideias, venham de onde virem, devem ser aproveitadas.
4.11.09
Desculpa lá, Gonçalo...
Estava o Jorge Jesus, antes de um jogo com o Sporting, a falar com os jogadores nos balneários:- - "Eu sei que é uma chatice, mas temos que jogar contra eles...Faz parte do calendário, o que é que querem?
O Luisão responde:
-"Mas, oh mister, é preciso irmos todos?"
Então, o Di Maria levanta-se e diz:
-"Não é preciso! Eu vou jogar sozinho contra eles. Vocês podem ir descansar."
E Jorge Jesus lá concordou:
- "Ok, Di Maria. Então vai lá dar cabo deles."
O Jorge Jesus e os restantes jogadores foram até um café ali ao lado do estádio e começaram a jogar snooker. Estavam eles entretidos até que um se lembra de ir ver o resultado do jogo ao intervalo. O marcador assinalava: Benfica 1 (Di Maria aos 10m) - Sporting 0. Voltou à mesa de snooker e contou como estava o jogo. Passada uma hora, decidem ir todos ver o resultado final: Benfica 1 (Di Maria aos 10m) -Sporting 1 (Liedson aos 89m). Ficaram surpresos e Jorge Jesus dirigiu-se ao balneário onde estava o Di Maria com as mãos na cabeça e muito chateado.
- "Então Di Maria, o que é que aconteceu? ", perguntou Jorge Jesus.
- "O cabrão do árbitro expulsou-me aos 11 minutos ..."
O Luisão responde:
-"Mas, oh mister, é preciso irmos todos?"
Então, o Di Maria levanta-se e diz:
-"Não é preciso! Eu vou jogar sozinho contra eles. Vocês podem ir descansar."
E Jorge Jesus lá concordou:
- "Ok, Di Maria. Então vai lá dar cabo deles."
O Jorge Jesus e os restantes jogadores foram até um café ali ao lado do estádio e começaram a jogar snooker. Estavam eles entretidos até que um se lembra de ir ver o resultado do jogo ao intervalo. O marcador assinalava: Benfica 1 (Di Maria aos 10m) - Sporting 0. Voltou à mesa de snooker e contou como estava o jogo. Passada uma hora, decidem ir todos ver o resultado final: Benfica 1 (Di Maria aos 10m) -Sporting 1 (Liedson aos 89m). Ficaram surpresos e Jorge Jesus dirigiu-se ao balneário onde estava o Di Maria com as mãos na cabeça e muito chateado.
- "Então Di Maria, o que é que aconteceu? ", perguntou Jorge Jesus.
- "O cabrão do árbitro expulsou-me aos 11 minutos ..."
2.11.09
PTE - boa prática com procedimentos pouco transparentes?
Portugal não é um país normal. Essa é uma constatação que não precisa de confirmação empírica. E neste país um pouco anormal, a verdade é que por vezes somos tentados a não termos, nós próprios, atitudes normais.
Ora, serve este preâmbulo para dizer que de tanto denunciar os esquemas, as falhas, as incompetências, às más políticas, as manhosices do governo de Sócrates, sentimo-nos tentados a calar quando tomamos conhecimento de outros processos muito mal explicados.
É o que acontece comigo: por tanto tentar pôr a nu algumas trapalhadas associadas ao Plano Tecnológico da Educação (PTE), começo a sentir-me o Velho do Restelo. Mas como a situação parece-me grave, entendo ter o dever de escrever sobre aquilo que a maioria dos portugueses desconhece.
Ora, para quem não sabe, no âmbito do PTE, as infra-estruturas de rede das EB2, 3 e Secundárias estão a ser substituídas para permitir internet de alta velocidade. Sim, não está apenas a ser actualizada, está a ser integralmente substituída. Mas, apesar de estarem a ser desperdiçados muitos milhões, ainda se aceitaria, se a coisa se ficasse por aqui. Mas não: aqui vai o role daquilo que me parece um esquema muito pouco transparente, que me deixa, como deveria acontecer com todos os democratas, muitas dúvidas, senão legais, pelo menos éticas:
- Todo o equipamento terminal está a ser colocado pela Cisco, que coloca equipamento, em qualidade e em quantidade, bem acima do necessário; (com custos bastante elevados);
- A Cisco tem como Director Internacional para o Sector Público (?) Diogo Vasconcelos, antigo presidente da UMIC e “pai” do “e-government” português, que veio desaguar no Plano Tecnológico (coincidência?) – para que não me venham acusar de sectarismo, este é um ilustre militante do PSD;
- O serviço de comunicação de dados e internet foi entregue em monopólio à PT, sem qualquer possibilidade dos “donos” das linhas (aqueles que as vão pagar) poderem optar por outras empresas, com a agravante de que qualquer alteração à rede tem de ser autorizada pela PT que, naturalmente, cobrará o serviço;
- Imposição destas negociatas às autarquias apesar de, entretanto, terem recebido todas as competências (e encargos) relacionadas com os edifícios escolares;
- Sub-empreitadas que não observam a lei em vigor, nomeadamente inexistência de projectos técnicos;
- Inexistência de comunicação e total ausência de informação para escolas e autarquias;
- Colocação de redes estruturadas sobre outras redes já existentes, violando, assim, toda e qualquer regra de remodelação.
Mas no âmbito da relação entre Educação e tecnologia, ainda há mais:
- Todo o software que está a ser produzido para o ME é suportado pela Beltrão Coelho, a mesma empresa que já havia recebido o monopólio dos quadros interactivos para as EB2, 3 (Interwrite), apesar de não serem nem os melhores nem os mais baratos do mercado;
- A manutenção do monopólio da JP Sá Couto, relativamente ao programa E-escolinhas. Não há aqui uma violação clara das regras da contratação pública e das leis da concorrência?
Não me oponho, naturalmente, ao PTE. Mas por concordar com a medida, não posso calar situações e procedimentos que me parecem muito questionáveis. E isto não tem a ver com partidos. Tem a ver com a qualidade da própria Democracia que me parece estar a ser posta em causa diariamente. Veremos se algum dia todo este processo será alvo de alguma investigação judiciária.
E depois digam lá que é perseguição!
Ora, serve este preâmbulo para dizer que de tanto denunciar os esquemas, as falhas, as incompetências, às más políticas, as manhosices do governo de Sócrates, sentimo-nos tentados a calar quando tomamos conhecimento de outros processos muito mal explicados.
É o que acontece comigo: por tanto tentar pôr a nu algumas trapalhadas associadas ao Plano Tecnológico da Educação (PTE), começo a sentir-me o Velho do Restelo. Mas como a situação parece-me grave, entendo ter o dever de escrever sobre aquilo que a maioria dos portugueses desconhece.
Ora, para quem não sabe, no âmbito do PTE, as infra-estruturas de rede das EB2, 3 e Secundárias estão a ser substituídas para permitir internet de alta velocidade. Sim, não está apenas a ser actualizada, está a ser integralmente substituída. Mas, apesar de estarem a ser desperdiçados muitos milhões, ainda se aceitaria, se a coisa se ficasse por aqui. Mas não: aqui vai o role daquilo que me parece um esquema muito pouco transparente, que me deixa, como deveria acontecer com todos os democratas, muitas dúvidas, senão legais, pelo menos éticas:
- Todo o equipamento terminal está a ser colocado pela Cisco, que coloca equipamento, em qualidade e em quantidade, bem acima do necessário; (com custos bastante elevados);
- A Cisco tem como Director Internacional para o Sector Público (?) Diogo Vasconcelos, antigo presidente da UMIC e “pai” do “e-government” português, que veio desaguar no Plano Tecnológico (coincidência?) – para que não me venham acusar de sectarismo, este é um ilustre militante do PSD;
- O serviço de comunicação de dados e internet foi entregue em monopólio à PT, sem qualquer possibilidade dos “donos” das linhas (aqueles que as vão pagar) poderem optar por outras empresas, com a agravante de que qualquer alteração à rede tem de ser autorizada pela PT que, naturalmente, cobrará o serviço;
- Imposição destas negociatas às autarquias apesar de, entretanto, terem recebido todas as competências (e encargos) relacionadas com os edifícios escolares;
- Sub-empreitadas que não observam a lei em vigor, nomeadamente inexistência de projectos técnicos;
- Inexistência de comunicação e total ausência de informação para escolas e autarquias;
- Colocação de redes estruturadas sobre outras redes já existentes, violando, assim, toda e qualquer regra de remodelação.
Mas no âmbito da relação entre Educação e tecnologia, ainda há mais:
- Todo o software que está a ser produzido para o ME é suportado pela Beltrão Coelho, a mesma empresa que já havia recebido o monopólio dos quadros interactivos para as EB2, 3 (Interwrite), apesar de não serem nem os melhores nem os mais baratos do mercado;
- A manutenção do monopólio da JP Sá Couto, relativamente ao programa E-escolinhas. Não há aqui uma violação clara das regras da contratação pública e das leis da concorrência?
Não me oponho, naturalmente, ao PTE. Mas por concordar com a medida, não posso calar situações e procedimentos que me parecem muito questionáveis. E isto não tem a ver com partidos. Tem a ver com a qualidade da própria Democracia que me parece estar a ser posta em causa diariamente. Veremos se algum dia todo este processo será alvo de alguma investigação judiciária.
E depois digam lá que é perseguição!
Conferência Internacional do Funchal apresentada
A II Conferência Internacional do Funchal foi esta manhã apresentada, pelo vereador com o pelouro da Cultura, Pedro Calado, no Salão Nobre dos Paços do Concelho. A 6 e 7 de Novembro a capital debaterá temas de interesse para as sociedades actuais, como a Cidade, a mudança de paradigma energético, a criação de sociedades mais solidárias, as vulnerabilidades do sistema financeiro global ou a crise da democracia e da participação dos cidadãos.
São conferencistas Adriano Moreira, Virginio Bettini, Sérgio Gonçalves do Cabo, Oliveira Fernandes e Viriato Soromenho-Marques, director científico das conferências.
São conferencistas Adriano Moreira, Virginio Bettini, Sérgio Gonçalves do Cabo, Oliveira Fernandes e Viriato Soromenho-Marques, director científico das conferências.
A inscrição é gratuita e pode ser feita, de forma simples, em
www.conferenciainternacionalfunchal.com.
No hotel CS Madeira, durante dois dias, debater-se-ão algumas das grandes temáticas da actualidade.
www.conferenciainternacionalfunchal.com.
No hotel CS Madeira, durante dois dias, debater-se-ão algumas das grandes temáticas da actualidade.
É preciso discutir?
Não é uma teoria. É um facto provado: quanto mais forte é a oposição, quanto mais capacidade crítica e de intervenção tiverem os partidos concorrentes ao poder, melhor é o Governo. Parece-me tão óbvio que acaba por ser um tema sem discussão possível.
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