19.8.06

Sobre uma certa ideia do papel dos partidos comunistas

Uma ideia feita que muito circula por aí, é aquela que nos diz que os partidos comunistas, apesar dos seus modelos de sociedade terem baqueado inapelavelmente, foram os principais responsáveis pela melhoria das condições de trabalho das pessoas e por uma melhor reivindicação dos seus direitos. Esta tese é falsa. E é muitas vezes utilizada para enganar incautos e desprevenidos. A maioria das conquistas dos trabalhadores (como o direito de associação ou de união, o direito à greve, a liberdade sindical, etc) aconteceu entre 1850 e 1914 e teve lugar no seio das sociedades ditas liberais e industrializadas. O mesmo se sucedeu com a Segurança Social (a saúde, a reforma, as férias pagas ou os subsídios de desemprego) que surgiu, em termos práticos entre as duas guerras, e depois de 1945, em países onde o Partido Comunista era inexistente ou sem expressão como a Suécia, a Inglaterra (que supostamente seria o primeiro país socialista do Mundo), a Alemanha ou a Holanda ou em países em que a sua presença era muito forte mas nunca maioritária como a França ou a Itália. Como se vê, esta ideia não tem nenhuma força que a sustente. No entanto, a suprema ironia de tudo isto é verificar que a maioria destas introduções surgiram pela mão daquilo que hoje em dia se chamaria de governo conservador.

Totalitarismo de esquerda e de direita

No mesmo café, a conversa acaba nos totalitarismos. Na contabilidade dos milhões de mortos há uma espécie de consenso absoluto: nenhum totalitarismo serve o ideal humano. Seja de esquerda, seja de direita. De esquerda ou de direita? Eis um paradoxo quase imperceptível: os totalitarismos são ditaduras de pensamento único. E ser-se de direita ou ser-se de esquerda, no plano da acção ou da teoria, pressupõe uma liberdade política que os totalitarismo não admitem. Logo, parece-me, estamos perante uma evidente incongruência. Para não dizer impossibilidade.

Embargo e bloqueio

No café um amigo meu, leitor pelos vistos compulsivo deste modesto blogue, diz que a questão cubana não é simples nem muito menos rudimentar para ser tratada com a leviandade que um suposto post meu deixou no ar. O meu amigo, pessoa bem informada e formada e alguém por quem tenho admiração, utiliza como principal argumento o célebre bloqueio promovido pelos Estados Unidos, considerando os americanos como co-responsáveis por aquilo que ali se sucede. Quanto a ele, esta foi a nódoa que eu não podia nem devia apagar. Claro que discordo. E veementemente discordo porque a confusão lançada entre bloqueio e embargo é uma velha táctica da esquerda para lançar a confusão na opinião pública e nos incautos, ao mesmo tempo que serve de justificação abusiva e alargada para a decadência do regime cubano. Mas onde reside então esta confusão propositada? Reside numa absoluta mentira. Porquê? Porque não existe nenhum bloqueio. O que existe sim, é um embargo por parte de um país (a América) que prefere não manter nenhum relacionamento com um outro país (Cuba que em tempos ameaçou a sua segurança, plantando-lhe quase no quintal um arsenal de mísseis). É muito simples de se perceber isto: Cuba pode manter os seus relacionamentos institucionais, comerciais, políticos ou outros com quem muito bem lhe apetecer. Ninguém lhe faz mal absolutamente nenhum como diariamente se comprova, (pelo menos os mais atentos e que percebem como a táctica é facilmente desmontável diariamente nos jornais) com o Sr. Chavez da Venezuela ou com o Sr. Zapatero de Espanha. Espanha que, recorde-se, é das maiores injectoras de dinheiro na economia cubana. Por isso nada de confundir embargo com bloqueio.

Blogue em serviços mínimos

Pelos vistos muita gente anda de férias. É difícil assegurar sozinho os serviços necessários para a sobrevivência desta coisa tecnológica. Os nossos fiéis leitores que nos perdoem. O blogue segue dentro de momentos.

17.8.06

Descobertas preocupantes

Estamos naquela época do ano em que o Eng. Sócrates anda nos safaris e deixa isto nas mãos do Dr. António Costa.

PS: Se costuma pensar muito seriamente em emigrar, fugir, bazar, desandar, esgueirar-se ou, simplesmente, evadir-se do país (riscar o que não se aplicar), tem aqui mais uma bela e decisiva oportunidade. Não hesite. O mundo precisa de si.

Descobertas extraordinárias

As amas deste país pagam em média mais 700 euros de IRS do que os advogados.

Descobertas insignificantes

De acordo com o Público, dois dos meus actores favoritos fazem anos hoje: de Niro e Sean Penn.

Um (possível) epitáfio político

Que devia ser o de António Costa pelo seu irresponsável aproveitamento político quando estava na oposição.

"Quem com ferros mata, com ferros morre".

14.8.06

Caro Bento,

Infelizmente para ti, não conseguiste refutar o argumento principal deste post que teve origem aqui. O que é um facto indesmentível é que os partidos que cumprirem a lei receberão mais dinheiro. Isto é, e se quisermos utilizar termos fortes e pesados, uma forma de proxenetismo político ao serviço dos senhores dos aparelhos partidários.

Quanto aos adjectivos que utilizas para me qualificar, aceito-os mesmo que com eles não concorde. Mas convém que tente esclarecer o seguinte: demagogia é geralmente uma forma de acção política que pretende agradar às massas populares e misoginia uma forma, declarada ou não, de horror às mulheres. Como muito bem sabes, e julgo que já o interiorizaste, nenhum dos adjectivos se enquadra aqui. Por dois motivos: é mais fácil, primeiro motivo, ser a favor da paridade (porque é mais popular) e misóginos, segundo motivo, são todos aqueles que tratam as mulheres com diferença, recusando-lhes a igualdade baseados numa qualquer motivação de arrogante superioridade.

Por fim, queria apenas dizer-te que temo um Estado omnipresente. É essa a razão principal de alguns dos posts que escrevo, tentativas vãs de denunciar algumas situações que entendo não se coadunarem com a liberdade em que acredito. É por isso que utilizo a blogosfera como espaço privilegiado de exposição de ideias, onde se pode divagar e até filosofar sobre aquilo que nos apetecer. Gosto demais da liberdade, da minha liberdade, para achar normal que o Estado actual, o nosso Estado, se ande a imiscuir em todos os assuntos públicos e privados, digam eles respeito ao indivíduo, às famílias, às empresas ou aos partidos políticos, como os posts a que te referes muito bem retractam. Sermos condescendentes com isto, mesmo que cada um de nós deseje e almeje uma sociedade melhor (e temos esse direito de sonhar, de desejar, de querer), é escancarar a porta para todos os males e fantasmas do mundo. A sociedade perfeita, ou o seu aperfeiçoamento se preferirmos, não se consegue, nem se persegue, obstinadamente, por decreto, mesmo que imbuídos da maior das boas vontades e intenções. A racionalidade burocrática e centralista do Estado, convertida numa espécie de totalitarismo onde há regras para tudo, é uma quimera perigosa. E com resultados geralmente desastrosos. Mas isso eu nem precisava de te dizer.

A vidinha de Jenna Jameson


Dei 28 euros pelo livro de Jenna Jameson, intitulado em português “Como... fazer amor como uma estrela porno”. Mesmo que o livro literariamente não prestasse para nada, o que não anda muito longe disso, os prazeres solitários que esta loura de Las Vegas proporcionou a meio mundo já valem o dinheiro. E a gratidão.

Além das fotografias, felizmente abundantes, para quem tiver paciência e tempo tem mais de 500 páginas com as “estórias” da família desunida, dos primeiros “encontros”, da amiga mais velha, dos “namorados” e proxenetas, do dinheiro, de episódios exageradamente dramáticos, dos bastidores, dos filmes e das excentricidades. Tudo isto até chegar à vida normal com o casamento.

PS: Vou de férias e ainda não sei quem ficará a perder, se eu ou se os leitores.

O Cuba-Libre faz-se com Coca-Cola

Prometi a mim mesmo que não escreveria uma linha sobre o tiranete de Cuba que a “imensa minoria” dos intelectuais europeus estimam. Mas como, com demasiada facilidade, a imbecilidade irrita vou quebrar a promessa. Nunca, nem mesmo quando era mais vulnerável a este género de ideais, exprimi qualquer simpatia pelos “heróis” da Sierra Maestra. Não tive posters de Fidel Castro no quarto nem usei t-shirts com a estampa de Che Guevara, produto gráfico que é em si uma grande e lucrativa realização capitalista. Pois é.

Enquanto o mundo civilizado começava a ver os resultados previsivelmente desastrosos do comunismo, o utópico da América Central teimava em prosseguir na aberração em que tornou Cuba; a que alguns indigentes se atreveram chamar de “perfeita”.

Depois, foi o percurso normal como vem nos livros de História. Eternização no poder, eliminação sistemática de opositores, total ausência de liberdade de expressão, proibição de sair do país, redução da economia a pregos e martelos e padrões de vida próximos da Idade Média.

Tudo, claro, em nome repartição equitativa da riqueza no país e em nome dos tempos da ditadura Fulgencio Batista. E a isto, para legitimação desta inclassificável experiência de modelo de sociedade, juntou-se algumas dezenas de reconhecidos artistas desavindos com o mundo, os seus bons charutos, putas, mohitos e o “cuba-libre”.

Sinceramente, até gostava que Cuba não mudasse nas próximas décadas, pelo menos para ter sempre à mão um exemplo prático de como certas ideias podem inquinar um país.

Um monstro

Fidel fez anos. 80 ou 79 não há bem certeza de acordo com aquilo que leio nos jornais. Mas a idade pouco importa, já que um pouco por todo o lado se assiste à criação de obituários antecipados onde o monstro é apresentado como uma espécie de último herói revolucionário e romântico. Peço desculpa, mas quase cinquenta anos de poder, não podem apagar os métodos e os processos. Nem fazer esquecer o sofrimento infligido ao seu próprio povo. Comigo não contam para a absolvição ou redenção.
A revolução comunista cubana, um eufemismo, não passa de uma desagradável miragem que muitos se recusam ver. Alguns espantam-se com a educação e a medicina cubanas, aparentemente virtudes de comprovado sucesso. Num país onde não há liberdade de informação, onde tudo é devidamente controlado, não sei onde se vai tirar estas ideias abstrusas, mas desconfio que não deve ser por observação directa nem por experiência no terreno.
Cuba vive numa perfeita miséria e nem o embargo, aparente, o pode justificar. Aliás, Fidel que tem as noções básicas de propaganda soube habilmente usá-lo (o embargo, e já agora o ódio profundo à América - porque será que todos os regimes tirânicos odeiam a América?) como justificação para o subdesenvolvimento crónico do povo cubano. Quem anda na política, conhece bem a utilidade destes “inimigos” porque se Cuba fosse o tal paraíso na terra, boa parte da sua população não se entretinha a arriscar a vida para chegar às praias da Florida (acto que constitui, aliás, verdadeiro passatempo nacional cubano, com taxas de sucesso muito variáveis).
Num regime onde não há condições mínimas para uma coexistência democrática, pena que muitos, que se dizem democratas, fiquem do lado do opressor, daquele que espezinha e maltrata o povo.
Quando Fidel morrer (em abono da verdade, não conhecemos o seu verdadeiro estado de saúde), o regime ruirá com ele. De pouco adianta esta ténue passagem de testemunho familiar, uma tentativa vã de ludibriar e escamotear o mais que evidente e selado destino. E isto por dois motivos: primeiro, porque não é aceitável que um país nesta latitude não se converta numa eventual democracia depois de tantos anos de marasmo e atrofia; e, segundo, porque Fidel representa um exemplo evidente daquilo que Weber chamava de autoridade carismática: com o fim do líder, perde-se o carisma, razão de ser da própria autoridade. Consequentemente perde-se a legitimidade, o controlo e, claro, o poder. A transformação será inevitável. Por essa altura, os saudosistas abandonarão os obituários e relembrarão o chefe em calorosas e elaboradas hagiografias onde a história que se vai contar é a história que se queria que tivesse acontecido e não aquela que de facto aconteceu. Fidel será tratado como um santo e não como o monstro que de facto foi. No fundo, todos nós sabemos que são cada vez mais raros aqueles que estão dispostos a aprender com os erros e com a História.

13.8.06

Dois milhões e ainda se queixa?!

Amo a pianista Maria João Pires. São indescritíveis as sensações que nos assaltam ao ouvir a virtuosa a interpretar Chopin. Mas acho que ela deveria ficar-se apenas pelo piano e não se meter em aventuras associativo-empresariais. Então não é que a pianista queixa-se da falta de apoio para o seu centro de artes de Belgais (que de resto, pelo pouco que conheço, tem desenvolvido um trabalho bastante meritório), quando desde 1999 já recebeu do Estado Português cerca de 2 milhões de Euros (para além do dinheirinho que vem a PT). E depois ainda ameaça que vai viver para o Brasil, porque não tem condições para trabalhar em Portugal?!Sinceramente, não estava à espera que uma artista que venceu por si só promova a subsídio-dependência da cultura. Ainda para mais quando a associação que fundou já beneficiou do apoio do Estado bem mais do que muitos milhares de associações que desenvolvem um trabalho tão bom, ao nível cultural, quanto aquele que é desenvolvido por Belgais. Se a sua associação não tem dinheiro, então é porque é muito mal gerida, o que apenas se deve à Maria João Pires. Como amante da música, continuarei a ser absolutamente fã da pianista. Enquanto cidadão, abomino os seus actos a as suas afirmações e, sinceramente, acho que de oportunistas anda o país cheio. Portanto se quer ir para o Brasil, faça favor! Não se prenda por nós!

Conversa de surdos a (propósito do Fidel)

Após uma longa, aturada, acesa e apaixonada conversa entre um conservador e um comunista, sobra apenas uma conclusão:

- A repressão, mas também a subversão são legítimas. Depende é das ideologias que as sustentam (primeira) e que as promovem (segunda).

Ora porra, que se lixe o Fidel! Viva o povo cubano!

Não haveria o macaco estar confuso!

"When you add it all up
The tears and the marrow bone
There's an ounce of gold, And an ounce of pride in each measures
And the Germans kill the Jews
And the Jews kill the Arabs
And the Arabs kill the hostages
And that is the news
And is it any wonder that the monkey's confused"

Roger Waters, Perfect Sense


ISRAEL

"You don't have to be a Jew
To disapprove of murder
Tears burn our eyes
Moslem or Christian, Mullah, or Pope
Preacher or poet, who was it wrote
Give any one species too much rope
And they'll fuck it up"

Roger Waters, Too much rope