24.11.06

Aborto: será uma questão de crença?

Porque todos nós começamos a ficar fartos da política e dos políticos, hoje escrevo sobre um tema que gera paixões e divide profundamente e legitimamente a sociedade portuguesa: o aborto e o referendo que se aproxima (isto é, caso o Presidente da República decida convocá-lo).


Até ao momento, tenho visto os defensores do Sim à pergunta do referendo alegarem 4 razões fundamentais para justificarem o seu voto.

a – são as mulheres que mandam no seu corpo;
b – é uma vergonha mulheres serem julgadas por praticarem ou serem sujeitas a um aborto;
c – as condições deploráveis a que algumas mulheres se submetem;
d – famílias e mulheres sem condições para educarem uma criança.

Alguns defendem apenas uma, outros defendem várias e outros, menos cuidadosos, defendem todas.

Eu voto Não. Como sei bem que os defensores da liberalização (é disso que se trata, deixem-se lá de eufemismos) não estão interessados nas minhas razões, e como também sei que mesmo que as ouçam, não as valorizam, vou apenas dizer porque não concordo com os argumentos pelo Sim.

a) Vociferem o que quiserem vociferar os movimentos feministas mais apaixonados e mais ou menos radicais, mas jamais aceitarei discutir com base de que no corpo das mulheres mandam elas. Um embrião não é um apêndice do corpo feminino. As mulheres que disponham como quiserem do seu aparelho reprodutivo, mas nunca lhes reconhecerei o direito de disporem de um embrião. Porque um embrião é uma vida, numa fase que ainda compreendemos pouco, mas que não deixa de ser uma vida. Não sou eu que o digo, é o dr. Gentil Martins.

b) O argumento de que é vergonhoso mulheres serem julgadas também está enfermo de falácias:
1.º - um dos casos mais mediáticos foi o de uma mulher de Setúbal, que fez um aborto aos seis meses. Ora, caso a liberalização (insisto) tivesse sido aprovada em 1998, a sra. teria sido julgada na mesma. Para além disso, perdoem-me, mas abortar voluntariamente aos seis meses não me parece defensável racionalmente. Qual é o argumento?
2.º - quando uma mulher fizer um aborto, recorrendo aos antigos métodos, às 11 ou 12 semanas, como é que vai ser? Serão essas mulheres julgadas? Continuaremos com essa vergonha? O que é que a alteração da actual lei irá mudar?

c) Este é um dos poucos argumentos a que sou sensível. Não conheço nenhum local onde pratiquem abortos. Nunca tive que recorrer, mas não me parece que aquela ideia que a Dra. Odete Santos defende, de abortos feitos com agulhas de tricotar, tenha alguma relação com a verdade. Com tantos medicamentos abortivos, de venda livre, que existem no mercado, não sei se continua a ser necessário agulhas que estraçalhem os fetos. A realidade continua a ser hedionda e brutal, mas acredito que sem esta ficção demagógica.
O não quer dizer que os abortos sejam menos perigosos. But, then again, qualquer aborto está envolto no perigo, que não sei se diminui por ser feito num hospital público. Realço ainda o facto de que estes párias continuarão a existir, uma vez que continuará a haver clientela (gravidez com mais de 10 semanas).

d) Este é um argumento complicado: o que são consideradas condições adequadas para criar uma criança? Os meus pais nunca foram ricos e criaram 6 filhos. Conheço pessoas ainda mais pobres que também educaram os seus filhos, com, amor, carinho, e sem que lhes tivesse faltado qualquer bem essencial. Por outro lado, sabemos que o mundo é volátil e as minhas condições financeiras de hoje, poderão não ser as de amanhã. Em relação ao abandono de crianças, sejam honestos e digam lá: acreditam que o mundo vai passar a ser um lugar melhor para as crianças? Que estas terão mais amor e melhores condições? Que vão deixar de haver os abandonos, os maus tratos? Acham mesmo que a miséria vai desaparecer? Ou, sequer, que as crianças irão desaparecer da miséria?

Reconheço que a questão é complicada. Mas sinceramente não revejo qualquer peso aos argumentos apresentados. São demasiado falaciosos. Ainda assim, continuo aberto à discussão. Argumentem! Afinal, também é para isso que os blogs servem.

22.11.06

Georges Remi


O criador de Tintim dá pelo nome de Georges Remi. E por que se chama Hergé então? Porque, pegando nas iniciais de cada nome, invertendo a sua ordem e soletrando cada letra por extenso dá her(r) e ge(g), daí o Hergé. Felizmente, já sabia isto muito antes de pôr os pezinhos no Museu da Banda Desenhada de Bruxelas.

Coisas da Bélgica




Pierre Marcolini



Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas do mundo não ensinam mais que a confeitaria.

(Fernando Pessoa/Álvaro de Campos)


Comer chocolates é melhor do que fazer quase tudo. E então se for na melhor chocolataria do mundo, não sei se será o superior dos prazeres.

A chocolataria Peirre Marcolini de Bruxelas é um daqueles espaços únicos no mundo que, mesmo sem seguranças à porta, afugenta logo a saloiada, a qual, em regra, pouco quer saber da pureza do cacau ou da sua proveniência (Equador, Madagáscar ou Venezuela). E muito menos quer ouvir as explicações dos funcionários trajados com cores de chocolate semi-amargo.

Neste lugar tudo é absolutamente cuidado, mas sem folclore e sem nos impingirem nada: a apresentação da iguaria, a sua disposição na vitrina e a cara, quase sempre neutra, de quem sabe o que vende. Depois, vem a caixinha, e que caixinha! Já na rua, e com a cumplicidade de uma nova amiga de muito bom gosto, fiquei sem saber se o que levávamos na mão era uma jóia ou um doce.

Na América, pois claro

Sem grande esforço facilmente se conclui que a ciência económica e, por arrasto, a da gestão, é uma invenção dos EUA. Ou, pelo menos, foi nos EUA que se aperfeiçoou como verdadeira ciência.

Desde 1969, ano em que foi criado o prémio nobel da economia, a esmagadora maioria dos premiados são norte-americanos, e quando não o são, são ingleses, o que é substantivamente o mesmo. Quanto a mim, só isto chega para explicar quase tudo aquilo que representa a sociedade americana hoje no mundo.

Milton Friedman, claro, também está lá. “A liberdade de escolher” foi o seu livrinho que, mesmo sem darmos conta, mudou parte do mundo. Certo Gonçalo?

Stimorol


Como um sem número de coisas boas, há muito que o Stimorol não se vende em Portugal. Disseram-me que era porque tinha alguns elementos com propriedades cancerígenas. Pois bem, mas na Bélgica podemos encontrá-lo. E não me parece que possamos dar lições de saúde aos belgas.

Por mim, mesmo sem ser fã de chicletes, aprecio o pacotinho que ainda mantém o grafismo dos anos 70 e, mais importante do isso, não deixa que as “pastilhinhas” se colem umas às outras quando expostas ao calor. Quer isto dizer que já faço parte do clube da Lenca.