14.4.07

Uma ideia

O Dr. Serrão anda por aí a prometer aos madeirenses a criação de 8 mil novos postos de trabalho. Tirando a particularidade de ele não ter explicado ainda como o tenciona fazer, é bom que se perceba bem a qualidade da proposta, a artimanha que ela encerra e a evidência notória de que alguém não sabe bem a quantas anda.

E por um motivo muito simples: o eng. Sócrates também prometeu, no seu tempo, empregos aos milhares. 150 mil para ser exacto. Ora, Portugal tem 10 milhões e 300 mil habitantes e a Madeira pouco mais que 250 mil. Apliquem uma regra proporcional simples e deliciem-se com as conclusões. Basta fazer as contas, como diria o refugiado Eng. Guterres. Nem o actual primeiro-ministro teve a ousadia e a lata de ir tão longe.

A Madeira tem de facto uma oposição digna de um verdadeiro case study.

13.4.07

Um caso psiquiátrico

Enquanto o pessoal se diverte com a comédia do canudo do primeiro-ministro, o Dr. Barroso, pela calada, quer impor a lei e a ordem aos europeus mais renitentes. Vai daí propõe-se fazer esquecer o incómodo dos referendos, pedindo aos estados-membros mais atrasados que aprovem o projecto europeu via assembleias nacionais. O Dr. Cavaco, um brilhante homem da direita portuguesa, aproveitou a deixa e decidiu por si enviar uma espécie de recado ao governo, onde mostra a concordância com tão dignificante assunto de estado. O pensamento do Dr. Cavaco é simplório como os seus costumes: os referendos são qualquer coisa de inútil e uma estuporada perda de tempo, onde só se gasta latim e dinheiro desnecessários.

Na verdade, no projecto europeu, alguns vírus são mais contagiosos do que outros, mas o bom senso devia mandar que nada se fizesse nas costas dos europeus. Entrementes não há nenhuma vacina prevista, o que quer dizer que o referendo holandês e o francês de pouco serviram aos incautos. Pior que errar só mesmo insistir no erro.

Claro está que o Eng. Sócrates já se mostrou aberto à irrecusável proposta. No fundo, um referendo implica uma posição, e uma posição implica uma explicação. Como não parece haver gente interessada em explicar nada convém evitar o tortuoso caminho até porque a principal estratégia europeia passa precisamente por não explicar coisíssima nenhuma sobre o que é a Europa, o seu projecto, as suas consequências, os seus benefícios, as suas vantagens e desvantagens. Eu próprio reconheço que explicar o vazio é complicado. Aliás, não deixa de ser absurdo que a própria União não tenha um único fundo destinado a explicar a Europa aos europeus. Principalmente aos mais ignorantes, aos eurocépticos, aos eurocalmos, como o Dr. Portas, e aos que não vêem na pretensa União grandes garantias de sucesso. A psicanálise também podia ser uma possibilidade, mas o Dr. Freud há muito se retirou de cena.

Não muito longe daqui, o Dr. Barroso continua a viver ou numa realidade paralela ou numa realidade que ele se recusa ver (riscar o que não interessa). E desconfio que ele não seja o único: há mais vida além da quinta dimensão e dos corredores de Bruxelas, onde alienados é coisa que não falta. Os mais atentos, os cidadãos comuns e mortais, sentem na pele a legislação absurda que daquele manicómio todos os anos é emanada e que serve, posteriormente, para legitimação dos respectivos governos nacionais. Desde o tremoço ao tamanho das laranjas, da tasca ao cabeleireiro, passando pelo indefeso amendoim e a desgraçada da palmeta, nada escapa à fúria burocrática de Bruxelas.

Eu não sou contra a União Europeia. Há que reconhecer que foi a entrada neste projecto que nos colocou (aos portugueses em geral) mais perto da civilização e de outros costumes há muito arredados das redondezas. Mas esta nova ideia de Europa que nos querem impingir (sem nada explicar, convém recordar), incapaz de se insurgir com firmeza contra o rapto de cidadãos britânicos pelo Irão por exemplo, mas capaz de legislar sobre tudo e sobre todos, continua a querer dar passos maiores do que a perna. Em política, é devagar que se vai ao longe.

Entretanto, o descontentamento sobe, o desemprego aumenta, a ancianidade e a decadência demográficas aterraram por estas bandas e a competitividade é uma agradável miragem. No mundo todos os dias, os novos blocos económicos solidificam-se e a Europa, infelizmente, ainda não percebeu que deixou há muito de ser actriz principal da história. Pior: o seu papel é cada vez mais secundário porque a sua fraqueza e inutilidade é por demais evidente. Mas os burocratas continuam alegre e impunemente dispostos a caminhar em direcção ao abismo, liderados agora por esse extraordinário Dr. Barroso, um homem providencial, que à primeira oportunidade um dia nos disse que ia ali e já voltava.

Escusado será dizer que para os eurocratas os problemas não existem porque ignorá-los faz parte dos seus genes e escondê-los não é mais que uma abespinhada missão levada infinitamente a cabo, se preciso for. Contra moinhos de vento é difícil lutar, porque não se combate contra a imaginação. O melhor mesmo é esperar enquanto se assobia para o lado, fazendo de conta que não é nada connosco. Quem sabe uma cabeçada na mesa de cabeceira não nos faz despertar a todos da letargia reinante?

Ver o engenheiro por um canudo

O Eng. Sócrates foi à televisão fazer uma tentativa de balanço dos seus primeiros anos de governo. Claro está, que à falta de melhor e sem assuntos com grande interesse para a pátria lusitana, o assunto central acabou por se resumir ao processo kafkiano e obscuro da sua, ainda não percebi se hipotética ou não, licenciatura.

As explicações do primeiro-ministro valem o que valem, mas ao contrário de alguns aparentemente mais esclarecidos, não entendo esta matéria como um caso menor. E não o faço porque convém não esquecer que o primeiro-ministro é uma figura pública, eleita para nos governar. Como consequência, qualquer caso que abale a sua credibilidade deve ser cabalmente esclarecido, para o bem e para o mal.

Reconheço que as figuras públicas se encontram mais expostas a estas situações, mas quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Ora, esclarecimento foi coisa que não se viu na dita entrevista. Nem coisa, que no limite, tenha surgido no mais longínquo horizonte. O primeiro-ministro levou uns certificados, respondeu vagamente a algumas perguntas e mostrou-se muito indignado com as calúnias e campanhas que montam contra a sua pessoa. Mas não bastou. Pelo menos para mim não foi suficiente. Sócrates, no fundo, nadou ao seu melhor estilo. Ou ao seu pior estilo se preferirem: o estilo do acossado, da vítima encurralada, do “animal feroz”, agora que me relembro daquela patética entrevista ao Expresso.

É por isso importante que o assunto não seja esquecido. Até porque o exemplo dado pelo primeiro-ministro é um exemplo que não deve ser seguido e muito menos alimentado pelo comum dos mortais, sujeito às regras mais elementares do bom senso. Já imaginaram se este exemplo não é caso único? Quantos não andam por aí a se vangloriarem de habilitações que não têm? Quantos não andam por aí com cursos comprados ou obtidos administrativamente? Já pensaram como isto é um péssimo exemplo para os jovens deste país?

Leituras obrigatórias

Para os que gostam de futebol, para os que amam o futebol, as crónicas de Luís Freitas Lobo, ao sábado no Público, deviam ser obrigatórias.
Há demasiado tempo que a classe política, aos olhos dos portugueses, anda desacreditada. É tida como medíocre, sonsa e incapaz. Outros nomes feios também são chamados como corruptos, ladrões ou outros epítetos de sonoridade e agressividade diferentes. Vivemos por isso num tempo estranho. Num tempo de contradições onde a esperança leva a que as pessoas indefinidamente confiem naquilo que ouvem sem sequer questionar. São as promessas que fazem com que as pessoas se levantem com dignidade todas as manhãs da sua existência. Ouvem falar no progresso, no crescimento económico, na competitividade, na qualificação profissional, no emprego para todos. Ouvem falar nos milagres que no mundo abundam. Ouvem falar em utopias várias às quais se agarram. Ouvem falar num primeiro mundo onde as pessoas são felizes, a saúde funciona, o ensino educa e não há engarrafamentos. No fundo, ninguém faz nada porque toda a gente se limita a esperar: a esperar pelo destino, ao som do fado, a ver a bola e encantado com o mundo prometido que o Dr. Cavaco um dia inaugurou. Não sabem ou não percebem que esse mundo nunca chegou. Nem vai chegar.

Séries de culto

Revendo em sessões contínuas, provavelmente a melhor série de televisão jamais feita. Provavelmente. Apenas provavelmente.



Mais uma trapalhada

Esta novela não acaba... Por mais que queira, Sócrates não se livra do monstro.

(Quem será o tubarão?)

Quando voltará o Governo a funcionar, já que quinta-feira o mundo continuou a não girar?

Já agora, gostaria de ver o que aconteceria se o primeiro-ministro ainda se chamasse Santana Lopes... Pagava para ver, honestamente!

No que respeita às pressões sobre jornalistas feitas pelo próprio primeiro-ministro (confirmadas hoje pelos outrora insuspeitos Sarfield Cabral e José Manuel Fernandes), estou a gostar de ver a postura do sindicato do sector. Que tem guardado um respeitoso silêncio sobre o assunto.

No tempo de Santana, a declaração de um ministro, feita na Assembleia da Republica, que pôs em causa um comentador político, causou um terremoto. Mas de facto as coisas mudam... É isso, as coisas mudam...

Acerto de Contas

A União europeia anunciou que a titularização de créditos executados pela ex-Ministra das Finanças (Manuela Ferreira Leite) em 2003 são interpretadas como dívida pública.

Por acaso não voz faz lembrar nada???????????

O caso cai agora nas mãos de Teixeira dos Santos. Será que o Ministro tem memória curta?.....Será que vai justificar com critérios, diferentes, para casos iguais (titularização de créditos executados pela Madeira)?

12.4.07

Socialistisses

Depois de ler um post do blog do PS-Madeira anunciando a qualidade dos seus quadros, fiquei deslumbrado. Acho mesmo um desperdício aquela fantastic team ter apenas ambição de ser Governo da RAM. Estaria a vê-los assim como Comissão Europeia ou coisa que o valha. Só tenho alguma renitência em reconhecer a experiência política a Victor Freitas. O rapaz tem o quê, 25 anos? E está na ALR apenas há 2 anos. Parece-me pouco. But then again, its only me.


Digam o que disserem, Bernardo Trindade fez mais pelo turismo da Madeira do que qualquer Secretário Regional de Turismo. A ideia de criar a marca Allgarve foi um golpe de génio para acabar com o turismo algarvio, em proveito da nossa bem-amada Madeira. Sim, porque a marca Algarve já estava demasiado implantada. Parabéns!

Não sei se estou a atravessar uma fase Zen, mas a verdade é que ouvir Sócrates deixou de me irritar. Quinze minutos depois do início da entrevista, já estava aborrecido. Ouvi-lo já não chateia, entedia.
Só não percebi aquela parte do pressão aos jornalistas. Pressionou, ou não???

11.4.07

Summertime

Não quero saber se Sócrates é engenheiro ou não é. Quero saber é se ainda temos Governo, já que nas últimas duas semanas o país (e a acção governativa) pararam. É isso que é importante na entrevista de hoje, ou seja, saber se ainda temos governo.

Mais importante que isso é o sol que abriu esta manhã e a canção que me veio à cabeça enquanto tomava banho:

Summertime

Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high
Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry

One of these mornings
You're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
And you'll take to the sky
But till that morning
There's a'nothing can harm you
With daddy and mamma standing by

Summertime,
And the livin' is easy
Fish are jumpin'
And the cotton is high
Your daddy's rich
And your mamma's good lookin'
So hush little baby
Don't you cry

George Gershwin

10.4.07

Babbitt

Babbitt”, de Sinclar Lewis, retrata na perfeição a classe média americana dos anos 20 (década em que foi escrito). Mas é, paradoxalmente, intemporal. Porque a América tradicional não se transformou assim tanto. E porque os valores comportamentais de George F. Babbitt estão ainda incorporados no “modus vivendi” do “stadard american citizen”.

George F. Babbitt é um ignorante, e relativamente bem sucedido, empresário de uma cidade média. Acredita, com toda a força da ignorância, no “progresso”, na “técnica”, na grandeza e superioridade do “sistema americano”. Aprendeu "o suficiente" na Universidade Estatal, o que lhe permite fazer eco das opiniões do seu grupo económico e social. Que basicamente se resumem à premência de silenciar radicais, acabar com a imigração e "manter os negros nos seus lugares”. É uma figura insípida e convencional, rodeada de outras figuras insípidas e convencionais.

Brincando com o leitor, Lewis conduz a personagem central a uma aparente viragem. Babbitt rebela-se. Encontra uma amante. Viola a Lei Seca .Vai a festas. Recusa alistar-se numa associação de patriotas. Defende publicamente “Seneca Doane” e o seu grupo de radicais. Diz-se, ultrage, um Liberal. Babbit chega ao ponto da “quase transformação”. Mas retrocede. E após o período de “fuga” retoma a rotina habitual na estandardizada “Zenith” – arquétipo das cidades médias americanas.

Ler a obra de Siclar Lewis continua a ser surpreendente. Porque George F. Babbitt não morreu a meados dos anos 30 ou 40. Mudou ligeiramente mas na essência está igual. Tal como o sistema de valores que representa.

Foi Babbitt quem incorporou o progresso. É Babbitt quem enche as igrejas evangélicas. Foi ele quem invadiu o Vietnam. Foi ele quem elegeu Nixon e deu duas vitórias a Bush. É ele quem veste camisas coloridas nas praias do Hawai e quem desconhece, às vezes, que o mundo vai muito para oriente do Maine e muito para sul do Texas. Mas é também ele, com o espírito empreendedor que lhe foi transmitido quase que geneticamente, que fez da América a superpotência que hoje é.

O “good old George” pode causar-nos angústia. Mas está vivo e venceu. Se calhar, para bem de nós todos. Se calhar…

Um livro a ler urgentemente.

Post-Sriptum 1: Adoro a frase inicial. Aqui vai:

His name was George F. Babbitt. He was 46 years old now, in April 1920, and he made nothing in particular, neither butter nor shoes nor poetry, but he was nimble in the calling of selling houses for more than people could afford to pay”.