28.5.08

Se for bom é meu, se for mau é teu!

Tenho voltado a ouvir com alguma insistência que os bons gestores devem ser bem remunerados. Mantenho alguma curiosidade para ver os prémios que receberão os administradores da GALP no final deste ano, atendendo aos seus bons resultados, mas apesar de em nada terem contribuído para eles. Porque por muito que queiram pintar outro quadro, a verdade é que os resultados financeiros da GALP devem-se a dois factores externos a esta administração: a participação em consórcios internacionais (com especial incidência para a Petrobras) e o aumento do preço dos combustíveis. Assim, é fácil ser bom gestor...



Por outro lado, quando o mérito é da organização, não percebo porque é que apenas os gestores devem ser premiados: então os administradores do BCP recebiam 10% dos resultados líquidos e todos os outros funcionários que contribuíram activamente para esse sucesso não viam cheta? A esses não chega nada?
Quer dizer, quando os resultados são negativos a culpa é dos trabalhadores que são mandriões, quando os resultados são positivos, o mérito é apenas dos gestores? É desta redistribuição de riqueza que falam todos aqueles que querem liberalizar a res publica? São estes bons exemplos que querem que sigamos?

Patinha Antão: a surpresa... Ou não!

Já gostava de Patinha Antão. Sempre me pareceu um bom deputado, bem preparado. E apesar de ter achado (e manter) que não tinha a mínima possibilidade de ser eleito para líder do PSD, não posso deixar de notar que foi aquele cujas ideias mais me convenceram. Apresentou boas propostas, consequentes, reformistas sem nunca ter perdido de vista que a economia é uma ferramenta para servir a política e não o contrário.

Elevação

Gostei de forma como decorreu esta campanha no PSD (ainda não acabou, mas não me parece que venha a descambar). Com elevação, sem hipotecas de apoios futuros. Todos os candidatos tiveram noção que o que estava em causa era o combate ao PS.
Em casa, discutem-se civilizadamente todas as questões. E o filho pródigo (aquele murmurador(a) que por vezes esquece quem são os seus...) também tem acesso aos mesmos direitos de todos os outros.

Razões para não votar em Pedro Passos Coelho

Apesar do que já havia afirmado e porque Pedro Passos Coelho (PPC) era o candidato que pior conhecia, estive a assistir no passado sábado a uma sua sessão de esclarecimento. Tirei três conclusões:
1. confirmou todas as razões que me fariam não votar nele. Não tem uma ideia de país;
2. PPC não é liberal porque a Manuela Moura Guedes assim quis, naquele debate surreal da TVI (mais por culpa da pivot do que por culpa dos candidatos, diga-se em abono da verdade). PPC é ultra-liberal, porque é assim que entende a vida;
3. não sabe minimamente o que é a social-democracia.

26.5.08

Paixões

Tenho um amigo meu que apaixonou-se por uma voz. Não uma voz musical, uma voz carismática. Apenas uma voz, como tantas outras, de uma dessas meninas que trabalham em call-centers. E esteve tão apaixonado, que ligava diversas vezes para a ouvir. Nunca a quis conhecer. Sabia que a mulher de cujas cordas vocais emergia o som que o apaixonara era irrelevante. E sofreu para a esquecer.
Naturalmente, tinha algum cuidado em afirmá-lo: reconhecia o gozo que este seu sentimento poderia despertar nos outros.
A mim, nunca me pareceu estranho. Como poderia?, afinal, entre as minhas muitas paixões passadas (é verdade, apaixono-me com muita facilidade!) já tinha acontecido apaixonar-me por uns olhos; por uma imagem e até por uma ideia. Não um ideal, mas uma ideia de mulher, construída por mim e que muito pouco teria a ver com a mulher de carne. É fácil, é humano, apaixonarmo-nos por pequenos pormenores nas(das) pessoas. Por vezes, tudo o resto é acessório. O rosto que rodeia os olhos, o corpo que o suporta, pouco importa. Basta esse pequeno pormenor, para construirmos (ou em nós nascer?) um sentimento verdadeiro de paixão. Outras vezes, é apenas a ideia de estarmos apaixonados que nos apaixona (passe a redundância) e até nos faz sofrer. Projectamos uma ideia de felicidade junto de uma determinada pessoa e essa projecção passa a ser real. Sem nos apercebermos.
E estas paixões são tão reais, tão verdadeiras quanto as outras. Desejamos estar com a pessoa, porque a confundimos com a ideia que dela criámos, sem que seja uma miragem, ou um reflexo, ou uma invenção.
Todavia, não basta. Para estarmos verdadeiramente com alguém, é necessário esforçarmo-nos diariamente para nos apaixonarmos por todo o resto. Mesmo por aquilo de que gostamos menos. Porque no final, apenas a relação em que se investe diariamente é que nos fará viver com a felicidade possível (nunca nada é perfeito). Seremos felizes, quando estivermos apaixonados por um pormenor e conseguirmos viver com relativa tranquilidade o resto da pessoa. Porque a pessoa, as pessoas, não são apenas pormenores.

PS - Vivo apaixonado por pormenores e relativa tranquilidade quanto a tudo o resto!

A Madeira em 2020


- Desculpa o atraso, mor. Como foi o teu dia?

-Maravilhoso e o teu?

- Temos 37 m para fazer mor!

- É + tempo. Eu também tenho que me levantar cedo amanhã.

- Já tens o teu “Orgasmatron”?
- espécie de “pacemaker” do prazer. É uma caixa do tamanho de um maço de cigarros que é colocada à cintura e que depois é ligada ao nervo pélvico, que comanda o prazer, via – internet.
- Si e tu?- Estou a acabar de fazer as últimas ligações.
- …………………

Depois de uma noite prazer….
Maria estava em casa, o namorado nos EUA. Ele é investigador em “Carnegie Institute of Tecnology” e um crente na nanotecnologia e na corrente transhumanista. (conceito inventado nos anos 80). Devido ao fuso horário -São menos 5 horas nos EUA, o encontro sexual foi agendado via “msn” para a 1 hora da madrugada, Madeira, 21 horas nos EUA.

9- 07-2020

Há uma hora que Maria, presidente executiva da Empresa de Electricidade da Madeira, está presa na via-rápida. Maria saiu de casa cedo. Eram 8 horas quando deixou a residência, de estilo contemporâneo, no Garajau. O objectivo é chegar às 9 horas à sede no Almirante Reis. Já passam 7 minutos das 9 e está entalada à saída do túnel das Neves. O “Hiphone” desanima. Indica que o Funchal está bloqueado. Até a cota 500 tem problemas de trânsito. Só é possível circular, sem problemas, no coração da cidade.

13 % do negócio da eléctrica provém das energias renováveis. A empresa dedica-se actualmente ao comércio e instalação de paneis solares – em hotéis e edifícios de habitação colectiva. Em 2014 o Governo Regional abriu mão do sector da energia na Madeira. Ficou com 49% da empresa. O resto do capital – 51% – está nas mãos de um grupo de empresários. Apenas se sabe que Jaime Filipe Ramos é o sócio que detém a fatia mais gorda do dinheiro disperso em acções.

Enquanto Maria espera, distrai-se a olhar para o porto. É a quarta vez, este ano, que o "Queen Mary II" faz escala no Funchal. O porto é demasiado pequeno para o número de escalas de cruzeiros. Em 2010 foram 300, este ano, prevê-se que feche com 550 atracagens. Quase o dobro de há 10 anos atrás. África está na moda e a ilha da Madeira é um ponto obrigatório de passagem na “descida” e no regresso dos paquetes à Europa.


O Porto do Funchal precisa de novas obras. As últimas, realizadas em 2008, 9 e 10, não resolveram o problema de fundo do Porto. Há 4 anos (2016) que o "Lobo Marinho" sai do Caniçal para a ilha do Porto Santo. As preocupações ambientais e o preço insuportável dos combustíveis, determinaram a nova realidade. Partilha a linha com os espanhóis da "ARAMAS". Depois de uma luta que durou anos, o armador conseguiu entrar na rota. Para já, o barco espanhol só faz o Verão. O resto do ano, não justifica um segundo operador na linha.

A disputa política está ao rubro. Pela primeira vez na história da autonomia, os socialistas têm hipótese de chegar ao poder. Os madeirenses estão divididos. Faltam 4 meses para as eleições (Outubro de 2020) e as sondagens: - a do Diário de Notícias dá a vitória ao candidato Social-Democrata. Um outro estudo de opinião, aponta Bernardo Trindade como o próximo Presidente do Governo. Trindade já tinha sido candidato nas regionais de 2016, mas foi derrotado. O PSD é um partido irreconhecível. Desde que Alberto João Jardim saiu em 2011, as tropas desmobilizaram.

A população da ilha está em queda. As novas vias de comunicação aceleraram a desertificação da Madeira rural. O norte perde todos os anos gente. Até em Câmara de Lobos diminui o número de habitantes. Os concelhos metropolitanos do Funchal, Santa Cruz, Machico e Ribeira Brava, continuam a ser os mais populosos, mas existem agora menos pessoas a viver nestas localidades.

No turismo, o excesso de camas - 38 mil - preocupa os hoteleiros. Nos últimos 7 anos alguns hotéis encerram as portas. Sobretudo os maiores. Ganham fôlego as quintas e o turismo rural. Também encurtou o número de dias de férias. Passou de 5 para 3.
A Madeira é um destino de repouso activo – especialmente passeios pela natureza. Acabaram os turistas que vinham gozar as férias grandes.

Há 12 anos (2008) o governo era e continua a ser o terceiro empregador – na altura dava trabalho a 20 mil funcionários públicos - logo a seguir ao turismo e aos serviços. A construção civil foi o sector que sofreu a maior queda. Representa agora apenas 8 % da população activa. No início do século (2000) trabalhavam 122 mil madeirenses (total Madeira) contra pouco mais de 102 mil agora.

Agravaram-se as desigualdades entre ricos e pobres. Cresceu nos últimos 10 anos o número de famílias que dependem da ajuda das instituições de solidariedade para sobreviver.

A Calheta, sobretudo, a Ponta do Pargo é uma espécie de oásis dos novos ricos. O campo de golfe atraiu investimento. Os magnatas da ilha compraram terreno, outros, vivendas de luxo. Pequenas fortunas. Custam entre 650 mil e um milhão de euros. A maioria dos compradores destas “villas” são estrangeiros. Turistas russos que começaram a chegar à Madeira em 2007 com “dinheiro vivo” – não recorrem à banca – para investir. Especialmente em terrenos e imóveis.

O Porto Santo deixou de ser o destino de férias de Verão dos madeirenses. A classe média-alta e média deixaram perderam poder de comprar para fazer férias na ilha. Os preços dos hotéis são insuportáveis e o turismo paralelo (casas arrendadas) também está caro. As Canárias são a opção mais económica para as famílias que ainda podem fazer férias.