8.4.05

A justiça que temos

"Do caso saiu um outro processo: a Inspecção-geral da Saúde iniciou uma investigação às ligações entre médicos e laboratórios no seguimento das denúncias de Alfredo Pequito e confirmou a existência de créditos de vários tipos em troca da prescrição de medicamentos, o que deu azo a um processo judicial que envolve vários médicos e laboratórios."

in Publico-on line (www.publico.pt)

Apesar de tudo isto, a multinacional Bayer foi absolvida no "caso Alfredo Pequito". É a justiça que temos...

7.4.05

Boa notícia

Reabre hoje ao público o cine Max. Com a promessa de mostrar cinema independente ou, pelo menos, filmes menos rodados nos circuitos comerciais. Espero que o projecto vingue. A Teresa merece-o. Pelo que tem feito pela divulgação da 7ª Arte neste rochedo ultra-periférico.

"Mar Adentro" será o primeiro filme em cartaz. A não perder.

5.4.05

António Borges

O Sr. António Borges, certamente farto de ser vice-presidente de uma instituição capitalista qualquer, vai apresentar uma moção de estratégia global ao congresso do PSD. A resma de papel ao que parece promete. Muita gente subscreve (incluindo Balsemão) e muitos sectores abanam-se convencidos da teoria do homem e do seu conhecimento. Falsa esperança. Nem um centésimo do PSD vai conhecer a moção (que por si só não será mais do que um simples plano de intenções e frustrações várias e sortidas) nem o Sr. António Borges e sua trupe vão ter o impacto desejado dentro do partido. Não sendo um movimento burguês qualquer e espontâneo, este novo movimento dentro do PSD (só do PSD?), armado em moralista e transparente (???) e que pretende fazer da política um clube privado, só pode ser um movimento de aristocratas onde os senhores, do alto da sua sapiência e conhecimento (e já agora autismo), vão debitar algum ruído e ideias gastas com o propósito de ensinar ao povo as virtudes do seu modo de fazer política (claro que enquanto esperam, futuramente, tirar dividendos, que é como quem diz, ser ministro ou qualquer outra coisa melhor). O Sr. Borges não vale o esforço. Basta ler e ouvir as entrevistas e analisar os “militantes” e “barões” que o acompanham: falam com muita erudição, desdobram-se em poses sérias, falam de sonhos e estatísticas, de milagres e reformas, de pequenas revoluções, do maravilhoso mundo civilizado já ali ao lado, de gente bonita e inteligente deslumbrada com a macroeconomia e outros derivados. No fundo, são uma versão melhorada do nunca me engano e raramente tenho dúvidas que no passado fez furor e sucesso. Felizmente para nós, e infelizmente para eles, ninguém, tirando os jornais e o Sr. José Manuel Fernandes (que anda muito atarefado e preocupado com o futuro da direita), lhes passará cartão. E ainda bem.

Marques Mendes

Na corrida ao PSD, com moção e tudo, está o incontornável Luís Marques Mendes. LMM é uma espécie de dois-em-um de duas alas muito influentes dentro do actual PSD: os cavaquistas e os marcelistas. A maioria desta gente sobrevive, estoicamente desde há muito tempo, na política, usando os mitos sebastiânicos e promovendo histórias da carochinha, enquanto espera para ver para que lado puxa a corrente sempre com o intuito, ao que parece legítimo e legitimado, de se safar. As principais preocupações deste grupo são, pelos vistos, fazer de Cavaco Silva presidente (como se isso fosse a coisa mais importante para Portugal) e dar uma imagem muito impoluta de gente séria e cumpridora dos seus deveres políticos, exactamente o oposto daqueles que os antecederam. Sócrates comerá, literalmente, toda esta gente de cebolada e agradecerá tão agradável petisco.
O PSD de Luís Marques Mendes representa um regresso ao passado sem sentido, com pouco esclarecimento, sem qualquer ruptura e com total conivência com o regime político vigente, onde o PS usará a seu bel-prazer a máquina do Estado para levar a água ao seu moinho. Mendes limitar-se-á a esperar que o poder lhe caia no colo (se antes não for corrido), enquanto luta abnegadamente para ganhar as eleições que se avizinham. O PSD que se prepare: a travessia pode ser longa. E dura.

Menezes

Luís Filipe Menezes representa a ala mais populista do partido. Contra si tem a péssima experiência recente de Santana Lopes (que o PSD não quer ver tão cedo repetida) e os barões que muito provavelmente já lhe minaram o terreno acertando as suas estratégias pessoais com o cavaquismo revisitado. Mas louve-se a ousadia de Menezes na promoção de rupturas e no agitar das águas com algumas medidas interessantes e mediáticas (ainda que só).
Menezes estará praticamente sozinho, totalmente despido de gente influente nas suas fileiras e com muito poucas hipóteses de sucesso. Tão cedo ninguém esquece a tragédia santanista e Menezes tem sobre si essa velada ameaça de representar uma espécie de ressurreição. Mas pelo menos vai à luta, apresenta moção, candidata-se e, espera-se, não desiste. Outros não podem dizer o mesmo.
A esta distância é duro antecipar o resultado que o espera, mas Menezes, é um combatente hábil que venderá, certamente, cara a derrota. Joga com o facto de não pertencer à classe política lisboeta o que é, simultaneamente, uma vantagem e uma desvantagem (é muito complicado penetrar em classes herméticas que se protegem e se reproduzem). Contudo podia ter evitado alguns exageros que denotam insegurança e pequenez de horizontes: dizer que vai ter uma mulher como secretária-geral e que vai dar o cargo de secretário-geral adjunto à JSD são propostas perfeitamente desenquadradas, que não têm qualquer sentido prático e que se podem revelar erros políticos graves explorados pelos seus adversários.
No PSD, parece-me óbvio, acontecerá como no PS na altura de Soares, Alegre e Sócrates: ganhará o candidato que mais rapidamente der garantias de um rápido retorno ao poder. E esse candidato, para os barões e seus derivados, não é Menezes. Já se percebeu isso.

4.4.05

Nobel para Cohen

Há um movimento quer quer ver Leonard Cohen galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.

Eu sou, confessadamente, fã da música e da poesia de Cohen. Mas daí até considerá-lo merecedor de um Nobel vai uma distância grande. Sobretudo porque a obra do canadiano sofreu sempre consideráveis oscilações qualitativas. Cohen é capaz de escrever extremamente bem. Mas também é capaz de produzir coisas sem interesse nenhum.

"Belos Vencidos", curiosamente um dos romances emblemáticos do músico e escritor, é disso bom exemplo. Quem consegue ler "aquilo" até ao fim - eu transpirei para o fazer - não acredita que o autor seja o mesmo tipo que escrevera "The Favorite Game", ou poemas (canções) como "Dress Rehearsal Rag", "Suzanne", entre muitos outros.

Sei que há quem compare "The Field Commander Cohen" a James Joyce, ou a Allen Ginsberg (esta segunda comparação parece-me não ter grande nexo...enfim) mas eu, francamente, creio que a obra do canadiano não será vasta, e uniforme (em termos de qualidade), para lhe valer o Nobel.