17.4.08

Imprensa livre... mas pouco.

Em dois dias cerca de 60 mil trabalhadores da administração pública saíram à rua e, percorrendo a comunicação social portuguesa, parece que nada aconteceu.
Digam o que quiserem, mas a verdade é que a coincidência (?) da tradicional propensão dos órgãos públicos de comunicação social para bajular o poder, com a entrada de Pina Moura para a Media Capital e um interesse ainda não totalmente claro do grupo Impresa em proteger este governo da República, (o Expresso e os boletins noticiosos da SIC têm roçado o servilismo mais básico), ameaça estrangular definitivamente a pluralidade, a transparência, o rigor e a isenção da informação em Portugal.

Aguenta, Chalana


Confesso... Soube mesmo bem. Aguentem-se, que a vida é dura! A jogar como o fizemos na segunda parte, que venha o Porto!

16.4.08

Sensibilidade e bom senso II*

Sinceramente, para quem tanto clama por transparência, rigor e honestidade, começa a soar demasiado hipócrita todas as suspeições - sem qualquer sombra de prova ou sequer de argumento válido - levantadas pelo deputado Carlos Pereira no seu blog.
E é curioso que, sendo independente, conforme faz questão de gritar tantas vezes, assuma todo o odioso do Partido Socialista madeirense: lançar suspeitas sobre a honestidade e idoneidade dos outros, assim ao jeito do Pravda e do Garajau.
Não deixa mesmo de ser estranho que outras figuras de proa do PS, como Miguel Fonseca, André Escórcio e Rui Caetano assumam, nos seus blogs, posições bem mais comedidas e infinitamente menos demagógicas. Cada um com o seu estilo e forma de estar na blogosfera (a sátira, qualidade literária e profundidade de Miguel Fonseca; as legítimas e - quer me parecer - as apartidárias preocupações sociais de Rui Caetano; e a experiência, pertinência e perspicácia políticas de André Escórcio) contribuem e de que maneira para o debate (ou, pelo menos, reflexão a) sério. Já a maior parte (porque, em boa verdade, por vezes Carlos Pereira esquece os demónios e os ódios pessoais e produz reflexões pertinentes) das investidas do deputado nada acrescentam ao debate político da blogosfera.
Acusar-me-ão do mesmo, que nisto de crítica fácil, reconheço-me muita qualidade. Limito-me a dar asas ao que penso, sem qualquer tipo de lapidação. Vai em bruto, como me ocorre. Mas eu não sou, nem tenho aspirações a político. E, por muita legitimidade que reconheça ao cidadão Carlos Pereira para expandir a sua indignação, ele não é um cidadão anónimo. Tem responsabilidades políticas conferidas pelo voto de milhares de cidadãos e tem a obrigação de ser responsável nas suas afirmações. Porque, não sendo esquizofrénico, o que Carlos Pereira escreve não o responsabiliza apenas a ele. As repercussões ultrapassam-no.

* Título de um livro de Jane Austen

14.4.08

Carta ao fisco

Querido Fisco

No meu casamento, que se realizou no dia ..., estiveram presentes 120 convidados: 89 adultos, 9 crianças e 2 bebés. A festa teve lugar na Quinta ... do meu padrinho Luís M. que me presenteou a boda ( as cópias dos talões do talho, da mercearia e da peixaria seguem em anexo).
A minha tia Alzira S., que é costureira, fez-me o vestido e não cobrou nadinha, mas gastei 60€ em tecidos, 34,5€ nas rendas e bordados e 18,75€ em linhas, botões e alfinetes. As meias e as ligas ficaram por 35€, conforme recibos que envio. O noivo usou o fato da Comunhão Solene com umas ligeiras alterações (a Tia Alzira não cobrou nada).
O meu irmão foi o fotógrafo de serviço. Todas as fotografias foram enviadas aos convidados por e-mail, que imprimirão as que entenderem por sua conta.
Não foi alugada qualquer viatura. Eu fui na Charrete do Sr. José M., que andou comigo ao colo e é como um pai para mim. O Manuel ( o noivo) foi de mota: a mota dele que ainda está a acabar de pagar, conforme se comprova com documento.
As flores foram todas do jardim da minha avó Margarida e a minha prima Mariana F. que é uma moça muito prendada fez os arranjos.
A animação da festa esteve a cargo do irmão e dos primos do Manuel, que têm uma banda - os 'Sempr'Abrir' que merecem ter sucesso.
Não pudemos aceitar nenhum dos presentes, uma vez que não vinham acompanhados dos recibos.
Os charutos cubanos que um amigo nosso nos trouxe de Cuba ficaram para nós, porque não os declaramos na Alfândega, e assim não os podíamos oferecer para agora provar o seu custo.
Os preservativos comprou-os o Manuel naquelas máquinas que estão longas horas ao Sol (porque é um rapaz muito introvertido), mas que não dão recibos, o que me permite escusar-me a revelar o seu número, não vá, daqui a alguns anos, lembrares-te de cobrar retroactivamente uma taxa pelas que foram dadas na lua de mel.

Maria Julieta Silva Chibo e Manuel António Sousa Chibo

Recebida via e-mail.

Perante a evidência do patético só nos resta rir.

Impressionante


Garantem que a foto é real, da autoria de Agostinho Spínola e que foi publicada no Diário de Notícias da Madeira.
Não tendo razões para duvidar, parece-me difícil ser manipulada, pois o contínuo da onda é brutal. O que aumenta a minha perplexidade. Quem não conhece as Poças do Gomes (conjunto de piscinas naturais também conhecidas por Doca do Cavacas) poderá não perceber bem a dimensão do pequeno monstro, mas para quem ali passou verões (e invernos) inteiros, quem já viu marés vivas e conhece a profundidade, esta onda apenas poderá ser adjectivada de monumental. Porque não se compara a nada que eu tenha já ali visto (e já vi tempestades enormes...). Impressionante!
Parabéns ao autor da fotografia.
Ultraperiferias, via Basta que Sim.

13.4.08

PS vota contra complemento de reforma para idosos madeirenses

Uns tipinhos que se afirmam socialistas eleitos para defender o povo madeirense, votaram contra uma proposta de lei da Assembleia Legislativa da Madeira, que propunha a atribuição de um complemento mensal de pensão de 50 euros a todos os cidadãos residentes de forma permanente na Madeira que usufruam de pensão por velhice, invalidez ou pensão social.

Votam contra os idosos madeirenses e ainda têm cara de pau para justificar o seu voto.
E não percebem porque é que os madeirenses não confiam neles. Começo a achar que o problema não é apenas político ou sequer de competência. O caso pode mesmo ser patológico...

Cantar de emigração

Os tempos que vivemos são preocupantes. A nossa democracia não está apenas doente: está em risco. Por isso nunca é demais recordar Abril e as suas vozes. É o que tenho feito. Deixo-vos com o Cantar da emigração, de Adriano Correia de Oliveira. Para nos recordarmos que o fenómeno da emigração regressou. E para não perdermos essa capacidade de nos perguntarmos porquê!

Poema de liberdade

Queixa das almas jovens censuradas*

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.
Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.
Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.
Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.
Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.
Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.
Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.
Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.
Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.
Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.
Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.
Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

Natália Correia

* Magistralmente musicado e interpretado por José Mário Branco