12.7.07

True love

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria.
O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.
Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o Amor."

S. Paulo, in Bíblia (I Epístola aos Coríntios, 1.13)
PS - Nos posts com excertos não costumo fazer comentários, mas não resisto a este. Há alguns anos, um amigo disse-me que o Cântico dos Cânticos terá sido uma das leituras mais eróticas que alguma vez havia feito. Pois para mim, esta é uma das mais belas passagens sobre o Amor. Absolutamente divinal, que mostra bem o que deveria significar ser-se cristão.

11.7.07

É isso aí!

Tempo para ser feliz

"E, sentado num rochedo, palpando-lhe a crosta enrugada com os dedos, via o mar subir silenciosamente, à luz do luar. Pensava no rosto de Lucienne, que tantas vezes acariciara, e no calor dos seus lábios. Sobre as águas, o luar, como um óleo espalhado, desenhava longos sorrisos errantes. A água devia estar tépida como a boca de uma mulher, macia e disposta a abrir-se sob os lábios de um homem. Mersault sentia como a alegria é irmã da dor, absorto por completo naquela silenciosa exaltação em que se tecem e entretecem as esperanças e os desesperos da vida de um homem. Consciente, e no entanto estrangeiro, devorado pela paixão, e desinteressado ao mesmo tempo, Mersault via que a sua própria vida e o seu destino tinham ali o seu termo e que todo o seu esforço, dali em diante, seria para se habituar àquela felicidade e enfrentar aquela verdade terrível."

Albert Camus, in A Morte Feliz

Eu cá não sei

Se a senhora desconhece tudo o que se passa no seu Ministério, que raio anda por lá a fazer?

Este foi roubado

Um dos posts mais giros que li nos últimos tempos. Tá meio desactualizado, eu sei. Mas achei graça. Roubado aqui.

Notícias Peculiares do mundo desportivo"Joe Berardo quer Rui Costa na exposiçãoAfinal, Joe Berardo tem planos maiores para Rui Costa.
O comendador benfiquista quer tirar o médio dos relvados...e transferi-lo para a sua exposição no Centro Cultural de Belém.

Berardo considera Rui Costa velho para os relvados, mas vê-o com um grande futuro como obra de arte

"Fuck yeah! Acho que vai ficar bem ao lado do quadro de um gajo que se chama Picasso ou lá o que é. Vale 18 milhões...Mais ou menos o que o Rui Costa valia em 2000", afirmou o comendador, explicando ainda a razão que o levou a lançar a OPA ao Benfica: " Fernando Santos mete a equipa a jogar de tal modo que até parece arte abstracta. É uma mistura do vazio de Kandinski com a loucura de Dali."

Questionado sobre a possibilidade de incluir mais algum jogador na exposição, Joe Berardo afirmou ainda ter pensado em Nuno Gomes, mas acabou por descartar a hipótese, por não ser muito apreciador de naturezas mortas.

As camisolas cor-de-rosa foram também uma ideia de Berardo. Uma forma de aderir às novas tendências e de criar um novo impacto nos adeptos

"Fuck listen! Ver o Petit vestido de cor de rosa é um choque para o adepto. É a mesma coisa que ver o Conde Drácula vestido de Floribella, you see, desperta em nós sensações de horror e ao mesmo tempo, de beleza" concluiu Berardo."

Em cheio

Como muitas vezes acontece, o Vasco acertou em cheio.

Roubado mal e porcamente aqui.

10.7.07

Porque me apetece

Como já devem ter reparado, há algum tempo que ando a postar excertos.
Não há qualquer critério na selecção, excepto serem excertos de autores que admiro. Continuarei a fazê-lo, até deixar de o fazer. Divirtam-se!

Descrédito ao serviço do governo

Se dúvidas ainda existissem, eis como um editorial se dedica a fazer campanha pelo candidato do partido do governo. Pena que as notícias ou a memória desmontem tão penosa argumentação.

Um almoço

Há dias almocei com um amigo que não via há muito tempo. A conversa, sempre interessante, descamba para o ritmo frenético das sociedades onde o stress, a má alimentação e os vícios instituídos aparentemente provocam anomalias graves ao seu funcionamento. O meu amigo defende a intervenção do Estado no assunto, um pouco à semelhança das novas teorias que por aí estacionaram. Confesso-lhe o meu drama e o meu horror: em nome do Estado muita utopia foi perseguida e muita gente queimada. O argumento não o demove. Por momentos, calculo que o meu amigo também seja dos fanáticos que só comem moderadamente, que não bebem, que não fumam e, desconfio eu, que também não copulam, não vá o coração ceder.

De cada vez que oiço alguém falar sobre exercício, colesterol e doenças com nomes estranhos, o Castelo dos Hambúrgueres assume-se como maravilhosa desforra e agradável premonição. No fundo, adoro pensar em dieta enquanto mastigo e enfardo suculentos nacos de carne a pensar na refeição seguinte. O meu amigo ouve-me e, claro, contesta, barafusta, esperneia, grita. Remato dizendo-lhe que o Estado já está a cuidar de nós e que não vale a pena a conversa gerar um ataque cardíaco súbito. Dou-lhe um simples exemplo: o Lucky Luke, que anda a cavalo (um meio de locomoção amigo do ambiente, se exceptuarmos as bostas lançadas, embora sejam sem chumbo 95), ficou sem o cigarro para herdar um pedaço de inestética palha. Tudo em nome da promoção dos estilos de vida saudáveis tão do agrado dos governos.

Claro que um dia, temo eu, esta situação poderá ser mudada. Afinal, nunca se sabe se não vão descobrir que mastigar palha pode provocar trezentos e dezasseis cancros de variada ordem. Ou que andar a cavalo pode provocar a perda de virgindade nas meninas. Mas isso serão outras histórias. Ou outros argumentos se preferirem.

O Live Earth II

Depois do concerto veio o debate na RTP. Na conversa, concluiu-se, imagine-se a surpresa!, que o homem é o único responsável pelo aquecimento global e por todas as suas nefastas consequências. À cabeça, o suspeito do costume que atende por Estados Unidos, mais o capitalismo selvagem que tudo comercializa e que também é receita para todos os males. Lamentavelmente, a tese merecia ser contrariada por alguém que estivesse, ainda, na posse de todas as suas faculdades mentais. Talvez bastasse lembrar que há poucos séculos atrás, a temperatura sofreu iguais alterações, ao que consta sem interferência do capitalista americano, esse indigente sem escrúpulos. Curiosidade acessória: os EUA não existiam na altura. Podíamos ir mais longe: quem sabe até à extinção dos dinossauros e ao parque jurássico. Mas como hoje em dia debater significa juntar em estúdio gente com a mesma opinião politicamente correcta, mais a Maria Elisa recentemente ressuscitada, percebi que o erro só podia ser meu. Como alguém me costuma dizer, homilias só na missa. E ainda assim, acrescento eu, depende do padre.

O Live Earth

Em várias cidades do mundo, a guitarrada saiu à rua durante 24h. Objectivos: alertar para o aquecimento global, promover o Sr. Al Gore, que por acaso passava nas redondezas, e espantar as poucas aves que ainda restam. Folgo em saber que os senhores músicos são uns entusiastas do ambiente e que não têm carros potentes, casas energeticamente disformes (como o Sr. Gore) e que não são doidos a comprar, e a gastar, coisas que não precisam, produzindo lixo desnecessário. De qualquer maneira, muita gente se entusiasmou com a chamada de atenção para a poluição e outras variantes, fenómeno muito em voga e que fica bem no gráfico. O próprio Sr. Gore, nota-se, está mais gordo. No fundo, um sinal inequívoco que o ambiente já recupera.

"Lassidão tingida de espanto"

"Começar a pensar é começar a ser consumido. A sociedade não tem grande coisa a ver com estes princípios. O veneno está no coração do homem. É aí que ele deve ser procurado. Esse jogo mortal, que vai da lucidez perante a existência à evasão fora da luz, é preciso segui-lo e compreendê-lo. (...)
O suicídio é apenas a confissão de que a existência não vale a pena. (...)
Qual é então esse incalculável sentimento que priva o espírito do sono necessário à sua vida? Um mundo que se pode explicar, mesmo com más razões, é um mundo familiar. Mas, pelo contrário, num universo subitamente privado de ilusões e de luzes, o homem sente-se um estrangeiro. Tal exílio é sem recurso, visto que privado das recordações de uma pátria perdida ou da esperança de uma terra prometida. Este divórcio entre o homem e a sua vida, entre o actor e o cenário é que é verdadeiramente o sentimento do absurdo. (...)
O sentimento do absurdo pode esbofetear qualquer homem à esquina de qualquer rua. Em si mesmo, na sua nudez desoladora, na sua luz sem esplendor, é inapreensível. (...)
Acontece que os cenário desabam. Os gestos de levantar, o carro-eléctrico, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição carro-eléctrico, quatro horas de trabalho, refeição, sono, segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo, essa estrada segue-se com facilidade a maior parte do tempo. Só que um dia o «porquê» se levanta e tudo recomeça nessa lassidão tingida de espanto. (...) A simples preocupação está na origem de tudo."

Albert Camus, in O Mito de Sísifo

Júdice culpado de trapalhada

Sinceramente não acredito que José Miguel Júdice se tenha prestado a jogadas politiqueiras de bastidor para benefício próprio. Por mais que não seja porque o homem não precisa. O seu prestígio precede-o.
Mas é muito estranho Júdice ter aceite ser mandatário de António Costa e ser depois nomeado para coordenador da recuperação da frente Tejo. Para além de não se conhecer os méritos de Júdice ao nível de urbanismo ou de gestão e administração.
Todavia, eu tenho o ex-bastonário por homem sério (o mesmo já não digo de António Costa ou José Sócrates) e dou-lhe o benefício da dúvida. Na minha opinião, o único pecadilho que podemos imputar a Júdice é a falta de discernimento para recordar a velha máxima de Cícero: à mulher de César não basta ser séria; é também preciso parecê-lo.

Watch again!

Hoje em dia, "sociedade civil" é sinónimo de "Compromisso Portugal". E é ver a comunicação social portuguesa (especialmente aquela especialista em economia que também se julga especialista em política) embevecida a olhar os seus paladinos... Que é como quem diz, os defensores do neo-liberalismo. Patético, se não fosse tão perigoso!

9.7.07

O regresso

O meu fim-de-semana despertou com uma visita ao Espigão. Trata-se de uma pequena localidade no concelho da Ribeira Brava. O carro já chega lá, mas uma vereda continua a ser percorrida por muitos moradores. Precisam meia hora para descer montanha abaixo. 45 para subir. É um dos sítios mais bonitos da Madeira. Não vem nos guias de turismo e a maioria dos madeirenses não sabe onde fica.

À noite fui à poncha. Ia tomar uma, bebi duas…. À saída foi interpelado por dois indivíduos.
-Perdon, Funchal???
A resposta foi imediata.
-Não!

A Caminho, repensei….e questionei quem me acompanhava se deveria ou não dar boleia. Realizadas as considerações, sobre o aspecto, a pronúncia, concluímos que seriam canários. Regressei , de propósito, para lhes dar boleia. Uma das primeiras perguntas foi de onde eram? Barcelona! Tinham acabado de aterrar. Apanharam um táxi e foram por indicação do recepcionista do hotel a Câmara de Lobos. Queriam voltar para o ponto de partida mas não existiam táxis.


Na sexta enquanto o povo superior ouvia jazz, passei pelo café do Museu. Reparei que a Igreja do Colégio já está de rosto lavado. Também vi uma simpática senhora. Separava-nos uma mesa. Ofereci-lhe uma bebida. Pediu ao empregado um café.
O tecno embalava a noite dos que chegavam. Entretanto ela adormeceu. Antes olhava para o vazio. Aproveitei para perguntar quem era. O empregado disse que costumava aparecer e ficava por ali até à hora de fechar (2 horas)…Dizia-lhes que tinha um quarto!