3.6.05

Europa

Esta Constituição não nasceu de uma reflexão sobre o que é a Europa e sobre as bases em que crescerá.

A Europa é o quê? Um espaço geográfico? Um espaço político? Um espaço de partilha cultura e de valores civilizacionais? Um bloco económico? Uma mistura destes todos?

Afinal, de que falamos quando nos referimos ao conceito de Europa?

Sem estas definições, é impossivel responder a perguntas simples. Exemplos: deve, ou não, a Turquia entrar no espaço único europeu? Deve a Europa receber, no seu seio, países de forte influência europeia, mas que, geograficamente, não pertencem ao espaço continental compreendido entre o Atlântico e os Urais? O alargamento a leste deve continuar?

Quais serão as directrizes da política externa comum? Previlegiará o eixo Atlântico? O Leste? Países lusófonos? francófonos? Tudo? Nada? Em resumo, que figura fará essa espécie de "senhor PESC" refrescado? Para onde irá?

Este é o tempo certo para responder a estas questões. Para percebermos onde vamos. Para parar e pensar. O Tratado Constitucional é, por isso, um passo maior do que a perna. E, se for aprovado, acabará por matar a própria Europa, asfixiando-a num rol de contradições. É por isso que qualquer europeísta deve estar contra este suposto avanço.

Só para terminar, aconselho a leitura de um texto magnifíco do filósofo espanhol Gustavo Bueno sobre a Constituição. Está em http://www.nodulo.org/ec/2005/n036p02.htm

2.6.05

Por favor, esclareçam-me!!!

A dinâmica negacionista cresce a cada dia que passa. Chovem os opositores, acotovelam-se os argumentos anti, brotam os gritinhos entusiasmados pelos resultados da França e da Holanda.
Toda a gente tem direito à sua opinião, qualquer tomada de posição terá o seu valor intrínseco mas, convenhamos, o valor de uma opção cresce exponencialmente se soubermos quais os factores que a suportaram. É nesta perspectiva que me encontro num estado de alguma perplexidade uma vez que 90% daqueles que apoiam o não à Constituição Europeia, fazem-no sem saber porquê e, consequentemente, sem avançar com as alterações, adendas e/ou supressões que quereriam ver consideradas.
A horda move-se sem destino e sem controlo.
Porventura, existirão aspectos que devam ser melhorados mas não consigo compreender a posição de certos portugueses que, desconhecendo ou, mais grave, conhecendo "ao de leve" o texto da Constituição, afirmam ruidosamente que são contra. Estarão esquecidos das vantagens do projecto europeu, estarão olvidados do Portugal pré-1985, julgar-se-ão capazes de prosseguir "orgulhosamente sós", serão as disposições em causa tão diversas das actuais, estaremos perante uma refundação absoluta da Europa ?
Urge, com efeito, um profundo debate. Só assim poderemos combater tanta "santa" ignorância, que por aí, teima em aparecer.

Certidão de óbito

Segunda-feira, quando anunciar a anulação do referendo no Reino Unido, o Governo de Blair vai passar a certidão de óbito do Tratado Constitucional Europeu.

Que Deus o guarde (ao Tratado) em eterno descanso!

O sobrevivente

Muitos militantes do CDS-PP da Madeira advogavam a teoria de que José Manuel Rodrigues não sobreviveria às "autárquicas". Num partido sui-generis seria substituido, diziam, por Ricardo Vieira, líder que curiosamente o antecedera, numa espécie de "jogo das cadeiras" só com dois jogadores e um assento.

Pois bem, mais uma vez a capacidade de sobrevivência de Rodrigues veio ao de cima. Convencendo Vieira a candidatar-se à Câmara do Funchal, conseguiu que o rival se tornasse cúmplice dos maus resultados que esperam o partido. E garantiu a sobrevivência. Até às próximas regionais, que lhe valerão mais quatro anos na Assembleia Regional.

Convencer Vieira não terá sido assim tão dificil. Dizem as más línguas que o ex-presidente quer voltar a ser presidente. Mas prefere aguardar, tranquilamente, pela saída de Jardim da liderança do PSD e do Executivo da Madeira (algo que, pelo andar da carruagem, não acontecerá tão cedo). Traçada a estratégia, é fácil perceber que a Ricardo Vieira fica bem "dar a cara num momento dificil, etc. e tal" - adoro a gíria política!

Mesmo assim, curioso curioso é o facto do candidato do PSD, Miguel Albuquerque, ter como adversários dois candidatos com uma particularidade em comum. Como diria alguém que conheci há muitos anos, deixo a observação à laia de "adivinhança"...

Bem dito, general!

Muito bom o texto de Loureiro dos Santos, impresso na edição de ontem do Público, sobre a construção europeia.

Diz o general que há um desfazamento claro entre o discurso das elites e aquilo que pensam os europeus sobre o progresso da construção da Europa unida. Concordo em absoluto.

1.6.05

Fundo da gaveta

A Espanha dera um sim condicional. A França votou não. Espero, honestamente, que a Holanda siga o exemplo gaulês. E que o Tratado Constitucional - "mera simplificação dos tratados anteriores", dizem os defensores do sim - siga alegremente para o fundo de uma qualquer gaveta.

Pena que em Portugal se procure evitar o debate. Se tente, a todo o custo, esvaziar o conteúdo político do Tratado. E se teime na decisão de fazer o referendo em simultâneo com as "autárquicas".

Post-Scriptum 1: Curiosa a posição assumida por alguns intelectuais da esquerda moderada face ao comportamento dos eleitores franceses. Após anos a elogiar o esclarecido e culto povo gaulês, vêem agora dizer que os franceses votaram não por razões de política interna denotando, por isso, alguma falta de discernimento...

Numa coisa estou de acordo com eles: há na Europa um notório distanciamento entre a classe política e a generalidade dos cidadãos. As posições face à construção europeia são prova disso. E não significam que haja pouca informação, ou que os eleitores sejam pouco sensatos...

Post-Scriptum2:O sítio do Não (www.sitiodonao.weblog.com.pt) continua a contribuir para o debate.

Inversão

A excessiva centralização da tomada de decisão política num partido conduz ao afastamento das bases e, a médio prazo, a dificuldades eleitorais. O PSD-M começa a senti-lo. Em São Vicente, na Ponta do Sol... E em Novembro, promover autos de fé para encontrar os culpados das derrotas anunciadas será perda de tempo. Até porque o papel de algumas personagens acabará por se inverter.