"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
12.1.07
Ainda a propósito do aborto
Mas, atendendo ao facto do Gonçalo ter resolvido promover uma discussão aberta no Conspiração às 7, deixo apenas alguns temas de reflexão, e a minha opinião sobre algumas das questões.
Assumo que acredito que a vida se inicia no momento da fecundação. O processo da vida é um processo ininterrupto, que se inicia no momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo. Esta é uma verdade contestável, é certo, mas apoiada por muitos cientistas, entre os quais um dos maiores especialistas portugueses, o Dr. Gentil Martins. Portanto, entendo que qualquer óvulo fecundado é já uma forma de vida, ainda que desconheçamos alguns dos seus processos.
Poderia evocar inúmeras razões para votar NÃO. Mas deixo apenas uma. Sou contra a alteração da lei porque entendo que a legislação portuguesa deve ser orientada para a protecção da vida, esteja esta em que estado estiver. Portanto, acho que uma legislação sobre o aborto deve ter sempre como orientação o seu impedimento, pois a regra deve ser a protecção da vida intra-uterina e em caso de dúvida, dou sempre o primado a esta forma de vida.
Aceito, contudo, algumas excepções, que de resto, estão previstas na Lei (Lei 6/84 de 11 de Maio e Lei 90/97 de 30 de Julho). Apenas neste casos (e acho mesmo que a lei portuguesa, por vezes, até é demasiado liberalizante), aceito o primado da liberdade de escolha, porquanto colocam-se questões profundas de dignidade e qualidade de vida.
Votarei,ainda, Não, porque entendo que as leis devem servir para resolver problemas e não a promiscuidade que os rodeia.
PS – Caro Gonçalo, não é o tigre, mas lince e ao contrário do que disse a Rubina, não se designa por Lince da Malcata, mas Lince Ibérico. Afinal, o bichinho – que é o felídeo mais ameaçado do mundo - já foi comum a toda a Península! Bom fim-de-semana.
Pequena aldeia global
Já um grego de Atenas andava a navegar calmamente pelo Blogger quando deu connosco.
Com muita pena, não creio que tenhamos condições para satisfazer as necessidades do nosso amigo romeno. Blog errado, meu caro!
Gostava ainda de perceber porque razão o camarada grego ficou quase 5 minutos entre nós... Juro que gostava!
É assim, esta pequena aldeia global...
Ainda sobre o aborto
Na questão da discriminalização do aborto, existem questões fundamentais. A primeira é de ordem metafísica e não me parece passivel de grande discussão, ou seja, há quem acredite que a vida começa no momento da concepção e há quem acredite noutra coisa qualquer, portanto, não há volta a dar ao assunto.
As outras, porém, são bem reais. Vamos a elas.
A alteração da Lei garante que as mulheres não serão julgadas por abortarem?
Não. A proposta de mudança diz, apenas, que o aborto será permitido até às 10 semanas, ou seja, continua a ser crime abortar às 11. Ou, se quisermos ser mais radicais, às 10 semanas e um dia. Sendo assim, continuará a ser possivel levar mulheres a tribunal por abortar.
A alteração da lei garante que todas as mulheres terão condições de segurança para abortar? Acabar-se-ão os abortos em "vão de escada"?
Não. Em primeiro lugar, porque obriga quem quiser abortar a identificar-se. Caso a mulher seja menor, os tutores legais terão obrigatoriamente de ser contactados. E autorizar a intervenção. Isso significa, em primeira análise, uma clara "ingerência do Estado" na esfera privada, contrariando a tua tese de liberdade de decisão por parte da mulher (principalmente se tiver menos de 18 anos). Significa, em segunda análise, que muitos casos mais, digamos... complexos, continuar-se-ão a resolver em... vãos de escada. Ou que, em sítios pequenos (Portugal inteiro com excepção de Lisboa e algumas áreas da zona metropolitana do Porto), muitas moças casadoiras terão de contentar-se com a habitual solução das parteiras, para fugir à pressão social que uma gravidez "pré-matrimonial", e subsequente interrupção, necessariamente acarretam. Resumindo, o negócio do "vão de escada" continuará a florescer. A menos que haja uma política correcta de educação sexual e de prevenção, o que não me parece minimamente contemplado nesta proposta. Quanto à liberdade, então, meu caro, acabe-se com a obrigatoriedade de identificação. E acabe-se com o "limite das 10 semanas". Caso contrário, estaremos a falar de outra coisa qualquer que não a tal "liberdade de escolha".
Concordo contigo quando dizes que conheces bem as pessoas. E até acrescento que sim, acredito que em algumas esferas sociais o aborto pode vir a ser encarado como uma espécie de contraceptivo final.
Também estamos de acordo quando dizes que não existem sociedades ou homens perfeitos. Acho, apenas, que a alteração da Lei terá tão poucos resultados que não justifica que por ela se ponha em causa o princípio basilar, ou seja, o do direito à vida. Se quiseres, é uma questão de "deve e haver". Lembras-te daquela história, bem real, por certo, que repetíamos muitas vezes em miúdos, sobre uma equipa que utilizou a táctica do "bola vem bola vai"? No final, a "bola ficou 14 vezes", ou seja, não adianta chutar para a frente sem resolver o que quer que seja.
Vivemos nuna sociedade com claras limitações cognitivas e de percepção da realidade. Ainda por cima, fortemente marcada pelas doutrinas mais conservadoras da Igreja Católica. Achas que neste cenário, uma alteração da Lei iria resolver os problemas que tão bem apontas no teu texto? Parece-me que não...
Post-Sriptum: Irrita-me o folclore do BE e do PCP à volta deste debate. Então a divisão que alguns iluminados que por lá pululam procuram fazer entre "os-ricos-que-apoiam-o-actual-"status quo"-e-que-por-isso-financiam-campanhas-milionárias e os "pobrezinhos"-ingénuos-que-sofrem-e-não-têm-ninguém-que-os-defenda-do-capital-selvagem-e-presumivelmente-das-parideiras-de-vão-de-escada" é bestialmente idiota. A esses, de facto, apetece mandar "à borda merda". Irrita-me ainda o discurso do tigre da Malcata (espécie respeitável, de resto, e que nada tem a ver com esta treta toda).
Abraço
O aborto
Confesso que nesta matéria tenho mais dúvidas do que certezas. Mas daí até considerar esta temática como uma questão entre conservadores e liberais vai um passo de gigante que temo não conseguir dar. Não é aceitável também que os que votam não sejam tidos como retrógrados e os que votam sim tidos como visionários. Esta questão é muito superior a esta dialéctica simplista e de pouco sentido (neste caso específico) e merece algo mais do que uma simples catalogação. Daí que, talvez, o problema desta discussão resida, boa parte dele, na argumentação simplista e radical. De ambos os lados da barricada, onde naturalmente me incluo.
Já todos percebemos que o discurso irá endurecer. Os cartazes que por aí deambulam são um cheirinho de pouca intensidade para aquilo que se prepara para vir. O número de movimentos anti e pró aborto registados pela CNE, deixa também antever uma participação elevada de vários sectores da nossa sociedade, o que não quer dizer que venha a existir verdadeiro debate. Todos querem convencer (e não esclarecer) e ao radicalizarem as palavras contribuem mais para confundir. Sou a favor da despenalização por vários motivos.
Em primeiro lugar, abordo esta questão como um problema de liberdade. Liberdade da mulher de poder decidir sobre o seu corpo, ainda que até um determinado limite imposto pela lei. Desculpem a presunção, mas responsabilidade é dar às pessoas essa capacidade de discernir e de decidir: não é tratá-las como se fossem incapazes, situação cada vez mais recorrente nos tempos actuais. Isso é que é responsabilizar. E não o seu contrário.
Em segundo lugar, não adianta negar que o aborto é um problema grave no nosso país, com repercussões essencialmente junto das jovens solteiras e desamparadas que olham para o aborto como último recurso. Não acredito que o aborto seja feito de ânimo leve nem acredito que no futuro ele se torne um método contraceptivo por excelência (embora com algumas reticências neste ponto, porque conheço demasiado bem as pessoas).
Em terceiro lugar, é preferível que a prática esteja institucionalizada do que escondida nas mãos de sapateiros de conveniência. É melhor que o aborto esteja nas clínicas privadas do que nos consultórios pré-fabricados de gente que age por carolice ou por simples falta de escrúpulos. A separação entre ricos e pobres é aqui uma realidade inabalável e incontestável: actualmente, quem tem, faz em segurança e bem longe das vistas para não ferir as susceptibilidades; quem não tem, sujeita-se ao que aparece. Não se pode negar esta evidência.
Em quarto lugar, não há sociedades perfeitas. Nem homens perfeitos. Querer construir utopias baseadas nestas premissas é errado. Numa sociedade perfeita não haveria crime, não haveria fome ou miséria, as crianças cresceriam rodeadas de amor e carinho e a educação sexual seria a melhor coisa do mundo para ensinar aos nossos jovens. E também não haveria aborto, fora das causas médicas. Nem adolescentes grávidas. Nem aborto clandestino. Nem mortes estúpidas. Nem uma série de outras coisas. Mas isso seria num mundo perfeito.
Em quinto lugar, sei que a larga maioria de nós é contra a prática (como não podia deixar de ser), mas uma coisa é ser-se contra a prática, e outra bem diferente é condenar-se quem a ela recorre (nem que seja em imagens de tribunal). Isso é intolerável e inaceitável. Infelizmente, o circo que o Bloco ou o PC muitas vezes montam à volta destas situações contribuem mais para afastar do que para apoiar. A mediatização produz o efeito contrário ao desejado, tal e qual como acontece quando se utilizam argumentos que metem os sempre actuais linces da malcata. Um e outro são bons exemplos da radicalização não desejada dos discursos.
A discussão dentro dos limites do razoável, tem alguma pertinência, mesmo que seja profundamente inócua. Na verdade, ninguém irá convencer ninguém porque todos nós temos a nossa opinião formada sobre o assunto e por mais que estrebuchemos ou gritemos não iremos mudar grande coisa. De qualquer forma, conto ainda voltar a este assunto.
RTP-M lança desafio
Os espectadores podem enviar as fotos para sempalavras@rtp.pt desde que sejam os autores dos referidos trabalhos ou que tenham tido consentimento de quem fotografou.
Trata-se de um espaço para retratar o quotidiano a melhorar sempre com o objectivo de garantir um melhor serviço público de televisão.
Ainda o SIM ao aborto
Até compreendo os adeptos do NÃO e aceito que me digam que a vida começa na concepção e que um organismo de dois dias é tão ser vivo quanto um de dez semanas. Mas o ponto essencial é que a sua argumentação está no domínio da utopia, e não no da realidade. Que eu saiba em Portugal nenhuma mãe solteira e de poucos recursos, como há muitas, tem direito a uma casa e a um “ordenado” para poder levar uma vida digna com a criança. E não me parece que a vá ter nos próximos anos. Toda a gente sabe disto. Assim como sabe que Portugal não é o Canadá nem a Austrália.
E já agora uma perguntinha de algibeira. Os países europeus que têm leis mais flexíveis em relação ao aborto são o quê? Sanguinários? Desumanos? Sucedâneos de Heródes? Enfim, quer me parecer que nesta questão vamos chegar outra vez com mais 20 anos de atraso. Vamos agravar problemas sociais para o futuro que seriam resolvidos com um “mero” acto clínico que, a bom ver, não perturba a consciência de ninguém. Porque se perturbasse verdadeiramente os partidários do NÃO estes não teriam um só dia de paz. Ou então andam a fazer fita, o que é o mais certo.
Por mim, quando a “Maria” precisar ponho-a Espanha e vou dando cobro à hipocrisia do costume.
PS: O texto da senhora Rubina Berardo (“Contribuições II”) dói só de ouvir. É um chorrilho de banalidades e de “verdades” gerais que qualquer pessoa na rua também pode dizer. Mas se quiser eu também a ajudo com uma. Por exemplo: «a escola deve formar bons cidadãos». Sabe como está a Educação em Portugal não sabe? Pois…eu também sei.
A missa de Paulo Macedo
Só mesmo num reino de “cafres” é que a tributação dos impostos se fica a dever ao trabalho de um homem só. Não digo que o gestor Paulo Macedo não seja pessoa de mérito e competência, agora tanto alarido por causa do homem é que é de desconfiar. E se ele é atropelado? E se lhe passa uma trombose? Volta tudo à selvajaria do costume.
Mas como todo o português que brilha, também Paulo Macedo lhe deu para a tontaria. Para, presumo eu, fortalecer o espírito de cobrança, o gestor “comprou” uma missa de acção de graças. E lá foi todo o séquito da Direcção Geral dos Impostos para a igreja.
Isto em França vai dar "direito" a mais uma anedota sobre portugueses. E com inteira justiça.
11.1.07
Ainda sobre o NM
Em primeiro lugar, como já disse num programa de rádio em que se abordou este tema, quero deixar uma palavra de apoio e solidariedade aos camaradas jornalistas e outros profissionais daquela empresa que atravessam momentos difíceis.O fim do NM surge num momento complicado para a comunicação social madeirense em que será muito difícil absorver cerca de uma dezena de jornalistas. Se juntarmos a este caso do NM a previsível redução de quadros do Jornal da Madeira - negada por Jardim, mas como é habitual nestes casos o que ele diz não se escreve... - o panorama fica negro. Para todos, inclusive para o Diário que se arrisca a ficar cada vez mais sozinho, com as consequências óbvias que a falta de concorrência origina em qualquer sector de actividade.O NM fechou, provavelmente pela conjugação de três factores: política empresarial, política editorial e conjuntura do mercado.No primeiro caso, esta terá sido a terceira morte do jornal, provocada por empresários sem grande preparação para esta área de negócio em que o retorno dos investimentos obriga a muita paciência. No mínimo cinco anos. Era bom alguém explicar a certos empresários que uma empresa de comunicação social não se gere como uma construtora, ou uma fábrica de sanitas.Quanto à política editorial, o maior erro foi cometido pouco tempo depois do primeiro 'renascimento' do NM. Depois de na década de 90 ter sido um projecto para concorrer directamente com o Diário, destruído pro empresários sem preparação, regressou com o objectivo de ser um tablóide regional, com muitos 'casos do dia' e reportagens mais populares. Um nicho de mercado que, concordo com o Sancho, existe na Região e poderia ser a forma de sobrevivência do jornal. Estranhamente optou-se por mudar e seguir uma linha mais 'Jornal da Madeira', próxima do poder social-democrata. Se o NM já tinha o rótulo de 'jornal do Jaime Ramos', viu esse estigma agravado. A passagem a semanário não melhorou o panorama, uma vez que os leitores deste tipo de publicações são mais exigentes. Infelizmente o fim parecia traçado.Finalmente, o mercado regional de comunicação social escrita é ingrato, uma vez que o Diário domina quase completamente e sem necessitar dos subsídios que erradamente (o termo é muito simpático) o presidente do GR sucessivamente refere nos seus (maus)escritos.Se me é permitido apresentar receitas, acredito que, para sobreviver na Madeira, um novo jornal teria de estar totalmente afastado do poder político e dos 'seus' empresários.A ideia de um semanário autonomista (o que é isso?) de 16 páginas, defendida por Alberto João Jardim, é uma asneira de todo o tamanho que só prova que ele não percebe, nem nunca percebeu, de comunicação social.
JFS
Contribuições II
Um dos mecanismos que o ser humano desenvolveu para viver em sociedade tem sido a criação de estereótipos, segundo os quais as nossas vidas tornam-se mais fáceis, pois à primeira análise sabemos logo como lidar com as pessoas, que tipo de cuidados devemos ter, e catalogamos essa pessoa numa certa caixa. E na questão sobre a liberalização do aborto, tal também se mantém...
Ora bem, eu sou uma jovem mulher, considero-me moderna, livre e informada. E perante alguns olhares atónitos de colegas, amigos e conhecidos, proclamo-me contra a liberalização do aborto e vou votar NÃO no referendo agendado para dia 11/02. E trago-vos aqui duas principais razões que fundamentam a minha intenção de voto.
Em primeiro lugar, defendo que o valor da vida e o próprio direito à vida humana são os pilares da sociedade humana. A Constituição portuguesa afirma que "a vida humana é inviolável". Consequentemente, a lei deve proteger a vida humana e condenar todos os actos que a ponham em causa, desde que começa até à morte natural. Eu não quero viver num país onde a vida de um lince da Serra da Malcata (cf. código penal, art 278º) acaba por ser mais protegido pela lei do que a vida do nascituro humano!E em segundo lugar, apelo aos cidadãos portugueses que não se deixem ofuscar pelo aparente efeito 'modernizador' da liberalização do aborto.
O aborto a pedido da mulher não a emancipa, não a moderniza e não a liberta. Antes pelo contrário: sedimenta ideias retrógradas de conformismo a normas do status quo, onde um bébé só pode vir ao mundo numa conjuntura de check-lists idealizadas. A verdade é que essas conjunturas são raríssimas - seja por motivos da carreira profissional, do parceiro, e de outros factores condicionantes. Mas um facto permanece sempre: a alegria de uma nova vida que simboliza o nosso futuro.
O Estado não se pode desresponsabilizar a sí e aos cidadãos portugueses: há que modernizar mentalidades, apoiar mães carenciadas e proceder a uma verdadeira educação sexual eficaz da juventude.Por isso, caros amigos, voto NÃO.
Rubina Berardo
Olhares do Morro
Um espaço (projecto) absolutamente notável. Onde se podem encontrar trabalhos como
aqueles que aqui mosto.
Quem quiser pode ainda passear pela Agência Olhares.
As fotografias aqui reproduzidas são, respectivamente, da autoria de Bruno Rodrigues, Ivanildo Carmo dos Santos e Daniel Martins.
Mais blogs de cá
10.1.07
Ultraperiferias
Contribuições I
Como parece que todos os que entram neste blog são defensores do 'não' - é triste ver tanto jovem com pensamento conservador, completamente anti-natural para a sua idade -, resolvi escrever para deixar uma palavra de solidariedade: eu também vou votar 'sim', como já o fiz em 1998.
Esta questão do aborto transformou-se numa estranha luta entre conservadores (de todos os partidos) e liberais (idem), o que me parece ser o pior serviço que se pode fazer a um exercício de cidadania como é o referendo e a um problema que é, simplesmente, uma questão de consciência.
Embora não acredite na democracia directa - em nenhum país democrático funciona, com excepção da Suíça mas aí devido a ter a única alternativa a uma legislação federal maluca - como os próprios resultados da abstenção mostram.
Em relação ao teu 'post', começo por não concordar com a 'consideração' que toda a gente convencionou ter por António Borges. Para mim é um dos maiores 'bluffs' produzidos na última década. Se estivermos atentos às suas intervenções,a frio, não diz coisa-com-coisa e vive num planeta que não é o nosso: é o planeta da alta finança, responsável pela maioria dos males de que nos queixamos. Parece-me que foi este senhor, junto com uns anormais do 'Compromisso Portugal' que deram como receita para o nosso país... o despedimento de 200 mil (!) funcionários públicos. Bonito!
Voltando ao aborto e comentando algumas afrirmações introduzidas neste 'blog', considero ridículo e até desumano tratar a questão como uma 'despesa' do Estado. Esta alteração à lei é uma questão de saúde pública, de direito à escolha de cada cidadã e, sobretudo, uma aproximação à esmagadora maioria dos países ocidentais.
Embora não seja defensor de 'seguidismos cegos' em relação aos países mais desenvolvidos, neste caso só deixava uma pergunta... Não estarão os defensores do 'não' a comportar-se como o pai do recruta que olhava para a parada e dizia "num batalhão inteiro, o meu filho é o único a marchar com o passo certo"?
Uma referência final para as campanhas. O 'sim' tenta convencer-nos que todas as mulheres que abortaram foram julgadas, o que não é verdade. O 'não' comete uma aldrabice de todo o tamanho ao transformar um feto de dez semanas (dois meses e meio) num bebé de colo. Vergonhoso.Como já escrevi uma vez, tudo isto teria sido evitado se os eleitos do povo cumprissem a sua obrigação e legislassem sobre esta matéria.
Um abraço
Jorge F. Sousa
9.1.07
A simbologia
As práticas de higiene sociais, mentais e visuais são parte frequente da nossa ridícula existência e uma espécie de nova filantropia política que pretende acima de tudo uma procura positivista e racional por um homem novo, socialmente educado e perfeitamente previsível. Os regimes totalitários tiveram os mesmíssimos objectivos e também na altura ninguém deu por nada. Ou fingiu não dar. Nunca percebi a fúria e a enternecedora odisseia, porque se esperanças ainda houvesse na salvação ou na construção deste hipotético homem, ou nesta criação abstracta, bastava olhar para o período natalício para se perceber o quão irracional pode ser o homem e os seus descendentes dentro de um centro comercial.
Proibir a simbologia não vai resolver o problema, porque ela se calhar até se alimenta da sua alardeada e propagandeada clandestinidade. Os adeptos agradecem o gesto. Mas ainda assim várias coisas me preocupam nesta aberrante manipulação: porque é que esta fúria só se aplica à extrema-direita? Porque é que esta proibição não se estende à extrema-esquerda e aos seus símbolos? Até quando vou ter de aturar adolescentes patetas com a efígie de assassinos e terroristas estampados no peito, de Mao Tsé-Tung (ou Mao Zedong, se preferirem) a Che Guevara? E quando é que vão proibir a foice e o martelo, símbolo fracassado e representativo de uma utopia que ceifou a vida a milhões? Haja decoro.
Infelizmente para o mundo, o marxismo continua a ser o principal inimigo da democracia e o atractivo mundo de alguns intelectuais que nunca sofreram na pele as suas agruras. Curioso sistema o nosso que deixa que os seus inimigos permaneçam no seu seio a minar por dentro o que mais nos custou conquistar.
Serviço Público
Não sei quanto a RTP pagou para transmitir esta idiotia, mas no resumo que ouvi na TSF após o jogo, foi por lá descrito que o mesmo foi um suplício a toda a prova, o que é razão mais do que suficiente para questionarmos os critérios de escolha utilizados. Evidência incontestável: de acordo com o jornalista de serviço não houve uma única oportunidade de golo na segunda parte, sendo o jogo decidido no adverso e controverso sistema de lotaria. Mais: ambas as equipas, jogaram com os seus suplentes o que atesta bem o modo como encararam o torneio.
Desconheço porque se continuam a fazer este tipo de favores que são um caso axiomático de concorrência desleal para com todos os outros clubes. Mas a noção de serviço público tem de ser rapidamente revista para que estas situações não se repitam. As empresas públicas, pagas com o dinheiro de todos nós, devem ser superiores a estas artimanhas que fomentam um sentimento gritante de injustiça. Reparem que a RTP não transmitiu nenhum jogo da Taça de Portugal, por exemplo. E que ainda há bem pouco tempo, a Caixa Geral de Depósitos, através desse duvidoso Armando Vara, deu 15 milhões de euros ao Benfica para colocar o seu patético nome (o da Caixa) no centro de estágio (do Benfica).
Eu pensei que o tempo do Fado, Futebol e Fátima já tinha passado. Engano meu. Desculpem a ingenuidade.
Afinal, mãe há só uma?
Para além da mãe biológica, foi também considerada mãe a actual companheira da mãe biológica, que passa a ter igual estatuto. Isto para além do pai biológico, ex-companheiro da mãe biológica, que continua com o seu papel normal. Confusos? Por favor, não fiquem. No Canadá, muita coisa é possível. Aliás, tal como em Portugal, embora em doses e coreografias diferentes.
Ignoro o que acontecerá legalmente se o pai, um belo dia, conhecer um adónis que o leve à perdição e à homossexualidade assumida. Terá o seu companheiro igual estatuto e papel? Será esta criança a primeira criança no mundo com dois pais e duas mães formalmente constituídos? E o que acontecerá se um dia o casal (ou os casais) se separar(em)? Quem fica com a guarda do petiz? Tudo perguntas que por agora não têm resposta. Certo, certo é que mais uma verdade tida como absoluta foi inapelavelmente abatida: mãe, afinal, só há poucas. Esperemos agora pelo pai para ver o que acontece. Aceitam-se apostas.
Correia de Campos ajuda o Não
O mesmo ministro revelou ainda que, no sector público, um aborto custará ao Estado entre 350 e 700 euros. Imagine-se, então, quanto custará em clínicas privadas. Já agora, quantas mulheres continuarão a optar pelos abortos clandestinos, porque não quererão ser identificadas nos hospitais públicos e não terão dinheiro para as clínicas privadas?
Mudar a lei para quê, senhor Ministro?
Em defesa do Não
Assumo-me como defensor do Não no referendo. E por diversas razões (que nada têm a ver, evidentemente, com as enormes lições aprendidas numa qualquer obra "fast-food" de literatura liberal). Uma delas é evidentemente, da ordem do simbólico: Acredito que a vida começa na altura da concepção. E tenho o direito de crer naquilo que me apetece, ou não?
Outras são de ordem sociológica (ou filosófica, se quiserem): Vivemos numa época em que a desresponsabilização é uma regra de ouro. E é esse o princípio que me parece nortear os defensores do "sim". E é esse o princípio em que não acredito. No debate, repetem-se argumentos que tendem a minimizar a responsabilidade individual. E que assim minimizam, também, a liberdade individual, ao contrário daquilo que querem fazer crer os defensores do "sim". Acredito numa liberdade responsável. Na qual cada um dos actores conhece as opções e é livre de seguir o caminho que entender, assumindo depois as vantagens e desvantagens das escolhas que faz.
Quanto às críticas que se ouvem em relação à "moral cristã", perdoe-se a ignorância de quem as faz, mas toda a nossa concepção de vida, toda a nossa organização social, toda a nossa existência enquanto sociedade e enquanto indivíduos alicerça-se nas directrizes morais judaico-cristãs.
Fala-se depois da questão do dinheiro. Pois eu continuo a achar que é importante, ao contrário daquilo que dizem os defensores do "sim", falar de verbas. Principalmente daquelas que serão gastas em abortos e que poderiam ser utilizadas na prevenção, na educação sexual e no apoio às mães e às familias, ou seja, atacando e prevenindo o drama, em vez de tentar solucioná-lo "a correr e aos gritos".
Ouvem-se, depois, argumentos fantásticos. Do género "há mulheres a ser despedidas por ficaram grávidas". E a solução será porventura, abortar para evitar o despedimento (juro que isto está no DN de hoje. E que Carvalho da Silva estava presente na mesa onde isto foi dito). Mais uma vez, procura-se resolver o problema a jusante, esquecendo-nos de procurar a solução a montante.
No que respeita ao "negócio" - e os defensores do "sim" apontam aqueles que pensam de forma contrária como pontas de lança do tenebroso mundo dos abortos clandestinos. Pois bem, a única coisa que vejo é o interesse de clínicas espanholas em abrir em Lisboa e no Porto. Financiando, quem sabe, alguns brupos interessados em mudar a Lei vigente.
Existem mais razões que me levam a votar Não. Deixo-vos duas:
Vocês imaginam a eficácia de uma Lei que não será cumprida, certamente, na maioria do território nacional, simplesmente porque a maioria dos portugueses a entendem como boa para os outros e não para si? Trocando por miúdos, estão a ver uma menina de São Vicente, de Freixo de Espada à Cinta ou de Bragança entrar pelo consultório do médico de familia dentro a pedir para fazer um aborto, correndo o risco de "ficar falada", ou seja, de deitar a perder parte do capital social da familia? Qual a eficácia, então, de tudo isto?
O que farão os defensores do "sim" se ao Tribunal chegar uma mulher acusada de ter feito um aborto, digamos, às 11 semanas? Acham que as mulheres deixarão de ir a Tribunal por causa de abortos clandestinos?
Resumindo: Acredito no primado da vida humana. E acredito numa sociedade responsável, que aposta na prevenção e no apoio quando essa prevenção não é suficiente. Não acredito que a alteração da actual Lei acabe com o aborto clandestino e muito menos contribua para minimizar um dos maiores dramas da sociedade portuguesa: a gravidez juvenil.
Post-Scriptum: Todos aqueles que discordarem de mim são benvindos ao debate. Acredito que a discussão em torno deste tema se deve fazer. Sem histerias. Por isso, este blog tem uma caixa de correio - conspiracaoassete@hotmail.com. Colocaremos, on-line, todos os textos que julgarmos fundamentados, pró e contra a alteração da Lei. Convidamos a escrever. Sem histeria.
8.1.07
Mais uma hipocrisia? Não, obrigado
Até o dr. António Borges, pessoa que considero bastante, também vem com a conversa dos elevados custos dum aborto ao estado português. E então um marginal quanto custará à sociedade portuguesa?
Sem recorrer à ficção (ver o livrinho “Freekonomics”, de Steven Levitt e Stephen Dubner) provou-se que reduzindo as gravidezes indesejadas reduz-se directamente a marginalidade, pequena e grande, o insucesso escolar, a violência juvenil, enfim, um sem número de problemas sociais que, em regra, começam sempre num mau berço.
Depois vem a questão do envelhecimento da população. E daí? O equilíbrio demográfico não se faz com imposições. Por mim, prefiro ver velhos saudáveis em Paris do que crianças esgrenhadas nas Filipinas cujo destino mais do que certo todos sabemos bem qual é.
Há malta que viaja tanto, que vai à Holanda, Inglaterra, Alemanha, Canadá, e não sei o que aprende por lá. Não sei mesmo.