E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Carlos Drumond de Andrade
"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
14.7.06
E agora, José?
Concluída a investigação, parece que o Independente acertou em cheio quando denunciou o "caso" Freeport de Alcochete. Que envolve o actual primeiro-ministro José Sócrates. A mim, tanto se me dá como se me deu que o homem tenha utilizado a influência enquanto ministro do Ambiente para beneficiar um grupo económico. Estou-me, literalmente, a borrifar para o assunto. Por isso, sem grandes discursos, e sem moralismos, limito-me a registá-lo. E agora aguardo para ver as reações.
- E agora, José?
-E agora nada!
- E agora, José?
-E agora nada!
A Raiz do Mal
Só falta pagar para ir à casa de banho, como na Europa civilizada. Ou este governo deve andar louco, ou então, está faminto de dinheiro.
Pago os meus impostos mensalmente. Pago IVA, Pago taxas sobre taxas, por tudo e por nada. Pago Imposto Municipal, da recolha do lixo, da água, dos resíduos sólidos. A taxa do contador, do esgoto, da estrada. Além disso, ainda desconto para o Estado sempre que efectuo uma transacção comercial, e ainda vou pagar para praticar desporto nas infra-estruturas públicas?
É o cúmulo das ironias. Como se as piscinas, os campos de futebol, de ténis e outros recintos, não foram construídos com o dinheiro dos contribuintes.
O discurso e a prática são antagónicos. Num dia vem um Secretário Regional (até é uma Secretária) apelar para a população praticar desporto. No outro dia, aparece um outro secretário, com um discurso quase inverso. “Como é necessário disciplinar a utilização das infra-estruturas desportivas, vamos cobrar uma taxa, por utente”.
Tenho quase a certeza que, a longo prazo, quem fica a perder é a Região. Sobretudo por causa do preocupante índice de obesidade que já existe. De certeza que nos próximos anos a factura do Serviço Regional de Saúde vai disparar.
É a consequência óbvia e imediata de uma política que só desincentiva as boas práticas. Neste caso o desporto.
Pago os meus impostos mensalmente. Pago IVA, Pago taxas sobre taxas, por tudo e por nada. Pago Imposto Municipal, da recolha do lixo, da água, dos resíduos sólidos. A taxa do contador, do esgoto, da estrada. Além disso, ainda desconto para o Estado sempre que efectuo uma transacção comercial, e ainda vou pagar para praticar desporto nas infra-estruturas públicas?
É o cúmulo das ironias. Como se as piscinas, os campos de futebol, de ténis e outros recintos, não foram construídos com o dinheiro dos contribuintes.
O discurso e a prática são antagónicos. Num dia vem um Secretário Regional (até é uma Secretária) apelar para a população praticar desporto. No outro dia, aparece um outro secretário, com um discurso quase inverso. “Como é necessário disciplinar a utilização das infra-estruturas desportivas, vamos cobrar uma taxa, por utente”.
Tenho quase a certeza que, a longo prazo, quem fica a perder é a Região. Sobretudo por causa do preocupante índice de obesidade que já existe. De certeza que nos próximos anos a factura do Serviço Regional de Saúde vai disparar.
É a consequência óbvia e imediata de uma política que só desincentiva as boas práticas. Neste caso o desporto.
12.7.06
O Prof. Cavaco
Alguns sectores da direita, do PSD e do CDS, andam chateados. E andam chateados com o quê ou com quem, para sermos mais precisos? Andam chateados, nem mais nem menos, com o Prof. Cavaco e com a sua actuação, cúmplice e conivente, para com a governação socialista. Infelizmente, o faro político de algumas pessoas não é muito apurado e o próprio Prof. Cavaco, um reputado economista especialista em boas e más moedas e em delinear estratégias e agendas muito pessoais, há muito que tinha dado sinais claros de como seria a sua actuação na Presidência da República: um misto de politicamente correcto com calculismo q.b.. Nada de novo, portanto. Ou nada de muito excêntrico que não estivesse previsto: toda a gente sabe que os primeiros mandatos presidenciais servem para não levantar ondas desnecessárias ou para fazer grande contestação ao governo. Não convém. Nem uma nem outra. E, claro, não faz parte da ementa porque só assim se garante uma reeleição fácil e umas eleições entediantes contra algum esquerdista menor no papel de idiota útil. Não há interesse. Dois mandatos é o dobro de um mandato e quem esperava um perigoso homem de direita neste primeiro tempo, redondamente enganou-se e confortavelmente pode descansar (ou agoniar, se preferir) no sofá. Não há perigo. Nem sequer ameaça. O Prof. Cavaco veio para ficar. Mais dez anos. Estava escrito na estrelas.
Ainda o mundial de futebol.
Um destes dias ergui cedo para tratar do corpo e alimentar a alma.
Vesti as sapatilhas, os calções, uma t-shirt e madruguei. Fui para o estádio correr. Recordar outros tempos, não muito longínquos. Quando lá cheguei o sol ainda estava meio tímido, a relva já tinha tomado duche. A pista era só minha. Não havia trânsito para dificultar-me a vida. Quando comecei mal conseguia levantar os pés do “tartan”. Depois ergui-os mais alto, mais alto….. estava em velocidade de cruzeiro quando entrou em competição um simpático gordinho. Quando passava por ele até parceria uma avião a jacto, mas depressa esgotei as energias.
Foi aí que comecei a olhar com olhos de ver para o campo de futebol. E não é que lá estava a baliza. Lembrei-me dos "penalties", e, bora lá ver o tamanho daquilo. Coloquei-me entre os postos. Olhei para o da direita, depois, para o da esquerda. Ainda simulei mentalmente atirar-me para um dos lados, mas achei-os demasiado distantes. De seguida concentrei-me na marca de grandes penalidades e arrefeci os ânimos.
Definitivamente,não é fácil ser guarda-redes. Ah grande Ricardo!!!!!!!!!!!!!!!!!……
Joga com o Zidane
Joga com o Zidane. De cabeça, claro está... E eu que pensava que Zizou era um nickname perfeitamente amaricado. À francesa, claro está!
11.7.06
Eleições nas Escolas
Não faz muito tempo que aqui escrevi sobre a eleição dos conselhos executivos das escolas.
Na altura disse, que apesar da lei ter mudado, (antes eram nomeados, agora são eleitos) nada mudaria nas direcções dos estabelecimentos de ensino.
Disse-o e reafirmo.
No Liceu Jaime Moniz já houve eleições. Na secundária de Machico também. Perguntam vocês quem foram os eleitos?
Pois bem!
Os que já lá estavam.
Ou seja, quer os conselhos directivos das escolas sejam, nomeados, eleitos, são sempre os mesmos a mandar. Não acham inquietante? Ainda por cima quando já lá estão há décadas?
Na altura disse, que apesar da lei ter mudado, (antes eram nomeados, agora são eleitos) nada mudaria nas direcções dos estabelecimentos de ensino.
Disse-o e reafirmo.
No Liceu Jaime Moniz já houve eleições. Na secundária de Machico também. Perguntam vocês quem foram os eleitos?
Pois bem!
Os que já lá estavam.
Ou seja, quer os conselhos directivos das escolas sejam, nomeados, eleitos, são sempre os mesmos a mandar. Não acham inquietante? Ainda por cima quando já lá estão há décadas?
Sotto le Stelle Del Jazz
Esta coisa já toca música. E começa com Paolo Conte.
"Sotto le Stelle Del Jazz"
Certi capivano il jazz
largenteria sparival
adri di stelle e di jazz
cos eravamo noi, cos eravamo noi
Pochi capivano il jazz
troppe cravatte sbagliate
ragazzi-scimmia del jazz
cos eravamo noi, cos eravamo noi
Sotto le stelle del jazz,
ma quanta notte passata
Marisa, svegliami, abbracciami
stato un sogno fortissimo
Le donne odiavano il jazz
non si capisce il motivo
du-dad-du-dad
Sotto le stelle del jazz
un uomo-scimmia cammina,
o forse balla,
chissdu-dad-du-dad
Duemila enigmi nel jazz
ah, non si capisce il motivo
nel tempo fatto di attimie settimane enigmistiche
Sotto la luna del jazz
"Sotto le Stelle Del Jazz"
Certi capivano il jazz
largenteria sparival
adri di stelle e di jazz
cos eravamo noi, cos eravamo noi
Pochi capivano il jazz
troppe cravatte sbagliate
ragazzi-scimmia del jazz
cos eravamo noi, cos eravamo noi
Sotto le stelle del jazz,
ma quanta notte passata
Marisa, svegliami, abbracciami
stato un sogno fortissimo
Le donne odiavano il jazz
non si capisce il motivo
du-dad-du-dad
Sotto le stelle del jazz
un uomo-scimmia cammina,
o forse balla,
chissdu-dad-du-dad
Duemila enigmi nel jazz
ah, non si capisce il motivo
nel tempo fatto di attimie settimane enigmistiche
Sotto la luna del jazz
O que o despeito faz!
Espanta-me que alguns militantes do PSD-Madeira, apenas por uma questão de despeito, continuem a insistir que gostariam de ver Alberto João Jardim a recandidatar-se nas próximas eleições regionais. É incrível como o orgulho ferido pode influenciar algumas mentezinhas que, tendo visto passar as suas possibilidades de virem a suceder o mítico líder, preferem fazer joguinhos políticos para desestabilizar a inevitável sucessão. Com políticos de primeira linha assim, definitivamente o PSD-Madeira não precisa de inimigos.
Roubo!
É verdade, afinal a entrada na Doca do Cavacas é mesmo paga. A Câmara Municipal do Funchal cumpriu a ameaça. E não percebo como é que os utilizadores daquele bocado de rocha podem aceitar este autêntico roubo. Porque é um roubo o que a CMF fez. Cobrar entrada pelo acesso aquele pequeno paraíso marítimo é um acto criminoso, que pode estar muito bem enquadrado legalmente, mas que não tem qualquer justificação moral. Ainda por cima, quando não foi feito qualquer investimento, porque tudo o que lá está de verdadeiramente significativo, já lá estava. Nada justifica mais este-vir-ao-bolso-do-contribuinte.
Entristece-me como utilizador de sempre daquela estrutura. Entristece-me, porque os funchalenses que não tenham possibilidades financeiras para pagar o acesso ao mar (veja-se o ridículo de ilhéus terem que desembolsar uns euros para poderem saborear a água salgada!) estão, cada vez mais, confinados à Praia Formosa (que, por minha parte, dispenso). Revolta-me porque esta medida da CMF não tem como meta a melhoria da qualidade, mas tão-só financiar a Câmara (em pré-falência?). Tenho pena, porque enquanto aquela treta for paga, não volto a lá pôr os pés. Por uma questão de princípio. Porque acho que o acesso ao mar não deve ser privilégio de quem pode pagar.
PS - Por enquanto, vão ter que bastar as lembranças dos verões inteiros que lá passei. As memórias dos mergulhos, dos amores e desamores, das amizades que por ali se construíram. Da cumplicidade entre os grupos de adolescentes que se iam substituíndo, cujo único ponto em comum era o de serem pequenos capitães daquele bocadito de rocha. Terá que ser suficiente as memórias dos primeiros beijos, do espanto que a descoberta do corpo provocou.
E revolta-me que a Câmara Municipal do Funchal tenha roubado isso às mais novas gerações dos Piornais, da Ajuda, do Amparo, do Areeiro, até do centro do Funchal (raparigas e rapazes que vinham desde a Quinta Deão para partilharem aquele espaço com os jovens locais). Sinceramente, a mim, que não tenho lá muito jeito para arruaça, só apetece atirar ao mar os pequenos postes que impedem o acesso ao mesmo. E aproveitando a embalagem...
Entristece-me como utilizador de sempre daquela estrutura. Entristece-me, porque os funchalenses que não tenham possibilidades financeiras para pagar o acesso ao mar (veja-se o ridículo de ilhéus terem que desembolsar uns euros para poderem saborear a água salgada!) estão, cada vez mais, confinados à Praia Formosa (que, por minha parte, dispenso). Revolta-me porque esta medida da CMF não tem como meta a melhoria da qualidade, mas tão-só financiar a Câmara (em pré-falência?). Tenho pena, porque enquanto aquela treta for paga, não volto a lá pôr os pés. Por uma questão de princípio. Porque acho que o acesso ao mar não deve ser privilégio de quem pode pagar.
PS - Por enquanto, vão ter que bastar as lembranças dos verões inteiros que lá passei. As memórias dos mergulhos, dos amores e desamores, das amizades que por ali se construíram. Da cumplicidade entre os grupos de adolescentes que se iam substituíndo, cujo único ponto em comum era o de serem pequenos capitães daquele bocadito de rocha. Terá que ser suficiente as memórias dos primeiros beijos, do espanto que a descoberta do corpo provocou.
E revolta-me que a Câmara Municipal do Funchal tenha roubado isso às mais novas gerações dos Piornais, da Ajuda, do Amparo, do Areeiro, até do centro do Funchal (raparigas e rapazes que vinham desde a Quinta Deão para partilharem aquele espaço com os jovens locais). Sinceramente, a mim, que não tenho lá muito jeito para arruaça, só apetece atirar ao mar os pequenos postes que impedem o acesso ao mesmo. E aproveitando a embalagem...
Explicações de Português
No futebol não há muito para explicar. É um jogo simples com regras claras como a água. Mas como, durante um mês, se gastou mais tempo a falar de futebol do que propriamente se jogou o jogo, em todos esses milhares de minutos de discursos inócuos o tratamento da gramática da língua portuguesa foi péssimo.
Por razões óbvias, claro que Humberto Coelho ou Eusébio não contam, como também não contam Rui e Jorge Costa, porque se não este exercício seria infindável.
Adivinhado o que me esperava, depois da final deixei-me ficar no zapping dos canais portugueses e em pouco mais de meia hora ouvi, repetidamente, quaisqueres, derivado a, a maioria das pessoas vão e houveram muitas palmas. Claro que os jornalistas estavam nervosos, era a pressão do directo mais as liberdades da oralidade, etc, etc. Como não se deve exigir muito de ninguém aceito que o que os jornalistas queriam dizer na verdade era quaisquer, derivado de, a maioria das pessoas vai e houve muitas palmas.
Por razões óbvias, claro que Humberto Coelho ou Eusébio não contam, como também não contam Rui e Jorge Costa, porque se não este exercício seria infindável.
Adivinhado o que me esperava, depois da final deixei-me ficar no zapping dos canais portugueses e em pouco mais de meia hora ouvi, repetidamente, quaisqueres, derivado a, a maioria das pessoas vão e houveram muitas palmas. Claro que os jornalistas estavam nervosos, era a pressão do directo mais as liberdades da oralidade, etc, etc. Como não se deve exigir muito de ninguém aceito que o que os jornalistas queriam dizer na verdade era quaisquer, derivado de, a maioria das pessoas vai e houve muitas palmas.
Reler é melhor do que ler (I)
Li quando saiu e voltei a ler. Porque, primeiro, devoro biografias, e porque, segundo, a sua autora é a portuguesa mais inteligente que eu conheço e que se conhece. É arrogante, tem pose aristocrática e é snob. Nada a opor. Mas, apesar disso, é uma observadora crua de um país (ainda!) conservador, católico, atrasado e hipócrita. Depois, possui uma sensibilidade feminina que, ao contrário da maioria das senhoras, não nos impinge as causas feministas. Pelo menos para mim, que julgo já não ter mau gosto, é um livrinho brilhante.
10.7.06
Uma questão de estética... e de técnica
Sobre a fita
Uma das imagens que mantenho viva na minha cabeça, é uma célebre reprimenda de Guardiola a Figo, companheiros de equipa no Barcelona, por este último, julgo eu, estar a simular uma lesão, obrigando a equipa médica do Barcelona a entrar em campo. Na altura, não me lembro se o Barcelona ganhava ou perdia mas era mais do que evidente que Figo não estava assim tão combalido que merecesse ou que justificasse mais uma interrupção no jogo. Mas Guardiola, o capitão da altura, é que não esteve pelos ajustes. Graças ao seu enorme profissionalismo e respeito que tinha por quem lhe pagava o ordenado (os sócios do Barcelona, que ali estavam para ver futebol espectáculo e não simulações ou teatro grosseiro) repreendeu o jogador português, chamando-o à atenção e responsabilizando-o pelos seus actos. Nunca mais, nesse jogo, vi Figo a ser assistido ou a cair no chão que não se levantasse imediatamente.
É um pouco isto que alguns jogadores portugueses têm de aprender: a imagem negativa de fiteiros que imortalizaram neste mundial, colar-se-á como um rótulo para a vida, acompanhando-os para todo o sempre, independentemente do clube que representem. No futebol global, onde a televisão esmiuça os lances ao mais ínfimo pormenor, os que simulam acabam por ficar sempre mal na fotografia e herdam, consequentemente e num futuro próximo, as sementes que plantaram. É por isso tempo de parar de pensar que o futebol, apesar de muitas vezes ser uma arte representativa, se compadece com estes excessos. É que uma coisa é forjar um pénalti como Chalana fez frente à Rússia (pénalti este que nos levou ao Europeu de 84) e outra, bem diferente, é passar o tempo à procura de enganar o árbitro em mergulhos mais ou menos decorativos. Nestas coisas, convém lembrar a história, que aqui serve de parábola, de Pedro e o Lobo de Profofiev. É que um dia, o lobo veio mesmo. E aí já ninguém acreditou no Pedro.
É um pouco isto que alguns jogadores portugueses têm de aprender: a imagem negativa de fiteiros que imortalizaram neste mundial, colar-se-á como um rótulo para a vida, acompanhando-os para todo o sempre, independentemente do clube que representem. No futebol global, onde a televisão esmiuça os lances ao mais ínfimo pormenor, os que simulam acabam por ficar sempre mal na fotografia e herdam, consequentemente e num futuro próximo, as sementes que plantaram. É por isso tempo de parar de pensar que o futebol, apesar de muitas vezes ser uma arte representativa, se compadece com estes excessos. É que uma coisa é forjar um pénalti como Chalana fez frente à Rússia (pénalti este que nos levou ao Europeu de 84) e outra, bem diferente, é passar o tempo à procura de enganar o árbitro em mergulhos mais ou menos decorativos. Nestas coisas, convém lembrar a história, que aqui serve de parábola, de Pedro e o Lobo de Profofiev. É que um dia, o lobo veio mesmo. E aí já ninguém acreditou no Pedro.
O fim do campeonato
A táctica está a matar o futebol. A táctica e o excesso de jogos a que os principais clubes europeus, e consequentemente as suas principais vedetas, estão sujeitos em épocas desportivas longas e cada vez menos interessantes.
O espectáculo deteriora-se a olhos vistos. Fraca qualidade, poucos golos, muitas faltas, demasiadas interrupções, arbitragens pouco profissionais. Nem a bola esquisita entretanto estreada ajudou a mudar as coisas mesmo que, desconfio eu, tenha sido a principal obreira pelo facto de este campeonato não ter a pior média de golos de sempre. Eis o poço onde caímos: inventar bolas que furem os esquemas e os nervos dos guarda-redes.
Pela primeira vez também se contam com uma só mão os grandes jogos de futebol a que foi possível assistir (e é preciso um grande esforço de memória). Toda a gente entrou a medo e nem as constelações de estrelas brasileiras e argentinas foram capazes de mais do que um simples fogacho. Muito pouco para quem tem tanta matéria-prima. Por isso, a FIFA e seus acólitos têm fortes razões para estar preocupados. Nunca se viu tanta falta de imaginação o que nos diz claramente que urge mudar alguma coisa neste mundo do futebol. Não sei se o tamanho das balizas, o sistema disciplinar, os limites do campo, as datas dos seus principais eventos, o número de selecções presentes ou o processo de escolha dos árbitros do evento. Mas algo é preciso de facto mudar. Para bem do futebol e do seu espectáculo.
Num tempo em que se idolatra, por exemplo, José Mourinho ou Scolari, vencedores natos e altamente eficazes mas pouco preocupados com a qualidade estética do futebol, foi possível ainda ver o pragmatismo em que se transformaram as principais selecções: o mais importante era o resultado independentemente dos longos bocejos provocados na bancada siderada pela quase ausência de oportunidades de golo. Claro que houve um ou outro momento melhor, mas demasiados, como contraponto, a roçar a boçalidade e a vulgaridade. E isto, na verdade, deve ser motivo de forte preocupação. O romantismo foi banido de vez do futebol.
A situação é assim complicada. O campeonato arranca cheio de força, mas o mês é longo e cria uma certa debandada. No fim, já toda a gente anda farta e reza para que tudo termine rapidamente. Ontem, por exemplo, foi notório que nenhuma equipa estava interessada em superiorizar-se cabalmente à sua adversária. Por isso, os pénaltis desde o início que me pareceram o desfecho mais lógico. No fim, tiveram mais sorte os italianos, que acabam por ser vencedores justos do torneio e porque os seus princípios foram de uma clareza atroz: concentraram-se na equipa e não nos seus verdadeiros talentos, Totti e Del Piero. Ainda assim, Totti, por exemplo, ao longo do torneio fez três assistências e marcou um golo decisivo. Mas na Itália, que joga pelo conjunto e foi uma verdadeira equipa, até isto parece passar despercebido. E basta por fim dizer que 10 jogadores italianos fizeram o gosto ao pé. Ou à cabeça.
O espectáculo deteriora-se a olhos vistos. Fraca qualidade, poucos golos, muitas faltas, demasiadas interrupções, arbitragens pouco profissionais. Nem a bola esquisita entretanto estreada ajudou a mudar as coisas mesmo que, desconfio eu, tenha sido a principal obreira pelo facto de este campeonato não ter a pior média de golos de sempre. Eis o poço onde caímos: inventar bolas que furem os esquemas e os nervos dos guarda-redes.
Pela primeira vez também se contam com uma só mão os grandes jogos de futebol a que foi possível assistir (e é preciso um grande esforço de memória). Toda a gente entrou a medo e nem as constelações de estrelas brasileiras e argentinas foram capazes de mais do que um simples fogacho. Muito pouco para quem tem tanta matéria-prima. Por isso, a FIFA e seus acólitos têm fortes razões para estar preocupados. Nunca se viu tanta falta de imaginação o que nos diz claramente que urge mudar alguma coisa neste mundo do futebol. Não sei se o tamanho das balizas, o sistema disciplinar, os limites do campo, as datas dos seus principais eventos, o número de selecções presentes ou o processo de escolha dos árbitros do evento. Mas algo é preciso de facto mudar. Para bem do futebol e do seu espectáculo.
Num tempo em que se idolatra, por exemplo, José Mourinho ou Scolari, vencedores natos e altamente eficazes mas pouco preocupados com a qualidade estética do futebol, foi possível ainda ver o pragmatismo em que se transformaram as principais selecções: o mais importante era o resultado independentemente dos longos bocejos provocados na bancada siderada pela quase ausência de oportunidades de golo. Claro que houve um ou outro momento melhor, mas demasiados, como contraponto, a roçar a boçalidade e a vulgaridade. E isto, na verdade, deve ser motivo de forte preocupação. O romantismo foi banido de vez do futebol.
A situação é assim complicada. O campeonato arranca cheio de força, mas o mês é longo e cria uma certa debandada. No fim, já toda a gente anda farta e reza para que tudo termine rapidamente. Ontem, por exemplo, foi notório que nenhuma equipa estava interessada em superiorizar-se cabalmente à sua adversária. Por isso, os pénaltis desde o início que me pareceram o desfecho mais lógico. No fim, tiveram mais sorte os italianos, que acabam por ser vencedores justos do torneio e porque os seus princípios foram de uma clareza atroz: concentraram-se na equipa e não nos seus verdadeiros talentos, Totti e Del Piero. Ainda assim, Totti, por exemplo, ao longo do torneio fez três assistências e marcou um golo decisivo. Mas na Itália, que joga pelo conjunto e foi uma verdadeira equipa, até isto parece passar despercebido. E basta por fim dizer que 10 jogadores italianos fizeram o gosto ao pé. Ou à cabeça.
Che bella victoria!
Ontem, fui italiano. E gostei que a vitória da "squadra" se tenha revestido de contornos drámaticos. Não sei quantos carros incendiaram os franceses... Mas que se lixe. Perderam e foi bem feito!
Che Bella victoria!
Che Bella victoria!
Que venha a próxima!
Mais de 8.000 pessoas foram até à Quinta Magnólia ouvir jazz e blues, por ocasião da VII Edição do Funchal Jazz Festival.
Como Joana Machado e o extraordinário Paquito D'Rivera a abrirem os concertos, a festa começou em excelente nível, na quinta-feira.
O concerto do cubano, aliás, foi dos melhores que vi nos últimos anos e seguirá directamente para a galeria dos melhores momentos de sempre do maior festival de jazz do país.
Sexta-feira, Ivan Lins com o seu o "jazz-bossa" (não sei se esta categoria existe, de qualquer forma, é assim que eu definiria a música do brasileiro) atraíu milhares de pessoas à Quinta Magnólia (cerca de 3.500, para ser mais preciso). O concerto, que contou com a participação especial de Paulo de Carvalho teve bons momentos e prendeu o público. Mas a noite seria definitivamente de Loonie Brooks e da sua Blues Band - com o excelente W. Brooks a ajudar à festa.
Foram mais de duas horas de energia pura, com Brooks a demonstrar porque razão é, de facto, um dos mais conceituados intérpretes da música negra norte-americana.
"Deus existe e é negro", disse-me alguém que conheço. "Só falta o smoky bar de Nova Iorque"(gostei da pronúncia), concluiu.
Sábado o jazz voltou. Primeiro, com a excelente voz de Laika Fatien (uma verdadeira supresa para aqueles que, como eu, não a conheciam de parte nenhuma). Depois, com um dos mais afamados senhores do jazz comtemporâneo, Mr. McCoy Tyner e o seu septeto, que fizeram uma autêntica viagem pela história da I.Records. memorável, de facto!
De salientar ainda a presença em massa de jornalistas de cá e de além mar. Foram pedidas mais de 60 acreditações, de todos os orgãos de comunicação social da Madeira, mas sobretudo de profissionais de alguns dos mais prestigiados jornais e revistas nacionais. Vieram ainda jornalistas alemães, franceses e ingleses. O que prova que, de facto, o Funchal Jazz Festival é, com toda a certeza, o maior acontecimento cultural anual na Região. Mas infelizmente, só Conceição Estudante, secretária das Assuntos Sociais, marcou presença.
Eu já estou com saudades. E à espera da VIII Edição.
Como Joana Machado e o extraordinário Paquito D'Rivera a abrirem os concertos, a festa começou em excelente nível, na quinta-feira.
O concerto do cubano, aliás, foi dos melhores que vi nos últimos anos e seguirá directamente para a galeria dos melhores momentos de sempre do maior festival de jazz do país.
Sexta-feira, Ivan Lins com o seu o "jazz-bossa" (não sei se esta categoria existe, de qualquer forma, é assim que eu definiria a música do brasileiro) atraíu milhares de pessoas à Quinta Magnólia (cerca de 3.500, para ser mais preciso). O concerto, que contou com a participação especial de Paulo de Carvalho teve bons momentos e prendeu o público. Mas a noite seria definitivamente de Loonie Brooks e da sua Blues Band - com o excelente W. Brooks a ajudar à festa.
Foram mais de duas horas de energia pura, com Brooks a demonstrar porque razão é, de facto, um dos mais conceituados intérpretes da música negra norte-americana.
"Deus existe e é negro", disse-me alguém que conheço. "Só falta o smoky bar de Nova Iorque"(gostei da pronúncia), concluiu.
Sábado o jazz voltou. Primeiro, com a excelente voz de Laika Fatien (uma verdadeira supresa para aqueles que, como eu, não a conheciam de parte nenhuma). Depois, com um dos mais afamados senhores do jazz comtemporâneo, Mr. McCoy Tyner e o seu septeto, que fizeram uma autêntica viagem pela história da I.Records. memorável, de facto!
De salientar ainda a presença em massa de jornalistas de cá e de além mar. Foram pedidas mais de 60 acreditações, de todos os orgãos de comunicação social da Madeira, mas sobretudo de profissionais de alguns dos mais prestigiados jornais e revistas nacionais. Vieram ainda jornalistas alemães, franceses e ingleses. O que prova que, de facto, o Funchal Jazz Festival é, com toda a certeza, o maior acontecimento cultural anual na Região. Mas infelizmente, só Conceição Estudante, secretária das Assuntos Sociais, marcou presença.
Eu já estou com saudades. E à espera da VIII Edição.
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