17.1.06

As eleições

A coisa aproxima-se do fim e está cada vez mais enfadonha. Não consigo ver na televisão nada que já não tenha visto e nenhum candidato é autenticamente capaz de inovar em algum sentido. A campanha caiu por isso no limite do absurdo com o evidente desespero à esquerda e com uma necessidade muito forte de se conter (para não responder aos ataques directos) à direita para evitar escorregadelas ou qualquer lapsus linguae que comprometa a preciosa vantagem arrecadada. Destas eleições retira-se uma mensagem forte, talvez a mais importante de todas: as campanhas e as pré-campanhas estão totalmente desenquadradas dos tempos contemporâneos sendo exercícios práticos de masoquismo e de profundo cansaço para todos, durando demasiado tempo. As campanhas são, por isso, longas, ineficazes e transformam-se amiúde num coliseu onde não se pode esperar – a não ser os imprevistos naturais da campanha que rapidamente se transformam em notícias de abertura como a pretensa agressão a Soares ou a estupefacção de Cavaco perante as declarações de Santana – nenhuma ideia. Assim, para além das promessas de enorme patriotismo e amor à Pátria, todos os candidatos prometem essencialmente o mesmo: atenção, ajuda ao governo, propensão para ajudar a sair da crise, trabalho, vigilância, empenho e outras coisas do género. Nada de substancial. Nada de concreto. Logo, o contacto com o povo torna-se numa manifesta demonstração de força onde cada um tenta atrair para si o maior comício, o maior jantar, a maior arruada, o melhor expontâneo popular, que transmita, a quem vê e a quem sente, uma imagem positiva da sua campanha. Depois muito se joga nos jornais e nas sondagens decisivas para a orientação do voto e para a manutenção de uma moral elevada entre as hostes que criteriosamente preparam os dias diabólicos e porventura desumanos de cada um dos candidatos, alimentados a vitaminas. Mas isso são contas de outro rosário que ficarão para uma próxima oportunidade.