6.2.06

Não percebo.




Quando alguém se manifesta contra os excessos do Islão é um bárbaro, inculto, alguém que não compreende as diferenças culturais, um primário que generaliza tudo. Então o que dizer da propriedade estrangeira completamente destruída por jovens zelosos da sua religiosidade (pelos vistos mais importante que outras, pelos vistos mais pura e intocável que outras), que dizer das ameaças contra a vida de estrangeiros ou crentes em outras fés (Ah, bom, são infiéis), que dizer das chantagens lançadas sobre os governos ocidentais acerca do corte de fornecimento de petróleo (avancemos para a energia nuclear, acaba-se logo com a pressão) ?

Muitos acham legítimo, muitos falam da perspectiva dessa gente, muitos abordam a questão da revolta social dos oprimidos. A religião deles tem a mesma raíz da minha e da sua arquinimiga. A deles é mais recente do que qualquer uma das suas irmãs. A deles podia ter aprendido alguma coisa com os erros das outras duas. Mas não, a deles evoluiu ao contrário, cristalizou, parou no tempo, "purificou-se" e impediu que os seus crentes evoluissem.

Não me lembro de alguma embaixada árabe ter sido atacada depois da publicação de cartoons contra o Ocidente ou Israel. Segue-se uma pequena comparação.

6 comentários:

Anónimo disse...

Talvés não. Mas, é bom relembrar que, quando o António publicou o cartoon do Papa com o preservativo no nariz houve uma acessa polémica. E se bem se recordam houve também, exigências por parte da Igreja de um pedido público de desculpas, exigências para retirar o cartoon porque era demasiado ofensivo para os católicos.Houve até várias intervenções políticas no sentido de acalmar os ânimos. Só não desenbocou em manifestações, porque simplesmente somos um país de brandos costumes, toda a gente se queixa mas ninguém faz nada!
O que eu quero dizer com isto é que, de facto há exemplos mais próximos de como uma imagem pode provocar reacções "violentas" por parte das pessoas, em particular quando se trata de um tema religioso.
Com isto não quero insinuar que concordo com a violência, mas entendo a revolta.


Marisa Frade

Anónimo disse...

Marisa,
Permita-me que lhe corrija: "Só não desembocou em manifestações, porque simplesmente somos um..." estado civilizado e de direito (yeah... yeah... andamos à bulha no futebol e fugimos aos impostos... mas fora isso.). E apenas isso torna ridícula a legitimidade que uma certa esquerda quer emprestar a estas manifestações.

Anónimo disse...

Nesta temática, estou totalmente com o Carlos! O problema não se pode reduzir apenas a aproveitamentos políticos que alguns países estão a fazer dos cartoons. O problema é da mentalidade. Porque eu, quando me sinto ofendido posso até vociferar, mas não queimo bandeiras, não desejo a morte de ninguém, não pratico actos de vandalismo! Como católico, senti-me ofendido com o cartoon do António, mas não lhe fiz ameaças, nem sequer lhe desejei qualquer mal. Porque percebo que viver em democracia implica que outros que pensam de forma diversa, possam recorrer ao humor para criticar aquilo que julgam incorrecto na instituição a que pertenço.
O problema é bem maior. A verdade é que hoje assiste-se a uma onda pan-islamista. Se dúvidas houvessem, veja-se o exemplo da Tchetchenia, ou a aproximação à esfera do poder dos movimentos religiosos, em países arábes tradicionalmente mais moderados. E qualquer rastilho serve para que o Islão entre em confronto com o Mundo Ocidentalizado. O problema não é apenas político, social, económico ou sequer religioso. É um problema civilizacional. E o Ocidente não pode vacilar neste combate. Ou em nome da sua segurança assumirá as acusações do Islão, e regredirá nos direitos individuais, que tanto sofrimento custaram.

Anónimo disse...

Meus caros,

concordo com a vossa posição sob o ponto de vista filosófico e ideológico.Mas, vocês devem olhar para todos estes acontecimentos de uma forma mais global!
É verdade que não podemos vacilar perante os nossos direitos adquiridos. É verdade que não podemos ceder. Mas, os incidentes só vem reforçar aquilo que há muito já se sabia, as constantes intromissões dos países ocidentais nas políticas internas destes países criaram ódios. O facto é apenas esse.E bastou algo tão aparentemente "inocente" como um cartoon para fazer emergir esses sentimentos.
E, nós os Ocidente não podemos dar-nos ao luxo de continuar a ignorar o mundo árabe, mesmo que este não obedeça aos nossos conceitos civizacionais.
Não se esqueçam do Irão, e acima de tudo, não olvidem que o petróleo do qual dependemos provém dos países árabes.
Mais, acho que nós esquece-mos que as ameaças não só se dirigem a nós, mas acima de tudo ao Estado de Israel. Estamos a legitimar um possível ataque a esse país. E se tal acontecer? O que vamos fazer? Fingir que o problema não é nosso? Meus senhores, poderá ser a guerra!
Daí a cautela com que os Governos ocidentais estão a agir. Todos sabemos que é um barril de polvora pronto a explodir.
Eu sou defensora dos direitos de liberdade de expressão. Sou defensora de uma democracia que abarca vários credos e culturas. E que dispõem de órgãos que nos defendam quando tal for o caso.Mas, acho que têm de haver limites. Tolerância é a palavra-chave.
E não venham dizer a mim que muitos dos jornais que publicaram os cartoons o fizeram apenas por pura solidariedade. Basta ver o exemplo de ontem, de mais um jornal francês que decidiu republicar novamente os cartoons. Isso é o quê? Eu diria que é um puro acto de provocação! Ou melhor um acto de aproveitamento financeiro. As vendas desse jornal devem ter sido bastante elevadas. Aposto!
Eu vou reafirmar aquilo que não podemos mais fazer, ignorar que a maioria dos países árabes têm sistemas políticos diferentes dos nossos, uma população que na sua maioria dispõem de uma escolaridade quase inexsistente e que odeia a constante interferências dos países do ocidente nas suas políticas internas. E que ser queira ou não, quer se concorde ou não, têm sistemas políticos assentes em lideranças religiosas. A culpa aliás disso, também é nossa. Basta fazer uma retrospectiva histórica para verificar que muitos destes movimentos radicais surgiram após a interferência directa de determinados países europeus.
Por isso, o que eu digo é, haja bom senso! Não devemos calar-nos, mas não podemos precipitar-nos. Este é o momento ideal para a ONU e outras instituições de cariz internacionais agirem e apelarem a calma. E intervirem de maneira concertada no sentido de não criar um fosso ainda maior entre o Ocidente e o Oriente.
Não é com as ameaças de Bush e de Blair que vamos obter um apaziguamento destes incidentes. Sim, porque graças a esse idiota americano e a meia dúzia de outros líderes europeus que concordoram com a invasão do Iraque, entre eles, Portugal, o Irão hoje, está pronto para bombardear Israel e não podemos fazer nada.E se tal acontecer pergunto mais uma vez que, vamos fazer?
Sem esquecer a organização de Bin laden que deve estar a regozijar-se com toda esta situação. E que deve, neste preciso momento,deve estar a preparar mais um ataque ao Ocidente. A Europa.
Eu acho isso muito mais preocupante do que a discussão ideológica desta questão.
Angustia-me mais, a potencial perda de vidas humanas inocentes, do que na indignação do nosso orgulho ferido. Sim, porque por mais bandeiras que queimem e pedras que atirem, nada nós vai impedir que continuemos a expressar de forma livre, pois não? Mesmo que eles nos cortem o petróleo? Ou subam exageradamente o preço por barril de crude? E se tal acontecer qual será a reacção das pessoas? Imaginem a situação em Portugal, em Espanha até da Grã- Bretanha? Acham mesmo que os EUA nós vão ajudar? E aí, terá mais valor a liberdade de expressão, ou a própria sobrevivência?

Beijinhos para dois,
Marisa Frade.

Anónimo disse...

Marisa,
Antes de mais, deixe-me apenas dizer que percebo os seus pontos de vista. Mas discordo de muitos deles, pelo que peço desculpa a si, ao Carlos e aos restantes bloggers aqui da Esquina, mas vou tomar-vos um bocadito de espaço e de tempo.

“Mas, os incidentes só vem reforçar aquilo que há muito já se sabia, as constantes intromissões dos países ocidentais nas políticas internas destes países criaram ódios. O facto é apenas esse”

Ora, se por um lado tenderia a concordar consigo, por outro não posso aceitar a sua afirmação de que o problema seja apenas esse. Não é! Sem querer tomar o todo pela parte, temos que notar que a guerra entre a Europa (Católica, mas também pagã – lembremo-nos das guerras contra os suevos, os visigodos e outros) não é recente. Portanto, o ódio entre estes dois mundos é bastante anterior à intromissão do Ocidente no mundo islâmico. Mas com certeza os “tratados de tordesilhas” britânicos e franceses, que dividiram as esferas de influências no Médio Oriente, em nada ajudaram. Nem a pobreza que por lá grassa (veja-se, a título de exemplo, que países com um PIB enorme têm taxas de desemprego de 50% e mais). Nem as investidas da ex-União Soviética ou dos EUA. Portanto, o ódio não advém apenas da muita asneira que o Ocidente por lá fez. Existem vários motivos e esse é apenas 1. Na minha opinião, o que efectivamente se passa, é que no Médio Oriente ainda está demasiado proliferado o conceito de Teocracia. Ora, um sistema de poder que ganha a sua legitimidade em Deus, deifica os seus líderes, pois o seu poder advém de desígnios divinos. Logo, qualquer outro sistema é antagónico, é inimigo. Na mentalidade islâmica ainda é demasiado estruturante uma fractura maniqueísta. Ou se está certo ou se está errado. Como é evidente, esta concepção da realidade não permite a tolerância, pois não aceita a différence. Daí o facto de todos nós sermos infiéis e que como tal, devemos ser combatidos. Esta é, naturalmente, uma perspectiva mais radical do Islão, mas infelizmente é aquela que está em expansão. Este ódio, é amplificado, como é evidente, pela exploração que o Ocidente fez e pela ingerência na política interna, pela criação imposta do estado de Israel, entre outros motivos, que depois são vilmente manipulados por meia dúzia de rufias (alguns deles, acreditam mesmo na superioridade do Islão). Não se esqueça que muitas doutrinas islâmicas defendem a destruição do way ou life ocidental, visto como uma subversão absoluta das palavras do Profeta.
Portanto, o problema é bem mais complexo do que a simples intromissão do Ocidente.

“Mais, acho que nós esquece-mos que as ameaças não só se dirigem a nós, mas acima de tudo ao Estado de Israel. Estamos a legitimar um possível ataque a esse país. E se tal acontecer? O que vamos fazer? Fingir que o problema não é nosso? Meus senhores, poderá ser a guerra!
Daí a cautela com que os Governos ocidentais estão a agir. Todos sabemos que é um barril de polvora pronto a explodir. “

Vamos por partes. Eu não esqueço que Israel seria sempre o primeiro e preferencial alvo da fúria radical islamista. Agora, não posso me deixar intimidar pelo medo. Porque isso é viver em Ditadura. Ou seja, estaria a anular-me, anular aquilo que sou, por medo! Portanto, quando fala em cautela dos governos ocidentais, eu discordo de si. Não é cautela: é medo! E ceder ao medo é ceder ao terror. Não quero com isto dizer que não se deva apelar ao bom-senso, à tolerância e ao respeito pelo outro, afinal valores bem Ocidentais. O que não me parece correcto é que os governos ocidentais estejam a anular outros dos princípios, como a Liberdade de expressão, apenas por uma questão de diplomacia. Acho que devemos estabelecer o diálogo: mas o diálogo pressupõe boa-vontade das duas partes. Não nos podemos pôr de joelhos perante o Islão ou perante líderes que promovem o ódio. Porque caso contrário, perdemos legitimidade para negociar. Por isso é que não aceito que alguns líderes venham colocar em pé de igualdade a publicação dos cartoons com a violência das manifestações (veja o Vitalino Cana). Estas já provocaram mortes. A culpa não foi dos cartoons (não vi ninguém tomar uma posição destas quando o alvo da sátira é o Cristianismo, nem acho que se devesse tomar. O pior caminho, o caminho para a perda da liberdade acontece sempre quando os dirigentes nos dizem que existem limites à nossa liberdade. Esse é sempre o argumento das ditaduras e dos déspotas.), nem dos cartoonistas, nem do jornal.

“E não venham dizer a mim que muitos dos jornais que publicaram os cartoons o fizeram apenas por pura solidariedade. Basta ver o exemplo de ontem, de mais um jornal francês que decidiu republicar novamente os cartoons. Isso é o quê? Eu diria que é um puro acto de provocação”

Não sei se é provocação: a única coisa que sei é que o jornal, o director, têm liberdade e legitimidade para fazê-lo. Que é bem mais do que o povo muçulmano tem.
Para além disso, diz que é provocação ao Islão. Faço-lhe a pergunta que fez um jornal egípcio: o que é que confere uma imagem negativa ao Islão; uns bonecos do profeta ou uns facínoras a gritarem Allah Akbar enquanto degolam selvaticamente uma pessoa? Ou enquanto se fazem explodir num casamento? Ou enquanto fazem explodir bombas numa estação de comboios apinhada? Ou enquanto mandam com Boeings contra um arranha-céus? Isto é que são verdadeiras provocações ao Islão, mas não vi a população muçulmana se manifestar.
“Não é com as ameaças de Bush e de Blair que vamos obter um apaziguamento destes incidentes. Sim, porque graças a esse idiota americano e a meia dúzia de outros líderes europeus que concordaram com a invasão do Iraque, entre eles, Portugal, o Irão hoje, está pronto para bombardear Israel e não podemos fazer nada”.
De onde vem esta sua afirmação? Desde que o Irão é liderado por Ayatolas (e muito especialmente por Komeni) que este estado defende a aniquilação de Israel. Nada tem a ver com o Iraque. Aliás, veja que o Irão pós – Xas sempre foi inimigo do Baas (partido que defendia a separação de poderes). Portanto, a questão iraniana nada tem a ver com o Iraque, e de resto eles até ficaram satisfeitos, pois permitiu a chegada ao poder dos xiitas que, como sabe, defendem a supremacia da Religião sobre a política na gestão do Estado. E são bem mais radicais. A questão é que desde os anos 70 que se instalaram na esfera de poder grupos extremamente radicais que lentamente começaram a tomar o poder. E neste momento julgam-se invencíveis. Esperemos que não sejam o braço vingador de Alá.

“Angustia-me mais, a potencial perda de vidas humanas inocentes, do que na indignação do nosso orgulho ferido”

A questão está mal colocada, permita-me que lhe diga. Não se trata de orgulho ferido. Se cedermos nesta questão fundamental que é a liberdade de expressão, bem podemos deixamo-nos todos matar. Porque não haverá nada pelo que lutar. A questão é que com pequenas cedências, daqui a nada estamos a aceitar que os terroristas matem uma pessoa, porque é sempre melhor do que 10 e 10 porque é sempre melhor do que cem e assim sucessivamente. Existem valores pelos quais vale bem a pena lutar. A liberdade é um deles. Tal como a vida.
Também não me agrada que corra sangue. Sou um pacifista. Mas não aceito menorizar os meus valores, perante a ameaça. Ou então estou já a ceder ao terror.

“Acham mesmo que os EUA nós vão ajudar? E aí, terá mais valor a liberdade de expressão, ou a própria sobrevivência?”

Marisa, a força da sobrevivência é poderosa. Mas essa é uma força biológica, que em nada me difere dos animais. O que me faz homem é a força das minhas convicções, a minha liberdade e a minha capacidade de me sacrificar por aquilo que acredito. Só assim é que posso prestar homenagem aos milhares de mortos que tombaram para que eu hoje pudesse estar aqui, livremente, a falar consigo.

Beijinho também para si!

PS – Não me ouviu falar nos EUA. Não sei porquê a referência.

Anónimo disse...

caro sancho,

Sou vou respoder a apenas uma das suas declarações. Quanto a questão irão/iraque, o que eu quis dizer foi que, a invasão do Iraque tão apoiada e propagada pelos EUA e os aliados da altura por razões de segurança tem sido um fiasco em todos os aspectos. Em primeiro lugar, porque não encontraram as ditas armas nucleares. A confusão que reina no território desde que foi invadido pelos americanos. As falsas promessas de Bush sobre a fim do império do terror. Enfim...
O Irão, por outro lado, tem neste momento um dito plano nuclear que pretende apenas produzir energia. Eu e creio que toda a gente não acredita nesta versão dos factos. E estamos todos conscientes que o que eles pretendem é fabricar bombas. Como se não basta-se o Governo iraquiano recusa-se a assinar o documento de não proliferação de engenhos atómicos.
Apesar de todos estes indícios acha que os EUA ou mesmo a UE irão propôr a invasão deste país por razões de segurança? Não podem, e eu digo-lhe porque, por causa do Iraque. Se a operação tivesse sido um sucesso, a história seria outra. Esse é na minha opinião um dos motivos de peso para que o Irão acabe fazendo o que lhe apetece, e sim tenho medo, por mim e por todos os inocentes deste mundo.
Ah, acho lindo toda a sua ideologia, sim vamos a luta. Não tenho dúvidas em defender os nossos ideiais democráticos. Mas, se tal tiver que ser quero ver como vamos reagir, quando não houver petróleo...