21.8.06

T(ake) A(nother) P(lane)!

Aeroporto do Porto Santo, um dia de Verão.

Dirigi-me ao balcão da GroundForce (seja lá o que isso for) para pagar os portes de uma encomenda.

Entreguei os 150 euros que me foram pedidos e, tal como me fora indicado pelo funcionário de serviço, dirigi-me ao quiosque dos jornais. Para chamar a funcionária do Aeroporto, entretida em amena cavaqueira com a menina da tabacaria. O que, de tão habitual já se tornou rotineiro.

Contrafeita ao ver-se obrigada a voltar para a mesa onde, supostamente, deveria sentar-se a justificar o ordenado, a funcionária resmungou qualquer coisa na línguagem hermética utilizada pelos servidores do estado quando alguém lhes diz para trabalhar. E, com os modos de quem não achou graça nenhuma a brincadeira, pegou num telefone para chamar uma "colega". Que me acompanhou até ao Armazém de carga.

Atravessei várias portas assinaladas com "entrada não autorizada". Acompanhado pela "colega" e sem ver vivalma. E cheguei a um espaço quase vazio. No armazém faziam-me companhia três caixotes atirados para cima de uma palete, uma empilhadora, e um tipo de farda azul deitado a um canto.

Apareceu-me, saido de uma porta que eu não vira, um baixote munido do poder de anunciar o destino a quem ali chegava. Que olhou para a carta de porte que lhe estendi à frente do nariz. Que revirou a carta de porte que lhe pus ao caminho. E que me disse:

-Ainda nã chegou!

O diálogo é surrealista:

- E então, os 150 euros que paguei?

- Nã sei

- E quem saberá?

- Nã sei

- Mas que merda é esta?

- Nã sei. Vou procurar melhor!

- Procurar o quê? esta porra tá vazia. A não ser que existam portas secretas...

- Nã sei

- O quê, se há portas?

- Isse nã há...

- Foda-se!

Com o papel na mão, e já sem a "colega", voltei à GroundForce.

Reclamei que a encomenda não tinha chegado. Mas que já a tinha pago.

O tipo de bigode que estava atrás do balcão prometeu que "ia ver". Mas que tinha de fazer uma "coisa" primeiro. E então levantou-se e com olhos de diarreia correu para a casa de banho.

Apareceu cinco minutos depois.

- Então vamos ver o que podemos fazer...

- É isso, veja lá.

Telefonou para cinco números diferentes. Ninguém sabia de nada. Mandou dois faxes. Não teve resposta a nenhum. Encolheu os ombros.

- É esperar que respondam

disse, resignado. Passara quase hora e meia.

Recorri ao meu instinto de sobrevivência.

Peguei numa agenda telefónica que o tipo de estendeu. Comecei a marcar números.

- daqui é Lisboa

- e não me pode passar ao Porto?

- não. Desculpe. Tente o 22 qualquer merda!

- Se quiser alterar a sua reserva, marque 1. Se quiser informações sobre horários marque dois...

- Se quiser que a merda do mundo exploda marque 44...

- O Call Center da TAP...

- R'áis parta a TAP!

- Desculpe. Este é o serviço de informações. Marque o 22 a puta que o pariu...

Após ter marcado 22 vezes (aproximadamente) a combinação 22 (com o meu telefone, obviamente, já que o funcionário esgueirara-se, mais uma vez, por um atalho, para o caminho de paz interior que descobrira nos lavabos), consegui que alguém me atendesse.

- Vamos ver o que se passa..

- Veja lá...

- Humm,

- Sim?

- Não sei de nada!

- Desculpe?

- Não me chegaram reclamações daí "de" Porto Santo...

- Mas o seu colega enviou dois faxes...

- Para aqui não foi!

- Entendam-se!

Passei o telefone ao mais assíduo frequentador das retretes públicas da ilha.

Esperei mais 15 minutos.

- A gente liga-lhe assim que souber alguma coisa...

- Que remédio!

Pelo que soube depois, os meus caixotes ficaram esquecidos (literalmente) no Porto. E o Porto Santo reclamou. Para o faxe errado!

A encomenda chegou dois dias depois. E eu paguei a urgência que tinha em recebê-la. Ninguém me reembolsou ou pediu desculpa.

O baixote encolheu os ombros. Pareceu-me ouvi-lo dizer

- É a vida!

(Este ano, foram às dezenas os passageiros ou os receptores que sofreram com os atrasos - ou mesmo com o desaparecimento - de bagagens e de encomendas. Sei do caso de um casal jovem do continente que, após quatro ou cinco dias sem bagagem, regressou a casa. E não foi o único. Enquando vivia o meu filme privado, vi que alguns dos passageiros de um voo que acabara de chegar passavam pela mesma provação. O mau serviço da TAP - e dessa tal de GroundForce - poderá ser um óbice ao nascimento de um destino turístico. Ainda por cima, o parto, por si só, é difícil. Com a "ajuda" do enfermeiro TAP poderá tornar-se impossível).