16.4.07

Diferenças entre mundos

Em Londres uma menina de origem portuguesa faz furor no mundo da moda desde que lhe descobriram esse extraordinário talento. A coisa vem no DN de ontem e a mãe, embevecida, orgulha-se do trabalho da sua petiz de apenas 7 anos, capaz de ganhar quase 300€ por uma sessão fotográfica de duas horas. O céu é o limite e a criança já fala muito senhora do seu nariz como se a vida fosse um qualquer conto de fadas sem retrocessos e desilusões.

Nos EUA, por exemplo, há muitas formas de mediatização infantil, prática useira e vezeira entre os americanos. São recorrentes os concursos de beleza, os desfiles de moda, os castings para séries de televisão e filmes. Desde muito novas, algumas crianças americanas são preparadas para o capitalismo predador, aguçando o seu instinto de sobrevivência na selva que é a sociedade humana. As ilusões criadas e os sonhos desfeitos são, consequentemente, apenas acidentes de percurso sem grande significado, desvalorizados pelos pais, obcecados e concentrados que estão em sair da miséria e em fazer do seu rebento um caso único e uma estrela em ascensão.

É louvável que os filhos ajudem os pais. É louvável até que os filhos contribuam à sua maneira para ajudar a família que os sustenta, os acolhe e os prepara para o futuro. É louvável ainda que um atributo possa possibilitar uma melhoria inequívoca das condições de vida das pessoas. Tudo isto é de facto louvável. Mas não percebo porque é que este fenómeno na Índia, no Paquistão, no Camboja ou no Vietname se chama exploração infantil e é condenado por todos, e por cá, neste primeiríssimo mundo, atende pelo nome de desfile de moda e é aplaudido de pé.