"Reúne sete ou oito sábios e tornar-se-ão outros tantos tolos, pois incapazes de chegar a acordo entre eles, discutem as coisas em vez de as fazerem" - António da Venafro
4.9.07
Os lobos vão para França
Portugal está prestes a estrear-se num Campeonato do Mundo de Rugby. Com Tomáz Morais ao "leme", os "lobos" conseguiram um feito absolutamente impensável e estão entre as melhores 20 equipas do mundo.
A probabilidade de sairmos de França com quatro derrotas é enorme. Apanhámos pela frente "apenas" os All Blacks - a melhor equipa do mundo e arredores, mesmo sem Jonah Lomu - a Escócia e a Itália (duas das melhores formações europeias, competindo anualmente no Torneio das Seis Nações) e a Roménia (a nossa melhor hipótese de vitória, e mesmo assim, dificilmente iremos lá). Mas a presença no Campeonato poderá contribuir para fomentar entre nós o gosto por uma das mais fascinantes modalidades colectivas.
Eu espero, honestamente, que algum dos nossos canais de televisão transmita os jogos. Era no mínimo simpático. Mas se ninguém o fizer, resta seguir as peripécias dos quinze "lobos" pela net.
Portugal é a única equipa amadora na competição. No 15 inicial, só Vasco Uva assinou, este ano, um contrato profissional com um clube francês. Os atletas fazem enormes sacrificios pessoais e profissionais para representar condignamente o país, numa modalidade com milhões de adeptos em todo o mundo. Por isso, merecem que se olhe por eles. Merecem melhores condições de treino e um estatuto que lhes permitisse não ter de tirar férias para ir disputar um mundial.
Infelizmente, em Portugal poucos são aqueles que gostam de desporto. Quase todos gostamos de futebol, que é uma coisa diferente, um espectáculo ou um negócio. Agora de desporto... E isso reflete também as enormes lacunas que temos na formação e no sistema de ensino. Temos escolas sem equipamentos desportivos adequados. O estado lança o ónus da formação desportiva sobre os clubes, que se limitam, e bem na óptica deles, a apostar na única modalidade que pode ser rentável, o futebol. E que excluem à partida todos aqueles que têm menos propensão para a práctica desportiva, excluindo assim futuros consumidores do fenómeno.
Em Lisboa e Porto, practicar desporto é quase uma miragem, fruto da falta de equipamentos existentes.
Voltando ao Rugby, Portugal tem cerca de 4.000 mil atletas federados (os únicos practicantes no país, já que não existe um único campo em Portugal que possa ser utilizado por jogadores ou equipas não federadas). A Nova Zelândia, com 4 milhões de habitantes, tem mais de 130 mil atletas inscritos na Federação local. Para falar apenas das formações incluídas no grupo de Portugal, a Itália tem mais de 40.000 atletas federados e a Escócia, onde a modalidade se equipara, em termos de popularidade, ao futebol, tem mais de 24.000. Mesmo com tal disparidade, as equipas portuguesas de "sevens" têm obtido resultados extraordinários. E a seleção de Rugby de 15 consegue estar na fase final de um Campeonato do Mundo. É obra!
Este ano, em França, a grande favorita é a Nova Zelândia, como sempre. Mas em finais, os "all blacks" não conseguem, muitas vezes, explorar todo o seu potêncial. Aliás, nas 5 edições até agora disputadas, só conseguiram uma vitória. Foram campeões do Mundo em 1987 a jogar em casa.
A França, que conta com o apoio do seu público, terá de ser vista como uma séria candidata à vitória. Foi finalista em 1987 e em 1999. Em 2006 ganhou, pela 15ª vez, o Torneio das Seis Nações.
Outro candidato crónico é a Austrália, vencedora em 1991 e 1999 e finalista em 2003. Os "wallabies", como gostam de ser chamados, partem com ambições embora, curiosamente, sejam menos populares no seu próprio país do que os rivais "all blacks". Aliás, a venda de camisolas na selecção neozelandesa na Austrália é muito superior à venda das camisolas verdes e amarelas dos australianos. Imagine-se o que aconteceria quando se vissem mais "jerseys" do Fernando Torres a passear no Colombo aos domingos do que do Cristiano Ronaldo!
A Inglaterra, actual detentora do ceptro, e a África do Sul são "outsiders" importantes, tal como a Irlanda - em 2006, no Torneio das Seis Nações, conseguiu um excelente segundo lugar - ou o País de Gales.
Quanto à restante rapaziada que por lá anda, as hipóteses são nulas. Destaca-se o espectáculo das Fiji (jogam p'ra caraças, mas perdem muitas vezes, e de Tonga, uns verdadeiros bisontes). A Itália vai tentar chegar aos quartos-de-final, tal como a Escócia. Os outros (Portugal incluído) vão tentar ganhar um jogo. Japão, EUA, Canadá, Argentina, Roménia, Georgia e Namibia não vão de certeza incomodar os favoritos. Disputarão os penúltimos lugares dos seus grupos.
O "nosso" calendário é o seguinte:
Escócia-Portugal - 9 de Setembro, St. Etienne
Nova Zelândia - Portugal (Ai, Ai) - 15 de Setembro, Lyon
Portugal - Itália - 19 de Setembro, Parque dos Principes, Paris
Roménia - Portugal - 25 de Setembro, Toulose
Espero que quando os "lobos" ouvirem o "haka" neozelandes não se assustem, antes se motivem!
Curiosamente, a presença de Portugal no Campeonato do Mundo tem suscitado alguma curiosidade (e não é do exotismo, porque nisso, Tonga bate-nos aos pontos), como se pode comprovar neste artigo inserido no sitio oficial da competição.
O Campeonato começa a 7 de Setembro, com um França-Argentina no Parque dos Principes. Termina no mesmo estádio, a 20 de Outubro. Aposto que com um França-Austrália.