12.12.08

Alentejo

Há dias em que nada mexe. Nem uma brisa afaga as faces mal barbeadas dos homens e os rostos tristes das mulheres. Nesses dias, o calor ganha formas sobre o alcatrão. E então é possível tocá-lo.
Nesses dias os homens desaparecem devagar na paisagem seca. Caminham lentamente, ofegando. Sentem a morte rondá-los. E por isso dão gritos loucos que assustam os pássaros. A terra quer-os quer bem assados!
Sentam-se devagar sob a sombra. Olham-se solenemente. Suam como porcos.
São os dias do tédio. As mulheres escondem-se dentro dos casebres. Unem delirantemente os fios de transpiração que os homens deixam quando regressam. Com eles tecem uma teia de ódio. Se pudessem, desencadeariam uma orgia. E lamberiam com prazer as últimas gotas de sangue dos homens degolados. Mas preferem ajoelhar-se e rezar o terço, com os olhos semicerrados e as mãos fechadas sobre as contas.

Nas noites desses dias, as mulheres encolhem-se na cama, fugindo das mãos ébrias que lhes afastam as camisas de dormir. Do hálito de vinho que as corrói. Nas noites desses dias, as mulheres escondem uma faca debaixo do travesseiro.

2 comentários:

Sancho Gomes disse...

ouve companheiro, e isso tem d ser mesmo o Alentejo???

Su disse...

o alentejo aqui foi só pela sombra e pelos porcos...eheheh


agora a serio, gostei de ler.t apesar de ser horrendo esse viver/sentir

jocas maradas