Ora, para além do absurdo que é falar em cidades masculinas e/ou femininas (a não ser de um ponto de vista metafórico), é ainda mais ridículo pensar-se que a cidade deve ser pensada e planeada com vista a um único género. Aliás, o que as senhoras jornalistas descrevem como cidades femininas não são senão cidades bem planeadas. Senão, vejamos apenas dois exemplos:
- pisos lisos e sem fissuras não interessam apenas à cidade feminina. São uma medida básica de acessibilidade, para as senhoras e aos seus saltos altos, claro que sim, mas também para todas as pessoas com mobilidade reduzida, como os que necessitam de utilizar canadianas, cadeira de rodas e até para os carrinhos dos bebés;
- cozinhas em L ou em U, para rentabilizar espaço, é uma necessidade premente das cidades que têm falta de território.
Para além de que outras propostas revelam um machismo monstruoso:
- então são necessários estacionamentos espaçosos para as mulheres, essas dondocas que não sabem conduzir;
- e cozinhas só para elas, pois como sabemos este é o seu mundo natural, não é? E eu, que sou o cozinheiro cá de casa, que tipo de cozinha é que mereço?
- acabar com os pisos escorregadios para as senhoras. Porque para idosos e crianças (e homens, porque não?), não há problema que os pisos sejam autênticos lamaçais.
Ora, o que está em causa em Seul (e na restante Coreia, como seria óbvio de observar, se as senhoras jornalistas tivessem um pingo de perspicácia) é o nascimento de um novo conceito de cidade, bastante assente nos princípios das Cidades Educadoras. Cidades humanas e humanizadas, inclusivas e acessíveis, em que o mundo líquido (homem) assume predominância sobre o mundo sólido (da pedra). É o nascimento da cidade querida. Cidade feminina é apenas um um template comunicativo com muito soundbite. Como facilmente o I se aperceberia, se não fosse tão célere em explorar qualquer coisa que pareça com feminismo, mesmo que não o seja.
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