6.5.10

Mas eu acredito em Satanás

Todos nós conhecemos aquele ditado que nos ensina que a maior façanha de Satanás foi fazer-nos acreditar que ele não existe.
É, por vezes, isso que eu sinto quando oiço os representantes do capital (digo-o sem qualquer carga ideológica) e os seus lacaios (a carga ideológica cai toda aqui) papaguearem a saída para a crise.
Garantem-nos que a classe média e os pobres deste país têm de contribuir para recuperar as finanças públicas portuguesas. Chegam ao ponto de colocar questões, nas televisões, do tipo: “o que estaria disposto a prescindir para ajudar Portugal?”.
Reconheço que esta é meia verdade e que independentemente das culpas que possam ser atribuídas aos cretinos que têm constituído as elites dirigentes nacionais, vamos ter todos que contribuir para retirar o país do buraco para onde nos atulharam.
Mas, como disse, esta é só meia verdade. A outra meia, o que não nos dizem, é que esses representantes do capital não estão disponíveis para fazer qualquer esforço e que a fossa não foi cavada pelo Estado Social, mas pela ganância desses mesmos representantes. Quando vemos consórcios como a Taguspark, que tem lucros que não chegam aos 4 milhões, distribuir 750 mil Euros para um filme publicitário (e assumindo que foi legítimo, o que todos sabemos ser mentira); a manipulação que governos fazem de empresas como a PT; a colocação de boys, com ordenados milionários (querem poupar 40 milhões com os cortes nos subsídios de desemprego, mas estão dispostos a pagar milhões aos Ruis Pedros Soares deste país), em empresas públicas ou com interesses no Estado; os vencimentos indecorosos de banqueiros que se revelam nulidades ao nível de gestão; a corrupção que mina e domina a classe dirigente nacional; os milhões que são absolutamente desperdiçados para benefício pessoal de políticos, gestores, administradores e outros quejandos, perguntamo-nos, afinal, se é legítimo sermos chamados a pagar essa despesa de que outros foram os beneficiários.
E perante a pergunta, ouvimos as respostas sempre fantásticas: ah e tal que isso são peanuts; que é inveja; que o mérito deve ser pago. E o mérito dos outros, da população que lhes paga as mordomias? Esse não deve ser pago?
Atiram-nos, também, com a esfarrapada desculpa de que é preciso respeitar as instituições do Estado. Respeitar quem? Uma Assembleia que acolhe e protege deputados como Ricardo Rodrigues? Uma Justiça que ampara os corruptos deste país, que elimina provas, que faz desaparecer processos? Respeitar uma classe empresarial sem qualquer responsabilidade social, constituída por meia dúzia de gananciosos que acham que os milhões de portugueses existem par lhes fazer crescer os lucros? Respeitar um governo liderado por um por 1º ministro que está metido em tudo o que é caso de corrupção do país?
Não, desculpem lá, mas isso é cair na tal esparrela de Satanás. É fazer-nos acreditar que a crise é tão só motivada pela evolução natural das coisas. É fazer-nos acreditar, afinal, que este país não está na degeneração absoluta devido à podridão que infesta a classe dirigente portuguesa. E papo muita coisa. Mas isso, não estou disposto a papar!

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