9.6.05

O Pedro era um mágico

O Pedro era um mágico. Escondia a bola dentro de uma cartola e jogava de fraque. E transformava o campo num palco. Atirava bolas que eram facas (e que fugiam, no último instante, ao corpo do guarda-redes). O Pedro era um mágico. Tinha uma varinha de condão que criava flores azuis na monotonia verde das tardes de domingo.

O Pedro iludia escondendo lenços no corpo (e dando-lhes a incrível forma de bolas de futebol). Fingindo adivinhar as cartas que ele próprio marcara com a tinta invisível dos prodígios. Atravessando paredes de pernas e de braços. Lentamente. E lentamente, o Pedro levantava o braço direito. E acendiam-se as luzes. Com graça, o Pedro agradecia. E abandonava o palco deixando as flores azuis. E ouvia os aplausos que se perdiam na distância dos sentidos. E guardava a caixa mágica e a varinha e os pós de prilim-pim-pim e a cartola. E saia. Lentamente. Porque o Pedro era um mágico.

Post-Scriptum: A direcção do Sporting não percebeu que o futebol não é um imenso somatório de números. E que por isso é necessário manter aqueles com quem os adeptos se identificam. E que podem enquadrar quem chega. É pena que sigamos aos maus exemplos, e que não olhemos para aqueles que andam à nossa frente. No Porto, seria impossível tratar um capitão de equipa como o Pedro Barbosa foi tratado.

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