19.7.05

Lavar a alma...

A silly season avança confortavelmente país adentro. Nada pára a desavergonhada. Depois dos avisos à navegação, mais areia, da fina e da grossa, para os olhos dos portugueses, entretidos a discutir coisas menores e desinteressantes como novos aeroportos, linhas de comboio e TGVs e, pasme-se, originalidade suprema, energia eólica. São estes os novos desígnios a bem da nação e dos portugueses. Isso e uma coisa com o sinistro nome de Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias, que promete 25 mil milhões de euros de bandeja para distribuir por aí.
Entretanto, não muito longe daqui, o eng. Sócrates, que não leu nem conhece Maquiavel, prepara-se, sorrateiramente, para lançar nova vaga de austeridade lá para Outubro, de preferência depois de perdidas, por pouco, as eleições. Já nada espanta. Os sinais contraditórios já são tantos, que toda a gente está resignada, mesmo que ministros e primeiro-ministro falem linguagens diferentes e nada incomode verdadeiramente as criaturas, embrenhadas num animalesco carnaval de asneiras, de demagogia e da pior espécie de ruído.
Também ao longe, saindo do intenso nevoeiro, um novo D. Sebastião toma forma e ganha peso. Adoptou aliás táctica já por si municiada (com relativo insucesso): a do tabu. Cavaco, esse homem luminoso, esse profeta, que nos fez entrar a Europa casa adentro e que forjou o novo indígena (como foi brilhantemente descrito por Vasco Pulido Valente), é o senhor que se segue. Provavelmente, por dez anos. Por dez longos anos.
Ao olhar para isto, pergunto-me, que futuro nos resta? Quanta desilusão é possível aguentar? Bem sei que o calor (e esta maldita humidade) aperta, mas já nem um banho de mar me lava a alma ou me dá alento. Estou cansado. Hoje sinto-me cansado.