24.1.06

Elefantes

No Público de ontem uma reportagem sintomática: três dos estádios construídos para o Euro 2004 estão em vias de se constituírem como singelos elefantes brancos. A notícia não espanta e não provoca estranheza. Causas: algumas. Variadas e sortidas, como por exemplo a evidente ausência de um estudo de raiz que provocasse a síndroma de Tomé e conseguisse justificar o injustificável. Pelo meio, percebe-se que melhores condições no estádio não levou mais gente a ver os jogos do Beira-Mar ou da União de Leiria, já que no Algarve não há, por agora, nenhuma equipa na primeira liga (nem na segunda, acho eu). O custo é suportado, claro está, pelos contribuintes que não pedindo semelhantes obras arcam com as vetustas despesas. Mas uma causa não foi, por sinal, aflorada: o desespero que é o futebol português. Ou seja, a sua inusitada falta de qualidade. Quem como eu adora futebol (e acreditem, quem me dera conseguir não gostar) percebe o logro em que estamos envolvidos. Basta ver os outros campeonatos e a qualidade de outros jogos, equipas, jogadores, dirigentes e árbitros. Em Portugal, não se joga à bola. Tenta-se jogar, o que é radicalmente diferente e algo que se distancia, e muito, do brilhantismo e da geometria que uma bola de futebol permite num campo de dimensões consideráveis. Aliás, é péssima propaganda para o espectáculo fazer apologia de equipas como o Setúbal (jogos enfadonhos e soporíferos) ou do tipo de futebol de qualquer clube treinado pelo Jaime Pacheco, treinador não propriamente conhecido pelo domínio dos aspectos técnicos do jogo e que devia treinar a equipa de Luta Livre do Imortal de Albufeira. Por isso, não vale a pena chover no molhado. Enquanto a qualidade não melhorar (Menos clubes? Menos jornais? Menos presidentes? Menos árbitros?) é impossível levar mais gente aos estádios porque pura e simplesmente não há pachorra. Só mesmo com requintes de sadismo me peçam para trocar o sofá e todas as suas comodidades (incluindo o controlo remoto e a cozinha ao lado da sala) pelas cadeiras frias de um estádio para assistir a um jogo sem predicado, sem protagonistas e com raras razões de interesse. Quem vê os jogos de futebol, mesmo os dos denominados grandes, assiste a obras-primas de mau futebol onde só o fanatismo consegue descortinar jogadas de perigo e controvérsias com o árbitro. No fim, ganhe quem ganhar, tudo continua na mesma, seja com a mão, com o ombro, de penalti ou em fora de jogo. Porque em Portugal, infelizmente, o que interessa é o resultado independentemente dos atropelos necessários para o atingir maquiavelicamente. Não irão muito longe.